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Continuação dos apontamentos que o Governador Álvaro de Mello de Machado deixou escrito no seu livro “Coisas de Macau” (1913), nas pp. 132 e 133, (1) sobre os monumentos (com valor artístico) existentes até esse ano em Macau. (2)

(1) MACHADO, Álvaro de Mello – Coisas de Macau. Livraria Ferreira, 1913, 153 p. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/alvaro-de-melo-machado/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2021/02/19/leitura-coisas-de-macau-de-alvaro-de-mello-machado/

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/gruta-de-camoes/

Extraído de «MBI», III-55 de 15 de Novembro de 1955, p. 5

“26-09-1783 – Na colina da Penha ficava o cemitério dos Arménios, donde foram removidas para a Fortaleza do Monte duas lápides sepulcrais (transladadas primeiro para o Museu Arqueológico dentro do recinto das Ruínas de S. Paulo sendo as pedras partidas pelos assalariados da Câmara) com estes epitáfios (o epitáfio está na língua antiga da Arménia; a pedido de Sir Lindsay Ride, um professor universitário arménio fez a seguinte tradução das inscrições)

Em 1783, havia em Cantão 30 arménios que faziam comércio entre a Índia e a China. (2)

NOTAS: “1790 – A Casa de Comércio da Nação Arménia, estabelecida há quase meio século em Macau, representada por Warren Gasper residente em Batávia, solicita ao Ministro Português dos Negócios Estrangeiros, Martinho de Melo e Castro, o estabelecimento de uma casa comercial em Dili (Timor). A proposta tratava de assegurar a regularidade anual da carga comercial do “barco das vias” com passagem por Batávia, ao mesmo tempo que poderia permitir afastar os comerciantes de Macassar e outros estrangeiros do comércio de Timor, alargando uma maior participação de Macau no comércio do sândalo que rumava para a China.”  In Ivo Carneiro de Sousa, “Timor, Relações de Macau com”, entrada em DITEMA, vol IV, pp. 1440-1441. (3)

“1793 – O Vice-rei da Índia Portuguesa autorizou os arménios expulsos de Portugal metropolitano a refugiar-se em Macau.” (3)

(1) Nas primeiras décadas do século XIX, um arménio da comunidade de Macau chamado Lassar, ajudou o Dr. Joshua Marshman, do Colégio de Serampore, em Bengala, a traduzir a bíblia em cantonês” (TEIXEIRA, Toponímia de Macau, vol.I, p. 270)

(2) TEIXEIRA, Toponímia de Macau, vol.I, pp. 269-270.

(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. I, 2015, pp. 308, 321 e 324

Extraído de «O Independente», Vol. I-5 de 16 de Outubro de 1869, p. 38 de HK
Extraído de «BPMT», XIII-29 de 13 de Julho de 1872, p. 129

Um edital do Governo da Província, datado de 3 de Janeiro de 1849, fixava o lugar para o enterramento dos chineses em geral. O presente edital do Leal Senado de 10 de Julho de 1872 determinou que o Cemitério Chinês de S. Lázaro se fundisse no de S. Miguel (inaugurado em 1854) (1), onde desde essa data, passaram a enterrar-se todos os cadáveres dos finados católicos chineses e não chineses de Macau. Mas só em Maio de 1910 se fez a transladação dos restos mortais das 220 pessoas (pertencentes a 50 apelidos ou famílias), enterradas, entre os anos de 1849 e 1872, pelo menos, nesse Cemitério, que ficava entre a Rua de Volong e a da Horta da Companhia e ainda agora é recordado pelo nome de Estrada do Repouso. (2) (3) (4)

(1) “14-11-1854 – Inaugurou-se o cemitério de S. Miguel com o enterro do primeiro cadáver. Até aí os enterramentos dos católicos faziam-se nas paredes arruinadas da igreja de S. Paulo “ (Anuário de Macau, 1922, p. 33)

(2) Estrada do Repouso – “Este nome traz-nos à lembrança o antigo cemitério de S. Lázaro, fundado em 1849, que ficava entre a Rua do Volong e a da Horta da Companhia. Este cemitério serviu até 1873 pelo menos.” (2)

(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997, p. 271-272

(4) “Devido aos cristãos chineses levarem os mortos e pessoas gravemente doentes para a Capela de S. José, o padre de S. Lázaro queixou-se ao Bispo que, em 26 de Maio de 1847, oficiou o Provedor da Santa Casa. Assim se conseguiu um novo terreno onde se construiu uma escola e um necrotério, dependente da Capela de S. José. Dois anos depois foi aberto o Cemitério de S. Lázaro onde 220 cristãos chineses estiveram sepultados até 1910, quando foram transladados para o de S. Miguel Arcanjo, inaugurado em 1854, no outro lado da Estrada do Cemitério.” (MORAIS, José Simões – O sentir de aldeia no Bairro de S. Lázaro, publicado na Revista «Macau”, Agosto de 2014 e disponível para leitura em: https://www.revistamacau.com.mo/2014/08/20/o-sentir-de-aldeia-no-bairro-de-s-lazaro/

Hoje dia 5 de Abril de 2022, celebra-se o culto aos mortos «Cheng Meng».

Retiro parte dum artigo, não assinado da revista “Macau Boletim de Informação e Turismo», Vol. X, n.ºs 1 e 2 de Março/Abril de 1974, pp. 36-39”, acerca deste culto que, em 1974, recaiu também no dia 5 de Abril

“O culto dos mortos integra-se, anualmente, em duas festividades, das mais concorridas entre as que estabelece o calendário o calendário religioso.

Um delas realizou-se, no corrente ano (1974) no dia 5 de Abril, denominada «Cheng Meng». Para a sua celebração, desembarcaram em Macau alguns milhares de residentes de Hong Kong, que têm os seus mortos sepultados em território português, principalmente nas ilhas da Taipa e Coloane. Outros passaram por Macau a caminho da China, onde se encontram as sepulturas dos seus familiares, para além da Porta do Cerco, para onde seguiam noutros tempos os enterros, Hoje não se permite tal prática, mas respeitam-se as sepulturas. Mudaram-se os tempos e as gentes acomodam-se.

Presentemente é pelas encostas das colinas da Taipa e Coloane que se procura o campo para enterrar os mortos, sem haver qualquer área limitada, sendo aa escolha do local indicada pelo critério dos bonzos budistas, de acordo com determinadas características que só eles conhecem, porque a natureza da terra liga-se intimamente com a sorte do morto, uma primeira condição a ter em mente para garantir a felicidade dos que passaram a outras regiões.

Muitos estão já a ser enterrados nos cemitérios de Macau, alheando-se as famílias das recomendações dos calendários budista, modernizando-se neste particular, mas a veneração e o culto continuam a processar-se mais ou menos dentro do mesmo ritualismo tradicional.

Quem se deslocar nestes dias do «Cheng Meng» às ilhas da Taipa e Coloane deparará com um espectáculo inédito para os ocidentais. Pelas colinas, estendem-se as sepulturas, umas mais aparatosamente construídas – outras mais modestamente, assinaladas apenas por uma pedra com a correspondente inscrição, uma terra batida, a testemunhar a modéstia da família. (…)

Transportam com eles os mais variados géneros comestíveis que são consumidos mesmo sobre a sepultura pelos membros da família presentes. Compreendem galinhas, porco assado, arroz, frutas variadas. O porquinho assado evidencia certo nível de bem-estar do agregado familiar.

Espiritualmente, os mortos estão ali presente e participam do ágape, para marcar a convivência íntima que deve unir as gerações vivas àquelas que passaram, mas cujos rastos ainda iluminam as vias dos que pisam a terra. É esta função do culto aos mortos, função profundamente humana, se humanismo dinama das relações que prendem os homens uns aos outros, num encadeamento contínuo”. (…)

Sobre as sepulturas acendam-se os «pivetes» – velas de culto características – e queimam-se os «cai chin», (dinheiro para os mortos) e ainda outros artigos de papel para que aos mortos nada falte no outro mundo, onde continuam a ser felizes na medida em que os vivos se mostrarem generosos para com eles e as suas necessidades forem satisfeitas.

O termo «Cheng Meng», do vocabulário chinês, significa «erguer-se de manhã cedo», porque é logo ao despontar do dia que todos procuram dirigir-se para as campas, para terem tempo suficiente ao cumprimento da grande obrigação para com os mortos.

Guia de “Macau Turístico” publicitado em 1922 , em português e inglês, de monumentos, relíquias históricas e outros lugares de interesse que podiam ser visitados.

Extraído de «Anuário de Macau», 1922, pp. 91-92
Extraído de «BPMT», XIV-2 de 13 de Janeiro de 1868, p. 8.

“No dia 13 de Maio de 1856 houve um leilão das casas denominadas do Barão sitas na rua da Praia do Manduco n.º 1 sendo de vinte mil patacas a base de licitação. As casas foram leiloadas pelo falecimento do proprietário Bernardo Estevão Carneiro” (1) (2)

O leilão foi publicitado no Boletim do Governo como “Avizo Judicial” de 24 de Abril de 1856 (3)

Extraído de «BGPMTS», II-27 de 26 de Abril de 1856, p. 108

No mesmo Boletim, na mesma página  e no nº seguinte, foi publicado outro anúncio, dos familiares do defunto (Bernardo Estevão Carneiro), Ana Maria Peres da Luz e Silva Carneiro (esposa) e Joaquim António Peres da Silva (genro) a contestarem a venda das Casas. (4)

Extraído de «BGPMTS », II-28 de 3 de Maio de 1856, p. 116

(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954

(2) Bernardo Estevão Carneiro (1785-1854) – não se sabe em que ano veio para o Oriente, mas em 1819 já vivia em Manila destacando-se no comércio. Em 1831 veio para Macau onde em 1825 tinha comprado o palácio da Rua da Praia do Manduco, que fora do Barão de S. José de Porto Alegre. Foi um dos mais ricos comerciantes e proprietários do seu tempo. Exerceu por duas vezes o cargo de procurador do concelho. Era proprietário do chamado «Jardim do Carneiro», sito na Bela Vista que sua viúva vendeu mais tarde a Cleverly Osmond para servir de Cemitério Protestante. Casou pela 1.ª vez em Manila, com Gertrudes Maria Pereira e pela 2.ª vez em Macau (1837) com Ana Maria Peres da Luz e Silva (1807-1888). Joaquim António Peres da Silva (1806-1861) era o genro de Bernardo Estevão Carneiro, casado com a 1.º filha do 1.º casamento, Vicenta Sabina Carneiro, nascida em Manila (1817-1907). FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Volume I, pp. 661-662

3) Boletim do Governo da Província de Macao, Timor e Solor II-27 de 26 de Abril de 1856, p. 108

(4) Boletim do Governo da Província de Macao, Timor e Solor, II-28 de 3 de Maio de 1856, p. 116

Fotografia da capa – Ferreira de Castro na Porta do Cerco

Livro de 1998, com o título “Macau e a China”, (1) uma edição especial bilingue (em português e em chinês) da Câmara Municipal das Ilhas (por ocasião das comemorações do Dia das Ilhas) contendo parte do relato de viagem que o escritor Ferreira da Castro (2) efectuou entre 1939 e 1944 com a sua mulher, Elena Muriel, nomeadamente a passagem por Macau e China, publicada no Capítulo “China” do seu livro de viagem “ Volta ao Mundo” (nas pp 467 – 522. (3)
Com um pequeno prefácio (p. 5) de Joaquim Ribeiro Madeira de Carvalho (então Presidente da Câmara Municipal das Ilhas) e introdução/nota bibliográfica de Ricardo António Alves intitulada «Ferreira de Castro na “Cidade de Lilipute”».
A propósito de uma foto do escritor na Gruta de Camões (p. 13), escreve Ferreira de Castro: (pp. 36-37)
“Atravessamos os bairros novos e subimos a outra colina, a de Camões. No seu glauco sopé fecha-se um vetusto cemitério protestante, com as suas marmóreas sepulturas em forma de caixas quadrilongas. Nestas velhas tumbas encontram-se alguns dos primeiros europeus que morreram no Extremo-Oriente, sobretudo alguns magnates ingleses da famigerada Companhia das Índias, senhores que foram de milhentas traficâncias e de fabulosas riquezas, agora em repouso e olvido entre as bravas ervas que crescem em derredor de seus mausoléus. Poetas, missionários, nautas britânicos e esbeltas loiras de Albion dormem também, sob o sol da Ásia, na vizinhança dos feros homens que só o oiro adoravam. Uma indiscrição, um lagarto sobre as letras já a desvanecerem-se e o silêncio que vai dum extremo a outro do cemitério, como presença inexorável.
Mais acima da necrópole, topa-se um pequeno museu e, depois, entramos nas verdes sendas da colina de Camões. É um admirável parque, cheio de amáveis recantos, de árvores seculares, de flores, de chineses que meditam sobre os bancos, de pares que buscam as sombras e de crianças que brincam nas clareiras. Situado junto ao porto interior, o outeiro oferece belas perspectivas sobre os juncos ancorados, a Ilha Verde, no flanco da península, e as distantes montanhas de Chung-Shan. A única coisa feia é , justamente, a gruta onde o épico teria escrito parte dos “Lusíadas”. Dois penedos verticais, sobre eles um penedo horizontal, eis o sítio que se julga eleito por Camões para nele trabalhar. Sugestivo seria, sem dúvida, o lugar no tempo em que o poeta desempenhou, talvez, em Macau, o burocrático ofício de “Provedor dos defuntos e ausentes”..Mas, hoje, com um pobre busto de Camões entre as rochas e várias lápides portugueses e chinas em derredor, o que houve, aqui, de rude, de beleza selvagem, transformou-se numa espécie de fruste necrópole. “

Macau – A Gruta de Camões onde o poeta teria escrito parte de «Os Lusiadas»
Legenda e foto da p. 482 do livro “A Volta ao Mundo” (3)

(1) CASTRO, Ferreira de – Macau e a China. Câmara Municipal das Ilhas. Direcção da edição: António Aresta e Celina Veiga de Oliveira, 1998,115 p. ISBN972-8279-23-X (Versão Portuguesa)

Capa + contracapa

(2) Na contra-capa do livro: “No Romance português há um antes e um depois de Ferreira de Castro (1898-1974). Este escritor autodidacta, de origens camponesas humildes, nascido no litoral centro de Portugal, emigrado aos doze anos incompletos, em plena Amazónia (1911-1914) e, depois como afixador de cartazes, marinheiro e, por fim, jornalista em Belém (1914-1919), capital do estado brasileiro do Pará, em cuja biblioteca leu avidamente Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós, Balzac e Zola, Nietzsche e Gorki; o literato que após o regresso ao seu país continuou no jornalismo, apenas como meio de sustento que lhe possibilitasse escrever os seus primeiros livros; o jovem Ferreira de Castro, aos trinta anos, com o livro Emigrantes (1928), mudou o rumo da ficção narrativa portuguesa, passando a ser uma das figuras de proa – ou a figura de proa – entre os finais dos anos vinte e a primeira metade da década de cinquenta” (Ricardo António Alves)
(3) CASTRO, Ferreira de – A Volta ao Mundo. Emprêsa Nacional de Publicidade, 1944, 678 p.
Anteriores referências a este escritor em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/01/05/leitura-a-volta-ao-mundo-ferreira-de-castro/