Archives for posts with tag: Tancareiros

Continuação do artigo publicado em (1) e por mim postado em 29/09/2015, (2) sobre o antigo costume entre a classe dos pescadores de pendurar nas crianças de poucos anos de idade uma espécie de cabaça (soi pou 水抱, no dizer dos chineses) (3), feita de madeira maciça.

“O barco, mesmo oscilando nas ondas suaves, ao sopro da brisa, não a assusta. Sempre irrequieta, é natural que os pais temam pela sua segurança podendo perder-se dum momento para o outro, pelo impulso da sua vivacidade imoderada. Para que assim não venha a suceder, os pais tomam as necessárias precauções. Atam-lhe a pesada cabaça, de modo que os movimentos se tornem menos traquinas, evitando assim que caia pela borda fora sem darem por isso.

Esta é a versão para este costume. Mas ainda se conta outra que não foge ao carácter tradicional de certas crenças entre o povo chinês. Explicam que os pais prendem às crianças a cabaça para descobrirem facilmente a sua localização, caso venha a cair ao mar, pois a grande preocupação, é dar sepultura ao cadáver, de outro modo o acontecimento pode trazer para a família uma grande desgraça.

Agora não nos admira que assim procedam com tantas cautelas, porque se torna imperioso proteger a família contra qualquer desventura, mesmo que o causador seja um inocente.”

 (1) Artigo não assinado retirados de “MACAU Boletim de Informação e Turismo”, X, n.ºs 1 e 2, de Março/Abril de 1974, p. 11.

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/09/29/tipos-e-costumes-a-crianca-e-a-cabaca/

(3)  mandarim pīnyīn: shuǐ  bào; cantonense jyutping:seoi2 pou5

Sobre o tancar e as tancareiras de Macau (1) – extraído do Capítulo VI (pp. 140-141) “Narrative of the Expedition of an American Squadron to the China Seas and Japan; Performer in the year 1952, 1953, 1954. Under the command of Comodore M. C. Perry, US Navy. Edited 1956 “ (2)

Tanka Boat, Macao

“The harbor is not suitable for large vessels, which anchor in Macao roads, several miles from the town. It is, however, though destitute of every appearance of commercial activity, always enlivened by the fleet of Tanka boats which pass, conveying passengers to and fro, between the land and the Canton and Hong Kong steamers. The Chinese damsels, in gay costume, as they scull their light craft upon the smooth and gently swelling surface of the bay, present a lively aspect, and as they looked upon in the distance, from the verandahs above the Praya, which command a view of the bay, have a fairy-like appearance, which a nearer approach serves, however, to change into a more substantial and coarse reality.” (p. 140)

Tanka Boat Girl
Chinese Woman and Child, Macao

(1)  https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/08/04/usos-e-costumes-tanka/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/02/03/leitura-as-tancareiras-i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/02/07/leitura-as-tancareiras-ii/

(2) https://books.google.pt/books?id=DoVEAQAAMAAJ&pg=PA154-IA3&lpg=PA154. Outras referências desta viagem neste blogue: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/04/22/noticia-de-22-de-abril-de-1853-o-plymouth-em-macau/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/06/02/leitura-a-gruta-de-camoes-em-1852-expedicao-do-comodoro-m-c-perry-i/

Poema “Jóia do Oriente” de autoria do então jovem 2.º tenente Leonel Cardoso, de Setembro de 1950, inserido num artigo intitulado “Recordação de Macau”, publicado na «Revista da Armada» de 1986 (1)

Lorchas, tancar, tancareira – imagens de Macau (foto do sargento-ajudante L. Manuel Horta)

N. R.: Glossário: «cabaia» – vestido usado pelas chinesas; «coolie» – assalariado chinês; «fan-tan» -jogo de azaar; «lorcha» – embarcação chinesa, à vela ligeira e pequena, usada especialmente em Macau; «pataca» – moeda de Macau; «pei-pa-chai» – versão chinesa da gueixa que actualmente já não existe; «sapeca» – dinheiro; «tancar» ou «tancá» – pequeno barco chinês a remos; «tancareira» – mulher que tripula o tancá ou tancar; «tin-tin» – ferro velho

(1) «Revista da Armada» n.º 179, Agosto de 1986, ANO XVI, pp. 16-17, pp. 270-271
https://www.marinha.pt/Conteudos_Externos/Revista_Armada/1986/index.html#p=270

“Enquanto os maridos vão à pesca, as tancareiras labutam por sua vez, engolindo à pressa as suas parcas refeições, habitualmente de arroz com peixe e hortaliça, não vá, entrementes, fugir-lhe qualquer freguês apressado.

MBI As tancareiras IIINo seu pequeno mundo – o seu tancar – nasce, cresce, vive e morre a tancareira à árdua labuta de ganhar, honradamente, o pão de cada dia, sempe com um sorriso nos lábios que lhe traz a alegria de viver

O trabalho é áspero e grosseiro e demanda esforço e perícia; mas a tancareira é hábil e a prática de muitos anos fá-la, em pleno labor, correr ou saltar dentro do tancar, sempre em equilíbrio, como se picasse terreno firme, ainda que a embarcação oscile pela ondulação continua.

MBI As tancareiras IVEm fila, sobre as águas do rio as tancareiras aguardam a chegada de passageiros, sobretudo daqueles que ávidos de sensações novas, nunca experimentaramo bailoçar rítmico destes pequenos  barcos que abundam  nas costas da China

Vida atribulada, incerta de proventos, rodeada de perigos e sacrifícios a jovem tancareira continua, sem relutância nem desfalecimento, como sua mãe já continuara de seus antepassados e seus filhos hão-de continuar, a missão que se habituou a desempenhar no decurso de vários anos. Quer transportando passageiros ou bagagem junto da costa de Macau, ou ainda em serviço para as ilhas da Taipa e Coloane, as tancareiras trabalham árduamente ao sol ou à chuva, sem vislumbres de fadiga, com afã insuperável, impulsionadas pelo fito dum mínimo de demora em cada serviço.” (1)

………………………………………………………………………….continua

(1) Texto e fotos retirados de Macau Boletim Informativo, 1953.

 

“O chinês, arreigado a princípios ancestrais, conservador emérito das tradições e sentindo de modo diferente, não é com facilidade que adopta novos processos  e hábitos de vida.  Faz com tranquilidade aquilo  que viu fazer  a seus pais e geralmente não procura discutir se qualquer facto tem muito ou pouco de racional.  Por isso, e ainda que a sensibilidade dos muitos ocidentais que povoam a China possa ser ferida, nesta terra singular, os trabalhos rudes e penosos são indistintamente executados por homens ou mulheres e, certas funções, parecem ser exclusivamente desempenhadas por mulheres.

MBI As tancareiras IA tancareira maneja com perícia o seu pequeno barco

É o caso da condução dos tancares. Em circunstâncias idênticas a dos condutores de riquexós – serviço privativo de homens – a condução de tancares – botes movidos a remos – está geralmente a cargo das chinesas. Há tancareiras na costa de Macau, assim como na Taipa e Coloane.

MBI As tancareiras IIÉ assim que a tancareira transporta os seus filhos

Rostos tisnados por um sol violento, raios ardentes que lhe crestam a pele, a tancareira, só defendida pelo característico chapéu de palha de bambu e usando o trivial pijama – indumentária geral de trabalho para ambos os sexos – parece-nos insensível às intempéries, como se túnica invisível a isolasse da acção do clima. A força do hábito impera e faz maravilhas de adaptação. Por ironia, num meio de reconhecidas dificuldades, parece criarem-se condições de vida para criaturas de fraca aparência física, onde sossobrariam, certamente, indivíduos de capacidade física média.” (1)

(1)  Texto e fotos retirados de Macau Boletim Informativo, 1953.

.