Capa (com rasgão e perda na parte superior) e contra-capa envelhecidas
Pequeno opúsculo de 19 páginas intitulado “Alemquer e Seu Concelho” de Guilherme João Carlos Henriques (Da Carnota) (1) onde contém uma “Carta de Duarte Correa, portuguez, natural de Alemquer, Familiar do S. Offício, para o padre António Francisco Cardim, da Companhia de Jesus, em Macao” e a “Relaçam do Levantamento de Ximabára “
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“De Duarte Correa pouco mais se sabe que aquillo que vem declarado na sua Relação, e na introdução e remate d´ella. Nasceu em Alemquer, sem que se saiba se foi na villa se no termo (dizendo, comtudo, Barbosa Machado, expressamente, que foi na villa), e foi familiar do Santo Officio. A sua habilitação para aquelle posto não se acha na Torre do Tombo, o que não é extranhar, porque talvez corresse pela Inquisição de Goa. Segundo o mesmo Barbosa, deixando a pátria, passou ao Oriente, e na cidade de Macao se recebeu com uma consorte de virtuosos procedimentos. Supponho que enviuvou depois, porque na sua própria carta ao jesuíta, António Francisco Cardim, elle declara ser irmão da Companhia de Jesus por carta do padre Provincial Matheus de Couros, o que certamente não poderia ser se fosse casado.
Estimulado da curiosidade se introduziu na Japão e, discorrendo por aquelle vasto Imperio, chegou a Nagasaki, cujos governadores, sabendo que elle professava a fé de Christo, o mandaram preso para Omura, a 4 de Novembro de 1637. Depois de tentada a sua constancia com varias promessas para que abjurasse a Religião Christã, nem outra cousa o poderam vencer. Levado outra vez a Nagasaki, foi condemnado a morrer a fogo lento, que tolerou com animo inalterável, por largo tempo, até que o seu espirito voôu a coroar-se na Eternidade com a aureola de martyr, no mez de Agosto de 1639” (1)
Página 2 –Offerecido à Sociedade de Geographia de Lisboa em Commemoração do seu vigésimo-quinto anniversario pelo socio Gulherme J. C. Henriques
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(1) HENRIQUES, Guilherme João Carlos – Alenquer e Seu Concelho. 2.ª Edição correcta e augmentada. Fascículo II – A «Relação» de Duarte Correa. 1901, 19 páginas. Typ. E pap. H. Campeão & C.ª, Alemquer. 22, 5 cm x 16 cm.
Desta obra de Duarte Corrêa publicou Guilherme Henriques outra edição em tradução inglesa, com o título «An account of the Rising at Ximabara», também saída da Tipografia H. Campeão & C.ª, de Alenquer, no mesmo ano de 1901.
NOTA: Para aqueles que queiram saber mais deste episódio da história do Japão, aconselho leitura (em inglês) de GUNN, Geoffrey C. –The Duarte Correa Manuscript and the Shimabara Rebellion em http://www.uwosh.edu/faculty_staff/earns/correa.html .
Diário de Peter Mundy (1) (2) (3) que veio à China na armada do chamado “contrabandista” (corsário comercial) Squire Courteen (Lord William Corteen) da Companhia das Índias, sob o comando do capitão John Weddel que deixou a Inglaterra em Abril de 1636 e chegou a Macau a 28 de Junho de 1637 (4) depois da sua passagem por Goa. A armada permaneceu por mais de seis meses nas vizinhanças de Macau e do Rio da Pérola, partindo finalmente para a índia, de regresso à Inglaterra em Janeiro de 1638. (1)
“Peter Mundy sendo um dos enviados a terra, onde permaneceu algumas semanas, com o fim de aí negociar, estava em boas condições de poder escrever um relato do que viu, tanto mais que os seus conhecimentos das línguas espanhola e portuguesa [ver versão (5)] lhe permitiam conversar livremente com a alta sociedade da localidade.” (1)
“25 de Novembro: O nosso almirante e outros capitães foram convidados pelos padres de S. Paulo para irem assistir a uma representação na Igreja de S. Paulo feita por crianças da cidade sendo mais de cem os que representaram; mas eles não foram. Eu e os outros, que estávamos em terra, fomos. Era parte da vida do seu muito afamado S. Francisco Xavier, na qual havia passagens muito interessantes, viz. uma dança chinesa por crianças em trajes chineses; uma batalha entre portugueses e holandeses, representada em dança na qual os holandeses eram vencidos sem quaisquer palavras depreciativas ou acções ofensivas a essa nação. Outra dança de caranguejos chamadas vulgarmente Stoole Carangueijos, constando de muito rapazes lindamente vestidos na forma desses animais cantando todos e tocando em instrumentos como se eles fôssem todos os carangueijos. Outra dança de crianças tão pequeninas que parecia impossível que pudesse ser feita por elas (porque podia haver dúvidas sobre se alguns seriam mesmo capazes de andar ou não), escolhida com o fim de causar admiração.
No fim de tudo, um deles, (o que representou S. Francisco Xavier), mostrou tal destreza num tambor atirando-o ao ar e apanhando-o, virando-o e fazendo rodar com tão excepcional ligeireza sempre a compasso com a música, que foi admirável à assistência. As crianças eram muitas, muito bonitas e muito ricamente adornadas tanto em trajes como em jóias, sendo os pais quem tinha a seu cuidado vesti-las a seu contento e para seu crédito pertencendo aos jesuítas instruí-las não só naquilo que vimos mas também com todas as formas de educação como tutores tendo a seu cuidado a educação da mocidade e criancinhas desta cidade, especialmente os de categoria.
O teatro era na Igreja e toda a acção foi representada pontualmente. Nem um só, entre tantos, (apesar de crianças e a peça longa) desempenhou mal o seu papel. É verdade que ali estava um jesuíta no palco que os dirigia quendo se oferecia a ocasião.
(1) Descrição de Macau, em 1637, por Peter Mundy, pp- 50-90 do livro de BOXER, Charles Ralph – Macau na Época da Restauração (tradução de “Macao Three Hundred Years Ago), II Volume. Edição Fundação Oriente, 1993, 231 p.
(2) MUNDY, Peter – The Travels of Peter Mundy (1608-1667). Cinco volumes, Londres, 1907-1936.
(4) Conforme o diário do próprio PeterMundy: “Em 28 de Junho de 1637, o Sr. John Mountney, Thomas Robinson e eu fomos mandados a terra numa barcaça com a carta de Sua Magestade o nosso Rei e outra do almirante, dirigidas ao capitão Geral de Macau. Fomos recebidos com muito respeito e foi-nos prometida uma resposta para o dia seguinte”
O Capitão- Geral de Macau era Domingos da Câmara de Noronha que chegou a Macau a 13 de Abril de 1636 sucedendo a Manuel da Câmara de Noronha. Foi substituído por D. Sebastião Lobo da Silveira, em 1638, no entanto, permaneceu em Macau até 1643. Depois de ter sido feito prisioneiro dos holandeses no caminho de regresso, ao largo de Malaca, a odisseia deste homem bravo acabou bem. Regressou a Portugal e foi recompensado com uma comenda em espécie (400 mil reis). (ALVES, Jorge Santos; SALDANHA, António Vasconcelos (coords) – Governadores de Macau, 2013,pp. 27-28)
(5) “Quanto à viagem à China e a Macau, Peter Mundy e Thomas Robinson (que falava português), acompanharam o Captain John Weddell (e Nathaniel Mountney), comandantes de uma esquadra de quatro navios e duas pinaças enviada a Cantão em 1637 pela Courteen Association (com licença régia concedida dois anos antes por Charles I, em 1635), no que terá sido a primeira embaixada britânica de comércio à China”. (JORGE, Cecília; COELHO, Rogério Beltrão – Viagem por Macau, Volume I, Século XVII-XVIII. Livros do Oriente/I.C. da RAEM, 2014, p. 25.
Outras fontes deste tema de interesse, acessíveis pela net: PUGA, Rogério Miguel – Images and representations of Japan and Macao in Peter Mundys travels (1637). Bulletin of Portuguese – Japanese Studies, n.º 1, december, 2001, pp. 97 – 109. https://www.redalyc.org/pdf/361/36100106.pdf
Mais dois “slides” digitalizados da colecção “MACAU COLOR SLIDES – KODAK EASTMAN COLOR)”comprado na década de 60 (século XX), se não me engano , na Foto PRINCESA (1)
Miradouro de Nossa Senhora da Penha
O Miradouro está situado no término da Estrada de D. João Paulino, à entrada da Ermida da Penha e da Residência Episcopal, quase no vértice da Colina da Penha, voltado ao Sul. (2)
Ermida de Nossa Senhora da Penha de França
“Campeia no topo da colina a Ermida de N. Sra. da Penha de França e, mais em baixo, a Gruta de N. Sra. de Lourdes. A Gruta foi construída em 1908, por iniciativa de D. João Paulino de Azevedo e Castro, bispo de Macau (1903-1918), que ali foi sepultado. Segundo se lê numa lápide, na parede da direita da Igreja da Penha, esta Igreja foi construída em 1934-1935 em substituição da primitiva capela edificada em 1622 e reedificada em 1837. Parece que foi a ermida construída em 1622, que deu o nome de Penha à colina, que antes se chamava de Nilau.” (4)
Existia antigamente uma fortificação no alto da Penha
Na relação do italiano Marco d´Avalo em 1638, escreveu acerca deste forte: «Chama-se o segundo dos fortes Nostra Seignora de la Penna de Francia, porque tem dentro uma ermida com este nome. Está guarnecido com «6 pequenas peças, de 6 a 8 libras de balla» (4)
«Desta Hermida descobre o mar da parte de Oeste, e tem hua peça de bronze de seis libras invocada N. Snr.ª de Penha, e correndo a ilha da parte de sudoeste a largo de tiro de peça está a Fortaleza da Barra…» (5)
1) Ver anteriores slides desta colecção em https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/artes/
(2) Ver anteriores fotografias deste miradouro: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/11/23/postais-do-miradouro-da-penha-1940-e-1950/
(3) Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ermida-da-penha/
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997.
(5) Ta-Ssi-Yang-Kuo, Série I – Vols. I e II, pp. 418,421