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A notícia do suicídio do inglês Thomas Beale (cerca de 1775-1841) em Macau (já relatado em anterior postagem) (1), publicada no “The Chinese Repository” (em inglês) com o título “The late Thomas Beale” (2)

Retrato de Thomas Beale por George Chinnery

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(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/12/11/noticia-de-11-de-dezembro-de-1841-o-malogrado-thomas-beale/
(2) Extraído de “The late Thomas Beale” in “The Chinese Repository” VOL XI, 1842.

Entrada do Jardim de Camões – Maio 2017

Com uma área de 2,45 hectares (1) é um dos jardins mais antigos de Macau (a par do jardim interior do Leal Senado e do jardim de S. Francisco), situado numa pequena elevação que se estende para norte da Praça de Luís de Camões (2) onde está a entrada. Entra-se por um amplo portão de ferro, visualizando logo à entrada quatro belos exemplares de árvores do pagode (Ficus microcarpa L. f.), com as suas longas e delgadas raízes adejando ao vento. Ao fundo uma escadaria, enquadrada por belos exemplares de palmeiras elegantes ou palmeiras Alexandras, juntamente com palmeiras leque e palmeiras bambus, que conduz à parte superior do jardim, onde se encontra o busto do poeta. (1)

Jardim de Camões – 1950

O local ocupado pelo jardim situava-se nos limites da cidade, sendo ainda a visível na sua parte norte, o que devem ter sido umas antigas muralhas. Era propriedade de um dos homens mais ricos de Macau, o conselheiro Manuel Pereira, tendo-a adquirido em 1815.
A Companhia das Índias Orientais arrendaram a propriedade e forma os ingleses que ao gosto romântico da época que criaram sobre o cerrado arvoredo, estreitas alamedas seguindo a orografia do terreno, para o que mandaram inclusivamente vir jardineiros de Inglaterra. (1)

Jardim de Camões -1960

Segundo Carlos Estorninho (3), os ingleses conseguiram reunir no jardim numerosos e valiosos exemplares da flora da China, Malaca, Java, Manila e Índia que mereceram, nos finais do século XVIII e princípios do século XIX, a atenção dos botânicos ingleses David Stornach,(4) William Kerr (5) e Thomas Beale,(6) tendo este último enviado para o Jardim Botânico de Kew, em Inglaterra, mais de 2500 plantas exóticas. Com a a extinção da Companhia das Índias Orientais, a propriedade voltou a ser administrada pelos familiares do conselheiro Manuel Pereira (falecido em 1826), nomeadamente o seu genro comendador Lourenço Marques (7). A propriedade foi depois vendida ao Governo de Macau em 1885.
(1) ESTÁCIO, António Júlio Emerenciano; SARAIVA, António Manuel de Paula – Jardins e Parques de Macau, IPOR, 1993, 63 p.
(2) A Praça está situada entre a Igreja de Santo António e o Jardim de Camões e tem ligação com a Travessa da Palanchica, a Calçada do Botelho, o Largo de Santo António e a Rua Coelho de Amaral. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM, 1997).
(3) ESTORNINHO, Carlos – Boletim do Instituo Luís de Camões, Vol. XIV, n.º 1 a 4, Macau, 1980 in (1)
(4) David Stornach, botânico que integrou a 1.ª embaixada britânica à China conhecida como “A Embaixada Macartney” em 1793. A expedição chegou a Macau a 19 de Junho de 1793 e partiu a 21 de Junho para Pequim (Beijing) sem passar por Cantão (Guangzhou).
(5) William Kerr foi jardineiro escocês do Jardim de Kew (Escócia) que foi enviado para a China em 1803 por Sir Joseph Banks (botânico que fez parte da 1.ª viagem do capitão James Cook a bordo do “HMS Endeavour”) tendo estado em Cantão até 1812, a recolher e catalogar plantas dos jardins chineses até então desconhecidas na Europa (a ordem  de Sir Banks  era recolher especialmente as plantas do chá).  Conhecido como o primeiro profissional colecionador de plantas na China , enviou cerca de 238 exemplares de plantas à Europa de Cantão. Em 1812 foi enviado a Colombo (antiga capital do Ceilão; hoje Sri Lanka) como superintendente do jardim botânico colonial (“The Royal Botanic Gardens” aberto em 1810 sob a supervisão de Sir Joseph Banks). Faleceu em 1814 talvez relacionado com a dependência ao ópio.
htps://en.wikipedia.org/wiki/William_Kerr_(gardener)
https://www.helpmefind.com/gardening/l.php?l=18.11352
(6) Sobre Thomas Beale (1775-1841), ver anterior referência neste blogue em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/12/11/noticia-de-11-de-dezembro-de-1841-o-malogrado-thomas-beale/
(7) – Segundo o livro (1) por 35 mil patacas; o Padre Teixeira refere 30 000 patacas, apesar de a Missão Francesa ter oferecido 35 000. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM , 1997).

“11-12-1841 – Data provável – porque não se deu logo conta – do suicídio do inglês Thomas Beale, em Macau. Devia $ 112.316,839 patacas em parcelas e a entidades perfeitamente conhecidas, e não tinha como pagar. Deixou uma carta pedindo perdão a Deus, à família e amigos pelo seu acto de desespero. Enriqueceu com o ópio este londrino que chegou a Macau em 1781. O jardim da sua residência, na Rua do Hospital, era famoso em todo  o oriente pelas plantas, flores e pássaros raros e exóticos. Também tinha uma preciosa biblioteca. Perdeu-se com a Lotaria de Calcutá, onde apostou fortemente até ao fim.” (1)
O seu corpo deu à costa na Praia de Cacilhas e foi reconhecido somente pela roupa. Thomas Beale declarou em 1816 a insolvência e foi considerada na altura “a mais sensacional bancarrota do período

CHINNERY - Retrato de Thomas BealeRetrato de Thomas Beale por George Chinnery

Thomas Beale (cerca 1775-1841) naturalista escocês, negociador de ópio, comerciante na China, foi secretário do seu irmão mais velho Daniel Beale, (2) cônsul da Prússia em Cantão, desde 1787,. Torna-se mais tarde cônsul, de 1797 a 1814. É sócio com o seu  irmão nas  firmas Magniac & Co que comercializava ópio, algodão e chá e “Cox & Beale” (após a morte de John Henry Cox em 1790, sócio fundador com Daniel Beale em 1787).
Conhecido pela sua hospitalidade, a residência de Thomas Beale em Macau tinha um jardim com 2500 vasos de plantas e era um local de visita dos estrangeiros que passavam ou residiam em Macau.
Um aviário de 12,2 cm x 6,1 cm continha centenas de pássaros raros da China, Europa, Sudoeste Asiático e América do Sul. George Vachel , capelão da Companhia das Índias Orientais descreveu ao seu amigo John Stevens Henslow (professor de Botânica na Universidade de Cambridge e mentor de Charles Darwin) que no aviário estaria  cerca de seiscentos pássaros.   Quando o naturalista George Bennett visitou Macau na sua viagem pelo Pacífico, descreveu no seu diário , em 45 páginas , o jardim e o aviário e considerou a residência de Thomas Beale como “”one of the finest of the old Portuguese houses … on a narrow street known as Beale’s Lane“. (3)

Cemitério dos Protestantes - Thoma BealeFoto de Chris Nelson (5/24/2006)
http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=pv&GRid=12805092&PIpi=3209653

William Wightman Wood (“Sketches of China: with illustrations from original drawings “ escreveu:
“...in particular I may mention the bird-of-paradise. A splendid living specimen is in the possession of Mr. Beale almost domesticated. It feeds from the hand of its amiable owner without fear, and appears capable of being rendered perfectly tame and familiar. This is perhaps the only specimen at present existing in confinement.”

Cemitério dos Protestantes - Thoma Beale II

Foto de Chris Nelson (5/26/2006)
http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=pv&GRid=12805092&PIpi=3218100

Repousa no Antigo Cemitério Protestante, (no terraço inferior, n.º 160) para onde foi transladado um mês depois da sepultura clandestina que, a 11 de Dezembro de 1841 lhe deram, na praia de Cacilhas, os pescadores que o encontraram morto. (1)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(2) Daniel Beale (1759-1827) era comissário de bordo de um dos navios da Companhia das Índias Orientais e  está sepultado lado do seu irmão Thomas Beale (no terraço inferior n.º 161)
(3) https://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Beale