Fotografia da capa – Ferreira de Castro na Porta do Cerco
Livro de 1998, com o título “Macau e a China”, (1) uma edição especial bilingue (em português e em chinês) da Câmara Municipal das Ilhas (por ocasião das comemorações do Dia das Ilhas) contendo parte do relato de viagem que o escritor Ferreira da Castro (2) efectuou entre 1939 e 1944 com a sua mulher, Elena Muriel, nomeadamente a passagem por Macau e China, publicada no Capítulo “China” do seu livro de viagem “ Volta ao Mundo” (nas pp 467 – 522. (3)
Com um pequeno prefácio (p. 5) de Joaquim Ribeiro Madeira de Carvalho (então Presidente da Câmara Municipal das Ilhas) e introdução/nota bibliográfica de Ricardo António Alves intitulada «Ferreira de Castro na “Cidade de Lilipute”».
A propósito de uma foto do escritor na Gruta de Camões (p. 13), escreve Ferreira de Castro: (pp. 36-37)
“Atravessamos os bairros novos e subimos a outra colina, a de Camões. No seu glauco sopé fecha-se um vetusto cemitério protestante, com as suas marmóreas sepulturas em forma de caixas quadrilongas. Nestas velhas tumbas encontram-se alguns dos primeiros europeus que morreram no Extremo-Oriente, sobretudo alguns magnates ingleses da famigerada Companhia das Índias, senhores que foram de milhentas traficâncias e de fabulosas riquezas, agora em repouso e olvido entre as bravas ervas que crescem em derredor de seus mausoléus. Poetas, missionários, nautas britânicos e esbeltas loiras de Albion dormem também, sob o sol da Ásia, na vizinhança dos feros homens que só o oiro adoravam. Uma indiscrição, um lagarto sobre as letras já a desvanecerem-se e o silêncio que vai dum extremo a outro do cemitério, como presença inexorável.
Mais acima da necrópole, topa-se um pequeno museu e, depois, entramos nas verdes sendas da colina de Camões. É um admirável parque, cheio de amáveis recantos, de árvores seculares, de flores, de chineses que meditam sobre os bancos, de pares que buscam as sombras e de crianças que brincam nas clareiras. Situado junto ao porto interior, o outeiro oferece belas perspectivas sobre os juncos ancorados, a Ilha Verde, no flanco da península, e as distantes montanhas de Chung-Shan. A única coisa feia é , justamente, a gruta onde o épico teria escrito parte dos “Lusíadas”. Dois penedos verticais, sobre eles um penedo horizontal, eis o sítio que se julga eleito por Camões para nele trabalhar. Sugestivo seria, sem dúvida, o lugar no tempo em que o poeta desempenhou, talvez, em Macau, o burocrático ofício de “Provedor dos defuntos e ausentes”..Mas, hoje, com um pobre busto de Camões entre as rochas e várias lápides portugueses e chinas em derredor, o que houve, aqui, de rude, de beleza selvagem, transformou-se numa espécie de fruste necrópole. “
Macau – A Gruta de Camões onde o poeta teria escrito parte de «Os Lusiadas»
Legenda e foto da p. 482 do livro “A Volta ao Mundo” (3)
(1) CASTRO, Ferreira de – Macau e a China. Câmara Municipal das Ilhas. Direcção da edição: António Aresta e Celina Veiga de Oliveira, 1998,115 p. ISBN972-8279-23-X (Versão Portuguesa)
Capa + contracapa
(2) Na contra-capa do livro: “No Romance português há um antes e um depois de Ferreira de Castro (1898-1974). Este escritor autodidacta, de origens camponesas humildes, nascido no litoral centro de Portugal, emigrado aos doze anos incompletos, em plena Amazónia (1911-1914) e, depois como afixador de cartazes, marinheiro e, por fim, jornalista em Belém (1914-1919), capital do estado brasileiro do Pará, em cuja biblioteca leu avidamente Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós, Balzac e Zola, Nietzsche e Gorki; o literato que após o regresso ao seu país continuou no jornalismo, apenas como meio de sustento que lhe possibilitasse escrever os seus primeiros livros; o jovem Ferreira de Castro, aos trinta anos, com o livro Emigrantes (1928), mudou o rumo da ficção narrativa portuguesa, passando a ser uma das figuras de proa – ou a figura de proa – entre os finais dos anos vinte e a primeira metade da década de cinquenta” (Ricardo António Alves)
(3) CASTRO, Ferreira de – A Volta ao Mundo. Emprêsa Nacional de Publicidade, 1944, 678 p.
Anteriores referências a este escritor em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/01/05/leitura-a-volta-ao-mundo-ferreira-de-castro/