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Descrição da fortaleza de S. Francisco em 1866 (1)

Pintura /aguarela de Edward Ashworth de 1844 (2)

O padre jesuíta, José Montanha, na sua obra «Aparatos para a História do Bispado de Macau»  no capítulo relativo às fortalezas e canhões de Macau dá-nos, a traço largos, o que era a Praia Grande, do ponto de vista de fortificações, no século XVII e XVIII:

FORTALEZA DE S. FRANCISCO – Está a Fortaleza de S. Francisco pegada ao convento qe tem um postigo na cerca dos Fades, e da parte de dentro, a porta da Fortaleza tem uma peça de 40 libras de bronze invocada N. Sra. de Loreto, outra peça de 20 libras de bronze invocada N Sra. do Rosário, segue-se outra peça de 18 libras de bronze, segue-se outra de bronze de 30 libras invocada S. Frc (Francisco), segue-se outra peça de 18 libras de bronze, e vindo correndo o pano de muro para a parte da cidade, e praia grande que acaba no princípio da Povoação da Cidade, aonde tem uma porta que sai para o rocio de S. Francisco, e correndo a praia grande a tiro de peça tem o BALUARTE DE S. PEDRO – que tem três peças, a saber, duas de bronze, e uma de ferro de 18 libras, e deste Baluarte a um largo tiro de peça correndo a praia até o BALUARTE DE BOM PARTO – que tem oito peças, a saber seis de bronze, e duas de ferro, uma de bronze de 30 libras, invocada S. Salvador e outra de bronze de 1libras invocada S. Mónica, e outra de bronze de 10 libras invocada S. Guilherme, e outra de bronze de 18 libras, mais duas de ferro de dez libras, e tem este Baluarte corpo de guarda, casa de pólvora, guarita e sino de sentinelas. https://nenotavaiconta.wordpress.com/2021/04/02/noticia-de-2-de-abril-de-1830-diario-de-harriet-l https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/padre-jose-montanha

(1) Extraído de «Almanach Luso Chinez de Macau para o anno de 1866», pp. 42-43 (2) Edward Ashworth, pintor e arquitecto (1814-1896) https://www.vialibri.net/years/books/97842784/1844-ashworth-edward-english-architect-1814-1896-fortaleza-de-sao-francisco-macao

Extraído de «Almanach Luso Chinez de Macau para o anno de 1866», pp. 42-43

Iconografias > Forte e Farol da Guia – 003776: Forte e Farol da Guia, Macau. Postal, autor desconhecido, 1865. In: “Leuchttürme Portugal saufhistorischen Postkarten” (Faróis de Portugal em postais históricos). Licença: Domínio Público (Autor falecido há mais de 70 anos). – Data: 1865 Publicado por Carlos Luís M. C. da Cruz.   (http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=1031)

Iconografias> Fortaleza de N. S. da Guia – 003779; “Fortaleza de N. S. da Guia”, Macau. Planta aguarelada, autor desconhecido, s.d. (século XVIII) Licença: Domínio Público (Autor falecido há mais de 70 anos). – Data: 1800  Publicado por Carlos Luís M. C. da Cruz.    (http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=1031)

Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fortaleza-da-guia/

“Quando aportámos à pequena baía a Oeste de Lan Tau era quási noite; o ferro desceu encontrando a pequena profundidade o leito de areia. Na sombra do crepúsculo percebi que estavamos junto duma praiasita deserta, no sopé da montanha: pareceu-me ver duas ou três cabanas de pescadores a pequena distância dum pagode, entre uma macisso de árvores. O enorme junco ficou imóvel, com os seus compridos mastros inclinados para vante e os panos de esteira apanhados. Como a noite estava quente uma destas noites em que tudo se imobilisa sob a invisível ameaça dum estranho perigo – desdobrámos um toldo e estendêmo-lo, atando-o aos mastros, para abrigar o convés onde se iria dormir ao ar livre.

O mais velho de bordo – patriarcal figura de chefe de tribu – duas vezes avô, acocorou-se no castelo da popa e em volta reuniu a família para a ceia. Os pequenos, os que ainda gatinhavam, encavalitavam-se às costas das irmãzitas mais velhas, suspensos dum pano que elas atavam na cintura e faziam depois passar depois pelos ombros. (1) Outros, já cresciditos andavam de cabaça amarrada ao corpo para boiarem, se caíssem à água. (2) Acocoramo-nos em redor duma enorme panela de arroz com o belo apetite dos que andam no mar. Quizeram que eu enchesse primeiro a minha tijela de porcelana mas recusei, sentindo quanto o mais velho tinha sôbre mim esse direito. Os «fachis» (3) eram negros, do muito uso; mas o arroz estava delicioso; branco e solto, como o das melhores várzeas de Saigon, nunca me pareceu tão excelentemente cosido. Animava-se o grupo com a jovialidade espontânea de quem satisfaz o apetite. As tijelas próximas da bôca, seguras com uma das mãos enquanto a outra manobrava hàbilmente os «fachis»; em uma travessa, de que todos servíamos, havia ainda hortaliça, cortada em pequenos pedaços, e peixe salgado. A refeição foi sóbria e simples; mas teve para mim o encanto que nenhum opulento banquete me poderia dar.

A harmonia perfeita daquele grupo estava na simplicidade de costumes e espontânea alegria, primitiva, do homem livre, habituado ao mar, desconhecedor das complicadas hierarquias que a civilização trouxe. Anoiteceu. Acendemos nas lanternas as candeias de óleo, e procurámos esteiras nos cubículos do castelo da popa. Estirei a minha junto do mastro grande e deitei-me, encostando a cabeça a um molho de velhos cabos por não me ajeitar com o duro travesseiro de porcelana. Alguns fumavam nos seus cachimbos de bambu, conversando, acocorados, numa roda apertada, como se tramassem alguma cousa em segredo. Como o calor apertava enrolei a camisola deixando o peito descoberto e aceitei o leque que me ofereceram; as calças negras e largas dêsse fresco tecido que a gente do mar habitualmente usa, serviam-me de pijama e sempre e livravam as pernas dalgum mosquito que viesse de terra.

Estirado ao comprido, embalado na suave cadencia da vaga e vendo no céu profundo e negro a infinidade de constelações não tardei a adormecer.” Excerto do Capítulo VI– A lorcha de SANTA CLARA, António de – Cartas do Extremo Oriente, 1938, pp. 67-69.

Anteriores referências: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/05/10/os-antigos-cozinheiros-ambulantes-de-macau-1953-i/

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/tancareiros/

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2022/05/16/leitura-tipos-e-costumes-a-crianca-e-a-cabaca-ii/

(3) Faichis – “Pauzinhos” para levar a comida à boca. Termo macaense usado pelos chineses desta região e também pelos portugueses de Macau e Hong Kong (BATALHA, Graciete – Glossário do Dialecto Macaense, 1977.

A propósito da notícia publicada em 19 de Janeiro de 2024, (1) acerca da igreja de Nossa Senhora do Amparo (e Rua de Nossa Senhora do Amparo) e referentes aos “Senadores”, estes eram, em 1747, Pedro Romano, Manuel Leite Pereira, João Antunes, Tomás dos Reis e Simão Vicente Rosa: O escrivão era Silva Martins.

É interresante notar que, sem ser paróquia, a Igreja tinha os livros de registos de baptismos e um padre encarregado da igreja e da instrução dos catecúmenos.

O Padre Videira Pires diz: «O bairro mais antigo de Macau é o que vai, desde a actual  Rua da Palha, através das Ruas de S. Paulo e Nossa Senhora do Amparo, até ao antigo cais do patane, no sopé da colina da gruta de Camões, lado noroeste. A Rua Nossa Senhora do Amparo era marginal e só tinha casas do lado do Monte»

Junto à Rua de Nossa Senhora do Amparo, existe com entrada pelo portal do prédio n.º 19 desta rua, de um estreito corredor coberto ou túnel (que ficou conhecido pelo nome de «Pátio da Mina»). Há uma lenda que diz que havia outrora um túnel entre o Colégio de S. Paulo e a Fortaleza do Monte com galerias subterrâneas e quartos secretos, onde os jesuítas escondiam os seus tesouros. Fez-se eco desta lenda o Cónego António Maria de Morais Sarmento afirmando: «Esta tradição tem algum fundamento»

No entanto, o Padre Benjamim Pires, S. J. e o Padre Manuel Teixeira refutam esta lenda.

A lenda fica para uma próxima postagem.

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2024/01/19/noticia-de-19-de-janeiro-de-1752-igreja-de-nossa-senhora-do-amparo-i/                                  (2) TEIXEIRA , P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, ICM, 1999, pp. 145 e 146

(24 cm x 7 cm x 1.5 cm)

O MACAENSE: Identidade, Cultura e Quotidiano

Coordenação: Roberto Carneiro, Jorge Rangel, Fernando Chau e José Manuel Simões.

Editora: Universidade Católica Editora, Lisboa, 2019, 286 p. ISBN 978 972 540 6564.

A ilustração é de Luís de Abreu e integra o n.º 25 da Colecção dos Estudos e Documentos.

Tem como parceiro a Fundação Macau e conta com a organização do Centro de Estudos dos Povos e Culturas de Expressão Portuguesa (Universidade Católica), University of Saint Joseph e do Instituto Internacional de Macau.

Resumo: “Em Macau 澳門, República Popular da China, o cruzamento de povos e culturas configura um verdadeiro melting pot ao longo de cinco séculos de globalização, resultando num caleidoscópio de religiões, etnias, línguas e grupos sociais, em que ressaltam atributos únicos de tertium genus tais como o patuá, a culinária, a arte e a música, a religião e as festividades. Estes frutos do encontro, e da mistura de modos específicos de expressão e de comunicação, vão construindo, assim, um espaço novo, uma nova referência, uma identidade, à primeira vista sincrética, mas acabando por se afirmar e compreender como marcante e original: uma miscigenação, altamente improvável do ponto de vista das probabilidades de hibridação cultural. Qual o futuro destas especificidades da comunidade macaense perante os desafios vindouros, no contexto de uma acelerada dinâmica económica, cultural e política da região do Delta do Rio das Pérolas? Terá a identidade macaense, e o território de Macau, um inovador, histórico, papel a desempenhar no quadro das novas estratégias chinesas (i) de globalização, Iniciativa Faixa e Rota (Belt and Road Initiative), e (ii) do megaprojeto de desenvolvimento, Grande Baía Guang Dong-HongKong-Macau? Manterá a comunidade macaense laços específicos de solidariedade e funcionará como uma diáspora ativa, com consciência do seu património identitário, sem a necessária referenciação a um território? Num mundo em constante e rápida mutação, a identidade, a cultura e os valores constituem referenciais muito importantes no dia-a-dia das populações. Da mesma forma, a diversidade (i.e., identidade) constitui uma mais-valia num mundo cada vez mais globalizado, “conectado” e incerto. A Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) tem um enorme potencial na afirmação de uma condição consuetudinária de miscigenação, decantada e consolidada ao longo de séculos, e uma grande oportunidade de servir de ponte, com um óbvio valor acrescentado de utilidade, entre povos, culturas e mercados que se ignoraram ao longo dos anos.”https://repositorio.ucp.pt/handle/10400.14/30657

Extraído de «O Correio de Macau», Vol I-13 de 7 de Janeiro de 1883, p. 51

Continuação dos apontamentos que o Governador Álvaro de Mello de Machado deixou escrito no seu livro “Coisas de Macau” (1913), nas pp. 132 e 133, (1) sobre os monumentos (com valor artístico) existentes até esse ano em Macau. (2)

(1) MACHADO, Álvaro de Mello – Coisas de Macau. Livraria Ferreira, 1913, 153 p. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/alvaro-de-melo-machado/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2021/02/19/leitura-coisas-de-macau-de-alvaro-de-mello-machado/

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/gruta-de-camoes/

Mais um trecho dos apontamentos que o Governador Álvaro de Mello de Machado deixou escrito no seu livro “Coisas de Macau” (1913), nas pp. 131 e 132, (1) sobre os monumentos (com valor artístico) existentes até esse ano em Macau.

(1) MACHADO, Álvaro de Mello – Coisas de Macau. Livraria Ferreira, 1913, 153 p. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/alvaro-de-melo-machado/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2021/02/19/leitura-coisas-de-macau-de-alvaro-de-mello-machado/

CAPA

SILVA, Fernando David e – Oficinas Navais de Macau: Cem Anos de Construção e Reparação Naval. Museu Marítimo de Macau, 1993, 145 p. (23 cm x 15 cm)

Direcção de edição: Rui Brito Peixoto; Revisão literária e da fotocomposição: João Carvalho; Impressão e acabamento: Tipografia Martinho (Macau)

Edição ilustrada em folhas à parte com mapas e um interessante conjunto de fotografias tiradas ao longo de todo o século XX.

CONTRACAPA

Este exemplar, comprado na Feira do Livro do Porto (2023) tem uma DEDICATÓRIA AUTÓGRAFA do punho do autor para o João Carvalho, datada de 1/7/94.

Biografia resumida do autor: Fernando Alberto Carvalho David e Silva (1947). “Ingressou na Marinha em 1965, como Cadete da Escola Naval, iniciando uma carreira de mais de 45 anos, durante a qual prestou serviço embarcado (1969-1976) e, sucessivamente, no Corpo de Fuzileiros, Direcção do Serviço de Manutenção, Arsenal do Alfeite, Escola Naval, Oficinas Navais de Macau e de novo na Escola Naval. Promovido a contra-almirante em 2000, foi nomeado Director de Navios, cargo que exerceu até 2004. Entre este ano e 2011, quando passou à situação de reforma, serviu na Superintendência do Serviço do Material, no Conselho Superior de Disciplina da Armada e como juiz-militar no Tribunal da Relação do Porto. É licenciado em História (2011), mestre em História Marítima (2014) e doutor em História Contemporânea (2020), pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. “ (https://escolanaval.marinha.pt/pt/investigacao_web/investigadores_web/Paginas/FernandoDavidSilva.aspx)

Continuação da leitura do artigo publicado no “A Revolução de Setembro” de 15 de Novembro de 1842, sobre “Notícias da China” (referente ao governador A. A. da Silveira Pinto, postado anteriormente) (1)

Extraído de “A Revolução de Setembro”, n.º 589 de 15 de Novembro de 1842, pp. 3-4

Para uma leitura sobre este assunto, extenso artigo nas pp. 1-4 de “A Revolução de Setembro” n.º 590 de 16 de Novembro de 1842: https://purl.pt/14345/1/j-4157-g_1842-11-16/j-4157-g_1842-11-16_item2/j-4157-g_1842-11-16_PDF/j-4157-g_1842-11-16_PDF_24-C-R0150/j-4157-g_1842-11-16_0000_1-4_t24-C-R0150.pdf

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/a-revolucao-de-setembro/