Extraído do semanário luso-chinez “Echo Macaense”, V-15, de 8 de Maio de 1898, p. 3. https://purl.pt/33024
O estabelecimento oficial das Canossianas em Macau deve-se a D. Manuel Bernardo de Sousa Enes, bispo desta diocese desde 1873 a 1883. Foi ele que pediu oficialmente à Superiora de Hong Kong, Madre Stella para que as Canossianas se estabelecessem definitivamente em Macau. O bispo Enes só chegou a Macau a 2 de Janeiro de 1877 mas as Canossianas porém já estavam em Macau, antes dos finais de 1873 ou princípios de 1874. Na altura abriram uma escola chinesa para as crianças pobres que foi aumentando que logo necessitaram de maior espaço. Inicialmente na Rua de S. Paulo até ao tufão de 1874; depois na Rua de Santo António; e mais tarde na Horta da Companhia. Abriram também uma escola em S. Lázaro para as meninas chinesas. O Governador do Bispado Deão Manuel Lourenço de Gouvea e o Padre António Medeiros conhecendo o prestimoso auxílio das irmãs canossianas, pensaram em comprar uma casa maior. Adquiriram o edifico intitulado “Casa da Beneficência” (no Largo de Camões). (1)
Aí, em 1876, as Canossianas acolhiam meninas órfãs tanto europeias como chinesas. Até 1886, a escola da Casa de Beneficência era exclusivamente chinesa. Mas nesse ano muitas famílias portuguesas manifestaram o desejo de internar lá as suas; outras pretendiam também que as suas filhas lá estudassem como externas. Essa escola canossiana de instrução Primária (para além da instrução primária tinham aulas de inglês, francês, música, piano etc., e depois instrução secundária) esteve instalada na Casa de Beneficência durante quase um século, por isso também conhecido como «Colégio da Casa de Beneficência» (2)
(1) Era chamado pelos chineses, ”Hotel queimado”, sede da Procuratura das Missões estrangeiras francesas em Macau que vagou em 1847 com a transferência da sede dessa Procuratura para Hong Kong (2)
(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982, pp.327-331
Entrada do Jardim de Camões – Maio 2017
Com uma área de 2,45 hectares (1) é um dos jardins mais antigos de Macau (a par do jardim interior do Leal Senado e do jardim de S. Francisco), situado numa pequena elevação que se estende para norte da Praça de Luís de Camões (2) onde está a entrada. Entra-se por um amplo portão de ferro, visualizando logo à entrada quatro belos exemplares de árvores do pagode (Ficus microcarpa L. f.), com as suas longas e delgadas raízes adejando ao vento. Ao fundo uma escadaria, enquadrada por belos exemplares de palmeiras elegantes ou palmeiras Alexandras, juntamente com palmeiras leque e palmeiras bambus, que conduz à parte superior do jardim, onde se encontra o busto do poeta. (1)
Jardim de Camões – 1950
O local ocupado pelo jardim situava-se nos limites da cidade, sendo ainda a visível na sua parte norte, o que devem ter sido umas antigas muralhas. Era propriedade de um dos homens mais ricos de Macau, o conselheiro Manuel Pereira, tendo-a adquirido em 1815.
A Companhia das Índias Orientais arrendaram a propriedade e forma os ingleses que ao gosto romântico da época que criaram sobre o cerrado arvoredo, estreitas alamedas seguindo a orografia do terreno, para o que mandaram inclusivamente vir jardineiros de Inglaterra. (1)
Jardim de Camões -1960
Segundo Carlos Estorninho (3), os ingleses conseguiram reunir no jardim numerosos e valiosos exemplares da flora da China, Malaca, Java, Manila e Índia que mereceram, nos finais do século XVIII e princípios do século XIX, a atenção dos botânicos ingleses David Stornach,(4) William Kerr (5) e Thomas Beale,(6) tendo este último enviado para o Jardim Botânico de Kew, em Inglaterra, mais de 2500 plantas exóticas. Com a a extinção da Companhia das Índias Orientais, a propriedade voltou a ser administrada pelos familiares do conselheiro Manuel Pereira (falecido em 1826), nomeadamente o seu genro comendador Lourenço Marques (7). A propriedade foi depois vendida ao Governo de Macau em 1885.
(1) ESTÁCIO, António Júlio Emerenciano; SARAIVA, António Manuel de Paula – Jardins e Parques de Macau, IPOR, 1993, 63 p.
(2) A Praça está situada entre a Igreja de Santo António e o Jardim de Camões e tem ligação com a Travessa da Palanchica, a Calçada do Botelho, o Largo de Santo António e a Rua Coelho de Amaral. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM, 1997).
(3) ESTORNINHO, Carlos – Boletim do Instituo Luís de Camões, Vol. XIV, n.º 1 a 4, Macau, 1980 in (1)
(4) David Stornach, botânico que integrou a 1.ª embaixada britânica à China conhecida como “A Embaixada Macartney” em 1793. A expedição chegou a Macau a 19 de Junho de 1793 e partiu a 21 de Junho para Pequim (Beijing) sem passar por Cantão (Guangzhou).
(5) William Kerr foi jardineiro escocês do Jardim de Kew (Escócia) que foi enviado para a China em 1803 por Sir Joseph Banks (botânico que fez parte da 1.ª viagem do capitão James Cook a bordo do “HMS Endeavour”) tendo estado em Cantão até 1812, a recolher e catalogar plantas dos jardins chineses até então desconhecidas na Europa (a ordem de Sir Banks era recolher especialmente as plantas do chá). Conhecido como o primeiro profissional colecionador de plantas na China , enviou cerca de 238 exemplares de plantas à Europa de Cantão. Em 1812 foi enviado a Colombo (antiga capital do Ceilão; hoje Sri Lanka) como superintendente do jardim botânico colonial (“The Royal Botanic Gardens” aberto em 1810 sob a supervisão de Sir Joseph Banks). Faleceu em 1814 talvez relacionado com a dependência ao ópio.
htps://en.wikipedia.org/wiki/William_Kerr_(gardener)
https://www.helpmefind.com/gardening/l.php?l=18.11352
(6) Sobre Thomas Beale (1775-1841), ver anterior referência neste blogue em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/12/11/noticia-de-11-de-dezembro-de-1841-o-malogrado-thomas-beale/
(7) – Segundo o livro (1) por 35 mil patacas; o Padre Teixeira refere 30 000 patacas, apesar de a Missão Francesa ter oferecido 35 000. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM , 1997).
No dia 20 de Outubro de 1953 chegou a Macau a bordo do «HMS Modeste» (1) em visita oficial ao Governador de Macau, Almirante Joaquim Marques Esparteiro, o Comodoro A. H. Thorold, Chefe da Esquadra Britânica do Pacífico Oriental. Passou revista à Guarda de Honra, assistindo depois, com o Comandante Militar de Macau, ao desfile da mesma.
Às 10-30 horas apresentou cumprimentos oficiais ao Governador que , às 12.30 horas, os foi retribuir a bordo do «Modeste».
Uma representação da guarnição do «Modeste» aproveitou a sua vinda a Macau para visitar o Cemitério Inglês, onde depôs uma coroa de flores naturais junto do mausoléu duma das vítimas da antiga fragata inglesa «Modeste». (2) A esta homenagem assistiu o Cônsul de Sua Majestade Britânia em Macau, Sr. E. J. Cowan, e uma deputação de marinheiros portugueses acompanhados de um oficial.
O Comodoro, esteve no Thorold esteve também no Quartel General a apresentar cumprimentos ao Comandante Militar, Coronel António Cyrne Pacheco. Passou revista a uma Guarda de Honra formada na parada exterior, tendo em seguida visitado alguns aquartelamentos militares e os principais pontos turísticos e históricos desta cidade que lhe causaram a melhor das impressões.
Em homenagem aos ilustres visitantes, o Sr. Capitão dos Portos, Capitão-tenente José Freitas Ribeiro e Esposa ofereceram um almoço que se realizou no Clube Militar e a que assistiram o Comandante Militar e Família e outros oficiais do exército acompanhados de suas esposas.
Com início às 15.30 horas, e com assistência do Governador e do Comodoro Thorold, realizou-se no Campo Desportivo da Caixa Escolar um interessante desafio de hóquei em campo, entre o «Hóquei Clube de Macau» e a guarnição do «Modeste» reforçada com alguns elementos da «Royal Navy» de Hong Kong, que para esse fim se deslocaram a esta cidade. O encontro, que decorreu num ambiente de desportiva camaradagem, terminou com a vitória de 5 a 2 a favor do Hóquei Clube.
O Comodoro Thorold ofereceu a bordo do «Modeste» um «cocktail», tendo o Governador a Esposa homenageado os visitantes com um banquete no Palácio do Governo, à Praia Grande, a que assistiram as mais representativas individualidades da Província.
Informações e fotos de “MACAU B. I, 1953″
(1) HMS Modeste (1945) – sexto navio com o nome de HMS Modeste, um “Black Swan” modificado de uma chalupa de 1942. Lançado ao mar em 1945. Participou na Guerra da Coreia em 1953 onde foi medalhado com a “Battle Honour”. Abatido em 1961.
(2) Trata-se do Tenente Ed. Fitsgerald que faleceu em Macau no dia 22 de Junho de 1841. A campa está no velho Cemitério Protestante (no Largo de Camões) com o número 132:
“ Sacred to the memory of Lieutenant Ed. Fitzgerald, late belonging to the H. M. S. Modeste who died at Macao, on the 22nd June 1841, from the effects of a wound received while gallantly storming the enemy´s battery at Canton. This monument was erected by his numerous friends and shipmates in the Squadron in which he has served as a tribute of respect to his memory”
Continuação da leitura do Capítulo I do artigo escrito em 1846, “China and the Chinese” referente à «descrição de Macau, suas igrejas e edifícios públicos, gruta de Camões e cemitério inglês», publicado no «Dublin University Magazine», 1848. (1)
A Capela do Cemitério Protestante no Largo de Camões
(década de 80 – século XX)
Lápide do túmulo de Lorde Henry John Spencer Churchill, (1797-1840), 4.º ( e último) filho do 5.º Duque de Marlborough , George Spencer-Churchill (1766-1840). (2) Lorde Spencer Churchill foi Capitão do “H. B. M. Ship Druid” e Oficial Superior na China. Faleceu em Macau a 2 de Junho de 1840 com 43 anos de idade.
(1) Ver anterior referência a este artigo em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/05/17/leitura-macau-e-a-gruta-de-camoes-xxix-visit-to-camoenss-cave-1846/.
(2) George Spencer Churchill faleceu a 5 de Março de 1840, no mesmo ano, 3 meses antes do filho mais novo.
Continuação da publicação das fotografias deste pequeno álbum (1) (2)
“SOUVENIR DE MACAU”
com as legendas originais, nenhuma das duas, “bem legendadas”
UM ASPECTO DA GRUTA DE CAMÕES
(entrada do jardim, «Casa Gardens»)
“It is situated in the Casa Gardens which are entered by a gateway in the corner of the Plaza de Camoens. On entering, a small garden is seen in front of a large house; but hearing off to the right instead of going to the house and descending some steps one enters a large garden with many broad paths leading in different directions under umbrageous trees, while many ferns grow in the rocks, great masses of which are piled about in certain parts in nature’s wild confusion. The garden until recently was private property but a few years sime the Portuguese Government bought it from its owner for $35,000. Since its purchase a hand-stand has been erected and a fountain put up, the paths ivoemented (though they still retain their slipperyness as in other days) and ornamental walks and vases and borders made at certain places of little cubes or chips of white and red stone which have a somewhat bright and pleasing effect.
PRAÇA DE CAMÕES
(interior do jardim de Camões)
Fortunately the Government has had the good taste not to carry this ornamentation to too great an extent and many parts of the garden are delicious in their wild condition. In one on two places, especially in one corner of the garden, gigantic boulders are piled one on the top of the other and a banian is perched on the topmost, while it sends its roots down in a perfect network over the masses of rocks on their way to mother earth, for the sustenance which the unique position of the tree prevents it from absorbing otherwise.
On one of the mass of rocks thrown together in wild confusion was a small terrace where one might sit and view the landscape o’er. A flight of steps led up to it; but it has now been removed. A circular building with a slit through its roof at one side of the garden overlooking Inner Harbour will also attract attention. It was built for Laperouse and in it the scientific officers of his squadron, the Astrolabe and Boussole, made astronomical observations during the stay of those vessels in the Taipa in January 1787.” (3)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/04/29/macau-de-1910-souvenir-de-macau-i/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/05/01/macau-de-1910-souvenir-de-macau-ii/
(3) BALL, J. Dyer – Macao: the Holy City, the Gem of the Orient Earth, 1905
Retiro parte do texto referente à Praça/Largo de Camões (p.45): (1)
“Esta praça ou Largo de Camões foi embelezada por José Maria da Sousa Horta e Costa, que foi um dos mais competentes e dinâmicos directores das Obras Públicas que por Macau passaram, merecendo ser, alguns anos depois, nomeado Governador desta Província, que administrou habilmente de 1849 a 1897.
Numa memória de 1 de Junho de 1887, apresentada ao Governador Firmino José da Costa (1886-1889), dizia este director das Obras Públicas:
“O largo de Camões, que precede o sítio mais belo e pitoresco de Macau, não passa actualmente dum vasto terreno, onde a erva cresce à vontade e, onde ordináriamente se levantam barracas para festividades chinas, principalmente para enterros, oferecendo assim um espectáculo pouco agradável aos olhos dos numerosos visitantes, quer nacionais quer estrangeiros, que constantemente vêm o local onde se diz que esteve o nosso grande épico. Na ocasião, em que se trata de aformosar, tanto quanto possível, a Gruta de Camões, e de dar um aspecto risonho ao edifício que ali há, parece-me conveniente aformosear também a praça ou largo que precede este local, inquestionavelmente o mais belo de Macau.”
NOTA: A Praça/O Largo de Luís de Camões que faz parte da lista do Património Mundial da Unesco, situa-se ao lado da Igreja de S. António e à frente da Casa Garden, do Cemitério Protestante e do Jardim de Camões. Aconselho a leitura e visualização das fotos do estado actual do largo em: http://oriente-adicta.blogspot.pt/2010/08/o-largo-de-luis-de-camoes.html
(1) TEIXEIRA, Padre Manuel – Camões Esteve em Macau. Direcção dos Serviços de Educação e Cultura, Macau, 1981, 47 p., 20 cm x 14 cm. https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/10/26/leitura-camoes-esteve-em-macau/