Archives for posts with tag: Robert Morrison

Carta de John Livingstone com nota introdutória endereçada ao Dr Morrison em Macau datada de 13 de Setembro de 1818. Pequeno extracto de parte da carta acerca da pobreza na China: (1)

continua

(1) “The Asiatic Journal and Monthly Register for British India and its Dependencies“, Volume 10 July to December 1820 , pp. 138-139. https://babel.hathitrust.org/cgi/pt?id=chi.095922768&view=1up&seq=144

No dia 1 de Agosto de 1834, sexta-feira, faleceu em Cantão, Dr. Robert Morrison, (1) primeiro missionário protestante que entrou na China. Esteve 27 anos ao serviço da sua Igreja no Oriente, 25 dos quais trabalhou, igualmente como tradutor da Companhia Inglesa das Índias Orientais. (2) O corpo de Morrison foi trazido para Macau por seu filho John e por Sir George Robinson, um dos superintendentes do Comércio Britânico. (3) (4)

POSTAL – Robert Morrison (1782-1834)
Verso do POSTAL – Robert Morrison (1782-1834)

Dr. Robert Morrison, nasceu em 5 de Janeiro de 1782, foi ordenado ministro na igreja escocesa, em Londres a 8 de Janeiro de 1807, e a 31 desse mês embarcou para a China como missionário da London Missionary Society. Chegou a Macau a 4 de Setembro de 1807 (5) e daqui passou para Cantão onde continuou os seus estudos de chinês com um católico de Pequim. A 1 de Junho de 1808, partiu para Macau para recuperar a saúde e em fins de Agosto voltou a Cantão já com a saúde restaurada; pouco meses depois regressou a Macau. A 20 de Fevereiro de 1809 casou com Mary Morton, (6) filha do Dr. Morton, médico irlandês da Companhia das Índias Orientais Foi então nomeado secretário e tradutor de chinês pela Feitoria Britânica na China com um salário anual de 500 libras. Foi, entre inúmeros trabalhos em chinês e inglês, (7) o compilador e editor do Dicionário da Língua Chinesa, em 6 volumes (Macau, 1815 a 1828) e o autor da primeira edição completa da Bíblia em chinês, que publicou em Malaca (2 volumes) em 1823 (2) (3)

POSTAL – Reverendo Dr. Robert Morrison e seus Assistentes. Quadro de George Chinnery (1774-1852)
Verso do POSTAL – Reverendo Dr. Robert Morrison e seus Assistentes. Quadro de George Chinnery (1774-1852)

(1) Robert Morrison encontrava-se em Cantão, acompanhando Lord William John Napier, primeiro chefe superintendente do Comércio Britânico na China que o nomeou secretário e intérprete chinês, com um salário anual de 1.300 libras. Lord Napier que sofreu em Cantão os primeiros sintomas da doença, faleceria a 11 de Outubro seguinte, em Macau, tendo pedido que fosse sepultado junto de Morrison, no Cemitério Protestante.

 (2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Volume II, 2015, p.70.

(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I , pp.276-279

(4) Para honrar a sua memória, fundou-se, a 24 de Fevereiro de 1838, a “Morrison Education Society in China”, sendo a escola aberta em Macau sob a direcção dum professor americano; esta escola foi transferida para Hong Kong, sendo montada numa colina, a oeste de Queenstown, colina a que se deu o nome de Morrison Hill. Hoje a colina desapareceu, mas o nome conserva-se na rua chamada Morrison Hill Road. (2)

(5) Segundo Beatriz Basto da Silva foi a 07-09-1807. “Robert Morrison chega a Macau, a caminho de Guangzhou (Cantão). É o primeiro missionário protestante na China e a ele se deve a tradução integral da Bíblia para chinês” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Volume II, 2015, p.12)

(6) Mary Morton faleceu em Macau, de cólera a 10 de Junho de 1821 sendo a primeira pessoa a ser sepultada no Cemitério Protestante, então comprado pela Companhia das Índias Orientais por 3 a 4 mil patacas. (2) A data á entrada da Igreja e do cemitério protestante, no Largo Luís de Camões é 1814, mas de facto, o primeiro enterramento só se deu em 1821.

(7) “01-05-1833 O célebre sinólogo britânico doutor Robert Morrison principiou a publicar o The Evangelist and Miscelânea Sinica que, após seis números foi suspenso pelo governo em Agosto a instâncias do Vigário Capitular da Diocese, o P.e Inácio da Silva (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Volume II, 2015, p.65.)

Anteriores referências neste blogue em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/robert-morrison/

Carta de J. Livingstone, cirurgião na China , escrito em Macau em 25 de Março de 1820, a Joseph Hume, publicada no “New Times” de 2 de Outubro de 1820.

Extraído de «The Asiatic Journal and Monthly Register for British India and Its Dependencies», Volume 10-July to december 1820, p. 583
Foram os médicos da “Companhia Britânica das Índias Orientais”, em colaboração com os missionários protestantes, que introduziram a medicina ocidental na China, e revolucionaram a prática médica chinesa com novos conceitos e práticas. Os pioneiros, os três principais terão sido o Dr. Alexander Pearson (1780-1874) que foi o introdutor da vacinação antivariólica em Macau e Cantão em 1805, Robert Morrison (1782-1834 – missionário protestante, e tradutor de chinês durante 25 anos da ”Companhia Inglesa das Índias Orientais” que não era médico)  e Dr. .John Livingstone, (1) que abriu (com Robert Morrison) o primeiro dispensário  médico ocidental (particular) para os pobres, em Macau, em 1820. Em 1827, Thomas R. Colledge abriria um “hospital” oftalmológico em Macau que funcionou de 1827/28 a 1832 (totalmente financiado pelo próprio).

(1) John Livingstone (c.1770-1838?) (1) foi médico da “Companhia Britânica das Índias Orientais” na China nomeadamente em Cantão e Macau. Terá vindo para a China pela primeira vez em 1793 e uma segunda visita de 1803 a 1827 (?). Chegou a Macau em 1820.
NOTA: No Cemitério Protestante (antigo Cemitério da Companhia das Índias Orientais) está sepultada uma filha de John Livingstone, de nome Charlotte de 5 meses (1818) bem como o Rev. Robert Morrison e sua mulher Mary Morrison (1791- 1821) e ainda três crianças irmãs, filhas de Dr Thomas Richardson Colledge e Carolina Mary Shillaber Colledge.
(1) 原文條目mandarim pīnyīn: yuán  wén tiáo mù ; cantonense jyutping: jyun4 man4 tiu4  muk6
https://en.wikipedia.org/wiki/Medical_missions_in_China
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24585751
https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1258/jmb.2011.011075

Continuação da anterior postagem, com a publicação da terceira parte do primeiro desenho referido em (1)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2019/08/15/leitura-desenhos-de-macau-1840-description-of-a-view-of-macao-in-china-i/

A Dra. Beatriz Basto da Silva chama a atenção (1) para um artigo “Anatomy of a small foot” publicado no mês de Abril de 1835 no «The Chinese Repository» (2) sobre os pés enfaixados e pequeninos das mulheres chinesas. (3)

A Chinese Golden Lily Foot, Lai Afong, c. 1870s (4)

Refere um estudo de Jean Baptiste Du Halde (5) que dá como início deste costume a Última Imperatriz da Dinastia Shang que pereceu cerca 1.123 A.C.. como tinha os pés realmente muito pequenos, resolveu enfaixá-los e atá-los, fazendo crer que se tratava de uma moda, quando era, afinal, uma deformação congénita.
Robert Morrison, na sua «View of China» (6) diz que Howchoo (por volta das Cinco Dinastias, cerca de 925 A. D.) pediu à concubina Yaou para atar os pés com faixas de seda para se manterem pequenos, com a beleza do quarto de lua crescente. As outras mulheres imitariam a ideia.
Enfim, hipóteses incertas, mas que trouxeram o costume dos «Golden Lilies» ou «Kin leen» (7) quase até finais do século XX. (1)

18th-century illustration showing Yaoniang (窅娘) binding her own feet, Qing Dynasty woodblock print from Hundred Poems of Beautiful Women(Bai Mei Xin Yong Tu Zhuan 百美新詠圖傳) (8)

NOTA 1 – Na década de 60 (séc. XX), em Macau, ainda conheci uma senhora amiga da minha avó, que tinha os “pés atados”. Lembro-me dela sempre bem vestida (muito possivelmente de famílias aristocráticas chinesas) que saída à rua sempre acompanhada por uma criada que a ajudava a andar e sempre protegida por uma “sombrinha” (guarda- sol) (6)
NOTA 2 – Aconselho visualização das fotografias da britânica Jo Farrell que passou oito anos a registar a vida das últimas mulheres idosas chinesas com os “pés deformados”. Estas fotos estiveram em exposição de 18 a 31 de Março de 2018 no «Hong Kong Museum of Medical Science».
http://www.dailymail.co.uk/news/article-5425801/Last-foot-binding-survivors-captured-beautiful-photos.html
Pode ver uma reportagem sobre estas mulheres em:
https://www.youtube.com/watch?v=gmGZGa0Ze58
(1) SILVA, Beatriz Basto da Sila – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995
(2) Anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/the-chinese-repository/
(3) Pés atados ou Pés-de-lótus (em inglês footbinding) foi um antigo costume chinês em que os pés de meninas jovens mantinham reduzidos em tamanho no máximo 10 cm de comprimento. Para isso, os pés das meninas jovens eram rigorosamente atados e mantidos em pequenos sapatos a fim de evitar o máximo o seu crescimento . O objetivo era ter o menor pé possível, que significava sensualidade muito apreciado pelos homens na altura.
(4) https://en.wikipedia.org/wiki/Foot_binding#/media/File:A_Chinese_Golden_Lily_Foot,_Lai_Afong,_c1870s.jpg
(5) Jean-Baptiste Du Halde (1674-1743), jesuíta francês, historiador com especial interesse na história chinesa, embora nunca tivesse estado na China nem dominar a língua chinesa mas coleccionava os relatórios dos missionários jesuítas e a partir deles fez uma enciclopédia da história, cultura e sociedade chinesa.

 

 

(6) MORRISON, Robert – A view of China for philological purposes : containing a sketch of Chinese chronology, geography, government, religion & customs, designed for the use of persons who study the Chinese language, 1817
Anteriores referências a Robert Morrison em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/robert-morrison/
(7) –  mandarin pīnyīn: jīn lì; cantonense jyutping: gam1lei6
(8) https://en.wikipedia.org/wiki/Foot_binding#/media/File:Yaoniang_binding_feet.jpg
(9) Sombrinha – termo utilizado em Macau para designar o sombreiro ou guarda-sol ou guarda-chuva. Segundo Prof Graciete Batalha, o termo sombreiro, com este sentido foi corrente no ásio-port., mas a forma macaense parece revelar influência espanhola talvez através das Filipinas. Glossáro do Dialecto Macaense, 1977, p. 534.

 Em 31 de Maio de 1832, iniciou-se a publicação periódica, em Cantão (Guangzhou), da excelente revista «The Chinese Repository», contendo valiosos estudos sobre os assuntos chineses, entre outros, sendo editor o missionário protestante (norte-americano) Dr. Elijah Coleman Bridgman (1) (até 1847 quando deixou Shanghai, no entanto continuou a ser colaborador, com os seus artigos). Sucedeu-lhe como editor James Granger Bridgman até Setembro de 1848, data em que Samuel Wells Williams passou a ser editor. A colecção desta revista constitui um valioso repositório de artigos sobre a história, literatura e costumes chineses O último número data de Agosto de 1852. Entre os anos de 1842 e 1844 (volumes XI e XII), a revista foi editada em Macau, com excepção do número correspondente a Dezembro de 1844, por esta revista ter passado a ser impressa em Hong Kong. Depois de Hong Kong, passou novamente a ser impresso em Cantão. Ao todo com XX volumes, o «The Chinese Repository» foi uma das primeiras revistas publicadas por estrangeiros, na China e considerado o primeiro maior jornal de Sinologia.
Era mais dirigido aos missionários protestantes que trabalhavam na China elucidando-os da história e cultura chineses, assuntos correntes e documentação de relevo para os seus trabalhos. Foi reimpressa por Maruzen Co Ltd., em Tóquio (2)
(1) Elijah Coleman Bridgman (1801-1861) foi o primeiro missionário americano na China tendo chegado a Cantão em 19 de Fevereiro de 1830 (aí recebido por Robert Morrison). Foi autor da primeira história dos Estados Unidos em língua chinesa. Foi o intérprete/tradutor do primeiro tratado entre os Estados Unidos e o Governo chinês na Dinastia Qing.
https://en.wikipedia.org/wiki/Elijah_Coleman_Bridgman

(2) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.

https://en.wikipedia.org/wiki/The_Chinese_Repository

https://ia801407.us.archive.org/28/items/chinesereposito10unkngoog/chinesereposito10unkngoog/ 

Logo no primeiro volume (Volume I – de Maio de 1832 a Abril de 1833) contém várias referências a Macau:
Macao settlement ……………………………………………………….400
Macao, actual state of its commerce, public buildings & c … 403
Macao,   population of, &c………………………………………….. 404
Portuguese in Siam ………………………………………………………22
Portuguese in China …………………………………………………….398
Spanish trade at Macao ………………………………………………….403
St. Joseph´s college, at Macao ………………………………………… 406
Xavier, Francis ……………………………………………………265, 427
Review of an historical sketch of Portuguese……………….398, 425
Poderá consultar os XX volumes em
http://fig.lib.harvard.edu/fig/?bib=000129070
https://ia801407.us.archive.org/28/items/chinesereposito10unkngoog/chinesereposito10unkngoog/

Entre as várias fotografias que ilustram os locais de interesse turístico de Macau que é apresentado no folheto turístico de 1928 (1) constam estas duas, os monumentos de Vasco da Gama e da Vitória.
a-vistors-handbook-to-romantic-macao-jardim-de-vasco-da-gamaRetiro da parte “Historical” do mesmo folheto:
Delving into history we discover that not for nothing Macai gained its glorious title “Gem of the Orient Earth” – a title bestowed on Macao by Sir John Bowring, (2) on early Governor of majestic Hong Kong.
This lovely “Gem” has survived the test of the ages and the banners of Portugal still flutter to the breeze o´er “Holy City” of enchanting Macao, after almost four centuries of the vicissitudes of hazardous times.
Vasco da Gama, transcendent of navigators, sailed out of the Tagus one day, and discovered the Cape route to the Indies and Far Cathay: his followers went farther afield and founded Macao.
Authorities disagree regarding the date of the foundation of the Portugueses Colony. Morrison refers to Portuguese incidence as early as 1535, and sojourn in 1537; the Chinese records admit residence in 1550; but the Portuguese have adopted 1557 as the oficial date of the Colony´s establishment.
It was not till 1887, however, three hundred and thirty years later that by treaty China ratified the perpetual occupation by Portugal of the Colony of Macao and its dependencies…
a-vistors-handbook-to-romantic-macao-the-pillar-of-victory“…The Dutch were the first to invade this privileged trade centre of the Portuguese and even attempted to take Macao by force of arms. Their repulse in 1622 by a small volunteer garrison at Macau is un historical episode of considerable interest”
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/01/24/leitura-folheto-turistico-de-1928-a-visitors-handbook-to-romantic-macao/
john-bowring-4-o-governador-de-hk(2) Sir John Bowring 寶寧 (1792-1872), homem de muito saber (intelectual), economista político, escritor e editor, poliglota, tradutor literário, membro do Parlamento Britânico, reformador na área da educação e do próprio funcionamento do parlamento, exerceu vários cargos governamentais entre eles, foi o 4.º Governador de Hong Kong (13-04-1854 – Março de 1859). Foi durante a sua governação enérgica e “bélica” contra os chineses que desencadeou a Segunda Guerra do Ópio (1856-1860).
http://uudb.org/articles/sirjohnbowring.html
https://en.wikipedia.org/wiki/John_Bowring

Para ilustrar os locais de interesse turístico de Macau, no folheto turístico de 1928 (1) o autor apresenta a fotografia do túmulo do Dr. Robert Morrison (2) no antigo cemitério dos protestantes, (3) com a seguinte nota:
a-vistors-handbook-to-romantic-macao-protestant-cemeteryTHE PROTESTANT CEMETERY – There are two Protestant Cemeteries in Macao. One is situated opposite Montanha Russa, on the way to Porta do Cerco, the other is close to Camoens´s Gradens. In this latter cemetery are interred, amongst others, the remains of:
GEORGE CHINNERY – Celebrated painter, whose pictures hang in the National Gallery , London – 1852.
Lord HENRY JOHN SPENCER CHURCHILL, R. N. – Commander of H. M. S. Druid – 1836.
EDMUND ROBERTS – U. S. A. Diplomatic Agent who concluded various friendly and comercial treaties for his country – 1843.
SIR HUMPHREY S. FLEMING SENHOUSE – Commander of the Brotish feleets in the China Seas – 1841.
The tiny chapel in the grounds is the Protestant place of Sunday worship and was recently built to replace na older one which had fallen into ruin.”
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/01/24/leitura-folheto-turistico-de-1928-a-visitors-handbook-to-romantic-macao/
(2) Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/robert-morrison/ 

Ainda acerca da data do estabelecimento dos portugueses em Macau , a versão do Visconde de Santarém no livro de 108 páginas publicada por Júlio Firmino Judice Biker (sócio correspondente do Instituto de Coimbra, na Imprensa Nacional, em 1879), já referido em (1),
1 – “Memória sobre o estabelecimento de Macau” escrito pelo Visconde de Santarém
Memória do estabelecimento dos Portuguezes em MacauA história do nosso primordial estabelecimento em Macau teve o destino de quantos fundamos. Deixaram-na os nossos escriptores involta na maior escuridão, por isso que não produziram os titulos authenticos da nossa posse e domínio, e quando por casualidade délles fizeram menção, parece que de industria quizeram occultal-os aos vindouros, de sorte que é mister actualmente consumirem-se em investigações annos e annos para se desfiar a meada de confusões, e resolverem-se os problemas que nos deixaram por herança”.(1)
“A-pesar-de tôdas as investigações feitas nesse sentido, nada se conseguiu apurar de exacto e positivo àcêrca do estabelecimento dos portugueses em Macau, o que levou o erudito e distinto lusófilo inglês, Cap. Charles Ralph Boxer, a escrever ainda há pouco: «The exact origins of the colony are still, and likely to remain, wrapped in obscurity»: «As origens exactas da colónia estão ainda, e parece que hão-de ficar, envoltas na obscuridade».Tentemos, contudo, levantar um pouco a ponta do véu, citando algumas referências, coligidas de fontes chinesas, portuguesas e estrangeiras sôbre tão estudada e debatida questão.
Robert Morrison, citando na sua «Vista da China» o Ming Shih, diz que «os Europeus vieram primitivamente em 1535 a Macau e tinham em 1537 habitações na Ilha.»
O escritor chinês Tien-Tsê-Chang, no seu precioso livro «Sino-Portuguese Trade» pág. 87, diz: «Ainda que o estabelecimento de Macau não atraíu a atenção senão aí pelo ano de 1557, contudo o uso dêste pôrto para fins comerciais data de mais de duas décadas atrás. No período de Chêng-tê, 1506-1521, as autoridades de Cantão convidaram os comerciantes estrangeiros a dirigir-se a um lugar costeiro, chamado Tien-po (電白) para as transações comerciais. Fica a sudoeste da cidade de Cantão e cêrca de 180 milhas por terra distante dela. Em 1535, isto é, imediatamente depois de haver recomeçado o comércio estrangeiro (pois, como se disse, os estrangeiros eram proïbidos em Cantão desde 1521), as autoridades, a pedido do Pei-Wo, Huang Chíng(黄慶) diz-se que Huaug recebeu um presente para fazer êste requerimento, segundo Ming Shih ch. 325 p. 96) passaram a alfândega para Macau, onde, a princípio, o govêrno auferia dos direitos alfandegários a soma de 20.000 taéis por ano.»
Vemos, pois, que o consciencioso escritor chinês Tíen-T’sê Chang que, entre muitas outras, consultou também as fontes chinesas, que cita a cada passo, diz que a alfândega se estabeleceu em Macau em 1535, vindo esta Colónia a atrair a atenção apenas em 1557. Morrison, como vimos, também nos dá a data da vinda dos portugueses para Macau em 1535, dizendo-nos que tinham habitações na ilha em 1537. A esta mesma data se refere Williams, quando escreve no Middle Kingdom, Vol. II,pág. 428: «Já em 1537 existiam três colónias portuguesas perto de Cantão, as quais eram: a primeira na Ilha de Sanchuan, na Ilha de Lampacau a segunda e a terceira em Macau, última a ser estabelecida».(2)

2.º Visconde de Santarém c. 1850Retrato do 2.º Visconde Santarém c. 1850 na Sociedade de Geografia de Lisboa

Concorda com a mesma data (1553) o que se lê na Memoria do Visconde de Santarém: «Na obra de Morrison se acha trasladado dos livros chineses  um fragmento àcêrca do nosso estabelecimento em Macau, e é o seguinte, que o célebre sinólogo Abel Rémusat, achando que a tradução de Morrison não era exacta, traduziu da maneira seguinte:
«La 32.me année Kin-thsing (1553) des vaisseaux étrangères abordèrent á Hao-King. Ceux qui les montaient racontèrent que la tempêste les avait assaillis, et que 1′ eau de la mer avait moillé les objets quíls apportaient en tribut. Ils désiraient quón leur permit de les faire sécher sur le rivage de Hao-King. Wang-pe, commandant de la côte le leur permit. Ils n’élevérent alors que quelques dizaines de cabanes de jonc. Mais des marchands attirés par léspoir du gain vinrent insensiblent, et construisirent des maisons de briques, de bois et de pierres. Les Folang-Ki (os Francos) obtiurent de cette manière une entrée illicito dans lÉmpire. Ainsi les étrangeres commencèrent à s’établir à Macáo du temps de Wang-pe» (1)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/05/01/leitura-memoria-sobre-o-estabeleci-mento-de-macau-escripta-pelo-visconde-de-santarem-i/
(2) http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP275/index.htm