Extraído do semanário luso-chinez “Echo Macaense”, V-15, de 8 de Maio de 1898, p. 3. https://purl.pt/33024
Livro: MACHADO, Álvaro de Melo, (1) Coisas de Macau. Lisboa: Livraria Ferreira, (Ferreira Lda., Editores) 1913. – 153 p. : mapas, fotos; 24,5 cm x 16 cm. (2)
Encadernação da época (década de 20) feita pelo próprio ou a mando, na lombada “A. MACHADO – COISAS DE MACAU – BRANCO”

No prefácio (pp.3-4) Álvaro de Melo Machado afirma: “… para nosso mal, uma grande parte dos portugueses não sabe quantas e quais as colónias que possuímos; uma percentagem ainda maior desconhece onde elas se encontram situadas, a área que abrangem e a sua importância relativa; e, excluindo aquelles que por deveres de cargos ou por curiosidade se dedicam a estudos coloniaes, todos ignoram o que sejam os nossos domínios de além-mar, o que eles representam como elementos de vida da nossa nacionalidade, quaes são os seus recursos, quaes os seus mais importantes problemas, qual a vida que n´essas longiquas paragens levam os portuguezes que se expatriam e qual a acção desenvolvida pelos governos na administração de cada uma d´ellas.
– Um paiz que se mantem n´uma tal ignorância nunca poderá interessar-se verdadeiramente e a sério pelos assumptos que frequentemente se debatem sobre as suas colonias, nem poderá firmar opinião nas apaixonadas discussões da imprensa, em que cada um diz o que mais convem ao seu modo de ser politico ou particular.”
ÍNDICE: PRIMEIRA PARTE – Descripção de Macau : Resumo Historico – pp. 7-11; Descrição da colonia – pp. 13-28; Os recursos de Macau – pp. 29-47; Os problemas importantes de Macau – pp. 49- 78; Macau e o commercio portuguez na China – pp. 79-83; SEGUNDA PARTE – Usos e Costumes pp. 89-147; A situação na China – pp. 150-153
(1) Álvaro Cardoso de Melo Machado (1883 – 1970) chegou a Macau pela primeira vez como oficial do cruzador D. Amélia, no Extremo Oriente (1906-1909). Em 1909 ainda como 2º tenente, foi nomeado ajudante de campo do governador Eduardo Augusto Marques (monárquico), sendo secretário-geral interino em 1910, até ao momento em que é nomeado governador interino de Macau, a 17 de Dezembro de 1910, na sequência da queda do regime monárquico em Portugal. Foi quem assinou a Proclamação da República em Macau no Leal Senado (2.º supl. Ao B.O.o n.º 41) de 11 de Outubro e anuncia a cerimónia a terá lugar neste mesmo dia, pelas 12:00, no Leal Senado. Tinha apenas 27 anos e foi o mais novo de sempre a ocupar o cargo (interino nos dois primeiros anos) onde se manteve até 1912, sendo exonerado a seu pedido. Álvaro de Melo Machado governou Macau até ao dia 14 de Julho de 1912 (data da posse de Aníbal Augusto Sanches de Miranda). Ver biografia mais pormenorizada em ARESTA, António in «Jornal Tribuna de Macau», 23 de Janeiro de 2020. https://jtm.com.mo/opiniao/alvaro-de-melo-machado/
Ver anteriores referências deste autor: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/alvaro-de-melo-machado/
(2) Mais recente, houve segunda edição em fac-símile, lançada em Macau pela editora Kazumbi, de Rui de Carvalho, em 1997.
(3) Muito possivelmente , o Capitão reformado do quadro privativo das forças coloniais, José Vieira Branco, que em 25 de Agosto de 1919 tomou posse dos cargos de Procurador Administrativo e Administrador do Concelho de Macau e em 6 de Janeiro de 1922, exonerado, a seu pedido, do cargo de administrador do conselho.
“Natural de Faro, José Vieira Branco nasceu em 1874 e faleceu em 28-01-1938. Iniciou a sua -aprendizagem tipográfica no Progresso do Algarve, em 1882, onde procurou descobrir qual a Tipografia mais antiga em Faro. Passados onze anos, abandonou a Tipografia e seguiu a vida militar. Passou por Angola, Macau, Moçambique e pelo Continente, onde teve que lutar para sobreviver. A vida militar durou até 1928. Depois, regressou definitivamente a sua cidade.” http://teoriadojornalismo.ufp.edu.pt/inventarios/branco-c-1938?tmpl=%2Fsystem%2Fapp%2Ftemplates%2Fprint%2F&showPrintDialog=1
Outros artigos de interesse , relacionados, disponíveis na net:GONÇALVES, Arnaldo – O Debate de 1911-1912 sobre o Modelo Politico de Macau. Revista de Cultura n.º 40, 2011, pp. 55 – 72. https://arnaldo-goncalves.com/pdf/portuguese/debate_1911-2.pdf
GUEDES, João – 150 anos de Sun Yat-sen | Os grandes amigos de Macau in Revista de Macau, 5 de Outubro, 2016. https://www.revistamacau.com/2016/10/05/150-anos-de-sun-yat-sen-os-grandes-amigos-de-macau/
Extraído de «Boletim da Província de Macau e Timor», XXXI-5 de 31JAN1885, p. 40
O bacharel António Marques d´Oliveira, procurador dos negócios sínicos e administrador da comunidade chineza por Sua Magestade Fidelissima que Deus guarde, etc.
Faço saber que por queixas de muitos commerciantes d´esta cidade consta que a communidade chineza tem sido frequentes vezes obrigada por alguns maleficos indivíduos de Macau, combinados com outros de fóra, ao pagamento d´um imposto denominado – despezas para defesa do litoral –, designação com que se pretende disfarçar uma extorsão repugnante, à qual correspondem graves penas comminadas no código penal. E sendo urgente pôr cobro a similhante ardil empregado pelos ociosos e malfeitores com o fim de se locupletarem à custa dos cidadãos honestos e laboriosos, ficam por este edital prevenidos todos os chinas de que devem recusar-se a pagar quaisquer quantias que por tal título, ou por outro illegal, lhes forem exigidas, sendo de esperar que, por sua própria conveniência, não deixarão de capturar os criminosos em flagrante delicto, ou de os denunciar às auctoridades ou agentes policiaes, indicando testemunhas que possam esclarecer a justiça, na certeza de que, procedendo assim, além de se pouparem particularmente a um vexame revoltante, prestarão um bom serviço à sociedade, para a qual a impunidade de taes delictos é uma ameaça e um perigo que não pode deixar de afastar-se pelo emprego dos meios para a mais severa repressão.
É para constar mandei passar o presente e outros de egual têor, que serão afixados nos logares de costume.
Macau, administração da procuratura dos negócios sínicos, 29 de janeiro de 1885 – E eu, Eduardo Pereira Leite, escrivão da administração, que o escrevi.
O procurador e administrador da comunidade chineza
António Marques d´Oliveira
Este documento foi traduzido para a língua chinesa pelo 1º intérprete Pedro Nolasco da Silva.«The Directory & Chronicle for China, Japan, Corea, Indo-China, Straits… » , 1882
Notícia do dia 7 de Agosto de 1910 : “O cruzador S Gabriel de 1.838 toneladas chegou a Macau, na viagem de circum-navegação que estava efectuando sob o comando do Capitão António Aluízio Jervis de Atouguia Ferreira Pinto Basto“ (1)
Do relato desta viagem de circum-navegação feito pelo comandante do cruzador, reproduzo parte do capítulo (XXVI) dedicado a Macau (pp. 267 a 282): (2)
CAP. XXVI: De Fuchau a Macau e Hong Kong:
“Na manhã do dia 5 de agosto saímos de Fuchau e continuámos ao longo da costa da China com mar plano e monção fraca. (…)
Ao amanhecer do dia 7 passámos o semaphorico de Waglan, para onde içámos o signal do nome do navio, e continuando entre as ilhas fundeámos em Macau, pelas 10h da manhã.
Vieram cumprimentar-nos o ajudante do governador, e o comandante da canhoneira Patria, capitão-tenente Salazar Moscoso, e visitei o governador Eduardo Marques, o Bispo e o Patria.. No dia seguinte assistimos a um jantar offerecido pelo governador aos officiaes do S. Gabriel, onde concorreram as principaes auctoridades civis e militares, e quinze officiaes e guardas-marinhas do cruzador, ao todo umas cincoenta pessoas. Pelo telegrapho sem fios informámos para Hong Kong que chegaríamos no dia seguinte pelas 9h30m.
Em Hong Kong não ha estação publica de telegraphia sem fios, mas o nosso despacho foi recebido pelo paquete americano Manchuria, ali amarrado, cujo comandante muito amavelmente o mandou communicar ao cruzador Rainha D. Amélia.
Pelas 6 horas da manhã do dia 10 suspendemos da rada e seguindo pelo sul de Lantao, amarrámos em Hong Kong pelas 9h30m à boia n.º4, depois de pedir licença ao navio chefe Vasco da Gama e de salvar à terra com 21 tiros e ao commodoro inglez a bordo do Tamar com 11.”
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) BASTO, A. J. Pinto – Cruzador S. Gabriel. Viagem de Circumnavegação. Lisboa, Livraria Ferreira, 1912 , 444 p.
NOTA: Os desenhos são do autor do livro, A. J.Pinto Basto
Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/08/06/leitura-cruzador-s-gabriel-viagem-de-circumna-vegacao/
O funeral do 1.º cabo de infantaria, António Maria d´Oliveira Leite que faleceu em combate com os piratas em Coloane em 1910, realizou-se na quarta-feira, 13 de Julho, saindo do Hospital Militar para o Cemitério de S. Miguel.
Incorporaram-se no préstito fúnebre o governador Eduardo Marques, com o seu ajudante, tenente João Pedro Ruela, o Chefe de Estado-maior, Cor. Fernando José Rodrigues, vários oficiais e soldados.
O extinto era primo do 1.º sargento Manuel d´Oliveira Leite que tomou parte no combate do Cuamato (1) e que esteve em Macau no tempo do governador José Augusto Alves Roçadas (1908-1909)
O governador Eduardo Augusto Marques ordenou ao tenente Albino Ribas da Silva nomeado interinamente comandante da Taipa e Coloane e administrador das mesmas ilhas (com residência no comando da Taipa) que fosse a Coloane capturar os piratas e libertar os reféns. Para esse efeito, partiu de Macau, às 2h. a. m. do dia 12, o tenente Aguiar com um reforço de 45 soldados de infantaria; ambas as forças desembarcaram em Coloane às 4 h a. m.
Há duas versões sobre a morte do cabo relatados nos jornais.
A do jornal “A Verdade” do dia 14 de Julho de 1910:
“Depois do desembarque em Coloane, as forças de Ribas e Aguiar dirigiram-se a uma povoação, onde, segundo as informações prestadas, estavam os reféns, ou parte deles, mas encontraram-na quase deserta pois ali estavam, ao que nos contam, apenas um homem e uma mulher china com duas crianças. Como esse homem lhes dissesse que os piratas se haviam refugiado numa das colinas, para lá se dirigiram; mas, ao passar a certa distância de um buraco que parecia indicar a existência dalgum covil, e querendo um cabo aproximar-se para o examinar, partiu dali uma detonação, e pobre cabo recebeu num dos lados uma bala que se lhe internou nos rins, vindo a falecer à noite no Hospital de S. Januário…”
Outra versão do jornal ”Vida Nova” de 17 de Julho de 1910, o tiro que matou o 1.º cabo de infantaria António Maria d´Oliveira Leite partiu dum buraco duma casa da povoação. Relata este jornal “Por denúncia certamente de algum partidário dos piratas, estes souberam da aproximação das nossas tropas, e tanto que evacuaram, aparentemente, a vila, a ponto de não se ter encontrado senão um velho, uma mulher e uma criança, chinas, por ventura sentinelas postas pelos próprios piratas. Como não vissem ninguém, as nossa tropas foram avançando em reconhecimento, mas, dados que foram alguns passos além da rua que fica por detrás da casa de fantan, d´um buraco d´um dos pardieiros d´aquele sítio partiu um tiro de espingarda que atingiu o abdómen, um cabo d´infantaria por nome Leite, que pesquisava o local, vindo o desditoso moço a falecer em Macau, no Hospital de S. Januário para onde fôra transportado...”
(1) Os cuamatos são indígenas que habitam o sul da República de Angola. As chamadas campanhas do Cuamato foram acções desenvolvidas (denominadas Pacificação do Sul de Angola) pelos militares portugueses no ano de 1907.
Informações recolhidas de TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II – Ruas com Nomes de Pessoas. Instituto Cultural de Macau, 1997, 560 p., ISBN-972-35-0244-5
Sobre os acontecimentos decorridos na Ilha de Coloane no combate à pirataria, ver anteriores “posts”:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/06/21/noticia-de-21-de-junho-de-1952-visita-a-ilha-de-coloane-pelo-ministro-do-ultramar/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/19/noticia-de-19-de-julho-de-1954-comemora-cao-em-coloane/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/05/noticias-5-de-maio-de-1910/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/09/historia-de-piratas-i-ilhas-de-piratas/
“As festas da República foram ali assinaladas por uma revista militar que se realisou no Campo de Long Ting Ching.
“O governador da província, sr Sanches de Miranda, passando em revista os marinheiros da Patria”
Eram mais de seiscentos homens, entre os quaes iam os marinheiros da Patria, a infantaria, artilharia e polícia, além dos mouros e chinas que constituem as forças indígenas. O governador da província, sr. Sanches de Miranda, (1) assistiu ao desfile das unidades que pela sua correcção causaram entusiasmo na numerosa assistência que ladeava o campo e as ruas do percurso.
À noite houve iluminações e um grande jantar oficial no palácio do governo, solenisando-se d´este modo,o aniversário do novo regime.” (2)
“A Pátria e o vapor de Hong Kong a Macau fundeados na bahia da Praia Grande”
NOTA: A destituição da monarquia constitucional e a implantação da República Portuguesa foi a 5 de Outubro de 1910. A proclamação da República em Macau foi feita a 11 de Outubro de 1910 , pelas 12 horas, no Leal Senado.
“…cerimónia da proclamação da República , indo S. Exa. o Governador da província, à varanda dos Paços do Concelho, onde proclamou a Republica, à qual deu vivas, que foram correspondidos enthusiasticamente pelo povo e funcionários presentes a esse acto, hasteando-se n´essa ocasião a nova bandeira nacional, encarnada e verde, com tralha encarnada …” (3)
O auto da proclamação da República, elaborado pelo escrivão do Leal Senado, Patrício José da Luz foi assinado por 44 individualidades. Os mais conhecidos, Eduardo Augusto Marques (governador de 22-IX-1909 a 29-XI-1910, João Marques Vidal (governador interino de 30-XI-1910 a 17-XII-1910), Álvaro Cardoso de Mello Machado ( governador interino de 17-XII-1910 a 14-VII-1912, Luiz Gonzaga Nolasco da Silva, Constâncio José da Silva. Manuel da Silva Mendes, Camilo d´Almeida Pessanha, António Nascimento Leitão, Pedro Nolasco da Silva Jr.
(1) Aníbal Augusto Sanches de Miranda, oficial da armada: governador de 14 de Julho de 1912 a 16 de Abril de 19 de Abril de 1914.
(2) Artigo não assinado na revista “Illustração Portugueza”, de 24 de Novembro de 1913.
(3) 2.º Suplemento ao Boletim Oficial, n.º 41 (1910)
Em consequência da falta de selos postais das taxas de 1, 2 e 5 avos, que se fazia sentir em Macau, o governador interino Álvaro de Melo Machado, emitiu uma portaria (n.º 168 de 5 de Agosto de 1911, publicada no B. O. n.º 31) do seguinte teor: (1)
«O Governador interino da província de Macau,
Desejando providenciar de forma a atenuar os convenientes que resultam da actual falta de selos postais das taxas de 1 e 2 avos; tendo a experiência demonstrado que é inútil lançar novas sobrecargas em selos de outras taxas porque constituindo-se por essa forma novas especialidades filatélicas, será esgotada a quantidade existente por maior que ela seja, ficando da mesma forma o público inibido de franquear a sua correspondência;
Não podendo criar selos especiais na província;
Sendo o caso de natureza tão urgente que exige providências imediatas;
Com o voto unânime do Conselho do Governo;
Determino que, enquanto da metrópole não for recebida nova remessa de selos postais se proceda da seguinte forma:1.º – O Correio de Macau deixa de vender selos postais.
2.º – O Correio de Macau receberá em mão todas as correspondências que serão franqueadas pelos empregados do Correio, na presença do portador.
3.º – O Correio de Macau reservará os selos postais ainda existentes para a correspondência não destinada a Macau, Hong Kong, Cantão e portos da China.
4.º – A correspondência para Macau, Hong Kong, Cantão e portos da China não será franqueada por meio de selos postais mas sim pela aplicação do carimbo da Direcção dos Correios de Macau.
5.º – A cobrança das taxas postais para a remessa de correspondências para Macau, Hong Kong, Cantão e portos da China será feita por meio de senhas de recibo impressas na Imprensa Nacional, numeradas seguidamente pela Repartição Superior da fazenda e assinadas pelo Director dos Correios de Macau. As senhas de recibo serão afixadas na correspondência a enviar.
6.º – O Director dos Correios prestará contas perante a repartição Superior de Fazenda das cadernetas de senha de recibo que lhes forem entregues.
Cumpra-se
Palácio do Governo de Macau, 2 de Agosto de 1911.
O Governador interino, Álvaro de Melo Machado.»
Selos ainda da Monarquia – série D. Luís I – emitidos em 02-04-1911 de 1, 2 e 5 avos, com a sobrecarga a vermelho “REPÚBLICA”. Creio que a série tinha 11 selos de diversas franquias.
NOTA. Álvaro Cardoso de Melo Machado (1883-1970) , oficial da Marinha de Guerra, foi oficial do cruzador D. Amélia, no Extremo Oriente (1906-1909), e como segundo tenente, em 1909, foi ajudante de campo do governador Eduardo Marques. Como Secretário-Geral interino, proclamou a República em Macau no dia 11-10-1910. Foi posteriormente nomeado Governador em 17-12-1910. Governou até 14 de Julho de 1912. É autor do livro “Coisas de Macau“, publicado em 1913.
(1) Esta portaria foi revogada em 29 de Novembro do mesmo ano quando finalmente os selos de Lisboa chegaram a Macau.
Informação recolhida da revista “NAM VAN” n.º 11, 1985, p. 53. (artigo não assinado, possivelmente de José António Duarte Martins.)
Continuação do anterior post (1)
“Alguns aventuram-se nas ruas de Macau; entram no fantan e jogam; penetram nas casas de prazer onde come o fane (2) e bebem o chá e se a polícia adrega saber que está ali um pirata então arranja- se uma verdadeira série de artimanhas para se pôr a salvo. Já sahiu; abonam-se-lhe as qualidades ou n´um rompante elle foge deixando nas mãos da auctoridade o seu rabicho…postiço. Macau é o paraízo dos piratas que se abrigam quasi sempre em Coloane ou na Taipa onde ha annos foi preso o mais terrível de todos elles. O vice-rei de Cantão tinha medo d´esse homem extranho que raptava as mais ricas donzelas da sua província e ousadamente as levava para as ter como refens. O Ho Nam (3)viu presas as suas mais formosas filhas, as lindas chinezinhas de pés minusculos, olhos em amendoa e sobrancelhas traçadas a nankin: e todo o Kuang Tung (4)chorava de magua por esse raptor de donzelas jamais ser apanhado e que exigia sempre quantias fabulosas pelas suas captivas.
LEGENDA DAS FOTOS:
1 – Os piratas prisioneiros no quartel da polícia
2 – Uma mulher pirata
3 – A povoação de Lai-chi-van onde estavam acoutados os piratas
4 – Trecho da estrada do porto á villa
5 – Estragos do bombardeamento na ilha de Coloane
Corria já bem forte a lenda: o pirata era quasi um semi-deus. Um dia soube.se que estava na Taipa; um pelotão de marinheiros portuguezes foi dar caça a esse terrivel bandido, que tanto incommodava o mandarim vice-rei de Cantão, e, após um tiroteio violento, trouxe ferido n´um calcanhar esse Achilles da raça amarella para a fortaleza do Monte.
Chorava noite e dia o famoso pirata raptor das mais lindas virgens de Ho-Nan e dizia no meio dos seus prantos que jamais fizera mal aos portuguezes que o iam enviar para essa China terrivel, onde seria decepada a sua cabeça”
LEGENDA DAS FOTOS:
1 – Um posto de observação
2 – Outro aspecto da villa bombardeada
3 – Grupo de captivos pelos piratas que as tropas portuguezas libertaram
É sempre assim; os piratas preferem os seus compatriotas como succedeu agora n´essa triste aldeia de Tong ang, no districto de Sanneg, dónde roubaram da escola dezasseis creanças que levaram captivas para Coloane. Do fundo do rochedo, onde as tinham guardado, exigiam trinta e cinco mil patacas. Os paes das creanças choravam; o commerciante de Hong Kong, fundador da escola, desolava-os; todos pediam providencias ás auctoridades portuguezas que, como sempre, marcando muito bem a sua suberania no território, foram caçar os raptores …..”
…continua…..
Artigo e fotos não assinados das páginas 331 e 332 , Ilustração Portuguesa (edição semanal do jornal O SECULO), n.º 238, Lisboa, 12 de Setembro de 1910, pp. 329 – 334.
Segundo Luís Gonzaga Gomes (5), terá sido no dia 5 de Maio de 1910 que “ousados piratas chineses incursionaram as aldeias de Tong Hang e Pac Seac, do distrito de San Neng, em Seak Kei, e raptaram 18 crianças, das quais 17 eram alunos, sendo o último um moço de cozinha, duma escola, exigindo $ 35,000, quantia bastante elevada para a época.” Três chineses de Hong Kong, um dos quais era avô duma das crianças raptadas e outros dois, progenitores de duas das crianças, solicitaram a ajuda do advogado Constâncio José da Silva (6) no dia 11 de Julho. O advogado fez uma “bem fundamentada exposição” ao Governador da Província (Eduardo Augusto Marques) relatando os factos juntando à sua exposição as três cartas dos chefes dos piratas em que exigiam o resgaste.
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/09/historia-de-piratas-i-ilhas-de-piratas/
(2) 饭 –mandarin pinyin: fàn; cantonense jyutping: faan6 – arroz cozinhado, refeição.
(3) Aldeia/Vila da província de Guangdong / 廣東 / Kuangtung / província de Cantão.
(4) 廣東 – mandarin pinyin: guang dong; cantonense jyutping: gwong2 dung2 – província de Guangdong/Cantão
(5) GOMES, Luís Gonzaga – Páginas da História de Macau. Instituto Internacional de Macau, 2010, 358 p., ISBN: 978-99937-45-38-9
(6) Constâncio José da Silva era advogado, editor, director e proprietário do hebdomadário “A Verdade“, cuja redacção, administração e tipografia estavam instaladas, no rés-do-chão do prédio n.º 17 da Rua da Praia Grande, onde ele residia com a sua família e onde tinha também o seu escritório de advogado.