Numerosos fiéis assistiram, no dia 22 de Setembro de 1953, ao solene «Te-Deum», cantado na Sé Catedral, em acção de graças por Deus ter poupado Macau a maiores estragos, a quando do tremendo tufão que assolou a cidade, em 22 de Setembro de 1874.
«A nossa cidade, que por suas recordações históricas e tradições religiosas era uma das mais famosas e notáveis do oriente, tão bela ainda há poucos dias, perdeu, em poucas horas, grande parte do seu esplendor e formosura, sofrendo a mais horrível e lastimosa transformação!»
«Tal é o destino de todas as coisas humanas! Só Deus é grande, só Ele é imutável!»
Tais as palavras que se lêem na Circular dirigida pelo Governador do Bispado de Macau, em 27 de Setembro de 1874, ao clero e fiéis desta Diocese, convidados a orar pelas necessidades desta cidade.
E os fiéis oraram, então, durante três dias consecutivos, nas igrejas paroquiais, no seminário diocesano e no convento de Santa Clara; e aqueles que não puderam ir ao templo, oraram com boas disposições no interior de suas casas.
E, desde então, todos os anos, se vem cantando um «Te-Deum» em cumprimento do voto feito por essa ocasião.
A 25 de Setembro de 1874, o Governador da província, Visconde de São Januário, publicou no Boletim da Província de Macau e Timor, o seguinte apelo à população de Macau:
«Habitantes de Macau!
Uma grande calamidade acaba de pesar sobre esta cidade!
Os terríveis efeitos do tremendo tufão, importando em graves perdas, levaram a desolação e a desgraça, aonde ainda há pouco reinava o bem estar e a alegria!.
Respeitemos os decretos da Previdência, mas não se abata por isso o nosso ânimo, e juntemos os nossos esforços para remediar os males que não nos era dado evitar .
Macenses! Trabalhai corajosamente para reconquistar o perdido, e confiai na autoridade que há-de velar pela vossa segurança; há-de acudir aos aflitos e há-de prover de pronto à s mais instantes necessidades públicas!
macaenses! Colaborai nobremente nesta grande empresa e tende fé que vereis ainda elevar-se esta antiga possessão portuguesa ao estado florescente em que há pouco se achava»
Os estragos e as perdas causadas foram enormes. Muitos pobres, tanto portugueses como chineses, achavam-se reduzidos às extremidades da fome. Os bairros de S. Lázaro e Santo António encontravam-se em ruínas , sob os montões jaziam muitos cadáveres.
O Hospital S. Rafael ficou destruído e o Hospital Militar de S. Januário seriamente abalado. Por oferta do Governador do Bispado, foi aproveitado o Paço Episcopal para hospital.
Por avaliação feita pelo Procurador dos Negócios Sínicos sabe-se que os estragos causados nos prédios dos chineses deram um prejuízo superior a cem mil patacas. Mais de 700 lorchas grandes de comércio e pesca se perderam completamente. Calculou-se em mais de mil o número das lorchas pequenas que foram destruídas. Todas as embarcações perdidas foram avaliada em quase um milhão de patacas. A perda de mercadorias foi avaliada em cerca de 432 mil patacas. Calculou-se em quatro mil o número de chineses mortos e Macau e mil os mortos na ilha da Taipa.
Os cadáveres forma queimados uns e sepultados outros.
Os portugueses que sucumbiram e forma sepultados no Cemitério de S. Miguel foram 20, sendo 14 homens , 4 mulheres e 2 crianças.
Foram calculados em 300 mil patacas os prejuízos havidos nas propriedades dos portugueses, estando neste número incluídos os prejuízos sofridos pela administração dos bens das Missões Portuguesas e por algumas instituições de beneficência.
Anteriores referências a este tufão
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-ii-incendio-no-bairro-de-santo-antonio/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-tufao-e-o-farol-da-guia/
E sobre tufões:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/tufoes/
Recordo aqui mais uma vez o violentíssimo tufão que assolou Macau nos dias 22 e 23 de Setembro de 1874. (1)
A seguir, descrição do tufão e seus efeitos em Macau que foram relatados pelo Eng. Carlos Alves, baseados nos relatórios oficias de então. (2)
“Este tufão, assolando rijamente a Colónia, durante uma dezena de horas, quási a reduziu a ruínas, em grande parte tisnadas por um temeroso incêndio que, no àcume do tufão, irrompeu no bairro de S. António. O cômputo das vítimas acusou 4000 mortos e enormes estragos, materiais em terra e no mar, onde centenas de embarcações se perderam, envoltas em alterosas vagas, nunca vistas naquelas paragens. Em violência e desastrosos efeitos, excedeu quantos eram lembrados nos séculos já decorridos.
No distrito de Heung-san, vizinhos da península de Macau, morreram mais de 20.000 pessoas, segundo constava, em Hong Kong os estragos foram imensos… (…)
… Amanhecera o dia 22 com o céu límpido e sereno, adoçando a brisa nortenha as prim eiras ardências do sol. O barómetro estava quieto, marcando a pressão normal correspondente ao mês. Havia dias que o alvorecer não se apresentava tão belo e suave… (…)
… A meio do dia, o firmamento começava a forrar-se de nuvens que aumentavam incessantemente, parecendo dispôr-se em camadas. As mais altas tinham o aspecto de cúmulos-estractos, formando cúpula a nuvens mais baixas e dispersas, de formação ovoide, que mudavam suavemente de forma, sem movimento aparente. O aspecto destas nuvens era sombrio, quási fuliginoso, com reverberações arroxadas ou bronzeadas…
Uma várzea nos arredores de Macau onde se encontrou o navio “Concórdia”que estava ancorado no Porto Interior antes da passagem do Tufão de Setembro de 1874 (3)
NOTA: “22-09-1955 – Comemorando o 81.º aniversário do histórico tufão que em 1874 assolou esta cidade destruindo grande número de edifícios públicos e particulares e fazendo numerosas vítimas, realizou-se, segundo o voto da população, no dia 22 do corrente, um solene «Te-Deum», cantado na Sé Catedral. (MACAU Boletim Informativo ANO III, 1955).
(1) Anterior “post” sobre o mesmo tufão
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-tufao-e-o-farol-da-guia/
(2) ALVES, Carlos – Os Tufões do Mar da China. Separata da Revista «Técnica», 1931, 12 p.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/13/leitura-os-tufoes-do-mar-da-china/
(3) Fotografia retirado de:
NATÁRIO, Agostinho Pereira – Tufões que Assolaram Macau. Serviço Meteorológico de Macau, Macau, Imprensa Nacional, 1957, 20 p + 26 p. (gráficos, mapas e fotografias),
Ver em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/07/06/leitura-tufoes-que-assolaram-macau-i/