Continuação da descrição do tufão, relatado pelo Eng Carlos Alves em (1), focando o incêndio que deflagrou no dia 23 de Setembro de 1874 no Bairro de S. António.
“… A refrega continuava e desmedida, parecendo que tudo se arrasava sob a ira combinada do vento e de mar. As casas abatiam umas atrás das outras, os telhados voavam, juncando as ruas de destroços. A cidade cobria-se ràpidamente de ruínas que eram outras tanta que eram outras tantas sepulturas de vítimas. Dir-se-hia um sinal dos tempos, anunciando o fim do mundo. Só faltava um elemento aos que trabalhavam na destruição da cidade: o fogo, a coroar o arraial sinistro! Tomando nascença nas fábricas de chá, pelo abatimento dos tectos sobre as fornalhas, rebentava em diferentes sítios, parecendo lançado por mãos facínoras, o que depois se verificou não ser verdadeiro, por impossível…(…)
No bairro de Sto António centenas de pessoas corriam dum para outro lado, buscando salvarem-se daquele pavor e sem ter para onde, pois o fogo parecia lavrar em círculo. Muitas pessoas assim pereceram prisioneiros das chamas, por não terem atinado com as saídas do braseiro…”
Aspecto da Igreja de Santo António após o tufão e incêndio de 1874
“Este tufão – o maior de toda a história de Macau – inundou os edifícios da Praia Grande, destruindo os arquivos do Palácio do Governo e também os da casa e igreja paroquial de S. António, que ardeu com todo o seu recheio. Depois do tufão, quando o chefe de qualquer repartição pedia aos seus subordinados que procurassem um documento antigo, a resposta era sempre a mesma:
– Desapareceu no tufão de 1874.
E pronto, isto salvava-os de buscas enfadonhas.
Este estribilho pegou e continuou durante dezenas de anos. Ora sucedia, que já neste século, alguns chefes ao pedir documentos de 1900 ou de 1910, ouviam a resposta consagrada:
– Não existem, desapareceram no tufão de 1874 !!! » (2)
Este violentíssimo tufão destruiu grande número de edifícios públicos (o Farol da Guia ficou destruído) (3) e particulares causando numerosas mortes. Foram também grandes os estragos causados na Taipa e Coloane.
(1) ALVES, Carlos – Os Tufões do Mar da China. Separata da Revista «Técnica», 1931, 12 p.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/13/leitura-os-tufoes-do-mar-da-china/
VER: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-i/
(2) TEIXEIRA, Pe. Manuel – Toponímia de Macau – VOL I , pp 137 138)
(3) COLOMBAN, Eudore de – Resumo da História de Macau p. 129.
Anteriores “posts” sobre o mesmo tufão:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-tufao-e-o-farol-da-guia/
[…] Portuguesas e por algumas instituições de beneficência. Anteriores referências a este tufão https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-h… […]
[…] “… As labaredas sopradas fogosamente pelo vento, que corria sem rumo certo e em desencontradas direcções, ganhavam as casas vizinhas e, dentro em pouco, eram bairros inteiros que ardiam. O clarão, que era enorme, espelhava-se num mar revolto e acendia as nuvens. Era belo e espantoso o espectáculo que os olhos viam, presos de horror e de maldição. Sôbre o fundo vermelho avultavam as paredes tisnadas das casas e as árvores sem copa e sem ramos. A formosa egreja de S. Paulo, edificada pelos jesuítas em louvor da Mãe Deus, numa pequena eminência, logo abaixo da fortaleza do mesmo nome, dominando uma grande parte da cidade, antes de ser tomada pelas chamas, estava deslumbrante, iluminada pelo clarão vivíssimo que a cercava. Parecia que a sua opulenta fachada, de boa fábrica arquitectónica, se afogueava num vermelho translúcido, como que engastada no anel de fogo que a rodeava. Nuvens de fumo e de poeira das derrocadas vizinhas toldavam-na de quando em quando, realçando assim, por contraste, o seu deslumbramento aos olhos de alguns de maior força de ânimo….” A descrição do tufão e seus efeitos em Macau, baseados nos relatórios oficias de então, relatados pelo Eng. Carlos Alves (ALVES, Carlos – Os Tufões do Mar da China. Separata da Revista «Técnica», 1931, 12 p.) (1) «GAZETA DAS COLÓNIAS», ANO I, N.º 2, Lisboa, 10 de Julho de 1924. (2) Foi nos dias 22 e 23 de Setembro de 1874. Causou cerca de 4 000 mortos, (enterrados ou queimados para evitar epidemia), prejuízos da ordem de 1 milhão de patacas, as povoações da Taipa e Coloane quase que desapareceram. Destruiu grande parte do edifício do Leal Senado. A escuna Príncipe Carlos encalhou dentro da Ilha da Lapa; a canhoneira Camões encalhou numa várzea de arroz, a canhoneira Tejo aguentou-se apesar dos encontrões dos barcos desgarrados e foi parar à fortaleza da Barra; as vagas arrasaram a costa desde o forte de S. Francisco até à Barra arrombando das casas da Praia Grande, inundando os andares térreos. Dos estragos do tufão acrescenta-se aos do incêndio. As ruas do bazar só a nado se podia passar e graças às águas da inundação, ajudaram a extinguir os incêndios, tarefa que começou logo que o vento permitiu que as pessoas se aguentassem de pé. Anteriores referências a este tufão em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1953-te-deum-em-cumprimen-to-do-voto-macau-e-o-tremendo-tufao-de-1874/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-tufao-e-o-farol-da-guia/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-h… […]
[…] https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-h… […]
[…] https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-h… (1) POSTAL da “Union Postale Universelle” (The Hong Kong Pictorial Postcard Co. P. O. Box N.º […]