Extraído de «THE INDO-CHINESE GLEANER», N.º XIV OCT 1820 (1)
Pormenor do artigo, referente a Macau
Extraído de «THE INDO-CHINESE GLEANER», N.º XIV OCT 1820 (1)
Pormenor do artigo, referente a Macau
Tam Pek Lei, proprietário da firma Kong Vo (1) (firma que estava situada na Rua de S. Domingos num dos edifícios de traça ocidental de três pisos à frente da actual Livraria Portuguesa), alugou o cargueiro japonês «Tatsu Maru n.º 2» que partiu da cidade de Kobe em 26 de Janeiro para introduzir clandestinamente na China, aos alegados revolucionários , 2000 espingardas e 40 000 balas de Empresa Tatsuma. Na tarde do dia 5 de Fevereiro o vapor japonês foi abordado por um navio patrulha da marinha de Amoy (Guangdong) ao largo da Ilha de Coloane e a carga ilegal detectada originou um sério incidente diplomático entre a China, o Japão e Portugal.
A população chinesa de Macau e Hong Kong e comunidade chinesa em diversas cidades asiáticas manifestaram publicamente a sua indignação contra as acções subversivas dos japoneses conduzindo a manifestações e ao boicote de produtos japoneses durante sete meses.
O navio foi rebocado para Cantão (Guangzhou) alegando o governo imperial chinês que as águas de Coloane não constituíam parte do território de Macau.
Sequência relacionada com o Incidente “ Tatsu Maru” que durou entre Março e Outubro de 1908
5 de Fevereiro – Aprisionamento do navio “Tatsu Maru” pela armada chinesa.
13 -15 de Março – Japão impõe cinco exigências à China Imperial incluindo a libertação do navio, pedido de desculpas e uma indeminização.
17 de Março> – Mercadores em Cantão (Guangzhou )começam um boicote aos produtos chineses.
19 de Março – Protestos da população na província de Cantão (Guangdong). O boicote aos produtos chineses estende-se por toda a China.
21 a 22 de Março – Devido à pressão do Japão, o governo imperial chinês ordena o fim do boicote.
5 de Abril – As mulheres em Cantão (Guangzhou) organizam um marcha memorial de vergonha por este incidente.
(1) No rescaldo deste incidente, o negócio de Kong Vo sofreu imenso e nem o facto de mudar de nome salvou a empresa.
Tam Pek Lei não teve outro remédio senão abandonar Macau e reiniciar a sua vida em Honolulu e outros países do sudeste asiático. As instalações seriam adquiridos por um respeitável comerciante chinês de Macau, Ho Lin Vong e transformadas numa casa de ópio e jogo, sob a designação de Companhia Chap Chi. (As Ruas Antigas de Macau, IACM, 2016, p. 17)
NOTA 1: sobre este incidente, vale a pena ouvir João Guedes in Falar de Memória (127) “O Tatsu Maru e a Questão de Macau” em: http://port.tdm.com.mo/c_radio/play_audio.php?ref=9943
NOTA 2: interessante trabalho académico deste incidente, do ponto de vista japonês https://digitalrepository.trincoll.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1041&context=moore
Na sequência da postagem de ontem «Trágico acidente nas águas do Porto Interior», a notícia do aparecimento na Taipa do cadáver do Capitão Caetano Gomes da Silva (1)
(1) Anteriores referências do capitão Caetano Gomes da Silva e o episódio da sua morte em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/caetano-gomes-da-silva/
NOTA: “24-09-1849 – O tenente Vicente Nicolau de Mesquita é substituído no comando da Taipa pelo Alferes Caetano Gomes da Silva. Mas este morreu pouco depois, afogado sendo substituído pelo Tenente António da Costa, em Outubro seguinte” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 118
O semanário «O Português» apareceu em Hong Kong em 20 de Novembro de 1913, editado por António de Vasconcelos Soares, com o fim de atacar o Governador de Macau, Aníbal Sanches de Miranda, na questão do ópio. Tendo este honrado governador ameaçado os seus adversários, «O Português» morreu de medo, a 10-01-1914, tendo uma vida bastante curta, pois publicaram apenas 7 números. (1)
(1) TEIXEIRA, Pe. Manuel – Imprensa Periódica Portuguesa no Extremo Oriente, ICM, 1999, p. 277
António José de Gamboa nasceu em Lisboa a 26 de Agosto 1754, veio para Macau (cerca de 1775) onde se entregou à vida comercial, vindo a ser um grande capitalista (com o comércio do ópio) e proprietário de navios. Desempenhou o cargo de Procurador do Senado em 1793 e em 1795. (1) Em sua memória, existe na toponímia de Macau, 4 vias com o seu nome.
Rua do Gamboa – 夜 姆(呣) (2) 街 – começa na Rua da Alfândega, em frente da Calçada do Gamboa e termina na Rua das Lorchas, entre os prédios n.º 25 e 27. Tem um arco alpedrado junto da Travessa da Louça. (1) 夜 姆 (呣) 街 – mandarim pīnyīn: yè mǔ jiē ; cantonense jyutping: je6 mou5 gaai1
Travessa do Gamboa –夜姆(呣) (2) 巷 – começa na Rua do Gamboa ao lado do prédio n.º 3, e termina na Travessa das Virtudes. (1) 夜姆巷- mandarim pīnyīn: yè mǔ hàng; cantonense jyutping: je6 mou5 hong6
Calçada do Gamboa –夜姆(呣) (2) 斜巷 – começa no cimo da Calçada do Tronco Velho, junto do Largo de Santo Agostinho, e termina na Rua da Alfândega, em frente da Rua do Gamboa. (1) 夜姆斜巷- mandarim pīnyīn: yè mǔ xié hàng; cantonense jyutping: je6 mou5 je3 hong6
Beco do Gamboa – 夜姆(呣) (2) 里. Também conhecida como 深巷仔. 夜姆里 – mandarim pīnyīn: yè mǔ lǐ; cantonense jyutping: je6 mou5 lei5. 深巷仔– mandarim pīnyīn: shēn hàng zǐ; cantonense jyutping: sam1 hong6 zai2
(1) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, 1997, pp.291-292.
(2) Questionei o meu amigo Manuel Basílio sobre a grafia chinesa desta rua e com a sua autorização da qual muito agradeço, publico o texto e os anexos que me enviou:
“Boa pergunta. Este topónimo, em chinês, apesar de me ter dado muitas voltas à cabeça, acabei por chegar a uma conclusão, que me parece ser mais lógica. Como bem sabe, os topónimos em chinês não estavam fixados, nem inscritos em qualquer relação ou cadastro das vias públicas do século XIX, oficialmente publicados. Naquela altura, certos topónimos em chinês variavam consoante o tradutor e até o próprio Pedro Nolasco da Silva, ora utilizava um caracter, ora outro, em traduções que fazia ou aprovava para publicação no B.O., e um dos exemplos é relativamente à Rua e à igreja de Santo António.
No caso da Rua do Gamboa, o registo oficial mais antigo que encontrei, em chinês, foi o que consta do Cadastro das Vias Públicas Macau do ano de 1905, em que está registado 夜母街 (yé, noite; mou, mãe; e kái, rua). Mais tarde, no Cadastro de 1925, aparece então registado 夜呣街 (com o caracter 呣 mó, formado por 母 mou, com o radical 口 hâu, boca). O radical 口hâu, em caracteres chineses, é uma característica do dialecto cantonense, devido aos seus sons específicos, quando falado. No entanto, nos Anuários de Macau, em vez de母 mou ou呣 mó, utilizaram um outro caracter – 姆 mou (mulher que cria ou cuida um filho de outrem, isto é, ama seca), tendo repetido a mesma chapa em todas as edições subsequentes até 1957. Dado que os residentes chineses, desde longa data, chamavam àquela via 夜呣街 (Yé Mó Kái), portanto, com a publicação do Cadastro das Vias Públicas e Outros Lugares da Cidade de Macau, de 1957, fixou-se finalmente “Yé Mó Kai” para a designação, em chinês, da Rua do Gamboa (o mesmo caracter usado no Cadastro de 1925). O termo “Yé Mó” é, sem dúvida, o que faz mais sentido, visto que naqueles tempos havia em Macau vadios e refugiados, sobretudo, no período da Rebelião Taiping (1851-1864), conhecidos pelo nome de “lanchaes” (lán châi), que aqui não conseguiam trabalho e meios de subsistência e, por isso, praticavam roubos pela cidade e a Rua do Gamboa era um dos alvos, por ser uma via principal. O topónimo 夜呣 (Yé Mó) deveria ter sido derivado do termo homófono 夜摩 (Yé Mó), que significa gatuno, conforme registado no Dicionário Chinês-Português, editado pelo Governo da Província no ano de 1962, sendo autores A. Melo, Pe. Ngan e Pe. Hó. Infelizmente, em Macau, continua a haver designações em chinês cujos caracteres estão incorrectamente escritos, casos como a de “Tap Seac”, “Lou Seac T’óng” (antiga Rua do Mastro, hoje Rua Camilo Pessanha), etc., muitas vezes por culpa dos tradutores daqueles tempos e que, até agora, continuam sem a devida rectificação. Macao sã assi! “
Aconselho a leitura de Manuel Basílio: “Uma rua em Macau com estranha denominação em chinês” disponível em: https://cronicasmacaenses.com/2020/02/12/rua-do-gamboa-uma-rua-em-macau-com-estranha-denominacao-em-chines/.