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Esta notícia do falecimento em Macau a 17 de Junho de 1856 do médico José Severo da Silva Telles, filho de António Gomes Teles e de Teresa de Jesus da Silva (nascido em Lisboa), devido a lesão orgânica do coração, foi anteriormente postado neste blogue – VER em (1)

Entretando encontrei a notícia deste mesmo acontecimento publicado no «BGPMTS», de 1856 na coluna “NECROLOGIA” (assinado por J.J.B.) onde traz uma nota biográfica do falecido com outras informações.

Veio para Macau em 1815 e aqui casou a 25 de Janeiro de 1817 com Ana Joaquina do Rego. Teve de Ana Joaquina, 7 filhos.

Obteve a carta de cirurgião a 2-08-1814; admitido como cirurgião do Partido em 15-02-1817 (com o ordenado de 400 taéis anuais); em 1817 nomeado Cirurgião mor do Batalhão Príncipe Regente; em 1824 alferes do Batalhão do Príncipe Regente; em 1825, tenente graduado; em 1830 capitão graduado; em 1846, nomeado Director do Hospital Militar e desde essa época até 1853, serviu interinamente de Cirurgião-mor da Província.

Também serviu como primeiro cirurgião dos Hospitais de S. Rafael e de S. Lázaro. Em 1849 foi encarregado da chefia dos Serviços da Saúde. De 1827 a 1835 foi vereador do Leal Senado. Reformou-se em Janeiro de 1855. Armado Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (3 de Fevereiro de 1848) (2)

Extraído de «BGPMTS», II-43 de 16 de Agosto de 1856, p. 172

NOTA: O 2.º filho, Joaquim Cândido da Silva Teles, nascido a 27-08-1819, também foi médico-cirurgião em Macau. Em 1842 nomeado ajudante do Batalhão do Príncipe Regente e em 1857, nomeado cirurgião ajudante graduado do mesmo Batalhão. Em 1863, foi cirurgião-mor deste Batalhão e em 1878 cirurgião-mor do Corpo da Polícia, e na ausência do Dr. Lúcio da Silva (em Sião) foi nomeado chefe interino dos Serviços de Saúde. Reformado em 1877 com a graduação de major. (2)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/06/17/noticia-de-17-de-junho-de-1856-jose-severo-da-silva-teles/

(2) Dados biográficos retirados de TEIXEIRA, Pe. Manuel – A Medicina em Macau, Volumes III-IV,1998, pp.98 a 105

Pequeno livro , primeiro ensaio da história de Macau de FREITAS, José de Aquino Guimarães – Memoria sobre Macao. Coimbra na Real Imprensa da Universidade, 1828, 94 p., (20 cm x 11, 5 cm) (com encadernação: 20,5 cm x 12,5 cm x 1,2 cm) (1)

Encadernação, com lombada de pele decorada a ouro.
No frontispício: letra manuscrita “Oferta do Auctor” e “ natural da Província de Minas Gerais, Coronel de Artilheria, ex-Procurador da mesma Cidade, e actualmente Governador da de Coimbra
Ilustrado com um quadro de dados da população cristã, homens de 14 anos para cima; homens, dito para baixo; mulheres e escravos por freguesias: Sé, São Lourenço e em S. António. (Capítulo XI, p. 14)

Do autor, José de Aquino Guimarães e Freitas, recolhi as seguintes informações:

I – “O Sr. A. Marques Pereira ocupou-se deste autor n’uma serie de artigos biobibliográficos publicada no Ta ssi yang kuo, de 1864, e aí leio: «Chegou (o coronel José de Aquino) a Macau pelos anos de 1815, e serviu no batalhão do príncipe regente, sob as ordens do brigadeiro Francisco de Mello da Gama Araujo, que mais tarde foi governador de Diu. Recebida em Macau, em 1822, a noticia do regresso de D. João VI a Portugal, o governador e capitão geral desta cidade, que então era José Osório de Castro Cabral e Albuquerque, nomeou o coronel José de Aquino Guimarães e Freitas (2) para passar a Lisboa com a comissão de felicitar a sua majestade e sua real família pela sua feliz chegada a seu país natal, e ao soberano congresso pela sua instalação e progressivo empenho pelo bem nacional, devendo ao mesmo tempo dar conta da «maneira satisfatória com que se tinha recebido e solenizado em Macau o novo sistema constitucional.» A esta nomeação se uniu o leal senado, conferindo a José de Aquino os poderes de seu deputado. Tratando-se desta possessão portuguesa, não devem deixar de comemorar-se aqui os importantes artigos e memorias, que a seu respeito se encontram nos Annaes Maritimos e Coloniaes”. http://www.castroesilva.com/store/sku/1311JC035/memoria-sobre-macao

II – “JOSÉ DE AQUINO GUIMARÃES E FREITAS, natural de Minas geraes; Coronel de Artilheria, e Governador militar de Coimbra em 1828. Tractando-se d’esta possessão portugueza, não devem deixar de commemorar-se aqui os importantes artigos e memórias, que a seu respeito se encontram nos Annaes Marítimos e Coloniaes (Diccionario, tomo i, n.° A, 335), na serie 1.» n.°s  8, 9 e 10-“ SILVA, Inocêncio Francisco da, Diccionário Bibliographico Portuguez, IV, , 1860, p. 249. file:///C:/Users/ASUS/Downloads/016843-04_COMPLETO.pdf

III – “Nascido na segunda metade de Setecentos em Minas Gerais, no Brasil, coronel de artilharia e procurador da cidade mineira, servidor militar em Angola, mais tarde no ocaso da sua vida, governador de Coimbra, José de Aquino Guimarães e Freitas viria a publicar aquele que se mostra cronologicamente o mais antigo trabalho singular de história de Macau. Tendo visitado e cumprido funções militares no enclave português do Sul da China nas primeiras décadas do século XIX, por volta de 1820 a 1825.”(ver NOTA I) https://www.researchgate.net/publication/279195897_Um_autor_e_uma_obra_para_a_memoria_da_presenca_colonial_portuguesa_em_Macau_e_no_mundo_asiatico_A_Memoria_sobre_Macao_de_Jose_de_Aquino_Guimaraes_e_Freitas_1828”

 (1) O livro está disponível para leitura em: https://books.google.pt/books?id=OP1AAAAAcAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-PT#v=onepage&q&f=false

(2) “10-04-1822 – O Coronel José de Aquino Guimarães e Freitas foi nomeado pelo Governador José Osório de Castro Cabral e Albuquerque e Leal Senado da Câmara, para ir a Lisboa felicitar, em nome da cidade, o Rei D. João Vi, pelo seu regresso do Brasil, e o Soberano Congresso, pela sua instalação, seguindo para o seu desempenho desta missão, no dia 14 de Abril, a bordo do navio Scaleby-Castle da Companhia das Índias.” SILVA, Beatriz Basto da — Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995, p.44.

10 de Abril de 1822 – Ephemerides Commemorativas da Historia de Macau; Das Relações da China com os Povos Christãos por A. Marques Pereira http://purl.pt/32607/2/

Trabalhando na sua especialidade de artilharia no batalhão português de Macau sob as ordens do Brigadeiro Dionísio de Melo Sampaio, José de Aquino Guimarães e Freitas apenas cumpriria uma tarefa prestigiante no território quando, em 1822, foi nomeado pelo governador e Leal Senado para representar em Lisboa a cidade na cerimónia de felicitações pelo regresso do Brasil de D. João VI”. SILVA, Beatriz Basto da — Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995, p.44.

NOTA I – Aconselho leitura do trabalho do Professor e Investigador Ivo Carneiro de Sousa, publicado  em “Administração” n.º 76, vol. XX, 2007-2.º, 619-645 : “Um autor e uma obra para a memória da presença colonial portuguesa em Macau e no mundo asiático: A “Memória sobre Macao” de José de Aquino Guimarães e Freitas (1828)” , disponível em: https://www.researchgate.net/publication/279195897_Um_autor_e_uma_obra_para_a_memoria_da_presenca_colonial_portuguesa_em_Macau_e_no_mundo_asiatico_A_Memoria_sobre_Macao_de_Jose_de_Aquino_Guimaraes_e_Freitas_1828”

NOTA II: disponível para leitura carta do Leal Senado que José de Aquino Guimarães e Freitas apresentou à sua majestade em 9 de Março de 1825, Arquivos de Macau, 3.ª série Vol XXVI, nº 4 – Outubro de 1976,  pp 176-177-178 http://www.archives.gov.mo/library/slsfiles/201108/22/154554_am-iii-26-04.pdf

Nesta data, Francisco António Pereira da Silveira oficiou ao Senado protestando contra uma fábrica de vermilhão, (2) cujo fumo incomodava os habitantes da Penha e que ali se instalara alegando estar fora da cidade:
«Com quanto eu tribute os meus sinceros respeitos aos Snres. Facultativos de que se compõem a Junta de Saúde, não só pela nobre Arte que exercem, mas them pelos méritos pessoaes de cada hum d´elles comtudo não posso acomodar-me com a exorbitância da hipótese classificando aquelle sítio como fora da Cidade, porque a Cidade chega athe a Barra, que fica mais distante do que o tanque–Mainato, e do Tanque-Mainato se faz caminho p.ª ella. O muro que há do Forte de Bomparto à Penha nunca indicou limite da Cidade, nem já mais foi considerado esse muro como limite da Cidade, mas como hum assessorio do Forte, para do mesmo Forte se fazer caminho seguro ao muro da Penha que lhe he sobranceiro; e principalmente desde o anno de 1825 em que o Governo de Macao fez romper o muro, abrindo passagem, e franqueando o terreno aos habitantes para cultivarem, e edificarem propriedade, e esses moradores à sua custa remirão sepulturas chinas, abrirão caminhos, edificarão propriedades, etc., esse muro já mais foi olhado como barreira da Cidade.
Se o aumento das propriedades chinas sobre os entulhos do lado do porto interior de Macao mereceo a protecção do Governo actual do paiz, que estabeleceo alli huma nova rua com  o titulo de rua nova d´El Rey; reputando sem duvida aquelles edifícios ainda que chinezes como fazendo parte da Cidade Portuguesa de Macao, não menos pode deixar de ser registada parte da Cidade, e o sítio do Tanque-Mainato agregado à Cidade, e à Parrochia de Sm. Lourenço pelo Governo de 1824, onde não só os chinas, mas os Nacionaes alli fabricarão suas propriedades, cultivarão-no, e fizeram a sua principal rua a que o Governo de 1847 deo o nome de rua de Tanque-Mainato – nome que qualquer pode lá ver na taboleta da porta» (3)
(1) Tanque do Mainato, área da cidade situada a leste da Colina da Penha, área que abrange a Rua do Comendador Kou Hó Neng, as Calçadas da Praia e das Chácaras e parte da Estrada de Santa Sancha. A designação da área foi conhecida até ao século XIX como Tanque do Mainato pois havia no local um tanque onde os mainatos lavavam a roupa, significando mainato “aquele que lava roupas”. Esta designação, no entanto,  caiu em desuso, especialmente na parte sul desta área, que é hoje mais conhecida por Santa Sancha (onde estava a Chácara de Santa Sancha)
(2) Francisco António Pereira da Silveira (1796-1873) nasceu em Macau na Freguesia da Sé, numa grande casa situada entre a desaparecida Rua do Gonçalo e a mais nobre das avenidas locais — a Praia Grande — filho de Gonçalo Pereira da Silveira (um abastado comerciante e armador, filho de um capitão de navios da Marinha Real de Goa, natural de Lisboa, Joaquim José da Silveira, que em Macau se casou, na Sé, em 10 de Janeiro de 1760, com uma das filhas de um dos mais conceituados homens da terra, Maria Pereira de Miranda e Sousa, constituindo família e fixando-se na cidade) que nasceu em 19 de Outubro de 1762, homem rico e casado em 1795, com Ana Joaquina, filha do homem mais rico e conceituado de Macau, Simão Vicente Rosa. Deste casamento nasceram pelo menos três filhos, Francisco António, Gonçalo e Ana Joaquina.
Francisco António casou com Francisca Ana Benedita Marques, em 15 de Agosto de 1819, e assim ficou relacionado com as famílias mais nobres e ricas de Macau, uma vez que sua mulher descendia, por um lado, em linha recta, de Domingos Pio Marques Castel-Branco, pertencente à melhor nobreza do Reino, e por outro à riquíssima família Paiva.
Deste casamento nasceram cinco filhos: uma menina, a primogénita, e quatro varões, dos quais apenas três atingiram a idade adulta.
Francisco António, depois de ter frequentado o Seminário de São José até 1818, data em que seu pai faleceu, veio a constituir família, tendo de rejeitar a ida para Coimbra para prosseguir os estudos de Direito com que sonhava (regalia que conquistara por ser um dos dois mais brilhantes alunos do seu tempo), para ocupar o lugar de chefe da família e gerir os negócios da casa. No entanto veio a perder, depois, a fortuna paterna nos riscos do mar. Foi director e administrador da Tipografia do Governo, exonerado a seu pedido em 1825.Foi almotacé da Câmara em 1815; vereador do Leal Senado em 1822; escrivão do juízo de direito de Macau em 1843; Irmão, tesoureiro e provedor da Santa Casa da Misericórdia. (4)
Ver biografia deste homem-bom, num trabalho de Ana Maria Amaro para a «Revista de Macau» , disponível em:
http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30019/1715
(3) Vermilhão ou Vermelhão: substância tintória, o mesmo que mínio ( designação vulgar do deutóxico de chumbo, também conhecido por cinábrio, zarcão ou vermelhão (Dicionário de língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo, 1986)
Vem do francês: vermeilionpigmento opaco alaranjado que tem sido usado desde a antiguidade. O pigmento ocorrente na natureza é conhecido como cinabre. Quimicamente, o pigmento é sulfeto mercúrico (HgS) e como muitos compostos de mercúrio é tóxico. A maior parte do vermelhão produzido naturalmente vem de cinabre extraído na China, daí seu nome alternativo vermelho China ou vermelho chinês.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vermelh%C3%A3o
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia da Macau, volume I, 1997, p. 419-420.
(5) FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Volume III, pp. 801-802,  1996.

Macao July 6, 1815.-Yesterday the American schooner Trader, arrived in 108 days from Philadelphia, bringing ac counts of the conclusion of peace with America. In consequence, the American ships Beaver, Levant, Brutus, and Lellia Bird, which have remained here two years, dismantled, are preparing for sea with cargoes for America. The only American prize made by his Majesty’s ships in this quarter, is the schooner Viagente, of 170 tons. She was fitted out by some Dutch agents at Batavia, under English colours, for a voyage to the N.W. coast of America. The Elk, Captain Curran, fell in with her, bringing a cargo of furs from Kamschatka, ten days be fore the period prescribed for making captures had expired. We have accounts from Manilla, of about 20 days date, when there was nothing new there.— They were greatly in want of specie, and had been so for a considerable time.— There was much anxiety expressed for the arrival of their galleon from South America.
The ships lying at Whampoa (to the Canton river), besides the Americans named above, are the Drotrigen, a Swede, loading for Europe; the Hope and Success, English country ships, load ing for India; and the Trader, just ar rived. At Macao are his Majesty’s ships Revolutionnaire, Captain Wool combe; Alpheus, Captain Langford; and the Elk, Captain Reynolds. Capt. Curran, late of the Elk, is posted into the Volage, which ship is named to aeturn to Eng land; Captain Reynolds was promoted from the Doris. The Cuffnels and Royal George are hourly looked for from Pulo Penang ; they were both there, all well, 20 days since. –
Extraído de “The Asiatic Journal and Monthly Refister for Brtish India and its Dependencies, Vol I – January to June 1816, p. 184
Em 1815, o Senado de Macau renovou a antiga restrição, impedindo os navios não portugueses de descarregar ópio em Macau Os ingleses vindos de Bengala com ópio procuraram então chegar a Whampoa e Cantão com navios seus, mas eram muitas vezes apanhados e só com fortes saguates conseguiam passar a carga. Esta situação foi a maior causa do seu desvio para Lintin, ilha na boca do rio, muito mais segura onde armavam depósitos flutuantes para armazenarem o ópio vindo da Índia e em trânsito para a China (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume3,1995)

Entrada do Jardim de Camões – Maio 2017

Com uma área de 2,45 hectares (1) é um dos jardins mais antigos de Macau (a par do jardim interior do Leal Senado e do jardim de S. Francisco), situado numa pequena elevação que se estende para norte da Praça de Luís de Camões (2) onde está a entrada. Entra-se por um amplo portão de ferro, visualizando logo à entrada quatro belos exemplares de árvores do pagode (Ficus microcarpa L. f.), com as suas longas e delgadas raízes adejando ao vento. Ao fundo uma escadaria, enquadrada por belos exemplares de palmeiras elegantes ou palmeiras Alexandras, juntamente com palmeiras leque e palmeiras bambus, que conduz à parte superior do jardim, onde se encontra o busto do poeta. (1)

Jardim de Camões – 1950

O local ocupado pelo jardim situava-se nos limites da cidade, sendo ainda a visível na sua parte norte, o que devem ter sido umas antigas muralhas. Era propriedade de um dos homens mais ricos de Macau, o conselheiro Manuel Pereira, tendo-a adquirido em 1815.
A Companhia das Índias Orientais arrendaram a propriedade e forma os ingleses que ao gosto romântico da época que criaram sobre o cerrado arvoredo, estreitas alamedas seguindo a orografia do terreno, para o que mandaram inclusivamente vir jardineiros de Inglaterra. (1)

Jardim de Camões -1960

Segundo Carlos Estorninho (3), os ingleses conseguiram reunir no jardim numerosos e valiosos exemplares da flora da China, Malaca, Java, Manila e Índia que mereceram, nos finais do século XVIII e princípios do século XIX, a atenção dos botânicos ingleses David Stornach,(4) William Kerr (5) e Thomas Beale,(6) tendo este último enviado para o Jardim Botânico de Kew, em Inglaterra, mais de 2500 plantas exóticas. Com a a extinção da Companhia das Índias Orientais, a propriedade voltou a ser administrada pelos familiares do conselheiro Manuel Pereira (falecido em 1826), nomeadamente o seu genro comendador Lourenço Marques (7). A propriedade foi depois vendida ao Governo de Macau em 1885.
(1) ESTÁCIO, António Júlio Emerenciano; SARAIVA, António Manuel de Paula – Jardins e Parques de Macau, IPOR, 1993, 63 p.
(2) A Praça está situada entre a Igreja de Santo António e o Jardim de Camões e tem ligação com a Travessa da Palanchica, a Calçada do Botelho, o Largo de Santo António e a Rua Coelho de Amaral. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM, 1997).
(3) ESTORNINHO, Carlos – Boletim do Instituo Luís de Camões, Vol. XIV, n.º 1 a 4, Macau, 1980 in (1)
(4) David Stornach, botânico que integrou a 1.ª embaixada britânica à China conhecida como “A Embaixada Macartney” em 1793. A expedição chegou a Macau a 19 de Junho de 1793 e partiu a 21 de Junho para Pequim (Beijing) sem passar por Cantão (Guangzhou).
(5) William Kerr foi jardineiro escocês do Jardim de Kew (Escócia) que foi enviado para a China em 1803 por Sir Joseph Banks (botânico que fez parte da 1.ª viagem do capitão James Cook a bordo do “HMS Endeavour”) tendo estado em Cantão até 1812, a recolher e catalogar plantas dos jardins chineses até então desconhecidas na Europa (a ordem  de Sir Banks  era recolher especialmente as plantas do chá).  Conhecido como o primeiro profissional colecionador de plantas na China , enviou cerca de 238 exemplares de plantas à Europa de Cantão. Em 1812 foi enviado a Colombo (antiga capital do Ceilão; hoje Sri Lanka) como superintendente do jardim botânico colonial (“The Royal Botanic Gardens” aberto em 1810 sob a supervisão de Sir Joseph Banks). Faleceu em 1814 talvez relacionado com a dependência ao ópio.
htps://en.wikipedia.org/wiki/William_Kerr_(gardener)
https://www.helpmefind.com/gardening/l.php?l=18.11352
(6) Sobre Thomas Beale (1775-1841), ver anterior referência neste blogue em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/12/11/noticia-de-11-de-dezembro-de-1841-o-malogrado-thomas-beale/
(7) – Segundo o livro (1) por 35 mil patacas; o Padre Teixeira refere 30 000 patacas, apesar de a Missão Francesa ter oferecido 35 000. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM , 1997).


Extraído da «Revista Colonial», Anno IX- 2, 1921.

“30-06-1822 – Primeira carta enviada pelo Correio Marítimo de Macau Endereçada «Ao Sr./ António Esteves Costa/ Negociante da Praça do Comércio/Lisboa, seguiu no brigue Temeroso (ou Temerário)” (1)

Brigue Temerário IA Administração do Correio Geral, de Portugal, anunciando saídas dos navios (com correio);  no dia 28 de Abril de 1829,  o Brigue «Temerario» para Calcutá (2)
Brigue Temerário II 1815Notícia do Brigue  «Temerário”, de 1815, na Bahia (3)
Brigue Temerário III 1821Outra notícia do Brigue «Temerário», de 1821 (4)

Brigue

José Nunes da Silveira 1754-1833Jozé Nunes da Silveira (Ilha do Pico, Açores 1754 – Lisboa 1833) – marinheiro, piloto, capitão de navios e depois mercador, armador de navios de carreira e comerciante.  Fez uma fortuna notável, co-proprietário (com José Inácio de Andrade) de uma linha de barcos para a Ásia particularmente Macau – Lisboa. No período de 1786 a 1832 conseguiu deter uma frota de 20 navios (brigues, galeras escunas e navios), treze deles afectos a viagens ao Oriente entre eles o «Temerário» e «Correio d’Azia» (5) ).
Chegou a Macau em 1780. Voltou a Lisboa como capitão  do navio «Santa Cruz» em  1785. Volta a Macau em 1786 (o filho Joaquim Nunes da Silveira nasce em Macau nesse ano).
Em 1818 adquiriu os navios Delfim e Golfinho S. Filipe de Nery para comércio de escravatura (África – Brasil),  mas desistiu do intento, porque um tratado com a Inglaterra proibiu tal negócio. Quando se deu a revolução liberal do Porto de 24 de Agosto de 1820, Jozé Nunes da Silveira integrou a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino. Depois nomeado  Governador do Reino Fez ainda parte da Junta Preparatória das Cortes, mas não foi eleito deputado, possivelmente devido a um ataque apoplético que o deixou meio paralítico. Morreu nas vésperas da tomada de Lisboa pelo Exército Libertador, solteiro, mas com filhos reconhecidos e testamento.(6)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 3, 1995.
(2) «Gazeta de Lisboa» n.º 94 de 22 de Abril de 1829.
(3) ” O Investigador portuguez em Inglaterra: ou Jornal literário, Político, Etc. “,  Março, 1816 (N.º 1, Vol. XV) -periódico publicado em Londres mensal patrocinado pela Coroa Portuguesa, então no Rio de Janeiro de 1811 a 1819.
(4) Diário da Regência (do Governo): n.º 141 de 15 de Junho de 1821, Edições 1-153
(5) «Correio  d´Azia» naufragou no dia 25 de Novembro de 1816, nas costas da nova Holanda (Austrália) – aconselho leitura de MONTEIRO, Alexandre José Nunes da Silveira, negociante de grosso trato, capitão de longo curso, armador do Correio d’ Ázia, disponível em
http://www.academia.edu/464296/_Jos%C3%A9_Nunes_da_Silveira_negociante_de_grosso_trato_capit%C3%A3o_de_longo_curso_armador_do_Correio_d_%C3%81zia_
6) http://marprof.univ-paris1.fr/fileadmin/MARPROF/colloque2011/Alves.pdf
https://www.geni.com/people/Jos%C3%A9-Nunes-da-Silveira/6000000018166005317
http://www.culturacores.azores.gov.pt/ea/pesquisa/default.aspx?id=10126

Faleceu no dia 17 de Junho de 1856, de lesão orgânica de coração,  José Severo da Silva Teles que nasceu em Lisboa, em 6-11-1796. Médico-Cirurgião veio para Macau em 1815; foi nomeado Cirurgião do partido desta cidade, em 1816; obteve, em 1817, o despacho de Cirurgião-Mor do Batalhão Príncipe Regente (1) ; em 1846/1947  serviu interinamente como cirurgião-Mor da província. Foi reformado pelo Decreto Real de Janeiro de 1855.
Serviu vários cargos no Leal Senado: almotacé (2) em 1817; vereador de 1827 a 1835,  e na Santa Casa da Misericórdia (provedor eleito em 8 de Abril de 1827).
Foi também comerciante, capitão graduado (1830), médico do navio “Correio da Ásia” que fazia a carreira comercial entre Macau e Lisboa. (3)
Casou na Capela do Paço Episcopal (Sé) a 25-01-1817 com Ana Joaquina do Rego, tendo 7 filhos. (4)
Pelos seus relevantes serviços foi galardoado por decreto de 3-2-1848 sendo armado Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. (5) (6)

(1) O Batalhão Príncipe Regente, formado em 13 de Maio de 1810 (alvará na mesma da data), para a defesa da cidade, passou a funcionar como polícia da cidade. Era constituído por quatro companhias e um efectivo da ordem dos 400 homens, inicialmente alojados na Casa da Alfândega (2 companhias) e na Fortaleza do Monte (2 companhias).
(2) Almotacé – Antigo oficial municipal encarregado da fiscalização das medidas e dos pesos e da taxação dos preços dos alimentos e de distribuir, ou regular a distribuição, dos mesmos em tempos de maior escassez. (http://www.dicionarioinformal.com.br)
Nau Correio da Ásia(3) Em 2004, foi noticiado ter sido encontrado o navio “Correio da Ásia” afundado em 1816 no recife de Ningaloo, na Austrália Ocidental.
https://www.publico.pt/sociedade/noticia/museu-maritimo-australiano-encontrou-navio-portugues-afundado-em-1816-1194375
http://www.macauart.net/News/ContentP.asp?region=L&id=4167
http://www.clipquick.com/Files/Imprensa/2012/11-11/0/1_1934784_CBE926B99FF019C0597CFC59180880E5.pdf
NOTA: O afundamento do navio “Correio da Ásia” propriedade de José Nunes da Silveira, resultaria um protesto de João Joaquim de Freitas, capitão do Departamento da Marinha em Goa, em 6 de Fevereiro de 1817, ao tabelião público de Macau, José Gabriel Mendes por utilização de cartas náuticas  erróneas em que não estavam aí sinalizados os recifes já conhecidos pelos navegantes dessa zona.
Aconselho a leitura do trabalho académico do arqueólogo Alexandre de Paiva Monteiro:  “José Nunes da Silveira, negociante de grosso trato, capitão de longo curso, armador do Correio d´Azia” disponível em:
http://www.academia.edu/464296/_Jos%C3%A9_Nunes_da_Silveira_negociante_de_grosso_trato_capit%C3%A3o_de_longo_curso_armador_do_Correio_d_%C3%81zia_
(4) O 2.º filho do casal foi Joaquim Cândido da Silva Teles, também médico-cirurgião, cirurgião-Mor do Batalhão Provisório de Macau (a criação deste Batalhão Provisório foi a  17 de Outubro de 1846 – aprovado, por Decreto Régio em  12 de Março de 1847 – pelo Governador Ferreira do Amaral, destinado a auxiliar a Força de 1. º linha. O nome de Joaquim Cândido da Silva Teles foi mencionado em anterior postagem, a propósito da Relação dos oficiais do Batalhão. Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/12/10/noticia-de-10-de-dezembro-de-1847-batalhao-provisorio-de-macau-francisco-jose-de-paiva/
(5) A Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, de seu nome completo Real Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, é uma ordem dinástica portuguesa instituída pelo rei D. João VI de Portugal a 6 de Fevereiro de 1818, dia da sua aclamação, no Rio de Janeiro, Brasil.
(6) GOMES. Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954. Alguns dados foram recolhidos de FORJAZ, Jorge. Famílias Macaenses, Volume III, 1996.

Bernardino Senna FernandesFoi nesta data, 18 de Abril de 1890, agraciado por mercê honorífica com o título de Visconde de Sena Fernandes por duas vidas, o proprietário macaense Barão de Sena Fernandes.

Bernardino de Senna Fernandes nasceu em Macau a 20 de Maio de 1815 e também aqui faleceu a 2 de  Maio de 1893. Era filho de José Vicente Fernandes e de Ricarda Constantina Fernandes, naturais desta Província.
Bernardino Senna Fernandes Brasão IBernardino Senna Fernandes Brasão IIBernardino Senna Fernandes Brasão IIIFoi distinguido com os títulos de Barão em 25 de Outubro de 1888, de Visconde (17-04-1890) e de Conde, em duas vidas (31-03-1893).  Esta ultima mercê só chegou depois da sua morte pelo só pode ser gozada por seu filho que, a falar com rigor foi o 1.º Conde de Sena Fernandes. Enquanto que o nome de família seja referenciado em Macau como “Senna Fernandes“, os títulos foram outorgados como “Sena Fernandes
Bernardino Senna Fernandes Brasão IVBRASÃO DE ARMAS: Escudo de ouro carregado com uma águia bifronte de negro estendida, armada de vermelho e com um crescente de prata apontado para cima sobre o peito ; orla de vermelho carregado com quatro cruzetos de ouro entre quatros crescentes de prata sendo estes acantonados  e aqueles nos centros do chefe, contra-chefe e laterais – Timbre, uma águia de negro andante e armada de vermelho. Virol de ouro e vermelho e assim o paquife; elmo de prata lisa, decorado de oiro lavrado e o forro azul celeste.

Negociante rico, grande proprietário (um dos maiores contribuintes de Macau do século XIX), figura polémica (1) e controversa,  foi Major ordinário, (2) Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Comendador da Ordem de Cristo, Comendador da Ordem do Elefante de Sião, Cavaleiro de Torre e Espada, Condecorado com a Medalha de Prata de Mérito e Filantropia, Cônsul de Sião e da Itália em Macau, diplomata,  (3) Comandante da Guarda da Polícia, (2) organizador da Polícia do Mar,  (4) superintendente da Emigração Chinesa (isto é da emigração dos cules), inspector de Incêndios,  (5)  presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdia e sócio fundador da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses) (APIM). (6)
Deixou numerosa descendência. Casou a 30 de Setembro de 1840 com Antónia Maria de Carvalho. Ficou viúvo, casou a 11 de Julho de 1862 com D. Ana Teresa Vieira Ribeiro e tiveram 9 filhos.

Bernardino Senna Fernandes Estátua IFoto: 2015

Esta estátua foi erecta, em Março de 1871, (no mesmo mês e ano em que foi inaugurado o monumento da Vitória) (7)  num terreno ajardinado do outro lado da rua oposto ao Monumento da Vitória; dali foi removida para o pequeno jardim do vivenda “Caravela”, (8) na Avenida da República, construída pela família Senna Fernandes. A família posteriormente alugou/vendeu (?)  a vivenda “Caravela” para servir de Hotel/Restaurante e nessa altura ofereceu a estátua ao Governo que a mandou colocar no recinto murado do então Museu de Luís de Camões (hoje  propriedade da Fundação Oriente) à direita de quem entra. (9)

Bernardino Senna Fernandes Estátua IIO pequeno jardim à frente da sede da Fundação Oriente com a estátua de Senna Fernandes (na foto: esquerda superior). Foto: 2015

O pedestal tem inscrições em chinês e português. (actualmente muito apagadas)

Bernardino Senna Fernandes Estátua IIIFoto: 2015
PARA PERPETUAR A MEMORIA DO BENEMERITO
CIDADÃO
BERNARDINO DE SENNA FERNANDES
MAJOR HONORARIO
COMMENDADOR DA ORDEM MILITAR DE
NOSSO SENHOR JESUS CHRISTO
COMMENDADOR DA ORDEM DO ELEPHANTE BRANCO
DE SIAM
CAVALEIRO DA ANTIGA E MUITO NOBRE ORDEM
DA TORRE E ESPADA, DO VALOR, LEALDADE E
MERITO FIDALGO CAVALEIRO DA CASA REAL
CONSUL DE SIAM E DA ITALIA
I BARÃO, VISCONDE E CONDE DE SENNA FERNANDES
AGRACIADO COM A MEDALHA DE PRATA
DE MERITO, PHILANTROPIA E GENEROSIDADE
CHEVALIER SAUVETEUR DES ALPES MARITIMES
SOCIO PROTTETORE DE ASSOCIAZIONE DEI
BENEMERITI ITALIANI
MUITO APRECIADO PELA COMUNIDADE CHINEZA
DE MACAU
PELO SEU AMIGO JUSTICEIRO E PROVADA
ESTIMA  E SYMPATHIA
AOS NEGOCIANTES CHINEZES
A QUEM SEMPRE DISPENSAVA PROTECÇÃO
E APOIO
Bernardino Senna Fernandes Estátua IVFoto: 2015
Esta Estátua foi mandada erigir por
Lu-Cheo-Chi, Cham Hau-in, Ho-Liu-Vong
e outros negociantes chinezes de Macau
Em Testemunho de Amizade e Gratidão

(1) “Figura poderosa e polémica, foi naturalmente alvo de invejas e acusações  de toda a ordem, sobre as quais se torna difícil, hoje em dia, tecer um juízo de valor. Seja como for, ele próprio entendeu defender-se e publicou o folheto Um apelo ao publico imparcial, Macau, Typ. Popular, 1869, 24 p., no qual apresenta uma série de documentos comprovativos dos altos serviços prestados à Província. Coincidência, ou não, pouco depois desse desafrontamento pessoal, um grupo de importantes comerciantes chineses, deliberou mandar erigir-lhe uma estátua de corpo inteiro. (FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses)
(2) Senna Fernandes criou um corpo de polícia privado, em 1857, a «Polícia do Bazar», paga por um grupo de comerciantes chineses e depois esta Polícia extendeu-se a toda a cidade. Mas breve surgiram queixas de abuso de poderes. O governo hesitava, falho de meios para se lhe opor. Finalmente usando a velha regra que propõe que “se não os podes vencer junta-te a eles“,  Senna Fernandes foi nomeado Comandante da Guarda da Polícia a 14 de Outubro de 1857 e a 18 de Julho de 1861 foram-lhe concedidas as honras de major. Para demonstrar a sua riqueza, armou a Polícia à sua custa, com o armamento mandado vir propositadamente da Inglaterra.
SARAIVA, António M. P. – Jardins e a história de Macau in Macau, encontros de divulgação e debate  em estudos sociais, pp. 193-205.
Site das Forças de Segurança de Macau  indica como Comandante da Polícia: 14-10-1857 a 29-07-1863. (http://www.fsm.gov.mo/psp/por/psp_org_9.html)
(3) Conseguiu estabelecer com a China vários tratados de comércio, a fim de garantir à população os víveres necessários, depois de várias proibições ordenadas pelos mandarins em consequência da guerra entre a China e a Inglaterra, missão esta muito difícil que só o seu génio e alto prestígio conseguiu levar a bom termo. (Macau B. I., 1954)
(4) Criou também a Polícia do Mar, a quem se deve o salvamento de muitas vidas e propriedades, especialmente a quando do tufão de 27 de Julho de 1862. Reprimiu, à sua custa, com os seus navios e embarcações, o contrabando  e a pirataria nesta paragens, entregando sempre à Fazenda Pública o produto e os artigos das apreensões. Macau B. I., 1954)
(5) Reorganizou os serviços de incêndio da cidade exercendo gratuitamente o cargo de inspector (Macau B. I., 1954)
(6) Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) foi  fundada em 17 de Outubro de 1871, destinada à educação dos «filhos da terra». Em 1878 cria a «Escola Comercial»  (SILVA, Beatriz Basto da Cronologia da história de Macau, Vol.3).
(7) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/monumento-da-vitoria/
(8) O edifício da Caravela, infelizmente demolido em princípios de 1979
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2011/12/31/caixa-de-fosforos-hotel-caravela-2/
(9) TEIXEIRA, P.  Manuel – A Voz das Pedras de Macau, 1980.

No dia 8 de Março de 1828, faleceu na sua casa na Rua do Hospital, Marta da Silva Merop (Mierop) , (1) fazendo-lhe o enterro o Cura da Sé, Cónego António José Victor, que registou o seu assento de óbito no respectivo livro da Sé: «aos oito do mês de Março de 1828, nesta cidade, faleceu Martha da Silva Merop com todos os sacramentos, fez testamento e Codicilo »(2) (3) Foi sepultada na capela-mor da Igreja do Convento de S. Francisco.
“O seu marido era o inglês Tomas Merop, com quem casou religiosamente em Macau, (4) o qual no seu testamento declara: «A minha querida esposa, Marta da Silva , deixo a soma de dez mil libras e a minha casa da Rua do hospital e toda a mobília. Se ela mudar de ideias de passar toda a vida em Macau e vier para a Europa, deve receber mais três mil libras. É meu desejo que ela case após a minha morte, com uma condição: se ela casar com um português, receberá apenas cinco mil libras, quer venha para a Europa ou não. Se casar com um indivíduo doutra raça, receberá dez mil libras, e mais três mil libras se vier para Europa. Quer se conforme ou não com os meus desejos no respeitante ao casamento, deixo-lhes os meus livros e a mobília, a minha placa, relógio, anel, roupas, impressos, vinhos, instrumentos músicos e artigos curiosos, juntamente com a minha casa»
Marta não foi para Europa nem casou pela segunda vez; passou toda a vida em Macau” (1)
No  testamento que deixou, feito a 3 de Março de 1828, diz:
«Eu Martha da Silva Merop, viuva de Thomaz Merop, moradora n´esta cidade de Macau (…)  natural d´esta Cidade do santo Nome de Deus na China, filha de Pae e mai gentios (…) fui casada com Thomas Merop ora defundo in facie Ecclesiae segundo manda a  Santa Madre Igreja (…)  deste Matrimónio não tive filho algum (…) não tenho herdeiros descendentes nem ascendentes. (…) deixo por ora… (5)
Deixou o seguinte:
$ 1 000 para 1 000 missas por sua alma
$ 400 para ofícios solenes
$ 1 400 para pobres recolhidos
$ 400 para pobres de porta
$ 900 para fazer um depósito e com os juros celebrar festas anuais na Sé
$ 20 000 à Santa Casa de Misericórdia
$ 5 000 ao Mosteiro de Santa Clara
$ 5 000 ao Convento de S. Francisco
$ 20 000 às educandas do Recolhimento de S. Rosa de Lima devendo casa uma receber ainda $ 200 quando se casar
Deixou ainda várias somas às suas numerosas afilhadas e escravas que deveriam ficar livres após a sua morte. (1)
Marta MeropO seu retrato (6) em corpo inteiro pintado por volta de 1815, ocupa lugar de honra na galeria de benfeitores da Santa Casa de Misericórdia, na sala de Actos.
(1) Marta da Silva Van Mierop (1766 -1828), foi abandonada à nascença e recolhida pela Santa Casa da Misericórdia em meados do século XVIII. Casa com o inglês Thomas Kuyck Vam Mierop, sobrecarga da Companhia das Índias inglesa que lhe deixa em testamento parte da sua fortuna. Torna-se assim a mulher mais rica de Macau, famosa armadora e benfeitora da cidade.
(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – Vultos Marcantes em Macau, 1982, pp. 103-104.
(3) Codicilo – alteração ou aditamento de um testamento (FIGUEIREDO, Cândido – Dicionário da Língua Portuguesa, Volume I, 1986.
(4) Afirmação do Padre Manuel Teixeira mas que não se encontra registo do casamento em Macau. Outros referem concubinato. (5)
(5) Para uma melhor compreensão da história de vida desta benfeitora , aconselho a leitura, disponível na net, de
PUGA, Rogério Miguel – A Vida e o Legado de Marta da Silva Van Mierop in Women, Marruiage and Family in Macao
http://www.academia.edu/3785773/A_Vida_e_o_Legado_de_Marta_da_Silva_Van_Mierop
(6) José Tomás de Aquino, (7) em carta endereçada à Santa Casa pedia desculpas «quanto à demora dos retratos de Francisco Xavier Roquete que legou $ 62 000 a essa Instituição e de Maria da Silva Merop; os quais foram executados pelo retratista china VÓ Qua, mas sob o meu contorno e direcção» (2)
(7) José Tomás de Aquino ( 1804-1852), educado no Real Colégio de S. José de Macau, partiu para Lisboa em 1819, por indicação do pai, para estudar  Medicina.  Estudou no Colégio Luso-Britânico e formou-se em »Matemática, Desenho e Comércio». Regressou a Macau em 1825. Além de proprietário de navios e negociante era também «arquitecto».  Dirigiu a construção de muitas residências e edifícios em Macau, reedificou, modificou, alterou muitos outro edifícios oficiais. Saliento a construção do Teatro Luso-Britânico (1839); reconstrução da Sé Catedral (concluída em 1850); reconstrução da igreja de S. Lourenço em 1847 (reedificada em 1898); construção do Palácio do Barão de Cercal na Praia Grande (posterior Palácio do Governo); construção do Palacete da Flora e a construção da casa do Barão de Cercal na Rua da  Prata n.º 4.
TEIXEIRA, P. Manuel – Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX, 1952.
NOTA : também Patrícia Lemos abordou este assunto na «Revista Macau», em 2014 : “De Marta a macaense”, disponível em:
http://www.revistamacau.com/2014/03/05/de-marta-a-macaense/