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CAPA

Nas comemorações da “Semana Verde” de 1982, associado à plantação de árvores na Praia de Hac Sá (1), os Serviços Florestais e Agrícolas de Macau, publicaram em Abril de 1982, um pequeno opúsculo (biligue: português e chinês) de 4 folhas (8 páginas) (29,5 cm x 20,5 cm) com o título: “A ÁRVORE 樹”, texto de António Estácio (2)  e desenhos de Leonel Barros.(3)

1.ª página
2.ª página
3.ª página
4.ª página
5.ª página
6.ª página
7.ª página
8.ª página
Contracapa

mandarim pīnyīn: shù; cantonense jyutping: syu6

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/03/21/noticia-de-21-de-marco-de-1978-dia-mundial-da-arvore/ Outras referências relacionadas ao Dia Mundial da Floresta/Dia Mundial da Árvore, neste blogue: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/gabinete-tecnico-do-ambiente/

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-estacio/

(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leonel-barros/

«As 5.35 horas da manhã de 13 de Agosto de 1931, (1) explodiu o Paiol da Flora, (2) devido aos grandes calores estivais. A explosão causou a morte das seguintes pessoas: 1.º sargento António Sousa Vidal, Henrique Ciríaco da Silva, funcionários das obras públicas, João Córdova, Natércia Duarte, criança de 11 anos, um filhinho do chefe da Polícia Carlos A. da Silva, um soldado africano e 15 pessoas chineses, sendo os feridos cerca de 50.(3)
O Palacete da Flora ficou reduzido a um montão de escombros; as casas fronteiriças, escalavradas; muitas casas arruinadas e muitíssimas com as janelas, portas e vidros partidos.
Nas três casas Canossianas houve muitos vidros partidos e algumas portas quebradas, mas não houve ferimentos, pois, sendo Verão, tanto as educandas como as órfãs chinesas estavam fora a passar as férias.
Uma bomba incendiária fez uma visita à Casa Canossiana de Mong Há: entrou por uma janela, forçando-a, pois, estava fechada, girou em volta da luz eléctrica, e saiu por outra janela do dormitório ds educandas, sem causar dano algum, além dum grande susto a uma rapariga, que naquela noite havia dormido ali. Atribui-se à protecção de Maria, de quem a pequena era muito devota, o não ter sido vítima do acidente. (4)
Outros estragos materiais mais significativos referenciados, para além das casas próximas do jardim que ficaram danificadas: a casa que Sun Fo tinha construído para a sua mãe, a casa memorial “Sun Yat Sen” na Av. Sidónio Pais: o coreto do jardim de Lou Lim Ioc que se encontrava em lugar diferente do actual, tinha a porta virada Av. Conselheiro Ferreira de Almeida.

A propósito dessa explosão, conta o Padre Teixeira (4) o seguinte episódio:
Nessa manhã, alguém telefonou da Taipa para Macau.
– Ouviu-se aqui um grande «estâmpido». Que aconteceu?
– O paiol da Flora foi pelos ares.
– Houve vítimas?
–  22 mortos e 50 feridos.
– Safa. Que «estâmpido» tremendo!
O caso do «estâmpido» passou de boca em boca e, durante vários dias, era «estâmpido» sem parar.
Nós tínhamos leitura no Seminário, durante as refeições. Sucedeu que o leitor foi o José Dias Bretão. Apareceu essa palavra no livro e ele, com ouvir tantas vezes pronunciar «estâmpido»., já estava um pouco confuso e leu assim mesmo.
Gargalhada geral!
O prefeito mandou que repetisse. E ele «estâmpido».
Por fim, mandou-o sair da estante, ameaçando-o com um castigo, pois julgava que estava a brincar. Só lhe levantou o castigo ao verificar que o rapaz tinha lido a sério.
Resultado: ficou sempre com a alcunha de «estâmpido».
(1) O Conselho do Governo destinou uma verba de 300 mil patacas destinado a ocorrer ao pagamento das despesas resultantes da destruição do Paiol Militar da Flora e à construção de um novo paiol nas Ilhas.
Boletim Oficial da Colónia de Macau de 14 de Agosto de 1931 – Suplemento ao n.º 32
Nomeação de uma comissão para propor as medidas a adoptar para se socorrer as vítimas da explosão do Paiol da Flora.
Boletim Oficial da Colónia de Macau de 14 de Agosto de 1931 – Suplemento ao n.º 32.
 (2) “Década de 20 – Posteriormente, no início de 20, procedeu-se à construção de um complexo sistema de túneis de características militares, que atravessam o subsolo da Colina da Guia, tendo sido instalado, na propriedade, um paiol que em 13 de Agosto de 1931, explodiu provocando a destruição do palacete da Flora “(ESTÁCIO, A. J. E e SARAIVA, A. M. P. – Jardins e Parques de Macau, p.30”
Em 28 de Junho de 1919, o governador aprovou o projecto da Repartição dos Serviços de Obras Públicas para a construção do novo paiol militar junto da Colina da Guia.

O Paiol da Flora estava situado num terreno por detrás do “Ténis da Flora” sensivelmente por detrás do actual Jardim Infantil D. José da Costa Nunes).

(3) O número de mortos e feridos variam conforme as fontes:
“Em 13 de Agosto de 1931, explodiu o paiol militar situado na Fonte de Inveja, causando 41 mortos, nos quais 7 foram crianças, e danificando um grande número de casas nos locais próximos. A explosão causou uma perda económica no valor de 400,000.00 dólares de Hong Kong para os proprietários e habitantes dos locais adjacentes”
http://www.archives.gov.mo/pt/featured/detail.aspx?id=106
11-08-1931 – Uma explosão no Paiol Novo da Flora provocou 24 mortos e 50 feridos e destruiu completamente o palacete da Flora. Várias casas ficaram em ruínas ou danificadas num raio de 3500 metros.”  (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997)
Boletim Oficial da Colónia de Macau, n.º 33 de 15 de Agosto de 1931
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, pp. 221-222

O jardim do Palacete da Flora. Construção antiga melhorada em 1914-1915
1915, Fotógrafo: M. Russel, Copyright: Arquivo Histórico Ultramarino,
https://actd.iict.pt/view/actd:AHUD7626

NOTA: Recorda-se que o Palacete da Flora foi a perda material mais significativa da explosão do Paiol. Foram trinta toneladas de pólvora que destruíram tudo, num raio de 300 metros incluindo o palacete que era a residência de verão dos Governadores; na altura, estava lá instalado o Museu Luís de Camões e servia também como pavilhão de exposições de arte.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/02/06/leitura-uma-exposicao-de-arte-no-palacete-da-flora-1929/
Anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/paiol-da-flora/
Pode-se ver fotografias dos estragos causados pela explosão em:
http://www.archives.gov.mo/pt/featured/detail.aspx?id=106
Outras leituras e video disponíveis:
https://cronicasmacaenses.com/2012/11/08/macau-1931-explodiu-o-paiol-da-flora/
https://www.youtube.com/watch?v=ytRaoL50QEU
http://macauantigo.blogspot.com/2012/07/explosao-do-paiol-da-flora-agosto-1931.html
O «Diário de Notícias” (Portugal) datado de 12 de Setembro de 1931 falava-se da segunda edição da Volta a Portugal em bicicleta, com vitória de José Maria Nicolau na etapa Beja-Évora e conquista da camisola amarela, a campanha contra o analfabetismo, considerado “um grande problema nacional”, e também de “A Catástrofe de Macau”, sobre a terrível explosão do paiol da Flora, acompanhado da seguinte foto:
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/12-set-2018/interior/contra-o-analfabetismo-9832957.html

Livro escrito por Aires Carlos de Sá Nogueira, (1) de 1933, reeditado pelos Serviços Florestais e Agrícolas de Macau em 1984. (2)
Tem nesta edição uma “Apresentação” de António Júlio E. Estácio (p. 3):
Tem sido a flora do Território referida em alguns trabalhos, de que é justo destacar o presente, cujo original veio ao público, em Macau há cinquenta e um anos.
Hoje, dada a sua raridade e considerando-se a informação nele contido, entendeu-se como de interesse proceder-se à reedição da presente obra no intuito de que o seu reaparecimento continua valioso apoio a quantos se dedicam a estudos botânicos…
O autor Aires de Sá Nogueira esteve em trabalho, em Macau, nos meses de Setembro de 1932 a Março de 1933, e durante cerca de seis meses “manuseei alguns milhares de exemplares botânicos, para apenas catalogar 380 espécies…” (Advertência, p. 5)
A arrumação sistemática seguida no Catálogo é a mesma seguida na “Flora of Kwangtung and Hong Kong” de S. T. Dunn (3) e W. J. Tutcher,(4) edição de 1912 e por enumerar cerca de 255 espécies com a indicação de existir em Macau.

Recibo original dos “Serviços Florestais e Agrícolas de Macau, n.º 106 de 17 de Outubro de 1984, data da adquisição deste livro por vinte patacas.
Pág 82, referente ao Crisântemo bravo, branco – Pac Cok Fá (白菊花)

Interessante anotação: em 1933 ainda se encontrava 白菊花 – Pak Cok Fá nos muros da Estrada de Cacilhas.
白菊花mandarim pīnyīn: bái jú huā; cantonense jyutping: baak6 guk1 faa1
(2) NOGUEIRA, A. C. de Sá – Catálogo descritivo de 380 espécies botânicas da Colónia de Macau. 2.ª edição. Serviços Florestais e Agrícolas de Macau, 1984, 181 p.; 21 cm-x 14,8 cm.
(3) Stephen Troyte Dunn (1868,-1938), famoso botânico britânico que descreveu e sistematizou numerosas plantas em todo o mundo principalmente na taxonomia da flora da China. Foi o primeiro a descrever cientificamente a “Bauhinia blakeana”, a flor que hoje é o símbolo de Hong Kong.
(4) William James Tutcher (1867-1920) – Botanista que trabalhou desde 1891 no Departamento Botânico de Hong Kong. Regressou a Inglaterra em 1904.

Continuação da publicação dos postais constantes da Colecção intitulada “澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao”, emitida em Setembro de 2009 pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau (1)
A importância deste local em termos de jardim, propriamente dito, é reduzido. Apresenta uma forma rectangular, sendo apenas uma pálida lembrança da praça circular, com 57 metros de raio, inaugurada em 1871, e da qual era uma peça importante a fonte que hoje se encontra no jardim da Flora. Serve de ligação entre a Avenida Sidónio Pais e a estrada da Vitória, tenho uma área de apenas 0,19 hectares. (2)
Antigo local conhecido como “Campo de Arrependidos”,  foi aí travada parte dos combates contra os invasores holandeses, no dia 24 de Junho de 1622. O monumento foi colocado no centro do jardim, em 1864 (autoria do escultor Manuel Maria Bordalo Pinheiro) “no mesmo lugar onde uma pequena cruz de pedra comemorava a acção gloriosa dos portugueses” (3)
(1) Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/postais/
(2) ESTÁCIO, António J. E.; SARAIVA, António M. P. – Jardins e Parques de Macau. Instituto Português do Oriente, 1993, p. 36.
(3) Ver anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/monumento-da-vitoria/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jardim-da-vitoria/

Continuação da publicação dos postais constantes da Colecção intitulada “澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao”, emitida em Setembro de 2009 pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau (1)

Coreto da Avenida Vasco da Gama

Contíguo a este largo (onde está o monumento a Vasco da Gama, planeado para ser levantado em 1898, mas só inaugurado a 31 de Janeiro de 1911) e do lado da estrada da Victoria procede-se actualmente à construção d´um coreto para música, ao centro d´um pequeno jardim, sendo este jardim fechado por duas rampas circulares d´acesso da Avenida para a estrada da Victoria que devem produzir um lindo efeito.” (artigo do engenheiro Augusto César d´ Abreu Nunes (2) , em 1898, publicado no “Jornal Único”) (3)
Os actuais Jardim da Vitória e Jardim de Vasco da Gama, são o que resta da antiga Avenida Vasco da Gama, aberta em 1898, por ocasião do IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia.
Essa avenida, que com mais propriedade, se deveria chamar alameda ou mesmo pequeno parque, tinha 500 metros de comprimento e 65 de largura. Progressivamente, a partir de 1935, foi retalhada para receber equipamentos urbanos como o campo desportivo do Tap Seac, as escolas primária oficial Pedro Nolasco da Silva e Luso-chinesa Sir Robert Ho Tung, uma piscina municipal e mais tarde, uma unidade hoteleira (Hotel Estoril)” (4)
Ao longo da Avenida corriam dois parques de árvores de S. José (Ficus chloro-carpas) que lhe davam um aspecto bucólico de frescura campestre… (… ) Do lado N. a Avenida terminava pelo Jardim da Vitória , que era de forma circular com 58 m de diâmetro, sendo torneado pela rua central da Avenida. (5)
(1) Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/postais/
(2) A avenida Vasco da Gama foi projectada pelo engenheiro Augusto César d´Abreu Nunes.
(3) O “Jornal Único” publicou-se, num único número, no dia 20 de Maio de 1898,
com óptima apresentação e interessante colaboração, em comemoração do 4. º Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
(4) ESTÁCIO, António J. E.; SARAIVA, António M. P. – Jardins e Parques de Macau. Instituto Português do Oriente, 1993, p. 36.
(5) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol. I, 1999, pp. 228.

Continuação da publicação dos postais constantes da Colecção intitulada “澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao”, emitida em Setembro de 2009 pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau (1)

加思欄花園 (2)  – Jardim de S. Francisco – S. Francisco Garden
Década de 1890

Na encosta situada nos limites da “cidade cristã” e sobranceira à Baía da Praia Grande, estabeleceram os franciscanos espanhóis, em 1580, um convento que tinha anexo uma horta ou jardim conhecido como “Jardim do Bispo” Parte deste jardim, ao que supomos, compreendia um pouco da zona superior do actual Jardim de S. Francisco.
É o único jardim situado no que é hoje a “baixa” da cidade. No entanto o seu aspecto e localização em relação ao mar são bem diferentes do inicial. Construído em meados do século XIX, foi projectado por Matias Soares. (3) Era fechado por uma balaustrada e portas, tendo um horário variável de abertura ao público, consoante se tratasse do Verão ou do Inverno. (4) Foi um verdadeiro passeio público pois era frequentado pelos membros de abastada famílias macaenses, que ali se deslocavam a fim de ouvir a Banda Militar, e mais tarde, a Municipal, actuar num coreto que existiu até 1935. (5) Era limitado, a sul, pelas águas da Baía da Praia Grande, antes da execução dos aterros que alargavam a área da cidade mas provocaram a perda de vistas e a alteração da insolação do jardim” (6)

Foto pessoal de Maio de 2017

(1) Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/postais/
(2) 加思欄花園mandarim pīnyīn: jiā sī lán huā yuán; cantonense jyutping: gaa1 si1 laan4 faa1 jyun4.
Este jardim entrou na toponímia chinesa com o nome de «Ká-Si-Lán-Fá Yun» isto é «Jardims dos Castelhanos», devido ao Convento de S. Francisco, que confinava com ele do lado ocidental e que foi fundado pelos franciscanos castelhanos.
(3) Matias Soares que projectou e fiscalizou a construção de S. Francisco foi depois para Hong Kong, onde construiu um magnífico bungalow em Saiyinpun com uma horta e um jardim. Ele transmitiu o gosto das flores a seu filho, Francisco Paulo de Vasconcelos Soares. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol. I, 1999, pp. 205-207)
Francisco (Frank) Paulo de Vasconcelos Soares foi um rico comerciante em Hong Kong, corrector imobiliário em Kowloon. Faleceu em 1953 e na antiga propriedade da família, hoje urbanizada,  está localizada a “Soares Avenue”-
(4) O Jardim ficava aberto das 6.00 horas às 24.00 horas durante o Verão (Maio a Setembro) e as 7.00 horas às 21.00 horas durante o Inverno (Outubro a Abril)
(5) Em 1861 a banda militar tocava ao sol-pôr nos domingos e quintas feiras. Depois foi substituída pela banda municipal, até que esta última foi dissolvida a 9 de Outubro de 1935.
(6) ESTÁCIO, António J. E.; SARAIVA, António M. P. – Jardins e Parques de Macau. Instituto Português do Oriente, 1993, p. 26

A ponte das Nove Curvas no jardim Lou Lim Ioc em 1973

No dia 28 de Dezembro de 1974, (1) abriu as portas como Jardim Público, o único jardim de estilo chinês que pertenceu em tempos a Lou Lim Ioc e que o Governo adquiriu em 12 de Maio de 1973 (assinatura da compra e venda) (2) ao seu mais recente proprietário, «Sociedade de Fomento Predial Sei Iek Lda.», cujo gerente geral era o Ho Yin. Recuperado foi entregue ao Leal Senado para gestão deste este espaço de grande beleza e serenidade. (3)

O jardim de Lou Lim Ioc em 2017

A abastada família de artistas e letrados de apelido Lou/Lu, de Chiun Lin (distrito de San Wui/ Xinhui/Sunwui), na província de Cantão (Guangdong), cujo chefe de família era Lu Cheok Chin, também conhecido por Lou Kau, ou Lu Cao, um letrado de fino gosto artístico, veio para Macau, em 1870, fixando-se no Largo da Sé. (4) Adquiriu para recreio e “casa de campo” um terreno nas húmidas e pantanosas várzeas do Tap Seac. Contratou em Cantão os serviços de dois artistas, Lau Kat Lok e Lei Tat Chun para construírem um jardim chinês, ao estilo do século XIV, em Sou Chou (Suzhou)

O jardim de Lou Lim Ioc em 2017

O «Jardim das Delícias» ou «Yu Yun» ficou conhecido por «Jardim de Lou Kao» ou de «Lou Lim Ioc». O nome de Lou Lim Ioc (5) deriva do seu filho mais velho, que herdou parte da propriedade e o gosto do pai em receber com fausto as grandes figuras da cidade. O outro irmão, vivendo entre académicos, já que herdara do pai o pendor intelectual e literário, desinteressou-se da metade que lhe cabia na propriedade. (3)

Jardim do Lu-cau (vista interior onde se vê os viveiros, área hoje urbanizada) – “Ilustração Portugueza”, 1908.

Cercado de altos muros, tem hoje, a sua entrada pela Estrada Adolfo Loureiro, ocupando uma área de 1, 23 hectares (inicialmente registada com uma área de mais de 20 000 m2) mas reduzida por sucessíveis desanexações (por exemplo, a área ocupada actualmente pelas escolas Pui Cheng e Leng Nam). Dispondo das duas portas típicas dos jardins chineses, a “porta da lua” e a “porta da jarra”, encerra um grande lago de margens irregulares, bordejado por uma cortina de bambus e de salgueiros. Sobre o lago o célebre Pavilhão da Relva Primaveril que fica perto da montanha artificial, da qual de desprende uma cascata, e da famosa Ponte das Nove Curvas. (6)
Dentro do jardim havia um coreto inaugurado em 1928, onde, no início, o dono do jardim realizava espectáculos de ópera chinesa, de que era grande apreciador. Este coreto encontrava-se em lugar diferente do actual, visto que a porta dava para a Av. Conselheiro Ferreira de Almeida, e foi um dos edifícios destruídos pela explosão no Paiol da Flora em 13 de Agosto de 1931. (7)
Anteriores referências a este jardim em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jardim-lou-lim-ieoc/

A ponte das Nove Curvas no jardim Lou Lim Ioc em 2017

(1) Esta data vem referenciada na obra da Dra. Beatriz Basto da Silva (3). No entanto em muitos artigos e livros, vem referido como data de  abertura do jardim ao público o dia 28 de Setembro de 1974 – como por exemplo em «Jardins e Parques de Macau », p. 20. (6)
(2) Iniciativa do governador José Manuel Nobre de Carvalho. Foi adquirido com todas as benfeitorias existentes pela quantia de 2, 7 milhões de patacas. Após a assinatura da escritura foi feito o pagamento de $ 1 000 000,00, o restante foi feito no prazo de 18 meses a contar da data da celebração do contrato. Para o pagamento da primeira prestação foi utilizada importância de $ 1 000 000,00, referida no parágrafo segundo da 16.ª cláusula do contrato com a S. T. D. M. e destinada a obras de fomento. Dado que a despesa total excedia a importância fixada na regra 23.ª do artigo 15.º do E. P. A. da província foi necessário obter a autorização ministerial. (Macau B.I.T., 1973)
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3 (1995) e Volume III (3.ª edição reformulada, 2015).
(4) Lou Cheok Chin ou Lu Cheok Chi ou Lu Cao (1837 – 1906) foi naturalizado português por Carta Régia de 11-05-1886.Teve 29 filhos das suas 10 mulheres. O mais velho e mais célebre foi Lou Lim Ioc.
(5) Lou Lim Ioc (1877 -1927), milionário, letrado, diplomata entre a China e Portugal, membro do Conselho Legislativo de Macau, foi agraciado com a comenda da Ordem de Cristo a 13 de Abril de 1925. Faleceu no dia 15 de Julho de 1927 e o funeral realizou-se com grande pompa e aparato no dia 31 de Julho de 1927. (7)
(6) ESTÁCIO, António Júlio Emerenciano; SARAIVA, António Manuel de Paula – Jardins e Parques de Macau. IPO, 1993
(7) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
NOTA: Conta-me o meu amigo Fernando Guerra, então alferes em comissão de serviço em Macau e aquartelado na Ilha Verde, onde estavam 90 militares – soldados europeus e macaenses (após a fase de recruta ; vigorava o serviço militar obrigatório) que em 1973 (após a compra pelo Governo do jardim), por ordem superior, foram os militares “encarregados” de limpar a área do jardim que estava em bastante estado de degradação e abandono. Mas entre os chineses e macaenses constava-se que a área (bem como a família) estava amaldiçoada e por isso havia “fantasmas” a circular por lá, pelo que os soldados macaenses recusaram participar na tarefa. Foram os soldados europeus a executar o trabalho.

Entrada do Jardim de Camões – Maio 2017

Com uma área de 2,45 hectares (1) é um dos jardins mais antigos de Macau (a par do jardim interior do Leal Senado e do jardim de S. Francisco), situado numa pequena elevação que se estende para norte da Praça de Luís de Camões (2) onde está a entrada. Entra-se por um amplo portão de ferro, visualizando logo à entrada quatro belos exemplares de árvores do pagode (Ficus microcarpa L. f.), com as suas longas e delgadas raízes adejando ao vento. Ao fundo uma escadaria, enquadrada por belos exemplares de palmeiras elegantes ou palmeiras Alexandras, juntamente com palmeiras leque e palmeiras bambus, que conduz à parte superior do jardim, onde se encontra o busto do poeta. (1)

Jardim de Camões – 1950

O local ocupado pelo jardim situava-se nos limites da cidade, sendo ainda a visível na sua parte norte, o que devem ter sido umas antigas muralhas. Era propriedade de um dos homens mais ricos de Macau, o conselheiro Manuel Pereira, tendo-a adquirido em 1815.
A Companhia das Índias Orientais arrendaram a propriedade e forma os ingleses que ao gosto romântico da época que criaram sobre o cerrado arvoredo, estreitas alamedas seguindo a orografia do terreno, para o que mandaram inclusivamente vir jardineiros de Inglaterra. (1)

Jardim de Camões -1960

Segundo Carlos Estorninho (3), os ingleses conseguiram reunir no jardim numerosos e valiosos exemplares da flora da China, Malaca, Java, Manila e Índia que mereceram, nos finais do século XVIII e princípios do século XIX, a atenção dos botânicos ingleses David Stornach,(4) William Kerr (5) e Thomas Beale,(6) tendo este último enviado para o Jardim Botânico de Kew, em Inglaterra, mais de 2500 plantas exóticas. Com a a extinção da Companhia das Índias Orientais, a propriedade voltou a ser administrada pelos familiares do conselheiro Manuel Pereira (falecido em 1826), nomeadamente o seu genro comendador Lourenço Marques (7). A propriedade foi depois vendida ao Governo de Macau em 1885.
(1) ESTÁCIO, António Júlio Emerenciano; SARAIVA, António Manuel de Paula – Jardins e Parques de Macau, IPOR, 1993, 63 p.
(2) A Praça está situada entre a Igreja de Santo António e o Jardim de Camões e tem ligação com a Travessa da Palanchica, a Calçada do Botelho, o Largo de Santo António e a Rua Coelho de Amaral. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM, 1997).
(3) ESTORNINHO, Carlos – Boletim do Instituo Luís de Camões, Vol. XIV, n.º 1 a 4, Macau, 1980 in (1)
(4) David Stornach, botânico que integrou a 1.ª embaixada britânica à China conhecida como “A Embaixada Macartney” em 1793. A expedição chegou a Macau a 19 de Junho de 1793 e partiu a 21 de Junho para Pequim (Beijing) sem passar por Cantão (Guangzhou).
(5) William Kerr foi jardineiro escocês do Jardim de Kew (Escócia) que foi enviado para a China em 1803 por Sir Joseph Banks (botânico que fez parte da 1.ª viagem do capitão James Cook a bordo do “HMS Endeavour”) tendo estado em Cantão até 1812, a recolher e catalogar plantas dos jardins chineses até então desconhecidas na Europa (a ordem  de Sir Banks  era recolher especialmente as plantas do chá).  Conhecido como o primeiro profissional colecionador de plantas na China , enviou cerca de 238 exemplares de plantas à Europa de Cantão. Em 1812 foi enviado a Colombo (antiga capital do Ceilão; hoje Sri Lanka) como superintendente do jardim botânico colonial (“The Royal Botanic Gardens” aberto em 1810 sob a supervisão de Sir Joseph Banks). Faleceu em 1814 talvez relacionado com a dependência ao ópio.
htps://en.wikipedia.org/wiki/William_Kerr_(gardener)
https://www.helpmefind.com/gardening/l.php?l=18.11352
(6) Sobre Thomas Beale (1775-1841), ver anterior referência neste blogue em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/12/11/noticia-de-11-de-dezembro-de-1841-o-malogrado-thomas-beale/
(7) – Segundo o livro (1) por 35 mil patacas; o Padre Teixeira refere 30 000 patacas, apesar de a Missão Francesa ter oferecido 35 000. (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I. ICM , 1997).

De 15 a 21 de Março (Dia Mundial da Floresta) de 1982 realizou-se a «SEMANA VERDE DE MACAU“. Na sequência do dia Mundial da Floresta /Dia Mundial da Árvore de 1978 (1), António Estácio no seu artigo na Revista «Macau» (2) refere:
Em 1982 e na sequência de uma deslocação à Nova Zelândia no ano anterior, a fim de participarmos na 15.ª Assembleia Geral da União Internacional para a Conservação da Natureza (UCN), decidimos organizar uma série de acções que não circunscrevessem apenas ao dia 21 de Março mas pelo contrário, ganhassem uma maior dimensão temporal, com a particularidade de se iniciarem a 15 de Março e terminarem, precisamente, no Dia Mundial da Floresta, altura em que se atingiria o culminar de uma campanha de sensibilização cujo objectivo era, e é, a necessidade de se defenderem e valorizarem as Zonas Verdes, nomeadamente, as do território.
Com entusiasmo lançámo-nos ao trabalho e em pouco mais de um mês e meio estavam assegurados apoios de entidades oficiais e privadas que permitiram a implementação de uma campanha com 17 acções diferenciadas e que designámos por «SEMANA VERDE DE MACAU».
Das 17 acções diferenciadas propostas para o ano de 1982, com um total de 53 repetições, tiveram 100 % de concretização e um custo aproximado de $ 4.000,00 (MOP). (2)
(1) Ver
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/03/21/noticia-de-21-de-marco-de-1978-dia-mundial-da-arvore/
(2) ESTÁCIO, AntónioOs Reflexos do «Desenvolvimento» Incorrecto, in «MACAU», 1988.
As fotografias foram retiradas do artigo inserido na revista «Macau»
Referências anteriores ao Eng.º António Estácio em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-estacio/
Referência à «Semana Verde» de 1988 em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/03/15/noticias-de-15-21-de-marco-de-1984-e-1985-autocolan-tes-iii-e-iv-semana-verde-de-macau/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/13/anuncio-semana-verde-88/

A Arborização em Macau CAPAPequeno livrete de 27 páginas (21,5 cm x 15,2 cm) com o título

“A ARBORIZAÇÃO EM MACAU
INTERVENÇÃO
DE TRANCREDO DO CASAL RIBEIRO
(1883-1885)

Editado pelos Serviços Florestais e Agrícolas de Macau (SFAM), em 1985, aquando da “IV Semana Verde de Macau” que se realizou de 15 a 21 de Março, é dedicado em memória do responsável pela arborização de Macau (trabalho de maior vulto a arborização da Colina da Guia de 1883 e 1885), Agrónomo Tancredo do Casal Ribeiro (1). No interior do livrete, cópia do seu relatório acerca da arborização de Macau. O texto foi recolhido e preparado por António Júlio E. Estácio (Engenheiro Técnico Agrário).
A Arborização em Macau 1.ª páginaNa Introdução:
Este ano (1985) e à semelhança do que fizemos durante a III Semana Verde de Macau, entendemos homenagear, ainda que modestamente, outro técnico português que esteve no Território e que nos legou um valioso trabalho. Referimo-nos a Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro, que dirigiu a arborização de Macau (Colina da Guia) no período de 1883/85, tendo-nos chegado o relatório das actividades efectuadas, relatório esse dirigido ao Governador Tomás de Sousa Rosa, que às Zonas Verdes de Macau, dedicou especial atenção...”
A Arborização em Macau B.O. Macau e Timor 1881O fac simile do Boletim da Província de Macau e Timor, (2) “Sabbado, 30 de Julho de 1881″ contendo a nomeação de “Tancredo Caldeira de Casal Ribeiro, agronomo do districto de Aveiro para exercer o logar de agronomo da provincia de Macau e Timor”
A Arborização em Macau Vista aérea Colina da Guia 1980Fotografia aérea da Colina da Guia, tirada em Outubro de 1980 e cedida pelo Serviço de Cartografia e Cadastro.
O livro contém ainda pequenos extractos dum relatório que Tancredo do Casal Ribeiro elaborou sobre o ponto da situação agro-pecuária de Timor e uma proposta de estabelecimento do Posto Experimental de Baucau (Timor).
(1) Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro (1856- ? ) licenciado em 1897 pelo Instituto Geral de Agricultura, em Lisboa. Exerceu funções em Macau entre 1881 e 1886, tendo sido também professor no Seminário de S. José.
(2) Macau e Timor constituíam na altura uma só Província. A separação foi a 15 de Outubro de 1896.