“17-09-1808 – Ofício do Mandarim de Casa Branca ao Procurador de Macau (1) dizendo que «embora o pequeno território de Macau tenha sido cedido aos portugueses por um acto de bondade e de piedade da Celeste Dinastia da China, e ainda que eles o ocupassem em paz e bom entendimento desde há centenas de anos, entretanto, só era permitido aos navios de guerra de reinos estrangeiros que vinham para Cantão, chegar até às imediações de «Kai Keang» (Ponta da Cabrita, Taipa) (2) não podendo positivamente entrar em Macau à sua vontade, nem residir ali sem infringir as normas em vigor, aliás observadas desde há muito como constava dos arquivos»”. (3)
(1) O Procurador do Senado de Macau em 1808 era Manuel Pereira.
(2) A 8 de Dezembro de 1989, o Governador Carlos Melancia provocou uma verdadeira explosão no território ao carregar no botão que fez deflagrar duas toneladas de explosivos para desmontar o morro da Ponta da Cabrita, assinalando assim o início formal das obras do aeroporto internacional de Macau. Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ponta-cabrita/
(3) SILVA, Beatriz Basto da – , Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 15)
Retrato de D. João VI, Rei de Portugal. Retrato por Albertus Jacob Frans Gregorius
D. João VI (nome completo: João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança) (Lisboa, 13 de maio de 1767 — Lisboa, 10 de março de 1826), cognominado O Clemente, foi rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves de 1816 a 1822 (quando da independência do Brasil – que redundou na extinção do Reino Unido até então existente). De 1822 em diante foi rei de Portugal e Algarves até à sua morte, em 1826. Pelo Tratado do Rio de Janeiro de 1825, que reconhecia a independência do Brasil do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, também foi o imperador titular do Brasil, embora tenha sido o seu filho D. Pedro o imperador do Brasil de facto
Não esperara vir a ser rei, só tendo ascendido à posição de herdeiro da Coroa pela morte do seu irmão mais velho, D. José. Assumiu a regência quando a sua mãe, a rainha D. Maia I de Portugal, foi declarada mentalmente incapaz. Regente de 15-07-1799 a 20-03-1816; Rei de 20-03-1816 a 10-03-1826. https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_VI_de_Portugal
Lucas José de Alvarenga, (nascido em Minas Gerais, tira em Coimbra o Curso de Direito e exerce com Procurador da Coroa), em 27-08-1807, viaja para a Índia e é nomeado como Governador de Macau. Fica em Goa algum tempo à espera de monção.
“15-09-1808 – Chegou o novo Governador Lucas José Alvarenga vindo desde Bombaim no «Comboio Inglês»; posse marcada para 26-XII-1808. (1) Um governo turbulento: os ingleses e a sua tropa saem de Macau mas os ataques da pirataria continuam; assiste ao conflito entre o Senado e o Ouvidor Arriaga; os mandarins mandam tropas para Macau, tendo as mesmas acampado perto do Forte de S. Francisco. Alvarenga investigou sobre as finanças a cargo do Senado, de que era presidente. Vigiou de perto a tradução das chapas sínicas acabadas de verter em Português pelo Procurador, enfim, Alvarenga chegou a acusar o Ouvidor e o Senado de se passarem para o lado dos mandarins em vez de protegerem a soberania portuguesa. Em contrapartida, as elites locais acusavam-no de anglófilo!. Ainda no seu tempo, assiste-se à luta contra Cam Pao Sai, que acabou por se render, depois de negociações conduzidas por Arriaga. O mandato de Alvarenga acaba em 19 de Julho de 1810, data em que lhe sucederia Bernardo Aleixo de Lemos e Faria. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p.15)
(1) “01-01-1809-O Governador Lucas José Alvarenga só neste dia tomou posse, “por moléstia que lhe sobreveio inesperamente” na tarde de 26 de Dezembro anterior.” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p.16)
O governador Macau homenageado era José Maria da Ponte e Horta (26-10-1866 a 2-08-1868)
Maximiano António dos Remédios filho de António dos Remédios e de Rita de Sousa Peres nasceu em S. Lourenço a 12.09.1808 e faleceu S. Lourenço a 1.02.1875. Rico negociante e proprietário, arrolado em 1871 como um dos 40 maiores contribuintes de Macau. A 17.09.1871, reuniu em sua casa um grupo de macaenses que constituíram o núcleo fundador da «Associação Promotora da Instrução dos Macaenses» (APIM). Na eleição da 1.ª direcção Maximiano dos Remédios foi eleito presidente.
Maximiano dos Remédios tinha uma propriedade na chácara de S. José, vulgarmente conhecida por chácara de Manochái sita na Calçada das Chácaras (lugar onde havia várias chácaras) local hoje junto de Santa Sancha. A 17 de Abril de 1902, o provedor da Santa Casa da Misericórdia, (SCM) propôs e a Mesa concordou em comprar por $2 000 a «Chácara de S. José» pertencente à viúva de Maximiniano António dos Remédios, contínua ao Hotel BoaVista (comprada pela SCM em 15 de Novembro de 1901 para aí instalar Hotel Sanatório) com intenção de aumentar a área de construção.
Informações retiradas de: FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, VOL. III, 1996, p. 40; TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol. I, 1997 p. 303, 311,
No dia 1 de Agosto de 1834, sexta-feira, faleceu em Cantão, Dr. Robert Morrison, (1) primeiro missionário protestante que entrou na China. Esteve 27 anos ao serviço da sua Igreja no Oriente, 25 dos quais trabalhou, igualmente como tradutor da Companhia Inglesa das Índias Orientais. (2) O corpo de Morrison foi trazido para Macau por seu filho John e por Sir George Robinson, um dos superintendentes do Comércio Britânico. (3) (4)
POSTAL – Robert Morrison (1782-1834)
Verso do POSTAL – Robert Morrison (1782-1834)
Dr. Robert Morrison, nasceu em 5 de Janeiro de 1782, foi ordenado ministro na igreja escocesa, em Londres a 8 de Janeiro de 1807, e a 31 desse mês embarcou para a China como missionário da London Missionary Society. Chegou a Macau a 4 de Setembro de 1807 (5) e daqui passou para Cantão onde continuou os seus estudos de chinês com um católico de Pequim. A 1 de Junho de 1808, partiu para Macau para recuperar a saúde e em fins de Agosto voltou a Cantão já com a saúde restaurada; pouco meses depois regressou a Macau. A 20 de Fevereiro de 1809 casou com Mary Morton, (6) filha do Dr. Morton, médico irlandês da Companhia das Índias Orientais Foi então nomeado secretário e tradutor de chinês pela Feitoria Britânica na China com um salário anual de 500 libras. Foi, entre inúmeros trabalhos em chinês e inglês, (7) o compilador e editor do Dicionário da Língua Chinesa, em 6 volumes (Macau, 1815 a 1828) e o autor da primeira edição completa da Bíblia em chinês, que publicou em Malaca (2 volumes) em 1823 (2) (3)
POSTAL – Reverendo Dr. Robert Morrison e seus Assistentes. Quadro de George Chinnery (1774-1852)
Verso do POSTAL – Reverendo Dr. Robert Morrison e seus Assistentes. Quadro de George Chinnery (1774-1852)
(1) Robert Morrison encontrava-se em Cantão, acompanhando Lord William John Napier, primeiro chefe superintendente do Comércio Britânico na China que o nomeou secretário e intérprete chinês, com um salário anual de 1.300 libras. Lord Napier que sofreu em Cantão os primeiros sintomas da doença, faleceria a 11 de Outubro seguinte, em Macau, tendo pedido que fosse sepultado junto de Morrison, no Cemitério Protestante.
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Volume II, 2015, p.70.
(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I , pp.276-279
(4) Para honrar a sua memória, fundou-se, a 24 de Fevereiro de 1838, a “Morrison Education Society in China”, sendo a escola aberta em Macau sob a direcção dum professor americano; esta escola foi transferida para Hong Kong, sendo montada numa colina, a oeste de Queenstown, colina a que se deu o nome de Morrison Hill. Hoje a colina desapareceu, mas o nome conserva-se na rua chamada Morrison Hill Road. (2)
(5) Segundo Beatriz Basto da Silva foi a 07-09-1807. “Robert Morrison chega a Macau, a caminho de Guangzhou (Cantão). É o primeiro missionário protestante na China e a ele se deve a tradução integral da Bíblia para chinês” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Volume II, 2015, p.12)
(6) Mary Morton faleceu em Macau, de cólera a 10 de Junho de 1821 sendo a primeira pessoa a ser sepultada no Cemitério Protestante, então comprado pela Companhia das Índias Orientais por 3 a 4 mil patacas. (2) A data á entrada da Igreja e do cemitério protestante, no Largo Luís de Camões é 1814, mas de facto, o primeiro enterramento só se deu em 1821.
(7) “01-05-1833 O célebre sinólogo britânico doutor Robert Morrison principiou a publicar o The Evangelist and Miscelânea Sinica que, após seis números foi suspenso pelo governo em Agosto a instâncias do Vigário Capitular da Diocese, o P.e Inácio da Silva (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Volume II, 2015, p.65.)
Parte dum mapa – carta náutica – de 1808, desenhado por Chretien-Louis-Joseph de Guignes, onde se visualiza Macau, Hong Kong e Cantão.
Esta carta náutica (com pormenores de marcação de profundidade, tipo de fundo marítimo) mostra o estuário /delta do Rio das Pérolas (珠江三角洲), Macau e arredores e à direita, Hong Kong com as ilhas ao seu redor (Lantau, Lamma, etc)
Este mapa encontra-se incluída no livro “Voyages a Peking, Manille et l’Île de France faits dans l’Intervalle des Annees 1784 à 1801” (1) (1) Sobre Chretien-Louis-Joseph de Guignes que esteve cerca de 10 anos em Macau e este livro (três volumes) ver anterior postagem: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/chretien-l-j-de-guignes/
Pagode Chinese située à l´entrée du Port de Macao (1)
Desenho de Chrétien-Louis-Joseph de Guignes (1759-1845), filho do orientalista/sinólogo Joseph de Guignes (1721-1800), publicado no livro:
“Voyages a Peking, Manille et l’Île de France faits dans l’intervalle des années 1784 à 1801” (2) Chrétien-Louis-Joseph de Guignes era conhecedor de várias línguas asiáticas incluindo o chinês (fluente em cantonense e mandarim, escrito e falado) (3) Em 1783 fixou residência na China onde ficou até 1797, e foi cônsul da França em Cantão (Guangzhou) de 1783 a 1787. Em 1794-95, foi contratado como intérprete da embaixada de Isaac Titsinghonhis, embaixador holandês, numa viagem pelo império chinês de Cantão a Pequim para se apresentar na corte do Imperador Qianlong que o convidou para estar presente nas comemorações do seu 60.º reinado. A embaixada foi recebida no Yuangmingyuan (Palácio de Verão) e ficou conhecida por ter sido a última visita de europeus a este Palácio já que os estrangeiros foram posteriormente expulsos da China e o Palácio foi destruído (melhor dizendo saqueado) em 1860 pelas tropas anglo francesas.
Esta viagem, conforme afirma o autor, foi traçada seguindo um mapa de viagem de Cantão para Pequim elaborado pelos jesuítas.
Prefácio do I Volume, p. XIV
Chrétien-Louis-Joseph de Guignes terá estado cerca de 10 anos em Macau.
Volume I, p. 356
O livro pode ser consultada em: https://archive.org/stream/voyagespkingman01guiggoog#page/n7/mode/2up
(1) http://www.cca.qc.ca/en/collection/877-voyages-a-peking-manille-et-l-ile-de-france
(2) Publicado em Paris em 1808, em três volumes. No primeiro volume apresenta uma história sumária da China e o início da crónica da viagem para Pequim. No segundo a viagem para Pequim, estadia e retorno a Cantão. No terceiro volume as suas observações da vida quotidiana da China de 1783 a 1797. É neste terceiro volume que faz mais referências a Macau nomeadamente uma história sumária das relações desta cidade com os ingleses, franceses, holandeses e chineses.
Anexo aos 3 volumes, uma colecção de chapas contendo cerca de uma centena de desenhos: templos, pagodes, pontes, barcos, jardins, festivais, funerais, túmulos, santuários vestimentas, notas musicais, mapas etc.
(3) Autor do dicionário DE GUIGNES C.-L.-J. (1813) – Dictionnaire Chinois, Français et Latin, le Vocabulaire Chinois Latin. Paris: Imprimerie Impériale.
Hoje, dia 23 de Agosto celebra-se a festa litúrgica de Santa Rosa de Lima. Amanhã dia 24, do ano de 1617, (precisamente 400 anos ) assinala a morte de Isabel Flores y Oliva, que ficou conhecida como Santa Rosa de Lima, mística da Ordem Terceira Dominicana,canonizada pelo Papa Clemente X em 1671 e a primeira santa nativa da América e padroeira do Peru. (1)
Painel numa coluna á entrada da Catedral Metropolitana de Buenos Aires, tirada em 2016
Em Macau, desde cedo o nome de Santa Rosa de Lima ficou ligada à educação principalmente para órfãs e meninas.
1.º Havia o Recolhimento de Santa Casa da Misericórdia cuja primeira referência aparece num termo do Senado de 26 de Dezembro de 1718 em que atribuía a este Recolhimento a sustentação das “Meninas orphaans filhas de Portuguezes , q com o beneplácito do Procurador e mais Irmãons da casa, se fará nella hum recolhimento co mais huma S.ª grave p.r Mestra das Orphaans”
O Recolhimento foi fundado em 1726 sendo provedor de Santa Casa António Carneiro de Alcáçova; foi aprovado por João de Saldanha da Gama, vice-rei da Índia, “com a clausula de que haverá no d.º Recolhimento uma Mestra, que possa ensinar às Orfas as artes de que necessita uma mulher para governar a casa.”
Em 1737, a Santa Casa fechou o Recolhimento por falta de dinheiro. Em 1792, foi fundado por D. Marcelino José da Silva, bispo de Macau (1789-1808) um “Recolhimento ou casa de educação para meninas órfãs”. Mais tarde esta Casa tomou o nome de Recolhimento de Santa Rosa de Lima. Em 1848, foi instalado na Casa das 16 colunas (posteriormente Instituto Salesiano) sob a direcção das filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo, que no ano seguinte o transferiram para o extinto Convento de S. Agostinho; dali passou para o Mosteiro de S. Clara em 1857; mas em 1865, essas Irmãs saíram de Macau.
Em 1875 o governador José Maria Lobo d´Avila (portaria n.º 23 de 18-02-1875) determinou o seguinte: “ Tendo sua Majestade por decreto de 2 de Outubro de 1856 anexado o recolhimento de Santa Casa Rosa de Lima ao Mosteiro de Santa Clara, a fim de poder ali crear-se uma casa d´educação para o sexo feminino…(…)… Attendendo a que é de toda a conveniência o acabar o estado excepcional em que ficou o recolhimento de Santa Rosa de Lima depois da extinção de mosteiro de Santa Clara, devendo segundo a letra do supracitado decreto crearse ali uma casa d´educação para o sexo feminino. “
Colégio de Santa Rosa de Lima anexo ao antigo Convento de Santa Clara em 1956
A direcção e administração directa do Colégio era exercida por uma comissão, mas a inspecção ficava a cargo do governo. O presidente era um prelado diocesano, sendo vice-presidente o juiz de direito, e os restantes membros: dois cidadãos nomeados pelo governador (sendo um deles tesoureiro) e um capelão que servia de secretário.
O ensino ministrado nesse colégio era o elementar, ou instrução secundária que compreendia: línguas, portuguesa, francesa e inglesa; história sagrada; desenho; música de canto e piano; educação física; higiene e economia doméstica.
A pedido do bispo D. António Joaquim de Medeiros ( bispo de 1884-1897), as Irmãs Canossianas (Filhas Canossianas da Caridade) tomaram conta desse Colégio em 1889, dirigindo-o até 1903.
Em 17 de Novembro de 1903, as Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria que haviam instalados em Macau, no Mosteiro de Santa Clara, em 1903 e começaram a desenvolver trabalho missionário ligado ao ensino passaram também a dirigir o Colégio por ordem do bispo D. João Paulino de Azevedo e Castro (bispo de 1902-1918). Ambos os edifícios lhes foram cedidos pelo Governo juntamente com os bens do antigo Mosteiro e do antigo Recolhimento de Santa Rosa de Lima.
As Irmãs que chegaram a 27-1-1903 eram as seguintes:
Benedicta de S. Joaquim, Superiora (moreu em Tsingtao, 15-11-1921)
Leona du Sacre Coeur (moreu em Macau, 16-03-1956)
Antoine de Brive (moreu em Chefoo)
Edeltrud (morreu em Macau)
Ambrosina (morreu em Macau, Fevereiro de 1953)
Zélia (morreu em França)
Mais tarde chegaram as Irmãs Clotilde, M. da Apresentação, M. Chiara, M. Leónia e M. Dismas.
A 30 de Novembro de 1910, (I República Portuguesa) o Governo ordenou a saída das Franciscanas (o Colégio, nesse ano, tinha 130 alunas de diferentes nacionalidades, sendo muitas delas internas) e a escola foi confiada a pessoal leigo a 7 de Janeiro de 1911, ficando reduzida a 40 alunas.(2)
As Franciscanas só voltaram a dirigir o Colégio em 1932.
Pormenor do mesmo painel (2016)
(1) Rosa de Lima (1586 – 1617), nome de baptismo: Isabel Flores y Oliva, beatificada a 15 de abril de 1668 por Papa Clemente IX e canonizada a 2 de abril de 1671, por Papa Clemente X. A Festa litúrgica é no dia 23 de agosto (Calendário Romano) embora seja comemorada a 30 de agosto em Peru. É também padroeira das Filipinas.
Santa Rosa de Lima era muita devota de Santa Catarina de Sena, um dos padroeiros de Macau (declarado pela Vereação do Senado a 2 de Maio de 1646) e venerada na Igreja de S. Domingos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Rosa_de_Lima
(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982.
Ver mais informações sobre o Recolhimento e Colégio de Santa Rosa de Lima em anteriores postagens: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/colegio-de-santa-rosa-de-lima/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/casas-de-recolhimento-de-santa-rosa-de-lima/
Recentemente foi editado mais um livro sobre Macau. Este da autoria de António Alves Caetano, (1) uma investigação realizada baseada em documentos oficiais existentes no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, “Macau na Era Napoleónica: início dos tempos gloriosos do ouvidor Arriaga” (2 ) que se centra na vida de Macau nos primeiros anos do século XIX, período em que Napoleão Bonaparte ameaçou a Europa e o mundo, e em que o autor expõe nos vários capítulos: “Macau e Portugal no Mundo”; “Macau: do início da Era Global a Oitocentos”; “A Grâ-Bretanha à conquista de Malaca”; “Macau e a Pirataria no Mar ; “Macau e a Corte no Brasil” e “Pela prosperidade de Macau”.
No último capítulo, uma visão pessoal do autor sobre a acção de Miguel de Arriaga no período citado “A figura titular do Ouvidor”.
O próprio autor afirma (p. 302) “Nos estudos de História procuro basear-se em documentação oficial existente em arquivos, socorrendo-me da bibliografia sobre a matéria em apreço como elemento complementar. O propósito tem sido o de encontrar nova luz sobre episódios, supostamente relevantes, mas que por qualquer circunstâncias não captara o interesse de historiadores…(..) … No caso vertente, deparo-me com muita obra escrita em biografias ou ensaios biográficos de Miguel de Arriaga Brum da Silveira que, ignorando a documentação existente sobre o período da vida de Macau, emite juízos de valor desfocados de quanto é legítimo concluir da leitura cuidada dos documentos portos à disposição dos estudiosos dessa história.” Na contra-capa:
“Correu-se o risco de expulsão da população portuguesa de Macau, por determinação do Imperador da China, se fosse confirmado que a administração do território tinha sido conivente com as forças armadas inglesas na invasão que fizeram em 1808. A natureza violenta da revolução de 1820, assumiu em Macau, com ataques ferozes ao Ouvidor Miguel de Arriaga, servidor exemplar dos interesses portugueses no Oriente, que determinaram a sua prisão em masmorra infecta que lhe destruiu a saúde e contribuiu para que falecesse com , apenas 48 anos.”
(1) Resumo da biografia do autor retirado dos dados biográficos contidos na capa interior do livro: António Alves-Caetano, natural de Lisboa. Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (Universidade Técnica de Lisboa), em 1955. Foi presidente da Companhia de Seguros de Macau, e consultor da Autoridade Monetária e Cambial de Macau. Tem escrito desde 1955, em diversas áreas da Ciência Económica, Fiscalidade e Seguros, consagrando-se desde 1995 à pesquisa de História Económica e Social do século XIX, com livros publicados, artigos em revista e participação em Congressos. Uma biografia mais pormenorizada está disponível em: https://sites.google.com/site/antonioalvescaetano/biografia
Do mesmo autor, recomendo a leitura da comunicação “Macau: dos primórdios da era global à era napoleónica” – apresentada ao XXXIII Encontro Anual da Associação Portuguesa de História Económica e Social, Bom Jesus de Braga, Novembro de 2013 e disponível em: http://www3.eeg.uminho.pt/aphes33/Comunica%E7%F5es/Alves-Caetano.pdf
(2) ALVES-CAETANO, António – Macau na era napoleónica. Início dos tempos gloriosos do ouvidor Arriaga. Labirinto de Letras , Editores (colecção: Uma Outra História), 2016, 348 p. ISBN: 978-989-99119-9-4.
“21-10-1808 – Principiaram os distúrbios entre os chineses e os soldados da força inglesa que, desde 21 de Setembro ( sob o pretexto de defender Macau contra qualquer força francês tendo o Governador Bernardo Faria tentado por todos os modos, dissuadir os ingleses de ficarem pois perturbavam com cavalgadas a paz dos vivos e até dos mortos) tinham desembarcado nesta cidade. O Procurador Manuel Pereira oficiou aos mandarins de Hèong-Sán e Casa Branca, pedindo providências para a repressão dos chineses. Os mandarins responderam que não eram precisas leis para castigar crimes que não deviam existir no império, que embarcassem os ingleses e tudo ficaria remediado.” (1) 13-10-1808 – O Mandarim da Casa Branca oficiou ao Vice-Rei de Cantão, dando-lhe informações sobre as tropas ingleses que, sob o comando do almirante Drury, tinham ocupado Macau, armando 300 tendas de campanha, desde S. Paulo até Patane, a pretexto de defender esta cidade contra os franceses. (1)
“23-10-1808 – O Vice -Rei Chiun Kuan, em seu nome e das mais autoridades superiores de Cantão, participou ao Imperador o desembarque das tropas inglesas em Macau, dando também conta das providências que tomara, sem resultado, para constranger o almirante Drury a pôr termo a essa ocupação. (1)
Por pressão chinesa, o Almirante e o seu corpo expedicionário inglês veio a sair de Macau em 19 de Dezembro desse ano, graças também ao tacto político do Ouvidor Miguel Arriaga Brum da Silveira que conseguiu reembarcar os ingleses.
Em 30 de Outubro de 1808 o Governador Lemos e Faria (2) enviou ao Almirante Drury uma carta com o seguinte teor:
“Entre as dificuldades que vos fiz antever, citei a inevitável complicação com os chineses. Tenho conhecimento do sistema do seu governo por longa experiência, adquirida na prática; sei os vínculos que os unem a esta cidade e por isso previ o mau êxito da vossa êmpresa. Falei-vos com franqueza e fui considerado como desafecto aos vossos projectos. Em 20 do mês passado declarastes, ainda que pouco favoravelmente ao exercício do meu emprêgo, ser qualquer oposição do Govêrno chinês desembaraçada pelo Almirante com o Vice-Rei; agora vejo depender dêste Govêrno a ultimação do negócio. O Senado trabalha para que não sejam reputados sinistros os fins da vossa expedição. Se tem havido desconfiança nos mandarins, não é motivada por êste Govêrno, pois tem patenteado com franqueza a sua correspondência. Já vos disse e agora repito: dos macaenses, nem um só deixa de respeitar a cada de Bragança, costumada a encher esta cidade de benefícios, em honra do seu Govêrno e glória dos seus moradores. Porém, como lhe não seja vedado amar a tranquilidade do seu País, não deve estranhar-se de cada um chorar a sua desgraça; sem blasfemarem da causa, aborrecem os efeitos. O pais de família, lastimam a morte de seus filhos, pelo abandono das amas de leite que se retiraram. Os infelizes, que têm na labutação diária os seus recursos, lastimam-se pela escassês e carestia dos géneros alimentares. Os mais abastados lastimam-se por verem chegar a época de fazerem as suas negociações e terem ainda as mercadorias empatadas, por, falta de giro, há 50 dias. Até os navios estão ainda por fabricar, à míngua de artífices, que também fugiram. Os empregados públicos, vendo fugir o comércio, lastimam-se sabendo que dêle tira o Estado rendimento para lhe pagar. Os mesmos habitantes chineses dados ao comércio têm emigrado e levado até o mais inferior dos trastes. E assim era de esperar de homens pacíficos, ao verem aparatos de guerra, ameaçados, além disso, pelos mandarins, que julgam a constituição do Império abalada pela vossa imprudência. à vista disto não admira que haja descontentes que deplorem a sua desgraça e aspirem ao sossêgo deste fiel estabelecimento, que há 252 anos tem sempre respeitado as ordens do seu Monarca. Julguem por êste quadro se um tal povo necessita de proclamações para ser fiel ao Rei a quem adora.”
A. de Lemos, Governador de Macau (3)
NOTA: sobre o mesmo assunto, ver anterior postagem “Notícia de 1 de Janeiro de 1809 – Edital do Vice-Rei de Cantão” em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/bernardo-a-de-lemos-e-faria/
e trabalho de Frederic Wakeman Jr “Drury´s Occupation of macau and China´s Response to Early Modern Imperialism” em http://www.eastasianhistory.org/sites/default/files/article-content/28/EAH28_02.pdf
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) Bernardo Aleixo de Lemos e Faria (1754 – 1826) natural da Freguesia de Deus, (Índia), Cavaleiro da Ordem de Aviz, Fidalgo Cavaleiro de Sua Alteza Real, Capitão de mar e guerra da Armada Real foi pela 2.ª vez governador e Capitão geral de Macau, de 8 de Agosto de 1806 a 1808 (foi destituído do 1.º mandato em 1788 – acusado de comércio ilegal de ópio). O novo governador, Lucas José Alvarenga (1768- 1831) (4) tomou posse a 1 de Janeiro de 1809 ( a posse esteve marcada para 26 de Dezembro de 1808, após a saída dos ingleses, mas teve de ser adiada por doença). Lucas Alvarenga governou somente até 19 de Julho de 1810, ordem vinda de Lisboa obrigou Bernardo Lemos e Faria a retornar a Macau e voltar a ser governador pela 3.ª vez até 19 de Julho de 1814 data em que deveria ser substituído pelo mesmo Lucas Alvarenga mas este não tomou posse. Manteve-se Lemos e Faria até 1–07-1817, data de posse do governador José Osório de Castro Cabral de Albuquerque.
(3) COLOMBAN, Eudore de – Resumo da História de Macau – 1927.
(4) Sobre este governador, recomendo as leituras de Luís Sá Cunha e Anita de Almeida, disponíveis em: http://www.revistamacau.com/2013/08/14/um-poeta-no-inferno/ http://people.ufpr.br/~vii_jornada/ALMEIDA_Anita.pdf
Continuação da minha colecção de marcadores de livro referentes à Exposição de Plantas de Edifícios Históricos”, realizada entre 22 de Agosto e 22 de Outubro de 2005 e organizada pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau no Arquivo Histórico. (1) (2)
Marcador: Bairro de São Lázaro
“Na sequência da sua demolição em finais do século XIX devido às deficientes condições higiénicas, surgiu um novo bairro de malha regular que albergou a vivência urbana e peculiar de Macau dos anos 20 do século passado.”
NOTA: “Em 10 de Setembro de 1808 o Pe. Agostinho espanhol, José Segui requereu ao Senado um terreno baldio, defronte uma povoação que estava fora das portas de S. Lázaro onde estavam 300 a 400 novos cristãos chineses. Estes foram perseguidos por ordem dos Mandarins mas muitos deles voltaram, registando-se em 1818, nada menos de 98 casas de cristãos chineses. O jornal “Echo Macaense”, de 21.02-1897 dizia: «Até 1871 as freguesias da Sé, S. Lourenço, e Santo António eram as únicas onde estavam estabelecidas as residências de portuguezes: em 1878, estenderam-se elas já para S. Lázaro, e em 1896 disseminaram-se pelos bairros chinas: ora sendo em geral os rendimentos dos prédios das três primeiras freguesias, pela natureza da construção e pela sua situação, superior ao dos prédios da freguesia de S. Lázaro e dos bairros, a dispersão encontra natural explicação no presente estado financeiro dos filhos desta terra, como também a este estado se pode atribuir a sucessiva diminuição d´esta parte da comunidade portugueza, e, como consequência, a sua emigração»” (3)
Marcador: Igreja de Nossa Senhora do Carmo
“A construção desta igreja foi proposta em 1882 e concluído em 1885, sob o motivo de promover a missão católica junto dos três mil habitantes da Taipa”
NOTA: “Dado o constante aumento da população que se entregava à pesca, construiu-se em 1876 na Taipa para atender às suas necessidades espirituais uma ermida e com tão bom sucesso que em breve foi necessário um edifício mais vasto, levantando-se em 1883 uma igreja; a actual igreja dedicada a Nossa Senhora do Carmo foi levantada em 1885, ficando ali como pároco o P. José V. da Costa, antigo missionário e superior de Hainan”. (4)