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Anuário de Macau, 1922

A empresa «Botelho Bros.» foi fundada em Hong Kong por irmãos macaenses:  Braz Joaquim Heitor Botelho (1), o seu irmão mais velho, António Alexandrino Heitor Botelho Jr (2) e o mais novo, Pedro Vicente Heitor Botelho.(3) São filhos de António Alexandrino Heitor Botelho (Macau 21.10.1852 – HK antes de 1920) e de Melânia Joana da Luz Vieira (1854 – HK 23.2.1937) que casaram na Catedral de Hong Kong em 18.4.1874 e tiveram 8 filhos e são netos de Guilherme Sabino Heitor Botelho (Macau 30.12.1823 – Macau 26.3.1868 e de Paulina Francisca Salatwicky Piter (4)

A empresa tinha sede no Alexandra Building em Hong Kong e filiais em Shanghai, São Francisco e Nova Iorque e dedicava-se à importação, exportação e agência de navios, sendo agentes exclusivos da Mala Real Espanhola. Em 1918, a empresa tinha a sede na “Ormsby Villas” (5)

(1) Braz Joaquim Heitor Botelho (HK 26.2.1876 – Macau 6.7.1919, sepultado em Hong Kong) foi o fundador da empresa. Casou em Hong Kong a 3.10.1897 com Francisca Maria Lima Yvanovich.

(2) António Alexandrino Heitor Botelho Jr (HK 11.1.1875 – HK 13.2.1908). Casou com Sara Balbina dos Remédios. A 29.12.1895 em Hong Kong

(3) Pedro Vicente Heitor Botelho (HK 22.7.1879 – Tientsin. China).Foi comerciante em Shanghai e Manila. Depois fixou residência em Hong Kong onde foi presidente do «Club Recreio» em Kowloon. Casou com Maria Christina Rosello (Manila 27.10.1887 – HK em 1988). O 2.º filho deste casal, António Alexandrino Rosello Botelho (nascido em Manila em 1905) foi o fundador das firmas «A. A. R. Botelho & C.ª», «Lanena Shipping Corp.» e da «Botelho Shipping Corp.», todas em Manila.

(4) Segundo Padre Teixeira, terá sido um ascendente desta família “que deu o nome primeiro ao Largo, depois ao Cais e subsequentemente à Calçada do Botelho. Este toponímico é muito antigo, pois já se menciona em 1727. Supomos que lhe foi dado por ali viver Botelho. TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, 1997

(5) Lista Oficial dos jurados de 1918 da Colónia de Hong Kong – Braz J. H. Botelho e Pedro V. H. Botelho. https://gwulo.com/jurors-list-1918

NOTA I – Informações biográficas da família Botelho foram recolhidas de: FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Vol I, 1996 e https://www.geni.com/people/Guilherme-Botelho/6000000061019194845

NOTA II – Em 1925 ainda existia a empresa nas mãos da família Botelho (sede: Peking Road, 64)  como comprova este anúncio no «Comacrib  Directory of China», 1925

NOTA III – «Transportes Marítimos do Estado» (TME) (ou Comissão Administrativa dos Serviços de Transportes Marítimos) foi uma empresa estatal de navegação portuguesa criada em 1 de Fevereiro de 1916 com a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial, tendo ficado responsável pela manutenção e exploração dos navios confiscados à Alemanha. Foi extinta em 1 de Fevereiro de 1925 após sindicância por gestão danosa da empresa. https://pt.wikipedia.org/wiki/Transportes_Mar%C3%ADtimos_do_Estado

Entrada do Jardim de Camões – Maio 2017

Com uma área de 2,45 hectares (1) é um dos jardins mais antigos de Macau (a par do jardim interior do Leal Senado e do jardim de S. Francisco), situado numa pequena elevação que se estende para norte da Praça de Luís de Camões (2) onde está a entrada. Entra-se por um amplo portão de ferro, visualizando logo à entrada quatro belos exemplares de árvores do pagode (Ficus microcarpa L. f.), com as suas longas e delgadas raízes adejando ao vento. Ao fundo uma escadaria, enquadrada por belos exemplares de palmeiras elegantes ou palmeiras Alexandras, juntamente com palmeiras leque e palmeiras bambus, que conduz à parte superior do jardim, onde se encontra o busto do poeta. (1)

Jardim de Camões – 1950

O local ocupado pelo jardim situava-se nos limites da cidade, sendo ainda a visível na sua parte norte, o que devem ter sido umas antigas muralhas. Era propriedade de um dos homens mais ricos de Macau, o conselheiro Manuel Pereira, tendo-a adquirido em 1815.
A Companhia das Índias Orientais arrendaram a propriedade e forma os ingleses que ao gosto romântico da época que criaram sobre o cerrado arvoredo, estreitas alamedas seguindo a orografia do terreno, para o que mandaram inclusivamente vir jardineiros de Inglaterra. (1)

Jardim de Camões -1960

Segundo Carlos Estorninho (3), os ingleses conseguiram reunir no jardim numerosos e valiosos exemplares da flora da China, Malaca, Java, Manila e Índia que mereceram, nos finais do século XVIII e princípios do século XIX, a atenção dos botânicos ingleses David Stornach,(4) William Kerr (5) e Thomas Beale,(6) tendo este último enviado para o Jardim Botânico de Kew, em Inglaterra, mais de 2500 plantas exóticas. Com a a extinção da Companhia das Índias Orientais, a propriedade voltou a ser administrada pelos familiares do conselheiro Manuel Pereira (falecido em 1826), nomeadamente o seu genro comendador Lourenço Marques (7). A propriedade foi depois vendida ao Governo de Macau em 1885.
(1) ESTÁCIO, António Júlio Emerenciano; SARAIVA, António Manuel de Paula – Jardins e Parques de Macau, IPOR, 1993, 63 p.
(2) A Praça está situada entre a Igreja de Santo António e o Jardim de Camões e tem ligação com a Travessa da Palanchica, a Calçada do Botelho, o Largo de Santo António e a Rua Coelho de Amaral. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM, 1997).
(3) ESTORNINHO, Carlos – Boletim do Instituo Luís de Camões, Vol. XIV, n.º 1 a 4, Macau, 1980 in (1)
(4) David Stornach, botânico que integrou a 1.ª embaixada britânica à China conhecida como “A Embaixada Macartney” em 1793. A expedição chegou a Macau a 19 de Junho de 1793 e partiu a 21 de Junho para Pequim (Beijing) sem passar por Cantão (Guangzhou).
(5) William Kerr foi jardineiro escocês do Jardim de Kew (Escócia) que foi enviado para a China em 1803 por Sir Joseph Banks (botânico que fez parte da 1.ª viagem do capitão James Cook a bordo do “HMS Endeavour”) tendo estado em Cantão até 1812, a recolher e catalogar plantas dos jardins chineses até então desconhecidas na Europa (a ordem  de Sir Banks  era recolher especialmente as plantas do chá).  Conhecido como o primeiro profissional colecionador de plantas na China , enviou cerca de 238 exemplares de plantas à Europa de Cantão. Em 1812 foi enviado a Colombo (antiga capital do Ceilão; hoje Sri Lanka) como superintendente do jardim botânico colonial (“The Royal Botanic Gardens” aberto em 1810 sob a supervisão de Sir Joseph Banks). Faleceu em 1814 talvez relacionado com a dependência ao ópio.
htps://en.wikipedia.org/wiki/William_Kerr_(gardener)
https://www.helpmefind.com/gardening/l.php?l=18.11352
(6) Sobre Thomas Beale (1775-1841), ver anterior referência neste blogue em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/12/11/noticia-de-11-de-dezembro-de-1841-o-malogrado-thomas-beale/
(7) – Segundo o livro (1) por 35 mil patacas; o Padre Teixeira refere 30 000 patacas, apesar de a Missão Francesa ter oferecido 35 000. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM , 1997).