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Continuação da leitura do livro “CHRONICA PLANETARIA (Viagem à Volta do Mundo) ” de José Augusto Correa, publicado em 1904 (1), referido em anteriores postagens (2)

“Uma das primeiras curiosidades de Macau que, naturalmente, o forasteiro procura vêr, é a afamada Gruta de Camões. A collina que a encerra é um pedaço do Bussaco transplantado ao extremo-oriente, assim como a avenida da Praia Grande é, em miniatura, a Promenade des Anglais, em Nice. Visitei a Gruta em um Domingo (22 de Junho). Ao aproximar-me do portão que, ao canto de uma pequena praça, dá entrada ao famoso recinto, ouvi canticos religiosos. Á direita de onde eles partiam vi uma fachada de egreja com uma porta aberta e entrei. Era um templo protestante, e na ocasião um padre inglez discursava. Retrocedendo tranpuz o portão e achei-me em face de um bello prédio azul que serve de repartição de obras públicas. (3) Na frente há um jardim. Contornando este, transpondo outro portão e descendo uma escada, penetra-se na pequena eden que inspirou o grande vate.

Segue-se no bosque um arruado amenisado por massiços de cannas e copado arvoredo, até que um caminho á esquerda, subindo o suave outeiro, nos leva ao local onde uma grande pedra, pousada sobre outras duas, cobre o busto, em bronze, do sublime épico, assente em um pedestal de granito. Sobre as quatro faces de base, estão gravadas outras tantas estancias dos Lusíadas e ao lado esquerdo, quatro grande pedras graníticas, encostadas as rochedo conteem sonetos dedicados ao cantor immortal. Este logar é impropriamente chamado gruta, visto que lhe falta a concavidade interior.

BUSTO DE CAMÕES NA GRUTA . 1957

É de crer que Camões se inspirasse alguns passos mais acima, no vértice da collina que domina o esplendoroso panorama do porto, da cidade, das ilhas circunvizinhas e de liquida imensidade. N´este alto está uma guarita de pedra e cal, onde de abrigou La Perouse, (4) ao acertar os instrumentos nauticos com que navegou para a imortalidade.”

(1) CORREA, José Augusto – Cronica Planetaria (Viagem à volta do mundo), 2.ª edição. Editora: Empreza da História de Portugal, Lisboa, 2.ª edição, 1904, 514 p. Illustrada com 240 photogravuras; 15,5 cm x 21 cm.

(2)https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/07/04/leitura-chronica-planetaria-de-jose-augusto-correa-i/

(3) Esta casa (Casa Garden) construída em 1770, era originalmente a residência de um rico comerciante português, conselheiro Manuel Pereira. Posteriormente, foi alugado para a Companhia das Índias Orientais.

Em 1885, o seu genro Lourenço Marques, que herdou a propriedade, vendeu-a ao Governo. Em 1887, instalou-se aí a Direcção das Obras Ppblicas, e depois em 1931, a Imprensa Nacional de Macau. Tornou-se parte integrante do Património Mundial da UNESCO Centro Histórico de Macau em 2005. Hoje em dia, é a sede da Fundação Oriente.

(4) Em 3 de Janeiro de 1787, fundearam, no ancoradouro da Taipa, os vasos de guerra franceses «Astrolabe» e «Boussole», e os seus oficiais, sob a direcção do Conde Jean François de Lapérouse. (1714-1788), que por ordem de Luís XVI fazia uma viagem de exploração científica à volta do mundo  Estiveram instalados no recinto da Gruta de Camões, onde efectuaram várias observações astronómicas. (SILVA, Beatriz Basto de – Cronologia da História de Macau, Volume 2, 1997)

Ver anteriores referências à Gruta de Camões, em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/07/15/macau-e-a-gruta-de-camoes-iv/

Carta de J. Livingstone, cirurgião na China , escrito em Macau em 25 de Março de 1820, a Joseph Hume, publicada no “New Times” de 2 de Outubro de 1820.

Extraído de «The Asiatic Journal and Monthly Register for British India and Its Dependencies», Volume 10-July to december 1820, p. 583
Foram os médicos da “Companhia Britânica das Índias Orientais”, em colaboração com os missionários protestantes, que introduziram a medicina ocidental na China, e revolucionaram a prática médica chinesa com novos conceitos e práticas. Os pioneiros, os três principais terão sido o Dr. Alexander Pearson (1780-1874) que foi o introdutor da vacinação antivariólica em Macau e Cantão em 1805, Robert Morrison (1782-1834 – missionário protestante, e tradutor de chinês durante 25 anos da ”Companhia Inglesa das Índias Orientais” que não era médico)  e Dr. .John Livingstone, (1) que abriu (com Robert Morrison) o primeiro dispensário  médico ocidental (particular) para os pobres, em Macau, em 1820. Em 1827, Thomas R. Colledge abriria um “hospital” oftalmológico em Macau que funcionou de 1827/28 a 1832 (totalmente financiado pelo próprio).

(1) John Livingstone (c.1770-1838?) (1) foi médico da “Companhia Britânica das Índias Orientais” na China nomeadamente em Cantão e Macau. Terá vindo para a China pela primeira vez em 1793 e uma segunda visita de 1803 a 1827 (?). Chegou a Macau em 1820.
NOTA: No Cemitério Protestante (antigo Cemitério da Companhia das Índias Orientais) está sepultada uma filha de John Livingstone, de nome Charlotte de 5 meses (1818) bem como o Rev. Robert Morrison e sua mulher Mary Morrison (1791- 1821) e ainda três crianças irmãs, filhas de Dr Thomas Richardson Colledge e Carolina Mary Shillaber Colledge.
(1) 原文條目mandarim pīnyīn: yuán  wén tiáo mù ; cantonense jyutping: jyun4 man4 tiu4  muk6
https://en.wikipedia.org/wiki/Medical_missions_in_China
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24585751
https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1258/jmb.2011.011075

Fotografia da capa – Ferreira de Castro na Porta do Cerco

Livro de 1998, com o título “Macau e a China”, (1) uma edição especial bilingue (em português e em chinês) da Câmara Municipal das Ilhas (por ocasião das comemorações do Dia das Ilhas) contendo parte do relato de viagem que o escritor Ferreira da Castro (2) efectuou entre 1939 e 1944 com a sua mulher, Elena Muriel, nomeadamente a passagem por Macau e China, publicada no Capítulo “China” do seu livro de viagem “ Volta ao Mundo” (nas pp 467 – 522. (3)
Com um pequeno prefácio (p. 5) de Joaquim Ribeiro Madeira de Carvalho (então Presidente da Câmara Municipal das Ilhas) e introdução/nota bibliográfica de Ricardo António Alves intitulada «Ferreira de Castro na “Cidade de Lilipute”».
A propósito de uma foto do escritor na Gruta de Camões (p. 13), escreve Ferreira de Castro: (pp. 36-37)
“Atravessamos os bairros novos e subimos a outra colina, a de Camões. No seu glauco sopé fecha-se um vetusto cemitério protestante, com as suas marmóreas sepulturas em forma de caixas quadrilongas. Nestas velhas tumbas encontram-se alguns dos primeiros europeus que morreram no Extremo-Oriente, sobretudo alguns magnates ingleses da famigerada Companhia das Índias, senhores que foram de milhentas traficâncias e de fabulosas riquezas, agora em repouso e olvido entre as bravas ervas que crescem em derredor de seus mausoléus. Poetas, missionários, nautas britânicos e esbeltas loiras de Albion dormem também, sob o sol da Ásia, na vizinhança dos feros homens que só o oiro adoravam. Uma indiscrição, um lagarto sobre as letras já a desvanecerem-se e o silêncio que vai dum extremo a outro do cemitério, como presença inexorável.
Mais acima da necrópole, topa-se um pequeno museu e, depois, entramos nas verdes sendas da colina de Camões. É um admirável parque, cheio de amáveis recantos, de árvores seculares, de flores, de chineses que meditam sobre os bancos, de pares que buscam as sombras e de crianças que brincam nas clareiras. Situado junto ao porto interior, o outeiro oferece belas perspectivas sobre os juncos ancorados, a Ilha Verde, no flanco da península, e as distantes montanhas de Chung-Shan. A única coisa feia é , justamente, a gruta onde o épico teria escrito parte dos “Lusíadas”. Dois penedos verticais, sobre eles um penedo horizontal, eis o sítio que se julga eleito por Camões para nele trabalhar. Sugestivo seria, sem dúvida, o lugar no tempo em que o poeta desempenhou, talvez, em Macau, o burocrático ofício de “Provedor dos defuntos e ausentes”..Mas, hoje, com um pobre busto de Camões entre as rochas e várias lápides portugueses e chinas em derredor, o que houve, aqui, de rude, de beleza selvagem, transformou-se numa espécie de fruste necrópole. “

Macau – A Gruta de Camões onde o poeta teria escrito parte de «Os Lusiadas»
Legenda e foto da p. 482 do livro “A Volta ao Mundo” (3)

(1) CASTRO, Ferreira de – Macau e a China. Câmara Municipal das Ilhas. Direcção da edição: António Aresta e Celina Veiga de Oliveira, 1998,115 p. ISBN972-8279-23-X (Versão Portuguesa)

Capa + contracapa

(2) Na contra-capa do livro: “No Romance português há um antes e um depois de Ferreira de Castro (1898-1974). Este escritor autodidacta, de origens camponesas humildes, nascido no litoral centro de Portugal, emigrado aos doze anos incompletos, em plena Amazónia (1911-1914) e, depois como afixador de cartazes, marinheiro e, por fim, jornalista em Belém (1914-1919), capital do estado brasileiro do Pará, em cuja biblioteca leu avidamente Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós, Balzac e Zola, Nietzsche e Gorki; o literato que após o regresso ao seu país continuou no jornalismo, apenas como meio de sustento que lhe possibilitasse escrever os seus primeiros livros; o jovem Ferreira de Castro, aos trinta anos, com o livro Emigrantes (1928), mudou o rumo da ficção narrativa portuguesa, passando a ser uma das figuras de proa – ou a figura de proa – entre os finais dos anos vinte e a primeira metade da década de cinquenta” (Ricardo António Alves)
(3) CASTRO, Ferreira de – A Volta ao Mundo. Emprêsa Nacional de Publicidade, 1944, 678 p.
Anteriores referências a este escritor em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/01/05/leitura-a-volta-ao-mundo-ferreira-de-castro/

Entrada do Jardim de Camões – Maio 2017

Com uma área de 2,45 hectares (1) é um dos jardins mais antigos de Macau (a par do jardim interior do Leal Senado e do jardim de S. Francisco), situado numa pequena elevação que se estende para norte da Praça de Luís de Camões (2) onde está a entrada. Entra-se por um amplo portão de ferro, visualizando logo à entrada quatro belos exemplares de árvores do pagode (Ficus microcarpa L. f.), com as suas longas e delgadas raízes adejando ao vento. Ao fundo uma escadaria, enquadrada por belos exemplares de palmeiras elegantes ou palmeiras Alexandras, juntamente com palmeiras leque e palmeiras bambus, que conduz à parte superior do jardim, onde se encontra o busto do poeta. (1)

Jardim de Camões – 1950

O local ocupado pelo jardim situava-se nos limites da cidade, sendo ainda a visível na sua parte norte, o que devem ter sido umas antigas muralhas. Era propriedade de um dos homens mais ricos de Macau, o conselheiro Manuel Pereira, tendo-a adquirido em 1815.
A Companhia das Índias Orientais arrendaram a propriedade e forma os ingleses que ao gosto romântico da época que criaram sobre o cerrado arvoredo, estreitas alamedas seguindo a orografia do terreno, para o que mandaram inclusivamente vir jardineiros de Inglaterra. (1)

Jardim de Camões -1960

Segundo Carlos Estorninho (3), os ingleses conseguiram reunir no jardim numerosos e valiosos exemplares da flora da China, Malaca, Java, Manila e Índia que mereceram, nos finais do século XVIII e princípios do século XIX, a atenção dos botânicos ingleses David Stornach,(4) William Kerr (5) e Thomas Beale,(6) tendo este último enviado para o Jardim Botânico de Kew, em Inglaterra, mais de 2500 plantas exóticas. Com a a extinção da Companhia das Índias Orientais, a propriedade voltou a ser administrada pelos familiares do conselheiro Manuel Pereira (falecido em 1826), nomeadamente o seu genro comendador Lourenço Marques (7). A propriedade foi depois vendida ao Governo de Macau em 1885.
(1) ESTÁCIO, António Júlio Emerenciano; SARAIVA, António Manuel de Paula – Jardins e Parques de Macau, IPOR, 1993, 63 p.
(2) A Praça está situada entre a Igreja de Santo António e o Jardim de Camões e tem ligação com a Travessa da Palanchica, a Calçada do Botelho, o Largo de Santo António e a Rua Coelho de Amaral. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM, 1997).
(3) ESTORNINHO, Carlos – Boletim do Instituo Luís de Camões, Vol. XIV, n.º 1 a 4, Macau, 1980 in (1)
(4) David Stornach, botânico que integrou a 1.ª embaixada britânica à China conhecida como “A Embaixada Macartney” em 1793. A expedição chegou a Macau a 19 de Junho de 1793 e partiu a 21 de Junho para Pequim (Beijing) sem passar por Cantão (Guangzhou).
(5) William Kerr foi jardineiro escocês do Jardim de Kew (Escócia) que foi enviado para a China em 1803 por Sir Joseph Banks (botânico que fez parte da 1.ª viagem do capitão James Cook a bordo do “HMS Endeavour”) tendo estado em Cantão até 1812, a recolher e catalogar plantas dos jardins chineses até então desconhecidas na Europa (a ordem  de Sir Banks  era recolher especialmente as plantas do chá).  Conhecido como o primeiro profissional colecionador de plantas na China , enviou cerca de 238 exemplares de plantas à Europa de Cantão. Em 1812 foi enviado a Colombo (antiga capital do Ceilão; hoje Sri Lanka) como superintendente do jardim botânico colonial (“The Royal Botanic Gardens” aberto em 1810 sob a supervisão de Sir Joseph Banks). Faleceu em 1814 talvez relacionado com a dependência ao ópio.
htps://en.wikipedia.org/wiki/William_Kerr_(gardener)
https://www.helpmefind.com/gardening/l.php?l=18.11352
(6) Sobre Thomas Beale (1775-1841), ver anterior referência neste blogue em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/12/11/noticia-de-11-de-dezembro-de-1841-o-malogrado-thomas-beale/
(7) – Segundo o livro (1) por 35 mil patacas; o Padre Teixeira refere 30 000 patacas, apesar de a Missão Francesa ter oferecido 35 000. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM , 1997).

10-11-1835 – Faleceu, em Macau, sir Andrew Ljungstedt, (1) escritor sueco, autor de «An Historical Sketch of the  Portuguese Settlements in China, and of the Roman Catholic Church and Mission in China, Boston, 1835», obra póstuma e raríssima, por ter sido o primeiro trabalho estrangeiro que se publicou sobre a história de Macau. Contém, porém, muitos erros” (2)
Ljungstedt confessa que teve acesso «a grande número de interessantes manuscritos relativos a Macau … que D. João (aliás Joaquim) Saraiva, Senhor Bispo de Pequim, tinha salvo da perdição à custa de incrível e perseverante trabalho» e que o seu «humilde trabalho se pode considerar um repositório de factos , cujos originais já não existem nos arquivos do Senado»
Os artigos de Ljungstedt foram publicados em Macau na revista «The Canton Miscellany», impressa na tipografia da English East India Company. Esta série de artigos agradou aos comerciantes estrangeiros residentes em Macau e, depois de corrigidos, foram publicados em forma de livro em Macau, em 1834. Em 1836, foi publicada uma segunda edição, correcta e aumentada, em Boston. Além dos manuscritos do bispo Saraiva, Ljungstedt consultou os papéis e livros de José Baptista de Miranda e Lima e os Arquivos do Senado.
Está sepultado no Cemitério dos Protestantes, no Largo de Camões. O jazigo de cantaria encontra-se no  plano inferior do velho Cemitério. ” (3)
Jazigo LjungstedtNa laje vertical ocidental lê-se:

HAR LIGGER RESTEN
AF
ANDERS LJUNGSTEDT
WASA RIDDARE, LARD OCH MANNISKOVAN. HAN
FODDES I
LINKOPING
DEN 23 MARS 1759.
DOG I MACAO DEN 10 NOVEMBER 1835.

Na parte vertical do norte:

VARDEN REST
AF
EN SORGANDE
VAN

Na parte oriental:

HERE LIE THE REMAINS
OF
ANDREW LJUNGSTEDT
KNIGHT OF WASA SCHOLAR AND PHILANTHROPIST.
HE WAS BORN IN LINKOPING MARCH 23TH. 1759
DIED AT MACAO NOVEMBER 10TH. 1835

Na pedra vertical do sul:

THE TOMB ERECTED
BY
A MOURNFUL
FRIEND

O amigo desolado que ergueu o jazigo era o seu conterrâneo Jacob Gabriel Ullman (4)
(1) Andrew Ljungstedt (1759 – 1835) (龍思泰- mandarim pinyin: Lóng Sītài; cantonense jyutping: lung4 (dragão) si3 (pensador) taai3 (grande). Com a idade de 38 anos (em 1797), encontrou colocação na Companhia Sueca da Índia Oriental e embarcou para a China no barco «The Queen», tendo chegado a Cantão (Guangzhou), em 1789. Em 1804, foi nomeado representante da Companhia, em Macau. Quando a companhia sueca liquidou os seus negócios na China, em 1813, Ljungstedt estabeleceu-se definitivamente em Macau, trabalhando como comerciante. Em 1820, foi nomeado o primeiro cônsul geral na  China.
https://en.wikipedia.org/wiki/Anders_Ljungstedt
(2) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(3) TEIXEIRA, P. Manuel A Voz das Pedras de Macau, 1980.
(4) Sueco católico Jacob Gabriel Ullman casou com Rosa Minas, filha de Inácio Minas Atatosm e de Pascoela Minas.  Tiveram 4 filhos nascidos em Macau. Faleceu em Macau 25-07-1837.
Sobre este livro e o autor ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/03/23/noticia-de-23-de-marco-de-1759-nascimento-de-andrew-ljungstedt/  e
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/andrew-ljungstedt/

Faleceu em Macau, no dia 11 de Outubro de 1834, lorde Napier (1) Superintendente do Comércio Britânico na China que sofreu em Cantão os primeiros sintomas da doença (tifo) em 16 de Setembro e chegou a Macau vindo de Cantão, em 26 de Setembro (agravamento da doença “com os estorvos  e cavilações dos chineses“).  (2) Foi sepultado no dia 15, no Cemitério Inglês. (3) Foi sucedido como superintendente do comércio inglês na China por John Francis Davis (4) que foi mais tarde seria Governador de Hong Kong.
Lorde Napier(1) William John Napier (1786-1834) 律勞卑, nono lorde Napier, foi um oficial da marinha inglesa, político e diplomata. Reformado da armada e com o apoio dos mercadores ingleses em Cantão, foi nomeado por lorde Palmerston (secretário dos assuntos estrangeiros inglês), Plenipotenciário e 1.º  Superintendente do Comércio Britânico na China. Chegou a Macau em 15 de Julho de 1834 a bordo do fragata Andromanche da Companhia das Índias Orientais e a Cantão (Guangzhou), 10 dias mais tarde, sem esperar pela permissão dos chineses para inicio das negociações . A sua carta solicitando a Lu Kun (governador geral de Liangguang) uma reunião, estava muito bem escrita mas sem a forma de petição como era o protocolo da então complicada burocracia chinesa (e utilizada pelos mercadores estrangeiros que estavam em Cantão) pelo que  logo rejeitada após leitura.
Lorde Napier, mal preparado como diplomata e com pouca experiência comercial,  tornou  a sua  missão um insucesso, não conseguindo os objectivos de que propusera.
Mapa Bocca Tigris Ilha LintinEm 5 de Setembro já doente ordenou o uso da força mandando avançar duas fragatas para Whampoa mas as autoridades chinesas bloquearam-nas  em Bocca Tigris. Lorde Napier cedeu mandando regressar as fragatas mas como não puderam sair do rio, teve que fazer uma petição (rendição) ao Vice-Rei, solicitando a sua partida.

William Skinner - Boca Tigris 1834“Forçando a passagem de Bocca Tigris na China em 7 a 9 de Setembro de 1834, pelos H.M.S. Imigene e Andromache”
William Skinner da Marinha Real

Em 19 de Setembro de 1834 , realizou-se uma conferência entre os negociantes chinas, por parte das autoridades, e vários residentes ingleses. Nela se acordou que Lord Napier saísse da China e o comércio estrangeiro se restabelecesse. (5)
Lord Napier saiu de Cantão para Macau em 21 de Setembro numa embarcação expedida pelas autoridades chinesas. Os navios de guerra ingleses receberam ao mesmo tempo ordem para saírem do rio. (2)
Lorde Napier foi o primeiro a sugerir aos seus superiores, numa carta de 14 de Agosto de 1834, da necessidade de tomar posse de Hong Kong (na altura uma pequena comunidade piscatória chinesa) militarmente.
https://en.wikipedia.org/wiki/William_Napier,_9th_Lord_Napier
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
NOTA: Em Macau, a presença da armada de  Lorde Napier fez com que houvesse uma troca de correspondência do Governador e Capitão Geral de Macau e os Mandarins.
17-09-1834Bernardo José de Sousa Soares de Andrea, cavaleiro das ordens militares de N. Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, condecorado coma Cruz de Ouroda Guerra Cisplatina, Capitão-Tenente da Armada Real e Governador e Capitão Geral de Macau, respondeu às autoridades chinesas que exigiram que as nossas fortalezas estivessem prontas e fortificadas para resistirem a qualquer desembarque das fragatas de Lord Napier, que não receava qualquer perturbação com os ingleses, visto que as relações entre a  Inglaterra e Portugal se encontravam em harmonia , mas que repeliria qualquer tentativa de desembarque e que não aceitava o envio de quaisquer tropas chinesas.” (2)
20-09-1834O Procurador do Senado, António Pereira, oficiou aos Mandarins, para mandarem retirar uma força chinesa que se aquartelara no Templo da Barra com peças de artilharia e trincheiras, para resistir ao desembarque de qualquer força inglesa do Lord Napier“. (2)
Lorde Napier e a família, em Macau ficaram alojados numa casa cedida pelos mercadores ingleses Jardine e Matheson (futuros fundadores da “Jardine, Matheson and Company” em Hong Kong).

CHINNERY Csa de Lord NapierA Casa de Lorde Napier em Macau” por George Chinnery

(2) GOMES, Luís G- – Efemérides da História de Macau, 1954 e SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(3) Enterrado em Macau mas posteriormente exumado e sepultado em Ettrick na Escócia.
John Francis Davis(4) Sir John Francis Davis (戴維斯) (1795 –1890) diplomata (iniciou carreira na Companhia das Índias Orientais em 1813, presidente desta Companhia em Cantão (Guangzhou) em 1832, substituiu Lorde Napier, em 1834) e sinologista (traduziu obras chinesas), foi o 2.º Governador de Hong Kong (1844-1844).
https://en.wikipedia.org/wiki/John_Francis_Davis
CHINNERY 1840 Palácio das Índias Orientais -Praia Grande

Palácio da Companhia das Índias Orientais, na Praia Grande (Macau)
Lápis sobre papel, 1840
George Chinnery

(5) 1834 – Extinção da Companhia Inglesa das Índias Orientais, dando lugar ao comércio de iniciativa particular. Os bens da Companhia foram confiscados, com a solução de algumas pendências, a um Superintendente do Comércio Britânico na China. (2)