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Continuação dos apontamentos que o Governador Álvaro de Mello de Machado deixou escrito no seu livro “Coisas de Macau” (1913), nas pp. 115-117, (1) neste caso a descrição dos “Edifícios públicos” existentes nessa época.

“ Os edifícios públicos, que teem em geral a apparencia grandiosa das casas portuguezas antigas, enfermam do mal geral das habitações da colonia «a velhice»; e muitos d´elles deveriam ser substituídos por construções modernas apropriadas ao clima e ao papel que desempenham.

A residência do governador tem bom aspecto e um pouco de architectura; está porém mal situada, porque a rodeiam de muito perto habitações particulares, que a abafam e lhe tiram as qualidades que poderia ter, se estivesse colocada n´um terreno mais amplo.

Estes defeitos, agravados com a existência no rez-do-chão do edifício de varias repartições publicas, são em parte compensados pela proximidade do mar, para onde deita a sua fachada principal.

O edifício das repartições publicas, primitivamente a residência do governador, é uma vasta construção, onde se encontram instalados, o tribunal, a delegacia da procuradoria da Republica, a conservatória, a procuratura da dos negócios sínicos, a repartição do expediente sínico e ainda a agencia do Banco Nacional Ultramarino. Este edifício, embora muito velho, não é de todo improprio ao fim a que está servindo; sómente alli foram instaladas damasiadas repartições, de fórma que algumas há acanhadíssimas e não correspondendo ao aspecto exterior.”

(1) MACHADO, Álvaro de Mello – Coisas de Macau. Livraria Ferreira, 1913, 153 p. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/alvaro-de-melo-machado/

https://nenotavaiconta.wordpress.com/2021/02/19/leitura-coisas-de-macau-de-alvaro-de-mello-machado/

Extraído de «O Independente», XI-1, 17 de Janeiro de 1889, pp. 2/3

Extraído de «O Independente», XI-1, 17 de Janeiro de 1889, pp. 2/3
Extraído de «Boletim do Governo de Macau», XII-47 de 19 de Novembro de 1866, p. 189

A Procuratura dos Negócios Sínicos, cujo início se aponta para 1583, tinha um Procurador com um lugar cativo na vereação municipal. Em 1847, a Procuratura ficou na dependência do Governo e em 1852 (1) clarificaram-se as suas atribuições quanto aos negócios sínicos. Em 1865, por decreto de 5 de Julho, (2), o Procurador foi definitivamente desligado do Senado nos assuntos municipais de que ainda estava dependente, passando a ser de nomeação régia, sob proposta do Governador e em 1877, nova lei, a Procuratura foi reforçada com um tribunal especial. A Procuratura foi extinta em Maio de 1894, pelo Regimento de Justiça para as Províncias Ultramarinas. As competências passaram para o juiz de Direito da Comarca (3)  

(1) “19-11-1852 – Em 19 de Novembro de 1852, foi promulgado e publicado pelo Governador Isidoro Francisco Guimarães, o primeiro regulamento da Procuratura dos Negócios Sínicos, (com 19 artigos) determinando que, para além do Procurador, somente o Governador pudesse interferir nos assuntos sínicos de Macau.

Regulamento da Procuratura, n-º 67 de 17-12-1862 Extraído do «Boletim do Governo de Macau», IX-4 de 27 Dezembro de 1862, p.14

Pela portaria provincial publicada em 17 de Dezembro de 1862, surgiu um novo regulamento relativo ao processo cível onde as questões cíveis de que a Procuratura se ocupava, eram, segundo a Lei, aquelas que não pertenciam ao juízo de Direito e que as questões não decididas por conciliação, naquele organismo, continuavam a ser decididas por árbitros nomeados pelas partes. (3)

(2) “5-07-1865 – Em 1865, por decreto de 5 de Julho, o Procurador foi definitivamente desligado do Senado nos assuntos municipais de que ainda estava dependente. O Procurador que desde 1853, era eleito pelo povo, passou a ser de nomeação régia, sob proposta do Governador, feita de entre os elegíveis a vereadores. Assim, foi constituído um funcionário do Estado de responsabilidade directa do Governo central e atribuída a denominação de Procuratura dos Negócios Sínicos àquela que tinha sido a Procuratura do Senado.” (4)  

“12-07-1865 – Foi criado, por decreto, do Marquês Sá de Bandeira como Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar a criação de «um corpo de intérpretes de língua sínica», apto para o exercício das funções que lhes forem incumbidas” (4)

Extraído de «TSYK»,  III ano, n.º 2 de 12 de Outubro de 1865, p. 1

“31-12-1865- Nomeado procurador interino – António Feliciano Marques Pereira, e em 1866, nomeado Procurador dos Negócios Sínicos. A nomeação régia para este cargo vem substituir a forma de provimento anterior; este era feito localmente, na pessoa de um Vereador da Câmara.” (3)

Quadro de funcionários, da Procuratura dos Negócios Sínicos em 1866 (Almanach Luso Chinez de Macau para o anno de 1866, p. 36.)

(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, pp. 135, 176, 302.

(4) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.

Edital da Procuratura Administrativa dos Negócios Sínicos proibindo o transporte de cadáveres pelas ruas da cidade, às costas de carregadores.

xtraído de «BOGPM», XVIII-36 de 7 de Setembro de 1918, p. 663

Os Negociantes de Macau, F. J. de Paiva, (1) J. V. Jorge (2) e B. Barretto (3) deram  no dia 11 de Abril de 1837, o último dos três dias sucessivos dos festejos pelo casamento da rainha D. Maria II (4) com o príncipe Fernando de Saxe- Coburgo-Gotha (1816- 1885) – rei consorte Fernando II, em Lisboa na Sé patriarcal no dia 19 de Abril de 1836.

O chá começou às nove horas, o baile às dez e a ceia depois das duas e a função acabou na manhã seguinte, ou para melhor dizer ao meio-dia; por quanto, depois de saírem os primeiros convidados, entraram os segundos, que eram os mendigos, pelos quais se repartiu tudo, quanto restou da lauta ceia, que tudo poderia fartar a mil pessoas

Extraído do « O Macaista Imparcial»,  I-88 de 13 de Abril de 1837

 (1) Francisco José de Paiva (1801-1849) – próspero comerciante, juiz ordinário do Senado (1831), encarregado dos Negócios Sínicos e major comandante do Batalhão do Senado (1847). Foi o 1.º cônsul geral de Portugal em Hong Kong nomeado em 21-01-1847, comendador da Ordem de Cristo e presidente (1835-1842) da comissão liquidatária da Casa «Casa de Seguros de Macau», extinta em 1825 e da qual tinha 6 acções.  Existe em Macau uma rua com o seu nome “Travessa do Paiva”. (5) Anteriores referências em:https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/francisco-jose-de-paiva/

(2) José Vicente Jorge (1803/1857) – negociante e exportador, em navios próprios, ligado ao negócio de emigração de trabalhadores chineses, almotacé da Câmara em 1831, procurador do concelho em 1840 e 1845 e provedor da Santa Casa da Misericórdia. (5) Mais informações em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-vicente-jorge-1803-1857/

(3) Bartolomeu Barretto (1784 – 1845) – natural de Bombaim (21-07-1784), estabeleceu-se como comerciante e classificador de chá em Macau. Casou pela 1.ª vez ,em Macau, com Antónia Maria Francisca Gonçalves Pereira na Igreja de S. Lourenço a 14-05-1816 e a 2.ª vez, a 18-07-1821, com a sua cunhada Angélica Rosa Gonçalves Pereira Foi director da Casa de Seguros de Macau que se estabeleceu novamente em Macau em 1822, da qual tinha 9 acções. Em 1825, foi eleito almotacé da Câmara. Faleceu em Macau a 25-02-1845. Pai de João António Gonçalves Barreto (1824-1881), , um dos fundadores do Clube Lusitano de Hong Kong. (5) Ver anterior citação de J. A. Barreto em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/j-a-barreto/

(4) Dona Maria da Glória Joana Carlota Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga (Rio de Janeiro, 1819 – Lisboa, 1853), foi a Rainha de Portugal e dos Algarves – D. Maria II, em dois períodos diferentes: primeiro de 1826 a 1828, quando foi deposta por seu tio Miguel, e depois de 1834 até à sua morte em 1853. Era a filha mais velha do imperador Pedro I do Brasil, que também reinou em Portugal brevemente como Pedro IV, e da sua primeira esposa, a imperatriz consorte do Brasil, Rainha Consorte de Portugal e dos Algarves e Arquiduquesa da Áustria, Maria Leopoldina da Áustria. Maria da Glória foi a única monarca da Europa a nascer fora de terras europeias

Retrato de D.Maria II, por John Simpson, c. 1837. https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_II_de_Portugal

D. Maria II, casou três vezes. Em 1826 casou com o seu tio o infante D. Miguel mas foi considerado nulo e dissolvido em 1834. Casou pela 2.ª vez, em Munique com príncipe Augusto de Bauhamais (1810-1835) em Janeiro de 1835 mas este faleceu em Março de 1835 de difteria. Casou então, com príncipe Fernando de Saxe- Coburgo-Gotha (1816- 1885) – rei consorte Fernando II, em Lisboa na Sé patriarcal em 19 de Abril de 1836. D. Maria II de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota, esteve grávida 12 vezes, sendo que deu à luz 11 vezes, e só 7 dos seus filhos sobreviveram, e acabou por morrer no seu 11º parto.

(5) FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Volume I, 1996.

Extraído de «Boletim da Província de Macau e Timor», XXXI-5 de 31JAN1885, p. 40

O bacharel António Marques d´Oliveira, procurador dos negócios sínicos e administrador da comunidade chineza por Sua Magestade Fidelissima que Deus guarde, etc.
Faço saber que por queixas de muitos commerciantes d´esta cidade consta que a communidade chineza tem sido frequentes vezes obrigada por alguns maleficos indivíduos de Macau, combinados com outros de fóra, ao pagamento d´um imposto denominado – despezas para defesa do litoral –, designação com que se pretende disfarçar uma extorsão repugnante, à qual correspondem graves penas comminadas no código penal. E sendo urgente pôr cobro a similhante ardil empregado pelos ociosos e malfeitores com o fim de se locupletarem à custa dos cidadãos honestos e laboriosos, ficam por este edital prevenidos todos os chinas de que devem recusar-se a pagar quaisquer quantias que por tal título, ou por outro illegal, lhes forem exigidas, sendo de esperar que, por sua própria conveniência, não deixarão de capturar os criminosos em flagrante delicto, ou de os denunciar às auctoridades ou agentes policiaes, indicando testemunhas que possam esclarecer a justiça, na certeza de que, procedendo assim, além de se pouparem particularmente a um vexame revoltante, prestarão um bom serviço à sociedade, para a qual a impunidade de taes delictos é uma ameaça e um perigo que não pode deixar de afastar-se pelo emprego dos meios para a mais severa repressão.
É para constar mandei passar o presente e outros de egual têor, que serão afixados nos logares de costume.
Macau, administração da procuratura dos negócios sínicos, 29 de janeiro de 1885 – E eu, Eduardo Pereira Leite, escrivão da administração, que o escrevi.
O procurador e administrador da comunidade chineza
António Marques d´Oliveira
Este documento foi traduzido para a língua chinesa pelo 1º intérprete Pedro Nolasco da Silva.«The Directory & Chronicle for China, Japan, Corea, Indo-China, Straits… » , 1882

Auto de notícia de 26 de Maio de 1877 da Polícia do Porto de Macau enviado à Procuratura dos Negócios Sínicos para resolução acerca de uma queixa, no dia 24 de Maio, de falta de pagamento (175 taeis) pelo transporte após salvamento de 33 homens, tripulação duma embarcação que se afundou perto da Ilha do Ladrão.
Extraído de «B.P,M.T.» , 1877, Vol XXIII – 21.
Jin Guo Ping no seu trabalho “O valor documental da Peregrinação — Contributo para a história da presença portuguesa na China e da fundação de Macau”, (recomendo a leitura), a propósito da passagem de Fernão Mendes Pinto por Macau, p. 781/782 (1), localiza assim a Ilha dos Ladrões.
O episódio de “Como nos perdemos na Ilha dos Ladrões (Capítulo LIII)” confirma as andanças do autor em Macau nos primórdios do seu estabelecimento. Na geografia marítima, a “Ilha dos Ladrões” é um nome bem conhecido. No entanto, neste caso, seria identificável com Laowanshan (Ilha do Velho Wan). Wan foi um pirata famoso no mar e no delta do Rio das Pérolas. Era em Laowanshan que o pirata procurava refúgio. Em português, a ilha é ainda hoje conhecida pelo nome de “Ilha dos Ladrões”. Fica a sudeste de Macau. “Saindo pelo Canal da Taipa, chega-se a Laowanshan, que é o ponto de referência para os barcos oceânicos e os barcos bárbaros”. Sabe-se, através dos roteiros chineses, que era um lugar de passagem para os barcos que circulavam entre o litoral chinês a leste de Hong Kong e a Cidade de Cantão. Para os barcos que vinham de Malaca pela “rota de fora”, era o primeiro ponto de chegada.
Até ao século XVII, os barcos que saiam de Macau ainda o usavam como ponto de partida.
(1) Jin Guo Ping – O valor documental da Peregrinação — Contributo para a história da presença portuguesa na China e da fundação de Macau”, in Administração n.º 72, vol. XIX, 2006-2.º, 771-783, disponível em:
http://www.safp.gov.mo/safppt/download/WCM_004481

Carlos de Faria de Milanos ou Carlos de Cadoro, como também assinava (Aveiro, 3 de Dezembro de 1879 – 8 de Janeiro de 1932), que usou o título de 2.º Barão de Cadoro, (1) foi um militar português.
Fez o Curso Secundário no Colégio Militar e o Curso de Cavalaria na Escola do Exército. Alferes em 1901, promovido a Tenente em 1904 e neste posto prestou serviço em Macau (2). Há referência duma nomeação, em 1906, para o lugar de Procurador Administrativo dos Negócios Sínicos, interino.
A seguir foi colocado em Cabo Verde, como Chefe do Estado-Maior do Exército interino. Como Capitão em 1911, fez parte do Corpo Expedicionário Português, com o qual embarcou para França a 28 de Maio de 1917. Neste ano foi promovido a Major e comandou interinamente a Base de Desembarque, em Brest. Promovido em 1918 a Tenente-Coronel, exerceu várias comissões na Direção da Arma e no Ministério da Guerra e comandou, em 1925, o Regimento de Cavalaria n.º 2. Promovido a Coronel, sempre de Cavalaria, em 1930 chefiou a 1.ª Repartição da 1.ª Direção-Geral do inistério da Guerra.
Mais informações em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_de_Faria_de_Milanos

Carlos Faria de Melo Milanos
Barão de Cadoro
https://www.pinterest.pt/pin/386394843002498929/

(1) Barão de Cadoro é um título nobiliárquico criado por D. Carlos I de Portugal, por Decreto de 16 de Novembro de 1893, em favor de Carlos de Faria e Melo, 1.º Barão de Cadoro. Após a Implantação da República Portuguesa, e com o fim do sistema nobiliárquico, Carlos de Faria de Milanos usou o título de 2.º Barão de Cadoro por autorização de D. Manuel II de Portugal no exílio de 28 de Março de 1925.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bar%C3%A3o_de_Cadoro
(2) “1906 – O B.O. n.º 41 – Portaria n.º 153 nomeia para o lugar de Procurador Administrativo dos Negócios Sínicos, interino, Carlos, barão de Cadoro, natural de Águeda (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Voume 4, 1997).

Numerosos fiéis assistiram, no dia 22 de Setembro de 1953, ao solene «Te-Deum», cantado na Sé Catedral, em acção de graças por Deus ter poupado Macau a maiores estragos, a quando do tremendo tufão que assolou a cidade, em 22 de Setembro de 1874.
«A nossa cidade, que por suas recordações históricas e tradições religiosas era uma das mais famosas e notáveis do oriente, tão bela ainda há poucos dias, perdeu, em poucas horas, grande parte do seu esplendor e formosura, sofrendo a mais horrível e lastimosa transformação!»
«Tal é o destino de todas as coisas humanas! Só Deus é grande, só Ele é imutável!»
Tais as palavras que se lêem na Circular dirigida pelo Governador do Bispado de Macau, em 27 de Setembro de 1874, ao clero e fiéis desta Diocese, convidados a orar pelas necessidades desta cidade.
E os fiéis oraram, então, durante três dias consecutivos, nas igrejas paroquiais, no seminário diocesano e no convento de Santa Clara; e aqueles que não puderam ir ao templo, oraram com boas disposições no interior de suas casas.
E, desde então, todos os anos, se vem cantando um «Te-Deum» em cumprimento do voto feito por essa ocasião.
A 25 de Setembro de 1874, o Governador da província, Visconde de São Januário, publicou no Boletim da Província de Macau e Timor, o seguinte apelo à população de Macau:
«Habitantes de Macau!
Uma grande calamidade acaba de pesar sobre esta cidade!
Os terríveis efeitos do tremendo tufão, importando em graves perdas, levaram a desolação e a desgraça, aonde ainda há pouco reinava o bem estar e a alegria!.
Respeitemos os decretos da Previdência, mas não se abata por isso o nosso ânimo, e juntemos os nossos esforços para remediar os males que não nos era dado evitar .
Macenses! Trabalhai corajosamente para reconquistar o perdido, e confiai na autoridade que há-de velar pela vossa segurança; há-de acudir aos aflitos e há-de prover de pronto à s mais instantes necessidades públicas!
macaenses! Colaborai nobremente nesta grande empresa e tende fé que vereis ainda elevar-se esta antiga possessão portuguesa ao estado florescente em que há pouco se achava»
Os estragos e as perdas causadas foram enormes. Muitos pobres, tanto portugueses como chineses, achavam-se reduzidos às extremidades da fome. Os bairros de S. Lázaro e Santo António encontravam-se em ruínas , sob os montões jaziam muitos cadáveres.
O Hospital S. Rafael ficou destruído e o Hospital Militar de S. Januário seriamente abalado. Por oferta do Governador do Bispado, foi aproveitado o Paço Episcopal para hospital.
Por avaliação feita pelo Procurador dos Negócios Sínicos sabe-se que os estragos causados nos prédios dos chineses deram um prejuízo superior a cem mil patacas. Mais de 700 lorchas grandes de comércio e pesca se perderam completamente. Calculou-se em mais de mil o número das lorchas pequenas que foram destruídas. Todas as embarcações perdidas foram avaliada em quase um milhão de patacas. A perda de mercadorias foi avaliada em cerca de 432 mil patacas. Calculou-se em quatro mil o número de chineses mortos e Macau  e mil os mortos na ilha da Taipa.
Os cadáveres forma queimados uns e sepultados outros.
Os portugueses que sucumbiram e forma sepultados no Cemitério de S. Miguel foram 20, sendo 14 homens , 4 mulheres e 2 crianças.
Foram calculados em 300 mil patacas os prejuízos havidos nas propriedades dos portugueses, estando neste número incluídos os prejuízos sofridos pela administração dos bens das Missões Portuguesas e por algumas instituições de beneficência.
Anteriores referências a este tufão
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-ii-incendio-no-bairro-de-santo-antonio/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-tufao-e-o-farol-da-guia/
E sobre tufões:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/tufoes/

João Rodrigues GonçalvesNasceu  a 12 de Maio de 1806, em Macau,  João Francisco Rodrigues Gonçalves (1806-1870), descendente da família Cortela.(1)
Desde muito novo se dedicou ao estudo da língua chinesa, (2) vindo a ser um abalizado sinólogo. Era amicíssimo do Governador João Maria Ferreira do Amaral e um dos melhores colaboradores dos eu governo, sendo o tradutor de todos os documentos oficiais nas relações com os chineses. (3) O Governador Ferreira do Amaral costumava sair com ele a passeio e à tarde era frequente ver os dois a cavalo pelas ruas da cidade.(4)
Após a morte do governador continuou a prestar serviços a esta Província como intérprete da Procuratura dos Negócios Sínicos.
João F. Rodrigues Guimarães foi nomeado membro da missão diplomática (5) que , em 1862, se deslocou a Tien-Tsin (天津 – Tientsin)  a fim de firmar o célebre tratado de 54 artigos, pelo qual a China reconheceu Macau com Colónia Portuguesa. Presidia a esta missão diplomática o Conselheiro Isidoro Francisco Guimarães, (6) então Governador que mercê do sucesso obtido foi agraciado com o título de Visconde da Praia Grande.
Em reconhecimento da valiosa colaboração prestada como intérprete e que muito contribuiu para este sucesso , foi também agraciado pelo Governo de Sua Majestade com o grau de Oficial da Ordem de Torre e Espada, por Decreto de 22 de Junho de 1863, do Ministério do Reino.(7)
João Rodrigues Gonçalves foi ainda outra vez a  Pequim, em 1860), como intérprete da embaixada francesa de Mons. de Bourboulon, ministro plenipotenciário francês.
Em recompensa também por outros serviços pelo zelo e dedicação sempre brilhantemente demonstrados, foi ainda agraciado com as Comendas da Conceição e da Ordem de Cristo.
Faleceu a 18 de Outubro de 1870 amargurado de desgostos, vítima de injúrias e traições (8) mas mais tarde a Justiça soube desfazer, dando jus ao seu nome e à sua acção.
Os seus amigos levantaram-lhe no cemitério de S. Miguel onde foi sepultado, um mausoléu e bem digno dele, no qual foram gravadas estas palavras: «Bem-aventurado tu que sofreste injustiças, porque grande será o teu galardão no céu».(9)
(1) A sua avó materna, Antónia Baptista Cortela, nascida em Macau, em 13 de Agosto de 1715, era filha de Lourenço Baptista Cortela e de Esmeralda Soares e neta paterna de João Baptista Cortela e de Coleta de Sousa.(10)
(2) Teve como mestre o Padre António Afonso Gonçalves no Colégio de S. José.(10)
(3) Nomeadamente toda a correspondência  após a morte do governador Ferreira do Amaral com as autoridades de Heong Sán e Cantão (publicadas no Boletim Oficial de 1849-1850) até à devolução da cabeça e da mão de Ferreira do Amaral.(10)
(4) Esta amizade e dedicação acarretou-lhe o ódio dos chineses, que segundo consta, chegaram a pôr a sua cabeça a prémio, oferecendo $ 10.000 a quem assassinasse o Governador e $ 5.000 a quem assassinasse o intérprete da língua chinesa, João Rodrigues Gonçalves. Por ocaso, no dia em que o governador Amaral foi assassinado, João Rodrigues Gonçalves não o pode acompanhar, devido ao seus trabalhos oficiais.(10)
(5) João Rodrigues Gonçalves nomeado intérprete por Portaria n.º 20 de 19 de Abril de 1862.(10)
(6) Conselheiro Isidoro Francisco Guimarães, governador de Macau de 1851 a 1863. A Missão diplomática partiu de Macau em 23 de Abril de 1862, chegando a Xangai a 3 de Maio e a Tien-Tsin a 26 do mesmo mês. O Tratado de Tien-Tsin (天津 条约 – Tratado de Tianjin) foi assinado a 13 de Agosto. Regressou a Macau em 9 de Setembro.(10)
(7) Portaria n.º 48, publicada no Boletim do Governo de Macau, n.º 41 de 14 de Setembro de 1863.(10)
(8) Mesquinhas questões suscitadas por António Feliciano Marques Pereira (secretário da missão diplomática ao Tratado de Tien-Tsin) que era Procurador dos Negócios Sínicos, o redactor do «Echo do Povo», e João Rodrigues Gonçalves, 1.º intérprete da Procuratura, veio este a ser suspenso do seu cargo pela Portaria n.º 55 de 8 de Maio de 1869 e demitido de 1.º intérprete da língua chinesa por Decreto Régio de 3 de Outubro de 1869.(10)
(9) Informações de «Macau B. I. 1954»
(10) TEIXEIRA, P. Manuel – Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX, 1942.