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Continuação da divulgação dos postais da colecção “A Harmonia das Diferenças” – fotografias do princípio aos meados do século XX (1902 -1950) – publicados pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. M / Arquivo Histórico de Macau, em 2015. (1)

Hoje, duas fotografias referentes ao ano de 1926, especificamente relacionadas à Exposição Industrial e Feira de Macau, projectada pelo Governador de Macau Dr. Rodrigo Rodrigues (1923-1924) já em 1923, mas que por vicissitudes várias só permitiram a sua concretização em 1926.. Esteva aberta de 7 de Novembro a 12 de Dezembro de 1926, quando o Director da Construção do Porto, Hugo de Lacerda, estava em funções como Governador Interino. (2)

Entidades no acto inaugural da Feira Industrial de Macau de 1926. “No estrado central tomaram assento o Governador da Colónia, tendo à sua direita o Governador do Bispado, Reverendo A. J. Gomes, o Presidente do Leal Senado Damião Rodrigues e à esquerda, o Presidente da Comissão da Exposição, o Engenheiro Carlos Alves, o Professor Chan, representante da Associação Comercial Chinesa e o Sr, Frederick Gellion, manejante da Macau Electric.”(3)
Verso do postal
Pavilhões das escolas de Macau na Feira Industrial de Macau, de 1926
Verso do postal

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/03/12/postais-coleccao-macau-a-harmonia-das-diferencas-i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/03/16/postais-coleccao-macau-a-harmonia-das-diferencas-ii/

(2) Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/exposicao-industrial-e-feira-de-macau/

Outras referências: MORAIS, José Simões – A Exposição Industrial de Macau de 1926. HojeMacau de 4-11-2016 https://hojemacau.com.mo/2016/11/04/a-exposicao-industrial-de-macau-de-1926/ BOTAS, João – A Primeira Feira Industrial de Macau (1926). JTM de 20-11-2014 https://hojemacau.com.mo/2016/11/04/a-exposicao-industrial-de-macau-de-1926/

(3) https://hojemacau.com.mo/2016/11/11/discurso-de-abertura-da-exposicao-industrial-de-macau/

A «Gazeta das Colónias, semanário de propaganda e defeza das colónias» publicou no dia 10 de Julho de 1924, (1) na sua primeira página (era habitual em cada número do jornal, publicar um “Monumento Colonial”) uma fotografia intitulada:

«MACAU – A FACHADA DO ANTIGO CONVENTO DE S. PAULO»

Comparando esta foto com uma outra tirada cerca 1875, ainda se vê no lado direito as casas danificadas não pelo violento tufão de 1874, considerado na altura tufão mais violento de que há memória, mas sim pelo fogo que apareceu no dia seguinte, propagado pelo abatimento dos tectos sobre as fornalhas das fábricas de chá e as labaredas sopradas pelo vento. (2)

Ruínas de S. Paulo
1875
Fotografo desconhecido

“… As labaredas sopradas fogosamente pelo vento, que corria sem rumo certo e em desencontradas direcções, ganhavam as casas vizinhas e, dentro em pouco, eram bairros inteiros que ardiam. O clarão, que era enorme, espelhava-se num mar revolto e acendia as nuvens. Era belo e espantoso o espectáculo que os olhos viam, presos de horror e de maldição. Sôbre o fundo vermelho avultavam as paredes tisnadas das casas e as árvores sem copa e sem ramos. A formosa egreja de S. Paulo, edificada pelos jesuítas em louvor da Mãe Deus, numa pequena eminência, logo abaixo da fortaleza do mesmo nome, dominando uma grande parte da cidade, antes de ser tomada pelas chamas, estava deslumbrante, iluminada pelo clarão vivíssimo que a cercava. Parecia que a sua opulenta fachada, de boa fábrica arquitectónica, se afogueava num vermelho translúcido, como que engastada no anel de fogo que a rodeava. Nuvens de fumo e de poeira das derrocadas vizinhas toldavam-na de quando em quando, realçando assim, por contraste, o seu deslumbramento aos olhos de alguns de maior força de ânimo….”
A descrição do tufão e seus efeitos em Macau, baseados nos relatórios oficias de então, relatados pelo Eng. Carlos Alves (ALVES, Carlos – Os Tufões do Mar da China. Separata da Revista «Técnica», 1931, 12 p.)
(1) «GAZETA DAS COLÓNIAS», ANO I, N.º 2, Lisboa, 10 de Julho de 1924.
(2) Foi nos dias 22 e 23 de Setembro de 1874. Causou cerca de 4 000 mortos, (enterrados ou queimados para evitar epidemia), prejuízos da ordem de 1 milhão de patacas, as povoações da Taipa e Coloane quase que desapareceram. Destruiu grande parte do edifício do Leal Senado. A escuna Príncipe Carlos encalhou dentro da Ilha da Lapa; a canhoneira Camões encalhou numa várzea de arroz, a canhoneira Tejo aguentou-se apesar dos encontrões dos barcos desgarrados e foi parar à fortaleza da Barra; as vagas arrasaram a costa desde o forte de S. Francisco até à Barra arrombando das casas da Praia Grande, inundando os andares térreos. Dos estragos do tufão acrescenta-se aos do incêndio. As ruas do bazar só a nado se podia passar e graças às águas da inundação, ajudaram a extinguir os incêndios, tarefa que começou logo que o vento permitiu que as pessoas se aguentassem de pé.
Anteriores referências a este tufão em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1953-te-deum-em-cumprimen-to-do-voto-macau-e-o-tremendo-tufao-de-1874/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-tufao-e-o-farol-da-guia/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-ii-incendio-no-bairro-de-santo-antonio/

Continuação da descrição do tufão, relatado pelo Eng Carlos Alves em (1), focando o incêndio que deflagrou no dia 23 de Setembro de 1874 no Bairro de S. António.
“… A refrega continuava e desmedida, parecendo que tudo se arrasava sob a ira combinada do vento e de mar. As casas abatiam umas atrás das outras, os telhados voavam, juncando as ruas de destroços. A cidade cobria-se ràpidamente de ruínas que eram outras tanta que eram outras tantas sepulturas de vítimas. Dir-se-hia um sinal dos tempos, anunciando o fim do mundo. Só faltava um elemento aos que trabalhavam na destruição da cidade: o fogo, a coroar o arraial sinistro! Tomando nascença nas fábricas de chá, pelo abatimento dos tectos sobre as fornalhas, rebentava em diferentes sítios, parecendo lançado por mãos facínoras, o que depois se verificou não ser verdadeiro, por impossível…(…)
No bairro de Sto António centenas de pessoas corriam dum para outro lado, buscando salvarem-se daquele pavor e sem ter para onde, pois o fogo parecia lavrar em círculo. Muitas pessoas assim pereceram prisioneiros das chamas, por não terem atinado com as saídas do braseiro…”

Igreja de S. António Tufão 1874

Aspecto da Igreja de Santo António após o tufão e incêndio de 1874

“Este tufão – o maior de toda a história de Macau – inundou os edifícios da Praia Grande, destruindo os arquivos do Palácio do Governo e também os da casa e igreja paroquial de S. António, que ardeu com todo o seu recheio. Depois do tufão, quando o chefe de qualquer repartição pedia aos seus subordinados que procurassem um documento antigo, a resposta era sempre a mesma:
Desapareceu no tufão de 1874.
E pronto, isto salvava-os de buscas enfadonhas.
Este estribilho pegou e continuou durante dezenas de anos. Ora sucedia, que já neste século, alguns chefes ao pedir documentos de 1900 ou de 1910, ouviam a resposta consagrada:
Não existem, desapareceram no tufão de 1874 !!! » (2)

Este violentíssimo tufão destruiu grande número de edifícios públicos (o Farol da Guia ficou destruído) (3) e particulares causando numerosas mortes. Foram também grandes os estragos causados na Taipa e Coloane.

Farolda Guia 1927Farol da Guia 1927

(1) ALVES, Carlos – Os Tufões do Mar da China. Separata da Revista «Técnica», 1931, 12 p.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/13/leitura-os-tufoes-do-mar-da-china/
VER: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/09/22/noticia-de-22-de-setembro-de-1874-o-maior-tufao-da-historia-de-macau-i/
(2) TEIXEIRA, Pe. Manuel – Toponímia de Macau – VOL I , pp 137 138)
(3) COLOMBAN, Eudore de – Resumo da História de Macau p. 129.
Anteriores “posts” sobre o mesmo tufão:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-tufao-e-o-farol-da-guia/

Recordo aqui mais uma vez o violentíssimo tufão que assolou Macau nos dias 22 e 23 de Setembro de 1874. (1)
A seguir, descrição do tufão e seus efeitos em Macau que foram relatados pelo Eng. Carlos Alves, baseados nos relatórios oficias de então. (2)
Este tufão, assolando rijamente a Colónia, durante uma dezena de horas, quási a reduziu a ruínas, em grande parte tisnadas por um temeroso incêndio que, no àcume do tufão, irrompeu no bairro de S. António. O cômputo das vítimas acusou 4000 mortos e enormes estragos, materiais em terra e no mar, onde centenas de embarcações se perderam, envoltas em alterosas vagas, nunca vistas naquelas paragens. Em violência e desastrosos efeitos, excedeu quantos eram lembrados nos séculos já decorridos.
No distrito de Heung-san, vizinhos da península de Macau, morreram mais de 20.000 pessoas, segundo constava, em Hong Kong os estragos foram imensos… (…)
… Amanhecera o dia 22 com o céu límpido e sereno, adoçando a brisa nortenha as prim eiras ardências do sol. O barómetro estava quieto, marcando a pressão normal correspondente ao mês. Havia dias que o alvorecer não se apresentava tão belo e suave… (…)
… A meio do dia, o firmamento começava a forrar-se de nuvens que aumentavam incessantemente, parecendo dispôr-se em camadas. As mais altas tinham o aspecto de cúmulos-estractos, formando cúpula a nuvens mais baixas e dispersas, de formação ovoide, que mudavam suavemente de forma, sem movimento aparente. O aspecto destas nuvens era sombrio, quási fuliginoso, com reverberações arroxadas ou bronzeadas…
 

Tufões que Assolaram Macau Navio Concórdia tufão 1874Uma várzea nos arredores de Macau onde se encontrou o navio “Concórdia”que estava ancorado no Porto Interior antes da passagem do Tufão de Setembro de 1874 (3)

 NOTA:22-09-1955 – Comemorando o 81.º aniversário do histórico tufão que em 1874 assolou esta cidade destruindo grande número de edifícios públicos e particulares e fazendo numerosas vítimas, realizou-se, segundo o voto da população, no dia 22 do corrente, um solene «Te-Deum», cantado na Sé Catedral. (MACAU Boletim Informativo ANO III, 1955).
(1) Anterior “post” sobre o mesmo tufão
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/23/noticia-de-23-de-setembro-de-1874-o-tufao-e-o-farol-da-guia/
(2) ALVES, Carlos – Os Tufões do Mar da China. Separata da Revista «Técnica», 1931, 12 p.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/13/leitura-os-tufoes-do-mar-da-china/
(3) Fotografia retirado de:
NATÁRIO, Agostinho Pereira – Tufões que Assolaram Macau. Serviço Meteorológico de Macau, Macau, Imprensa Nacional, 1957, 20 p + 26 p. (gráficos, mapas e fotografias),
Ver em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/07/06/leitura-tufoes-que-assolaram-macau-i/