Por decreto de 5 de Julho de 1865, passaram os procuradores da cidade que desde 1853 eram eleitos pelo povo, a ser de nomeação régia, sob proposta do Governador feita de entre os elegíveis para vereadores (1) (2) (3)
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) “5-07-1865 – Decretada a desvinculação total e definitiva da Procuratura em relação ao Senado. Por decreto desta data o Procurador foi desligado do Senado. O Procurador dos Negócios Sínicos de Macau desempenha, em conformidade com o Decreto desta data, as funções de Administrador do Concelho de Macau, acumulando-as ainda com as de membro da Junta da Justiça e Vereador da Câmara Municipal. Procuradores do Senado de Macau : 1865 -1866 – José Bernardo Goularte. SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 174; Volume IV, 2015, p. 62.
(3) Almanach Luso Chinez para o anno de 1866, p. 43
Aconselho leitura de ARESTA, António – Os estudos sínicos no panorama da história da educação em Portugal. In: Administração: revista de administração pública de Macau. – Volume X, nº 38 (Dezembro 1997), p. 1045-1070. https://www.safp.gov.mo/safppt/magazines/WCM_003513
Em Fevereiro de 1942, chegam a Macau os primeiros grupos de refugiados de Hong Kong. São recebidos naturalmente entre familiares e amigos. O desporto e a arte reviveram com os novos elementos de Hong Kong que era preciso ocupar, animar. Um exemplo flagrante e ainda hoje lembrado foi o concerto de caridade que houve no Cine-Teatro Apolo, que mandou alargar o palco para caber a orquestra, de mais de cem instrumentos; dela faziam parte seis baixos, oito violoncelos, quatro pianos, etc, contando ainda o acompanhamento de um coro de para cima de cem figuras. Em vez de 200 mil, (1) Macau albergou 500 mil habitantes nesta época. Só em Novembro de 1945 é que se iniciou a repatriação dos refugiados portugueses de Macau para Hong Kong e tudo começou a voltar ao normal. (2)
(1) 1941 – A população de Macau (aumentada desde 1937 com os refugiados de Xangai e Cantão) subiu de 150 mil pessoas, em Dezembro deste ano, para 450 mil, logo nos primeiros meses de guerra (Fevereiro e Março de 1942) e chegou aos 500 mil. Depois da rendição do Japão desce para cerca de 150 mil. Em 20-12-1941, o B.O. n.º 51 publica avisos e anúncios sobre a distribuição de senhas de racionamento à população que se inicia a 23. (2)
(2) TEIXEIRA, P. M. – Macau Durante a Guerra, 1991, pp 33 -49); SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, pp. 271 e 274.
Anteriores referências aos refugiados: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/05/13/noticia-de-13-de-maio-de-1942-colegio-yuet-wah/
“Após prolongado sofrimento que o trazia prostrado no leito há mais dum ano, faleceu, na sua residência n.º 71 da Rua da Praia Grande, vitimado por uma tuberculose pulmonar, no dia 6 do corrente, o Sr. Leôncio Alfredo Ferreira, com 69 anos de idade. O funeral realizou-se no dia seguinte, às 17 e meia horas”.(1)
Nascido em Macau a 15 de Maio de 1849, era filho de D. Maria Gualdina Gonçalves, natural de Macau, e de João Eleutério Ferreira, nascido em Portugal. (2) Fez os seus estudos na «Escola Macaense» e transitou para o Seminário de S. José, onde foi sempre aluno distintíssimo, distinguindo-se em todo o seu curso pela sua aplicação, aproveitamento e comportamento exemplar, ganhando inúmeros prémios e referências elogiosas da imprensa.
Terminado no Seminário de S. José, o seu curso com distinção, dirigiu-se para Goa a fim de estudar Jurisprudência, regressando a Macau depois de formado. Estudioso apaixonado da língua chinesa, conhecedor profundo da mentalidade e psicologia dos chineses, revelou-se não só um valoroso intérprete mas mais especialmente um medianeiro inteligente nas relações destes como nosso governo.
Casou na Sé Catedral de Macau em 27 de Setembro de 1881, com Maria José Pereira (1861-?). Segunda núpcias, em 20 de Dezembro de 1894, com sua tia por afinidade Ana Teresa Vieira Ribeiro (condessa viúva de de Senna Fernandes). Não deixou filhos.
Além de advogado de provisão, professor da Escola Municipal e jornalista, (3) desempenhou os altos cargos públicos, com distinção e aprumo moral que eram o timbre do seu carácter integérrimo, enumerando aqui alguns dos cargos: pela Portaria n.º 82 de 20 de Julho de 1825, foi nomeado Secretário da Comissão Administrativa da Santa Casa de Misericórdia; pela Portaria n.º 106, de 8 de Novembro de 1875, foi nomeado Delegado interino da Comarca de Macau de que, porem, se escusou, em 5 de Julho de 1876
Comentando este caso alguém escreveu no «Jornal de Macau» n.º 29 de 24 de Novembro de 1875: “O Senhor Leôncio Ferreira que exerceu com zello e intelligencia o lugar de procurador da coroa, d´esta vez entendeu que não devia aceitar semelhante cargo porque não quer aferir pela balança por onde são pezados os membros da exma. Junta, que estão no equilíbrio das ilegalidades, em quanto se não justificarem das acusações que lhe hão feito” (1)
Pela Portaria n.º 97, de 23 de Dezembro de 1876, foi nomeado Administrador interino do Concelho de Macau, cargo que anteriormente já vinha desempenhando; em 23 de Setembro de 1879 foi nomeado pela Portaria n.º 118, administrador efectivo.
Pela Portaria n.º 67 de 27 de Julho de 1877, foi exonerado do cargo de secretário da Comissão Administrativa da Santa Casa sendo nomeado Pedro Nolasco da Silva para o substituir (Portaria n.º 75 de 3 de Agosto de 1877); pela Portaria n.º 53 de 14 de Agosto de 1878, foi nomeado Procurador interino dos Negócios Sínicos. Exonerado em Setembro de 1879, para tomar posse, em 23 de Setembro, (Portaria n.º 118) do cargo de Administrador efectivo do Concelho de Macau. (até 1881). (4)
No dia 17 de Maio de 1881, António Joaquim Bastos Junior foi demitido do cargo do procurador dos negócios sínicos, para que havia sido interinamente nomeado por portaria n.º 56. Leoncio Alfredo Ferreira foi nomeado para o mesmo cargo. (BGPMT n.º 21 de 21 de Maio de 1881); pela Portaria n.º 81, de 12 de Novembro de 1881, foi nomeado Presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa de Misericórdia; pela Portaria n.º 117 de 27 de Outubro de 1883, foi nomeado cônsul de 1.ª classe, em Shanghai (1883-1884).
Pela sua diplomacia, inteligência e valor demonstrados no desempenho desta missão, foi condecorado pelo Governo Central de Lisboa com o Grau de Oficial da Torre e Espada por Diploma de 23 de Janeiro de 1896.
Pela Portaria n.º 22, de 1 de abril de 1885, foi nomeado vogal do Conselho Inspector de Instrução Pública.; pela Portaria n.º 144, de 20 de Dezembro de 1898, foi louvado pela Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, pela maneira como se houve durante a epidemia de petes bubónica que assolou Macau, de Fevereiro a Julho desse ano, no desempenho dos serviços de higiene e desinfecção; pela Portaria n.º 145, de 5 de Dezembro de 1902, foi nomeado Vogal do Conselho de Governo da Província.
Dados biográficos extraídos de : «Macau Boletim Informativo», II-27 de 15 de Setembro de 1954, pp. 11-12; FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses Volume I, pp. 1077-1078; e o livro referenciado em (1)
(1) TEIXEIRA, P. Manuel- Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX, p. 449-497.
(2) João Eleutério Ferreira (c.1785 – 1872) nasceu em Coimbra, Portugal, vindo para Macau casou, nesta cidade, pela 1.ª vez em 1830 e pela 4.ª vez com Maria Galdina Fernandes, filha de Vicente José Fernandes e de Ricarda Constantina Fernandes e irmã de Bernardino de Sena Fernandes (1.º Barão, 1.º Visconde e 1.º Conde de Sena Fernandes), de quem teve apenas um filho, Leôncio Alfredo Ferreira.
(3) Em favor dos Jesuítas, expulsos de Macau publicou um opúsculo, intitulado: “Um brado pela verdade ou a questão dos Professores Jesuítas em Macao e a Instrução dos Macaenses, Macau, Tipographia Mercantil, 1872.
(4) Na sua qualidade de Administrador do Concelho fez o relatório sobre a morte trágica co coronel Mesquita. (1)
NOTA 1: A Câmara de Macau decidiu honrar a sua memória atribuindo o seu nome à «Rua Leôncio Ferreira» – começa na Avenida de Sidónio Pais, a entrada da Rua de Silva Mendes, e termina na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, entre os prédios n.ºs 58-H e 60.
NOTA 2 : Aconselho a leitura dos trabalhos de António Aresta, intitulados ” O Pensamento Moral de Leôncio Alfredo Ferreira”, e “A Sinologia Portuguesa: um esboço breve” disponíveis para leitura em: https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/15959.pdf e http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30032/1963
Anteriores referências neste blogue em: em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/leoncio-alfredo-ferreira/
“16-11- 1915 – Aforamento de um terreno com a área de 4.000 m2 sito na Estrada dos Parses, a pedido de Francisco Xavier Anacleto da Silva. Ali mandou construir uma das mansões actualmente classificadas como património arquitectónico de Macau, Vila Alegre, hoje Colégio Leng-Nam”. (1) Idêntico pedido de aforamento de um terreno sito na colina de S. Januário em nome de Francisco Xavier Anacleto da Silva, consta no Processo n.º 42 do A. H. M. de 06-19-1916. (2)

A construção do palacete Vila Alegre, hoje escola “Leng Nam” bem como a Casa Branca ou casa Nolasco da Silva, sua vizinha, hoje Autoridade Monetária e Cambial, iniciaram se em 1917. Foram mansões residenciais respectivamente dos advogados macaenses Francisco Xavier Anacleto da Silva e Luiz Nolasco da Silva construídos mais propriamente na encosta da colina de S. Jerónimo., segundo um projecto do Eng. John Lamb, de Hong Kong. (1) (3)
A Vila Alegre só foi concluída em 1921, porque a mulher do proprietário, que tão entusiasticamente tinha escolhido as linhas arquitectónicas de uma casa que apreciou em Xangai- e que mandou fotografar – faleceu de parto e as obras foram suspensa. (1) Em 1937, a mansão senhorial de Francisco Xavier Anacleto da Silva – Vila Alegre – deu lugar à instalação da Escola Secundária Leng Nam/Ling Nam (posteriormente ampliada com um edifício anexo (1)

Nota à foto anterior: o porto exterior ainda sem os aterros de 1923 com o sudeste da Colina da Guia (à direita) banhado pelo mar. Moradias: dt para esq. No sopé da Guia, a casa de Silva Mendes; a casa Nolasco da Silva e a seguir, Vila Alegre na encosta da colina de S. Jerónimo, em 1920 e no topo desta colina, o Hospital Militar São Januário (inaugurado em 1874)
Francisco Xavier Anacleto da Silva, (1883-1946) que teve como seu padrinho de baptismo, o Cónego Francisco Xavier Anacleto da Silva (1815-1888), estudou no Liceu de Macau e iniciou a sua vida na carreira de intérprete sinólogo. (4) Fez depois exame para advogado provisionário. (5) Foi Presidente do Leal Senado, (08-01-1921 – 14-06-1922; 02-04-1928 – 15-01-1930), (6) vogal do Conselho Legislativo, do Conselho Inspector da Instrução Pública e do Conselho da Administração das Obras do Porto. Comendador da Ordem de São Gregório Magno, da Santa Sé (7) e senador por Macau durante a 1.ª República. (8) Viúvo de Maria Bernardina dos Remédios, casou em Macau (2.ª núpcias) a 29-V-1920, com Leolinda Carolina Trigo (1891 – 1983), filha de Adriano Augusto Trigo, Director das Obras Públicas entre 1919 e 1925. (9)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 4 (1997) e Volume III, 3.ª edição, 2015, pp. 33, 85, 96, 175, 256, 288)
(2)06-09-1916 – Processo n.º 42 – Série A – Pedido de Francisco Xavier Anacleto da Silva, do aforamento de um terreno sito na colina de S. Januário (Boletim do Arquivo Histórico de Macau, Tomo I (Janeiro/Junho de 1985), p. 167) – A.H.M.-F.A.C.P. n.º 37 – S-A
(3) Na 1.ª edição do Volume 4 da “Cronologia da História de Macau” (1997), p. 138, informação de que o projecto da mansão “Vila Alegre” poder ter sido do Engenheiro macaense José da Silva, mas essa informação não surge na edição reformulada e aumentada de 2015 (1)
(4) “18-01-1909 – Nomeação de Francisco Xavier Anacleto da Silva, intérprete-tradutor de 2.ª classe da Repartição do Expediente Sínico, para, durante o impedimento do respectivo titular, desempenhar o lugar de Professor da cadeira da língua Sínica do Liceu Nacional” (1)
(5) REGO, José Carvalho e – Notícias de Macau 7-04-1968 inTEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol. II, 1997, p. 437)
(6) “11-01-1916 – Nomeação do Presidente do Leal Senado da Câmara, Francisco Xavier Anacleto da Silva, para desempenhar as funções de Administrador do Concelho de Macau, durante o impedimento do proprietário Daniel da Silva Ferreira júnior” (A.H.M.-F.A.C.P. n.º 356 –S-N)-Arquivos de Macau, Boletim do Arquivo Histórico de Macau, Tomo I (Janeiro/Junho de 1985) , p.195.
(7) “28-10-1925 – Festa importante da entrega da Comenda da Ordem de S. Gregório Magno, concedida por S. S. o Papa Pio XI ao macaense Sr. Francisco Xavier Anacleto da Silva, Senador por Macau. (1)
(8) 1949 – Francisco Xavier Anacleto da Silva é o 1.º macaense a ter «assento em S. Bento». Esta a referência colhida em Macau na V Legislatura da Assembleia de Nacional, 1949-1953», Macau, U.N., 1953, pág 23, a propósito da eleição de António Maria da Silva, irmão do primeiro e que igualmente vem a ser eleito Senador da Republica (1)
(9) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol II, 1997, p. 434)
Edital da Procuratura Administrativa dos Negócios Sínicos proibindo o transporte de cadáveres pelas ruas da cidade, às costas de carregadores.


Edital do Administrador do Conselho e Comissário da Polícia, interino, Afonso da Veiga Cardoso (capitão do quadro privativo das forças policiais) sobre o comportamento dos grupos carnavalescos nomeadamente:
– A exibição de danças e músicas, paródias e grupos carnavalescos cujos directores não tenham obtido a necessária licença do Governo da Província, não podendo os mesmos solicitar, sob pretexto algum, esmolas ou dádivas;
– Atirar das casas, ruas e outros lugares quaisquer coisa que possam molestar, sujar ou, por qualquer forma, incomodar as pessoas ou deteriorara as suas propriedades;
– A divagação de mascarados no bairro chinês;
– A apresentação de mascarados com trajos ofensivos das crenças religiosas, da moral e dos bons costumes.
Extraído de «BOGPM», n.º 4 de 23 de Janeiro de 1926.