Extraído de um artigo não assinado do «M.B.I.», III-n.º 64 de 31 de Março de 1956, pp. 10-11.
“ Mesmo fronteira ao Istmo que liga Macau ao território vizinho, ergue-se, pujante de verdura e coberta de pinheiros mansos, a colina de Mong-Há, envaidecida da elegante nota de beleza que empresta àquela zona da cidade. Vivendo quase esquecida na planta de Macau, por ficar mais afastada, não tem sido menor a sua importância do que a das outras colinas que embelezam a paisagem da península. Ainda não há muitos anos, rodeavam-na quintas e hortas, agora desaparecidas, para dar lugar a uma das zonas mais atraentes da cidade nova. A seus pés estende-se o casario moderno que se tem empenhado a população em construir, neste últimos anos; e ali perto vive a maioria dos comerciantes abastados, em suas elegantes vivendas, alinhadas à beira das avenidas que correm ao longo daquela área.
Foi à sua beira que a Repartição Provincial dos Correios, Telégrafos e Telefones mandou edificar os dois bairros para os seus funcionários e pessoal menor dos Serviços, e que o Governo da Província construiu as residências para os seus funcionários. Para o Norte, está o Campo Desportivo «28 de Maio» que tem vivido horas de entusiasmo nestes últimos tempos e, mais além, os bairros sociais, agora acrescentados com encantadoras e airosas moradias para refugiados. Aqui habita a maior parte dos que alberga com a generosidade de sempre. É este o cenário que se desfruta do cimo desta colina, estendendo-se os olhares para além das muralhas da fronteira, espraiando a vista pelo rio e pelo mar que lhe são vizinhos de ambos os lados.
Esta situação privilegiada mereceu-lhe lugar de destaque entre os pontos estratégicos de protecção a Macau. Em 1864, o governador Coelho de Amaral ordenou a construção do Forte de Mong-Há no cimo dessa colina. (1) A obra, de suma importância para defesa terrestre, alcançando qualquer ponto do rio e do mar, e edificada nas escarpas graníticas, foi concluída em 1866. Daí em diante, atraiu as atenções de todos e melhorou-se a sua fortificação em 1925, com as modificações introduzidas.
Não ostenta jóias de valor histórico, mas apenas a graça da sua natureza e, por isso mesmo, mais bela e mais atraente se nos apresenta. Cativa-nos pela simplicidade do seu forte pela solidão em que está embrenhada.
(1) Os trabalhos de fortificações na colina de Mong-Há foram iniciados pelo governador Ferreira do Amaral em 1849 como uma medida preventiva de defesa contra uma temida invasão chinesa, mas não foram concluídos devido ao seu assassinato, Os trabalhos iniciaram-se de novo em 1850, mas em 1852 estavam praticamente reduzido a ruínas. Em 1864 foi construído o forte actual por ordem do Governador Coelho do Amaral e ficou concluído em 1866. Em 1925 foram levadas a cabo grandes alterações com a instalação de um projector luminoso e um armazém. O forte estava apetrechado com 2 armas, Armstrong da Marinha de tiro rápido, com o calibre de 65 mm. (GRAÇA, Jorge – Fortificações de Macau. Concepção e História, 1984, p. 101.)
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