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Despacho de 20 de Fevereiro de 1924, do governador Rodrigo José Rodrigues , publicado no dia 23 de Fevereiro desse ano, pela Repartição do Gabinete no “Boletim Oficial” (1), em que louva o chefe da polícia de investigação criminal Lao Ngai, pela habilidade e grande zêlo nas suas diligências a que procedeu em Cantão para o descobrimento dos falsificadores de notas do Banco Nacional Ultramarino e apreensão das máquinas empregadas nesse fabrico.

 (1) «BOGPM», n.º 8 de 23 de Fevereiro de 1924, p 113

Louvor pela coragem, abnegação e sangue frio com que agiu para salvar as vidas e material do Estado confiado à sua guarda, 1.º fogueiro (encarregado de alimentar as fornalhas das caldeiras nos navios de vapor) Hermínio Gonçalves.

Extraído de «BOGPM», n.º 26 de 27 de Junho de 1925, p. 449

Após a governação do capitão médico Rodrigo José Rodrigues (5-01-1923 a 16-07-1924), ficou como governador interino, pela 2.ª vez, o coronel do Quadro de Macau e Timor, Joaquim Augusto dos Santos de 16 de Julho de 1924 a 18 de Outubro de 1925. (1) O governador seguinte, Manuel Firmino de Almeida Maia Magalhães, oficial do Estado Maior, também esteve no cargo pouco tempo (8-10-1925 a 22-07-1926). (2)

(1) O B.O. n.º 28 nomeia o Coronel Joaquim Augusto dos Santos para interinamente, substituir o Governador Rodrigo José Rodrigues, enquanto ausente. O nomeado entra em funções dois dias depois. A 29 de Julho, a Secretaria – Geral do Governo, instala-se provisoriamente no Palacete da Flora  (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, p. 164)

(2) B.O. n.º 43, tomada de posse do cargo de Governador de Macau, Manuel Firmino de Almeida Maia Magalhães, que exerce por cerca de dez meses. O governador embarca para Lisboa a 11 de Agosto de 1926. Durante o seu curto mandato foi preciso lidar com a fome e a sede, por falta de fornecimentos, quer por via das Portas do Cerco quer por via de Hong Kong, onde as greves se multiplicavam e os piquetes atrapalhavam a circulação de pessoas e bens e também com o episódio da apreensão, em 15 de Junho de 1926, da 2.ª edição do livro “Historic Macao” (3) de Carlos Augusto Montalto de Jesus. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, pp. 174-175)

(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/06/15/noticia-de-15-de-junho-de-1926-historic-macao/

Autor não identificado, sem data, do  Instituto de Investigação Científica Tropical, Agência Geral de Ultramar, Copyright Arquivo Histórico Ultramarino
https://actd.iict.pt/view/actd:AHUD21581

A escola infantil (1) que estava na Rua Central até 1933, (2) começou a funcionar no novo edifício construído no Jardim da Flora, no dia 2 de Outubro de 1933, segunda-feira. O projecto foi delineado pelo engenheiro Luís Miranda, (3) que tomou a direcção das obras, sendo estas confiadas ao empreiteiro Choi Lok. Porém a 5 de Maio de 1933, o engenheiro Luís Miranda oficiou à Câmara, dizendo que não sabia a quem entregar a direcção e fiscalização das obras, visto Gastão Borges não querer assumir essa fiscalização e não pretender ele, Miranda, continuar à testa das mesmas, pois estava desligado desse serviço desde 8 de Abril. A Câmara, a 17 de Maio, incumbiu o Dr. José Pereira, (4) da direcção e fiscalização dessas obras com a remuneração mensal de $100,00. Foi este que fez o projecto do muro da vedação.

Após a II Guerra Mundial, foi-lhe dado o nome de Escola Infantil “D. José da Costa Nunes”. Em 1946 (Diploma Legislativo n.º 925 de 1946) torou obrigatório o ensino infantil e primário para todas as crianças desde os 5 aos 14 anos. Em 1997, a Escola sofreu remodelação e ampliação com o projecto de arquitectura de Mário Duque, com o nome de «Jardim de Infância D. José da Costa Nunes», instituição de educação pré-escolar privada sob a tutela da antiga e prestigiada “Associação Promotora da Instrução dos Macaenses”.

A Escola Infantil e o Parque Infantil em 1940

 (1) O 1.º Regulamento do ensino Primário das Escolas de Macau (B.O. n.º 27 de 06-07-1918) estabeleceu no seu art.º 2, duas categorias do ensino; infantil e primário. As classes infantis, eram destinadas à educação e ensino das crianças de 5 a 7 anos.

Extraído de «BOGPM», XVIII, n.º 27 de 6 de Julho de 1918, p. 487

Há uma mesma informação, datada de 27-07-1918 (5) e outra de 1 -11-1923 (6) em que o Leal Senado solicitava ao Governador a cedência temporária do Palacete da Flora e Jardim da Flora para nele se instalar a Escola Infantil até que o Senado mandasse construir um edifício próprio. Mas o Governador Rodrigo Rodrigues em 1923, respondeu não ser possível prever quando o edifício poderia ter aplicação, em virtude de não terem ainda principiado as obras de adaptação do mesmo a Jardim de Infância (criado em Macau – Boletim Oficial n.º 6 de 10-02-1923) que seria instalado no Palácio e Jardim da Flora.

NOTA I – A 26 de Abril de 1923, foi aprovada com 15 valores D. Laura Castelo Branco da Costa Mesquitela no exame de concurso para a vaga de professora da Escola Infantil a cargo do Leal Senado, que instalou a escola na Rua Central.

Extraído de BOGPM XXVIII-n.º 18 de 5 de Maio de 1923, p. 298

Chamo a atenção para este digníssimo júri: Manuel da Silva Mendes, Camilo de Almeida Pessanha, Alfredo Rodrigues dos Santos, Constâncio José da Silva e Carlos Borges Delgado

Extraído de »ANUÁRIO DE MACAU DE 1924», p. 409

No ano lectivo de 1923 a 1924 matricularam-se nesta escola 63 crianças e em 1924-25, 105, sendo o ensino ministrado por 3 professoras. (6)

(2) Padre Teixeira refere que a Escola Infantil funcionava em 1923 provisoriamente na Escola de S. Rosa de Lima, esperando que se realizasse a transferência das escolas centrais (5)

(3) Luís Xavier Correia da Graça e Miranda era engenheiro Adjunto da Direcção dos Serviços das Obras Públicas

Extraído de «Directório De Macau», 1932, p. 513: 1933, p. 506; 1934 p. 447

(4) Extraído de «B. O. C.M»,  n.º 21 de 27 de Maio de 1933, p. 547

(5) A.H.M. – F.A. C. P. n.º 247 – S-E in SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997)

(6) TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982,p.66

Anteriores referências em https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/01/27/leitura-a-educacao-em-macau-em-1940

Sobre este mesmo tema, aconselho leitura de: SOUSA, Ivo Carneiro de – Jardim de Infância D. José da Costa Nunes 2010-1020 Um Projecto educativo https://www.academia.edu/25549352/Jardim_de_Inf%C3%A2ncia_D_Jos%C3%A9_da_Costa_Nunes_Projecto_Educativo_uma_escola_inclusiva_cooperativa_e_multicultural

Continuação da divulgação dos postais da colecção “A Harmonia das Diferenças” – fotografias do princípio aos meados do século XX (1902 -1950) – publicados pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. M / Arquivo Histórico de Macau, em 2015. (1)

Hoje, duas fotografias referentes ao ano de 1926, especificamente relacionadas à Exposição Industrial e Feira de Macau, projectada pelo Governador de Macau Dr. Rodrigo Rodrigues (1923-1924) já em 1923, mas que por vicissitudes várias só permitiram a sua concretização em 1926.. Esteva aberta de 7 de Novembro a 12 de Dezembro de 1926, quando o Director da Construção do Porto, Hugo de Lacerda, estava em funções como Governador Interino. (2)

Entidades no acto inaugural da Feira Industrial de Macau de 1926. “No estrado central tomaram assento o Governador da Colónia, tendo à sua direita o Governador do Bispado, Reverendo A. J. Gomes, o Presidente do Leal Senado Damião Rodrigues e à esquerda, o Presidente da Comissão da Exposição, o Engenheiro Carlos Alves, o Professor Chan, representante da Associação Comercial Chinesa e o Sr, Frederick Gellion, manejante da Macau Electric.”(3)
Verso do postal
Pavilhões das escolas de Macau na Feira Industrial de Macau, de 1926
Verso do postal

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/03/12/postais-coleccao-macau-a-harmonia-das-diferencas-i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/03/16/postais-coleccao-macau-a-harmonia-das-diferencas-ii/

(2) Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/exposicao-industrial-e-feira-de-macau/

Outras referências: MORAIS, José Simões – A Exposição Industrial de Macau de 1926. HojeMacau de 4-11-2016 https://hojemacau.com.mo/2016/11/04/a-exposicao-industrial-de-macau-de-1926/ BOTAS, João – A Primeira Feira Industrial de Macau (1926). JTM de 20-11-2014 https://hojemacau.com.mo/2016/11/04/a-exposicao-industrial-de-macau-de-1926/

(3) https://hojemacau.com.mo/2016/11/11/discurso-de-abertura-da-exposicao-industrial-de-macau/

A Escola Chinesa «KUNG KAO HOC HAU», também conhecida pelos chineses como a mansão do Choi Lok Chi, nome em chinês de Joel José Choi (Anok) (1) foi mandada construir, em 1916 por um grupo de católicos (entre eles, Joel José Choi) para servir de escola católica e o prédio situa-se na Calçada da Igreja de S. Lázaro, n.º7. (2)

FOTO DE 1927 – ESCOLA CHINESA «KUNG KAO HOC HAU»

No “Anuário de Macau de 1927” refere a «Escola Kung Kao (Cong Cao)» (3) como de ensino em língua chinesa e inglesa e nesse ano tinha um total de 400 alunos e 5 professores.
No «Anuário de 1938», a escola «Kung Kao» estava indicada na Rua Nova de S Lázaro, n.º 1 com 94 alunos e no «Anuário de 1934» – «Kong Káo» na Rua Nova de S. Lázaro, 102  alunos.

FOTO DE 1927 – ESCOLA CHINESA «KUNG KAO HOC HAU» (1.ª CLASSE)

A 22 de Julho de 1916, foi lançada a primeira pedra para a construção duma escola chamada Kung Kao (religião Católica), deveu-se à iniciativa de José Choi Anok, Chan Chee, Francisco Tse Yat, Filip Tam, Francisco Xavier dos Remédios, Paulo Hui e Padre Jacob Lau.
As obras arrastaram-se por falta d dinheiro e o edifício só foi inaugurado a 27 de Maio de 1923; a escola só começou a funcionar a 1 de Setembro desse ano com 100 alunos.
O corpo docente compunha-se de dois professores de português – Com Jacob Lau e Padre Júlio César da Rosa e dois professores de chinês – Lei Yau Sam e Liu Fai Mang. (4)
O governador Rodrigo José Rodrigues, por Portaria n.º 108, de 4-06-1923, diz que, tendo assistido à inauguração do edifício da escola Primária Luso-Chinesa Kung Kao Hok Hao, que um grupo de cidadãos, por seu único esforço, dedicação e contribuição conseguiu erigir, “louvava em primeiro lugar Joel José Choi (Anok)) e ainda todos os cidadãos portugueses e chineses que concorreram para a edificação dessa escola.
Por proposta n.º 35,de Junho de 1924, foi concedido a esta escola a partir de 1-07-1924 um subsídio anual de 1.296$00 para manter uma aula de ensino de língua portuguesa.
O Dr. Nascimento Leitão dizia em 1923:
Hong Cao: – Rua do Monte, 4 – Tem 103 alunos, 11 dos quais do sexo feminino.
As retretes consistem em 5 celhas de madeira, destapadas, sob o respectivo palanque a transbordar de fezes, retardadas. Já há meses pedi que substituíssem aquelas retretes por 5 de caixa, visto não terem água, tendo também recomendado o uso de óleo mineral pesado nos urinóis.
Visitando agora 2.ª e 3.ª vezes, verifiquei que as retretes continuam no mesmo estado. Dei o prazo de oito dias para a sua substituição”
Em 1942 fechou-se esta escola devido à crise da II guerra mundial.” (4)
(1) Joel José Choi Anok – 崔諾枝 (5) (1867- 1945) – Nanhai, província de Guangdong (agora distrito de Nanhai, cidade de Foshan). Filantropo quando se reformou dedicou-se em exclusivo a obras sociais. Foi vogal do Leal Senado, vogal do Conselho do Governo, vogal da Santa Casa da Misericórdia de Macau, presidente da Associação de Beneficência «Tong Sing Tong» (de 1939 até morrer), presidente da Associação Católica Chinesa, e antes da guerra do Pacífico, vice-presidente por mais de dez anos e presidente (por duas vezes) da Associação Comercial/ Câmara Geral de Comércio Chinesa de Macau (depois chamada Associação Comercial de Macau – alvará de 1912). Foi vice-presidente de 1927 a 1940 e presidente da Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu.
Foi agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo e várias distinções da Cruz Vermelha Portuguesa.(6)
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joel-jose-choi-anok/
NOTA: Joel José Choi, pai de Roque Choi (Roque Choi 崔乐其 (Cui Leqi) (7) tinha também uma casa principal na Calçada do Gaio, n.º20 que o seu filho Roque Choi herdaria após ter adquirido a quota da irmã. Esta casa manteve-se depois durante muitos anos desabitada e depois em ruínas e é nessas condições que me lembro, pois passava por esta rua frequentemente vindo e indo da minha casa, na Estrada de Cacilhas. Diziam as más-línguas que a casa estava assombrada. Esta casa e o seu terreno foi vendida em 2004 para se construir um prédio mas foi embargada, por ter a sua altura ter ultrapassado a quota de protecção da vista do farol da guia. Creio que continua a obra parada.
(2) Calçada da Igreja de S. Lázaro começa na Rua de Volong, em frente da Rua de João de Almeida e termina na Estrada do Repouso, próximo do cruzamento desta estrada com a Rua de Tomás Vieira. Tem uma escadaria de pedra junto da Rua de Sanches de Miranda.
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/06/04/leitura-macau-terra-da-doce-saudade-i/
(4) TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1982
(5) Joel José Choi Anok 崔諾枝mandarim pīnyīn: cuī nuò qí; cantonense jyutping: ceoi1 nok6 kei4
(6) Referências retiradas de JORGE, Cecília; COELHO, Rogério Beltrão – Roque Choi, um Homem dois sistemas Apontamentos para uma Biografia. Livros do Oriente, 2015, 221 p.
Ver recensão deste livro por Moisés Silva Fernandes em:
Análise Social, 222, lii (1.º), 2017 ; issn online 2182-2999
http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/AS_222_rec06.pdf
Ver anterior referência neste blogue:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joel-jose-choi-anok/
e em “UMA PASSEATA PELAS RUAS DE MACAU – TRAÇOS DE COMERCIANTES CHINESES FAMOSOS EM MACAU”
https://macaostreets.iam.gov.mo/showFile.ashx?p=macaustreets/doclib/635749087646668.pdf
(7) Roque Choi 崔乐其mandarim pīnyīn: cuī lè qí; cantonense jyutping: ceoi1 iok6 gei1

Cortejo do funeral – Lu Lim Ioc (31-7-1927), ao longo da Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida
Sem referência do editor

Lou Lim Ieoc/Ioc 盧廉若 (1877-1927), filho mais velho de Lou Kau/Cau (1837 – 1906), abastado comerciante (com vários  interesses comerciais entre este, acionista da «Nam Iong Tobacco Company», um dos proprietários do Banco Pou Hang, presidente da Companhia «Clube Internacional de Recreio e Corridas de Macau, Limitada»)e grande filantropo de Macau
Foi um dos fundadores da Associação Comercial de Macau. Presidente da Câmara de Comércio da China em Macau e do Hospital Kiang Wu (contribuiu para a reconstrução do Hospital), Presidente da Sociedade da Educação Chinesa (chegou a manter, à sua custa várias escolas), membro do Conselho Legislativo de Macau.
Tem o Título de honra da China durante a dinastia Qing, medalhado pela República Chinesa e em 1925 condecorado pelo Goverto Português com a Comenda da Ordem de Cristo (governava interinamente Macau Joaquim Augusto dos Santos, na ausência do Governador Rodrigo José Rodrigues)
Morreu a 15 de Julho d3 1927.


Cortejo do funeral – Lu Lim Ioc (31-7-1927), ao longo da Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida
Sem referência do editor

Infelizmente Lou Lim Ioc morreu cedo, segundo consta, vítima e apoplexia, tendo sido faustosos os seus funerais, e luzido o préstito que percorreu Macau em 31 de Julho de 1927. A urna com os seus restos mortais, seguiu para Cantão, onde veio a ser sepultado na encosta da colina conhecida por Pak San.
Lou Lim Ieoc teve 17 filhos das suas sete esposas, das quais só a primeira – aquela que usufruía, na China todas as prerrogativas de mulher legítima – habitava na sua luxuosa residência (herdado do pai Lou Kau que adquiriu um vasto terreno sito nas várzeas  próximas da velha aldeia de Mong Há, construindo uma confortável residência, rodeada por um idílico jardim em estilo palaciano conhecido por U Wó Un . Jardim de Recreio (hoje conhecido como jardim de Lou Lim Ieoc)
A despesa diária da sua casa orçava entre 5 a 7 contos, quantia muito elevada naquele tempo. Contudo, os seus rendimentos permitiam-lhe viver como um grande senhor.“ (TEIXEIRA, P- Manuel – Toponímia de Macau, Vol.I, 1979)

Cortejo do funeral – Lu Lim Ioc (31-7-1927), ao longo da Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida
Sem referência do editor

Anteriores referências a este filantropo e do seu pai bem como ao jardim da residência, em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/lou-lim-ioc/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/lou-cheok-chin-lu-cao/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jardim-lou-lim-ioc/

“O Correio Macaense“, V-230 de 17 de Fevereiro de 1888

A “Herbert Dent & Ca.” foi uma empresa em Macau ligada a negócios com a China (seda, chá e  ópio) e por isso, como agentes, ligada às companhias seguradoras e empresas de navegação.
O representante em Macau era D. da Roza (muito possivelmente Daniel Francisco António Campos da Rosa.(1)
A empresa , em 1888, estava na Rua da Sé; em 1910 na Rua dos Prazeres n,º 2 e 4
Em 1910, apresentava-se em Macau como:
No mesmo ano, em Cantão
Herbert Fullartoon Dent foi baptizado a 5 de Fevereiro de 1849 (Londres). Faleceu a 6 de Fevereiro de 1920 com 71 anos de idade. Foi Comissário das alfândegas chinesas (sedas e chás) e fundador da companhia “Herbert Dent and Company”, para comércio com a China (principalmente com o ópio que introduzia em Cantão). Vivia com a família entre Cantão e Macau.(2)
Herbert Fullartoon Dent é da família DENT que fundou “Dent & Co.”  ou “Dent’s” que foi uma das maiores firmas britânicas (rival directa das outras duas mais conhecidas, a «Jardine, Matheson & Co» e a «Russell & Co.»), que com o comércio do ópio com a China, levaram à entrega de Hong Kong e onde depois sediaram e prosperaram.
O seu antepassado Thomas Dent foi o  fundador da firma . Chegou a Cantão em 1823 e com o sócio fundaram a «Davidson & Co».  Em 1824, Davidson saiu e a firma passou a denominar-se “Dent & Co.”. A firma “Dent & Co.” foi à falência em 1867. (2)

“The London Gazette, 9 September, 1921”

Herbert Dent adquiriu o Palacete de Santa Sancha em 1893, aos herdeiros do Barão do Cercal (neta) após o falecimento da Viscondessa do Cercal (em 16 de Dezembro de 1892.) por 8.000 patacas.
Em 1896, teve um processo entre a Administração e o proprietário, Herbert Dent, processo esse que envolveu a Direcção Geral das Obras Públicas, que não cedia que o proprietário murasse a propriedade.
A 28 de Janeiro de 1923, William Herbet Shelly Dent, filho de Herbert Dent vendeu essa propriedade ao Governo de Macau (governador Rodrigo José Rodrigues) por $32.500. Nesse ano 1923, um tufão provocou estragos consideráveis, levando à execução de obras no palácio.

A Chácara de Santa Sancha vista da Penha – c. 1925

(1) Daniel Francisco António Campos da Rosa (1850-1916), comerciante de chá e cônsul de França em Foochow (China). Faleceu em Macau na sua casa da Praça Lobo de Ávila.
FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Vol III, 1996
(2) http://www.thepeerage.com/p3627.html 

Extraído de «BGC III -27, 1927»

Os leitores desta notícia (em Portugal de 1927) terão tomado conhecimento que não haveria biblioteca pública em Macau até esse ano. Mas “oficialmente” em 29-11-1895, o Governando José Maria de Souza Horta e Costa criou uma comissão de professores do Liceu para fazer um Regulamento para a «Biblioteca Pública de Macau» a qual teve como primeiro bibliotecário o macaense Matheus António de Lima. (1) Há, no entanto, outras notícias anteriores de tentativas de se estabelecer em Macau uma biblioteca pública.
Em 16-07-1838, é recomendado, em portaria régia, a formação de um jardim botânico, destinado à cultura de plantas medicinais, usadas pelos chineses, e bem assim a fundação de uma biblioteca, composta principalmente de livros e mapas chineses, japoneses ou escritos em outras línguas orientais e em 27-12-1873, o Governador Visconde de S. Januário aprovou os Estatutos da Sociedade chamada «Biblioteca Macaense», que, no entanto, não se sabe se existiu na prática. (2)
(1) Em 1898, o bibliotecário, Matheus de Lima, apresentava o número de utilizadores, em Boletim Oficial. Como amostra mensal, em Fevereiro, 34 leitores e 36 volumes consultados; em Maio, 24 leitores e obras consultadas. Não estavam descriminadas se eram consultas locais ou domiciliárias. A Biblioteca Nacional de Macau estava aberta das 9 horas da manhã às 4 da tarde (2)
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.

O semanário «Gazeta das Colónias», n.º 13 do dia 6 de Novembro de 1924 (1) noticiava num artigo “Macau – O exclusivo do ópio” :
gazeta-das-colonias-i-13-6nov1924-o-exclusivo-do-opio-i“Do nosso presado colega «O Combate» recortamos o seguinte:
gazeta-das-colonias-i-13-6nov1924-o-exclusivo-do-opio-iiDas indegações que temos feito ácêrca do exclusivo do ópio em Macau, alguma coisa colhemos já, que muito hade interessar aos nossos leitores e que merece a mais série atenção do Governo da Metrópole.
Sabe-se por, exemplo, que segundo o contrato celebrado pouco antes da retirada do sr. Rodrigo Rodrigues, (2) e que até hoje se conserva oculto, esse obrigam o concessionário a pagar no governo a taxa de 8 7000 por cada caixa de opio crú importado da Índia, onde o preço de cada caixa é fixado em 8 3000, mas que, não sendo o opio importado da Índia, o concessionário pagaria a taxa na razão inversa do preço que cada caixa lhe viesse a custar … conforme a simples declaração por ele feita!
Assim pois, segundo nos consta, o concessionário, ainda antes da retirada do sr. Rodrigo Rodrigues, importou de fóra da Índia uns 13.000 taeis de opio crú, correspondentes a 7 caixas, e apenas pagou ao Governo a taxa de $ 2500 por caixa, simplesmente por ter declarado que cada caixa desse opio lhe custára $ 7500 !!
Mas o que se afigura muito extraordinario esse tem prestado a comentários pouco agradáveis, é que a esse mesmo tempo – antes da retirada do sr. Rodrigo Rodrigues -, conforme nos afirmam, importou o concessionário mais uns 4700 taeis de opio já preparado, correspondentes a 4 caixas e meia, ou pouco mais, e foi-lhe permitido pagar apenas a taxa equivalente ao conteúdo de uma só caixa !!!
Comentava  o mesmo semanário:
gazeta-das-colonias-i-13-6nov1924-o-exclusivo-do-opio-iii“A ser assim, é na verdade caso que merece toda a atenção do sr. Ministro das Colónias, pois não se compreende que, como refere o nosso colega, se deixe ao arbítrio do concessionário, a fixação da taxa a pagara ao Estado.
Tal regime, podendo conduzir a sérios prejuízos para a Província, presta-se pelo menos a graves suspeições que convem evitar.”
gazeta-das-colonias-i-13-6nov1924-obras-do-portoOutra informação, também referente ao território, visava as “Obras do Porto
“ Tivemos informação de que se pretender dar a quantias tiradas dos fundos das obras do Porto de Macau, aplicação diferente daquela a que estão destinadas.
Sem mesmo procurar indagar qual seja essa aplicação, opomos desde já o mais formal protesto a tal procedimento, por ser contrario á doutrina do decreto da organização do Conselho de Administração das Obras do Porto, o qual ao mesmo tempo que torna essa administração autonoma, proíbe expressamente que os seus fundos tenham qualquer utilização fora das obras para que foram votados.”
(1)  Ver anteriores referências a este semanário em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/gazeta-das-colonias/
dr-rodrigo-jose-rodrigues-1879-1963(2) Dr. Rodrigo José Rodrigues (1879-1963), médico formado em 1902 iniciando neste ano, a sua carreira médica no exército (em Cabo-Verde e Goa) atingindo o posto de capitão-médico, político da Primeira República, Ministro do Interior do governo de Afonso Costa (1913-1914), governador civil do Distrito de Aveiro (1910) e do Distrito do Porto (1911), deputado (1913; 1918-1922), director da penitenciária de Lisboa e inspector de prisões (1919) vogal do Conselho Colonial, primeiro governador civil de Macau (de 5 de Janeiro de 1923 a 16 de Julho de 1924) e adido da legação de Portugal na Sociedade das Nações (1924-1927).
Anteriores referências a este governador em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/rodrigo-jose-rodrigues/

Em anterior “post” de 07/11/2013, referi a esta Exposição  (1), que foi inaugurada a 7 de Novembro de 1926, num terreno entre as Avenidas Coronel Mesquita, Horta e Costa e Ferreira d´Almeida.
Volto a esta notícia com mais elementos.

MACAU n.º 5-1987 Expo Feira Ind 1926 MAPAMapa da localização da Exposição Industrial e Feira de Macau

 De 7 de Novembro a 12 de Dezembro de 1926, Macau assiste à “Exposição Industrial e Feira de Macau”, ideia do Dr. Rodrigo Rodrigues, (2) já de 1923, mas que por vicissitudes várias só permitiram a sua concretização nessa data.
Estava nessa altura como Governador interino o Almirante Hugo de Lacerda. (3) Em 26 de Junho de 1926 foi nomeada a comissão especificamente encarregada da organização da Exposição industrial (4).

MACAU n.º 5-1987 Expo Feira Ind 1926 C.O.Foto dos Membros da Comissão Organizadora.
No medalhão desta foto, o Almirante Hugo de Lacerda (Ver actualização no final)

Para a atribuição dos prémios (5) e diplomas constitui-se um júri que integrou: almirante Hugo de Lacerda (Governador interino), o eng. João Carlos Alves (Presidente da Comissão da Exposição e Director das Obras dos Portos), Manuel Monteiro Lopes (gerente do B. N.U.), o capitão de fragata Gregório Fernandes, o Pe. Manuel Pita, o dr. Manuel da Silva Mendes e o Dr. Telo de Azevedo Gomes.
A comissão organizadora iniciou os trabalhos com uma intensa actividade de propaganda de Macau e da Feira, tendo sido distribuídos 10 000 prospectos fora de Macau e 15 000 em Macau.
Em Setembro desse mesmo ano, um forte tufão destruiu parte das construções até aí realizadas.
Os artigos que foram apresentados nesta Exposição Industrial, eram da maior diversidade conforme os expositores constante do quadro seguinte.

MACAU n.º 5-1987 Expo Feira Ind 1926 TABELA COMERCIANTES

Além da feira, muitas outras actividades foram realizadas nesse período: jogos desportivos, gincanas de automóveis, batuques e danças guerreiras das tropas africanas e de Timor, serenata pelos estudantes do Liceu, etc.

MACAU n.º 5-1987 Expo Feira Ind 1926 RODA ELECTRICAFotografia do lago natural (iluminado de noite)
onde se “vê” a «roda eléctrica – Ferry-Weel»

Com uma estimativa da despesa entre 30 000 e 50 000 patacas, a Comissão organizadora teve a contribuição de 15 000 patacas (o Governo contribuiu directamente com 3 000 e o restante 12 000 saiu da verba das Obras dos Portos- verba de Propaganda que estava a seu cargo).
A receita total atingiu a importância de 26 612, 66 patacas e a despesa feita foi de 25 865,96 patacas, havendo um saldo positivo de 746,70 patacas que a Comissão da Exposição resolveu destinar ao “Museu Etnográfico Luís de Camões” (criada logo depois de exposição para albergar muito do material desta organização.(6)

MACAU n.º 5-1987 Expo Feira Ind 1926 PAVILHAO IPavilhão de Portugal-Oriente Ltda.

MACAU n.º 5-1987 Expo Feira Ind 1926 PAVILHAO IIPavilhão da China «Merchants Tobacco Co. Ltd.»

MACAU n.º 5-1987 Expo Feira Ind 1926 PAVILHAO IIIPavilhão da «The Goat & Copasses»

MACAU n.º 5-1987 Expo Feira Ind 1926 PAVILHAO IVPavilhão da Livraria Portugália

(1) Ver “Notícia de 7 de Novembro de 1926 – Exposição Industrial e Feira de Macau em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/exposicao-industrial-e-feira-de-macau/ 
(2) Rodrigo José Rodrigues, capitão-médico, governador de Macau de 5 de Janeiro de 1923 a 16 de Julho de 1924.
(3) Em 22-07-1926, foi exonerado o Governador Manuel Firmino de Almeida Maia Magalhães e nomeado, em seu lugar, Artur Tamagnini de Sousa Barbosa. Nessa data, nomeação, a título interino, do Almirante Hugo de Lacerda Castelo Branco, para o cargo, até chegar o proprietário. (GOMES, L.G. – Efemérides da História de Macau). A exoneração do governador terá sido em consequência da mudança política em Portugal com a Revolução Militar de 28-05-1926 e posterior ditadura do Marechal Gomes da Costa.
(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4.
(5) “«Choi Heng», a principal firma de Macau a trabalhar em cobre obteve o diploma de ouro na Exposição Industrial e Feira de Macau. Os seus artigos vão principalmente para a América.” (4)
(6) O Museu Comercial e Etnográfico «Luís de Camões» foi criado em 1926 (Portaria n.º 221 de 5 de Novembro de 1926), pelo Governador interino, Almirante Hugo de Lacerda. Ver referência a este Museu em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/12/12/noticia-de-12-de-dezembro-de-1936-museu-luis-de-camoes/

Informações e fotografias recolhidas de ALVES, João Carlos; PIRES, João Barbosa – Macau e a sua Primeira Exposição Industrial e Feira. Com uma breve notícia do Porto. Macau, 1927. Tip. Mercantil da N. T. Fernandes e Filhos, 39 pp., 23 cm.

ACTUALIZAÇÃO em 24-12-2015: a COMISSÃO Promotora da Exposição Industrial e Feira de Macau era constituída por:
Presidente Honorário – Exa. o Governador, Almirante Hugo Carvalho de Lacerda Castel Branco
Presidente –
Engenheiro João Carlos Alves – Director das Obras dos Portos (Interino)
Vogais –
Manuel Monteiro Lopes – Gerente da Agência do Banco Nacional Ultramarino
Comendador Lou-Lim-Ioc
João Gregório Fernandes – Capitão de Fragata (reformado)
Major Victor de Lacerda – Chefe da 2.ª Secção das Obras dos Portos
José Maria Lopes – Capitão-Tenente
Henrique Nolasco da Silva – Advogado
Frederic G. Gellion – Gerente de “Macao Electric Lighting Co. Ltd.”
Fong-Choc-Lam – Capitalista
José Vicente Jorge – Chefe da Repartição do Expediente Sínico (aposentado)
António Maria da  Silva – Sub-Chefe da Repartição do Expediente Sínico (interino)
Artur António Tristão Borges – Escrivão da Capitania dos Portos
P.e Manuel José Pitta – Missionário do Padroado do Oriente
Hu-Cheong – Capitalista
Cap. Afonso da Veiga Cardoso – Administrador do Concelho
Ten. Gaudêncio da Conceição – Comandante do Corpo de Salvação Pública
Secretário –
João Barbosa Pires – Chefe de Propaganda das Obras dos Portos

e a composição do COMISSARIADO da Exposição Industrial e Feira de Macau, era:
Presidente – Rev. P.e Manuel José Pitta
Vogais –
Henrique Nolasco da Silva – Advogado e proprietário
Artur A. Tristão Borges – Escrivão da Capitania dos Portos
Major Victor de Lacerda – Chefe da 2.ª Secção das Obras dos Portos
Afonso de Veiga Cardoso – Administrador do Concelho e Comissário de Polícia
Gaudêncio da Conceição – Comandante do Corpo de Salvação Pública da Polícia  de Segurança
Secretário – João Barbosa Pires – Chefe da Propaganda das Obras dos Portos