Archives for posts with tag: Hospital Kiang Wu

No dia 26 de Setembro de 1954, na Piscina Municipal, realizou-se a extracção da grande rifa promovida por um grupo de abastados capitalistas chineses, entre os quais o Sr. Ho Yin, em benefício do Hospital Kiang Wu. Constava a mesma rifa de 200 bons prémios, o primeiro destes, dois prédios situados na Rua Pedro Nolasco da Silva. (1)

Nesse ano, o Hospital Keang (Kiang) Wu, mantido pela Comunidade Chinesa e subsidiado pela Comissão de Assistência Pública, presta assistência médica diária a mais de 800 doentes, além da média de 400 internados na sua totalidade indigentes Mantém, para isso, um quadro de pessoal médico e de enfermagem bastante numeroso, além do fornecimento gratuito de medicamento. Com tão pesados encargos, a Associação d Beneficência do Hospital «Keang Wu», de que é presidente o abastado capitalista Sr. Hó Yin, não consegue equilibrar o orçamento do hospital, que acusa, em quase todos os anos, um défice de 200 mil patacas (mais de mil conto). Costuma a referida Associação recorrer à generosidade dos benfeitores da meritória obra do Hospital «Keang Wu» para cobrir os défices anuais. (2) Este ano, porém, vai aquela Associação emitir uma grande rifa de 200 prémios, contando com isso saldar as dívidas feitas com a manutenção do hospital durante o ano que findou. Os valiosos prémios, entre os quais se contam um prédio no valor de 180 mil patacas, um automóvel e um frigorifico, foram todos oferecidos por generosos benfeitores, destacando-se a oferta do prédio de 2 andares feita pela Sr-ª Koc I Man, esposa do Sr. Hó Yin. Assim, com a insignificante quantia de $2.00, custo de cada bilhete, vai a população de Macau contribuir para uma obra de assistência que merece o apoio e simpatia, e habilitar-se, ao mesmo tempo, à posse de valiosos prémios” (2)

(1) «MBI», II-28 de 30 de Setembro de 1954, p. 15

(2) Em Janeiro desse ano, 1954, teve lugar na Piscina Municipal de Macau um festival artístico-desportivo, em que o produto das entradas reverteu a favor: 40% – dos sinistrados de um grande incêndio, recente, em Hong Kong; 40% do Hospital Kiang Wu; 20% da Associação de Beneficência «Tong Sin Tong».(SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia de História de Macau, Volume 5, 1998)

(3) Artigo não assinado em «M. B. I.» ANO I, n.º 22, de 30 de Junho de 1954, p. 7

Mais dois “slides” digitalizados da colecção “MACAU COLOR SLIDES – KODAK EASTMAN COLOR” comprados na década de 70 (século XX), se não me engano, na Foto PRINCESA.
(1)

Casa Memorial do Dr. Sun Yat-sen – 澳門國父紀念館 (2)

O Dr. Sun Yat-sen não terá vivido nesta casa, (3) mas sim os seus familiares. Conhecida como a “Mansão do Sun”, foi construída em 1912 numa imitação-mistura de traços arquitectónicos do estilo mourisco como residência para sua primeira esposa, (de 1885 a 1915) Lu Muzhen -盧慕貞 (1867-1952) que aí viveu desde 1913 com suas duas filhas, Sun Yan (孙延), Sun Wan (孙) e seu filho Sun Ke. Morou em Macau por 40 anos, falecendo aos 85 anos (1952).
A casa foi reconstruída em 1931 por ter sido muito danificada pela explosão do paiol da Flora. (3)
A casa, hoje museu, é um edifício alto de três andares com varandas ornamentadas e pátios espaçosos, localizado na Rua Silva Mendes, n.º1. Existe uma estátua de bronze do Dr. Sun Yat-sen na área exterior Casa Memorial.
O Mercado Municipal Almirante Lacerda, mais conhecido por Mercado Vermelho, (4) que ficou pronto em junho de 1936 (5) situa-se do lado oriental da Avenida Almirante Lacerda. É uma estrutura de três pisos em forma de paralelepípedo. Tem um espaçoso piso térreo e o 1.º piso possuem bancas fixas, vendendo os mais diversos produtos frescos ao passo que o 2-º piso é constituído por uma torre central. Quando se construiu o Mercado, a área a noroeste da Avenida era uma vasta zona de hortas e as zonas adjacentes (Av. Ouvidor Arriaga, Av. de Horta e Costa) eram pouco povoadas, com algumas residências de famílias abastadas ou de altos funcionários coloniais.
Na segunda metade de 1934, a arquitectura foi concebida por Júlio Alberto Basto, o cálculo da estrutura da obra encarregava-se o 3.º conde, Bernardino de Sena Fernandes, e o desenho foi feito por Wong Lam e Tse Shing. A obra da construção do mercado iniciou-se no princípio de 1935 e concluída em Junho de 1936.
(1) https://www.google.com/search?sxsrf=ACYBGNSn7Rmv6jkuR-8RXyab3nyp4y78NQ:1567866434430&q=nenotavaiconta+slides+coloridos+de+Macau
(2) 澳門國父紀念館 – mandarim pīnyīn: Àomén Guófù Jìniànguǎn; cantonense jyutping: ou3 mun4 gwok3 fu6 gei2 nim6 gun2.
Este “slide” é da década de 60 (século XX), antes de 1966, já que a Casa Memorial apresenta-se toda engalanada para as comemorações do dia 10 de Outubro, dis nacional da República da China -中華民國 (Zhōnghuá Mínguó). Esta data deixou de ser comemorada em Macau, após os acontecimentos de 1-2-3 de 1966.
(3) Em 13 de Fevereiro de 1912, Sun Yat-Sen renunciou ao cargo de Presidente provisório da República da China, tendo voltado a Macau em Maio de 1912 (após 17 anos desde que ele visitou o território pela primeira vez) e Junho de 1913. Em Maio de 1912, O Dr. Yat-Sem, acompanhado por sua filha mais velha, Sun Wan, ficou duas noites num pavilhão no Jardim de Lou Lim Ieoc que era o presidente do Hospital Kiang Wu, onde o Dr Sun trabalhara como médico.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/casa-memorial-sun-yat-sen/
(4) Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/mercado-vermelho/
http://www.archives.gov.mo/pt/featured/detail.aspx?id=120
(5) Em Agosto de 1933, a Comissão de Terras concordou com o pedido de concessão de terras apresentado pelo Leal Senado da Câmara relativo ao uso gratuito de um terreno de 1,450 (mil e quatrocentos e cinquenta) metros quadrados, sito na Avenida Almirante Lacerda para construir um mercado.
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol 4, 1997.

Boletim Oficial da Colónia de Macau,, suplemento n.º 32 de 14 de Agosto de 1931, p. 710

No dia 14 de Agostode 1931 realizaram-se os funerais dos seis portugueses vítimas da explosão do Paiol da Flora. (1)

O cortejo fúnebre a caminho do cemitério (saído do Hospital Geral do Governo – denominado em 1937, Hospital Conde de S. Januário), passando pela Estrada dos Parses, à frente do Cemitério dos Parses.

Os serviços públicos fecharam e os espectáculos foram suspensos sendo o dia considerado de luto. A bandeira portuguesa conservou-se a meia haste em todas as fortalezas, estabelecimentos militares e públicos, das 9 e 30 às 13 horas. Os estabelecimentos particulares, o comércio e a indústria conservaram também, a meia haste, a bandeira chinesa.
A Liga Portuguesa de Hong Kong abriu uma subscrição a favor das vítimas da explosão, o mesmo acontecendo em Macau e Xangai. Os escuteiros de Macau promoveram uma récita no Teatro Victoria cuja receita reverteu também para apoio aos sinistrados” (2)
No dia 17 de Agosto, realizou-se a cerimónia fúnebre das 15 vítimas chinesas, saindo do Hospital Kiang Wu e foi acompanhada (transmissão oral) por mais de dez mil pessoas (?)

Boletim Oficial da Colónia de Macau, n.º 33 de 15 de Agosto de 1931

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2019/08/13noticia-de-13-de-agosto-de-1931-explosao-do-paiol-da-flora-e-o-episodio-do-estampido/
(2) (BELTÃO COELHO, Rogério – O Paiol da Flora Explodiu em Madrugada. MacaU, II série, n.º 28, Agosto 94, pp.63-68.

Cortejo do funeral – Lu Lim Ioc (31-7-1927), ao longo da Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida
Sem referência do editor

Lou Lim Ieoc/Ioc 盧廉若 (1877-1927), filho mais velho de Lou Kau/Cau (1837 – 1906), abastado comerciante (com vários  interesses comerciais entre este, acionista da «Nam Iong Tobacco Company», um dos proprietários do Banco Pou Hang, presidente da Companhia «Clube Internacional de Recreio e Corridas de Macau, Limitada»)e grande filantropo de Macau
Foi um dos fundadores da Associação Comercial de Macau. Presidente da Câmara de Comércio da China em Macau e do Hospital Kiang Wu (contribuiu para a reconstrução do Hospital), Presidente da Sociedade da Educação Chinesa (chegou a manter, à sua custa várias escolas), membro do Conselho Legislativo de Macau.
Tem o Título de honra da China durante a dinastia Qing, medalhado pela República Chinesa e em 1925 condecorado pelo Goverto Português com a Comenda da Ordem de Cristo (governava interinamente Macau Joaquim Augusto dos Santos, na ausência do Governador Rodrigo José Rodrigues)
Morreu a 15 de Julho d3 1927.


Cortejo do funeral – Lu Lim Ioc (31-7-1927), ao longo da Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida
Sem referência do editor

Infelizmente Lou Lim Ioc morreu cedo, segundo consta, vítima e apoplexia, tendo sido faustosos os seus funerais, e luzido o préstito que percorreu Macau em 31 de Julho de 1927. A urna com os seus restos mortais, seguiu para Cantão, onde veio a ser sepultado na encosta da colina conhecida por Pak San.
Lou Lim Ieoc teve 17 filhos das suas sete esposas, das quais só a primeira – aquela que usufruía, na China todas as prerrogativas de mulher legítima – habitava na sua luxuosa residência (herdado do pai Lou Kau que adquiriu um vasto terreno sito nas várzeas  próximas da velha aldeia de Mong Há, construindo uma confortável residência, rodeada por um idílico jardim em estilo palaciano conhecido por U Wó Un . Jardim de Recreio (hoje conhecido como jardim de Lou Lim Ieoc)
A despesa diária da sua casa orçava entre 5 a 7 contos, quantia muito elevada naquele tempo. Contudo, os seus rendimentos permitiam-lhe viver como um grande senhor.“ (TEIXEIRA, P- Manuel – Toponímia de Macau, Vol.I, 1979)

Cortejo do funeral – Lu Lim Ioc (31-7-1927), ao longo da Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida
Sem referência do editor

Anteriores referências a este filantropo e do seu pai bem como ao jardim da residência, em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/lou-lim-ioc/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/lou-cheok-chin-lu-cao/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jardim-lou-lim-ioc/

Em Março de 1986, com a presença do Encarregado do Governo, coronel Amaral de Freitas, (1) dos Secretários-Adjuntos, do Bispo de Diocese, além de diversas personalidades da Administração foi inaugurada a estátua em homenagem ao Dr. Sun Yat Sem, colocada na entrada do Hospital Kiang Wu. Este monumento ao reconhecido político e médico foi mandado erigir pela Associação de Beneficência da Hospital Kiang Wu, que assim se associou às celebrações do 61.º aniversário da morte do primeiro presidente da República Chinesa.

Foto : «Nam Van», n.º 23, Abril de 1986,p. 69

(1) O Governador Contra-Almirante Almeida e Costa foi exonerado a 8-01-1986, a seu pedido ficando encarregado do Governo, o coronel Manuel Maria Amaral de Freitas, comandante das Forças de Segurança de Macau. Nesse mês de Março a 9, Mário Soares tomava posse como Presidente da República Portuguesa e nomeou o professor Dr. Joaquim Pinto Machado como Governador que iniciou funções a 02-06 de 1986.
Sobre o Dr. Sun Yat Sem, ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/sun-yat-sen/

Em Janeiro de 1954 realizou-se no Teatro Cheng Peng um espectáculo de variedades, a favor do Hospital de S. Rafael, patrocinado pela Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau tendo participado o  mágico indiano Gogia Pasha (1) e o conjunto musical INK SPOTS. (2)
Também nesse mês realizou-se um grandioso festival artístico-desportivo no recinto da Piscina Municipal, em que tomaram parte artistas e atletas de Hong Kong e Macau. O produto das entradas foi assim dividido: 40% para os sinistrados do grande incêndio havido em Hong Kong; (3) 40% para o Hospital Kiang Wu; 20% para a Associação de Beneficência «Tong Sing Tong» (4)
(1) Gogia Pasha, famoso mágico indiano (décadas de 30 a 50 – século XX; faleceu em 1976) que se autointitulava egípcio (com vestimentos compridos e brilhantes, turbante, bigode e barbicha e olhar perverso) apresentava  os seus espectáculos de magia com uma mistura de comédia – partes humorísticas nos seus truques mágicos – intercalados com danças pelas suas assistentes femininos.

Cartaz dum espectáculo incorporado num calendário de 1953
Crédito: John Zubrzycki

Para mais informações deste mágico, aconselho leitura (em inglês) de:
ZUBRZYCKI, John – Unravelling the Mysterious Gogia Pasha, the Original Gilly Gilly Man, 2017
https://thewire.in/153325/mysterious-gogia-pasha-original-gilly-gilly-man/
(2) “The Ink Spots” grupo vocal americano de renome internacional do género musical “rhythm and blues” de 1934 a 1954. O grupo original terminou em 1954, pelo que a actuação em Macau terá sido a última digressão da sua carreira.
Mais informações (em inglês) e discografia em
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Ink_Spots
http://inkspots.ca/
Alguns vídeos disponíveis:
https://www.youtube.com/watch?v=6l6vqPUM_FE
https://www.youtube.com/watch?v=wp2Hwi9qM48
https://www.youtube.com/watch?v=xcne73hJPZc

(3) Violento incêndio no dia 25 de Dezembro de 1953 destruiu a área de Shek Kip Mei – 石硤尾, (Hong Kong) onde viviam emigrantes da China continental, deixando 53 000 pessoas sem habitação.
https://en.wikipedia.org/wiki/Shek_Kip_Mei
Vídeos referentes a este acontecimento:
https://www.youtube.com/watch?v=Dt8USmzvKbo
https://www.youtube.com/watch?v=evIwMJRVoHQ
(4) Informações de «MACAU, B. I.»  I -12, 1954.

Rua do Auto Novo (Teatro Chinês)

Extraído do “Anuário de Macau 1921”.
A foto vem legendada com indicação de Rua do Auto Novo (Teatro Chinês)
Trata-se no entanto da Travessa do Auto Novo.
Começa entre as Ruas da Caldeira e da Felicidade e termina na Travessa das Virtudes. Foi-lhe dado este nome por se representarem ali os autos chinas. Em chinês cama-se Cheng Peng Hong ou Ch´eng Sán Kai ou Ch´eng P´eng Chek Kai; tem este nome por lá existir o Cineteatro Cheng Peng que é o prédio n.º 23 dessa Travessa, construído um pouco antes de 1907. (1)
O Padre Teixeira, parece não ter razão quanto à data de início (“um pouco antes de 1907”) pois há indicações do Teatro/Auto China ter iniciado em 1875, construído por Vong Lok, um destacado comerciante de Macau (um dos fundadores do Hospital Kiang Wu) (2) e ainda uma outra referência a este teatro, de 1872, aquando da visita do Príncipe Alexis a Macau (3) pois embora não venha mencionado o nome do teatro, a menção do empresário “Eloc” muito possivelmente será o mesmo do apelido “Lok”
O Cine-Teatro Cheng Peng, no início, a maior parte dos espectáculos eram sessões de ópera chinesa (cantonense e de Beijing) mas a partir da década de 20 do século XX, com a popularidade do cinema, passava já filmes (4) predominantemente filmes chineses embora continuasse a apresentar ópera chinesa e outros tipos de espectáculos: circenses, musicais como por exemplo a do artista Xavier Cugat em 1953 (5), o “Trio Odemira” na década de 60, os chamados “pop concert” com artistas e agrupamentos de Hong Kong na década de 60s, etc. Recordo neste cine-teatro, os dois festivais de música de 1963 e 1964, concurso para eleger o melhor conjunto “ié ié” de Macau. Renovado em 1970 voltou a passar filmes (mais chineses) mas reposições e os chamados filmes “B”. Fechou no dia 21 de Agosto de 1992 quando o sistema de ar condicionado se avariou.
Foi o Cineteatro que mais tempo esteve em actividade em Macau 1875 a 1992 (117 anos).
(1) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau Volume 1,1997, p. 493
(2) https://macaostreets.iacm.gov.mo/p/route/detail.aspx?gid=4&id=0bc7aeda-ee3d-47b8-95f7-493cdc1fc971
Anteriores referências a este Cine Teatro
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/cine-teatro-oriental/
(3) “29-09-1872 – No domingo, dia 29 de Setembro, após o almoço, a que assistiram também vários funcionários, o Príncipe Alexis visitou o Leal Senado e a Gruta de Camões. De tarde recebeu cumprimentos dos funcionários e, à noite, novo jantar de gala, após o qual assistiu num teatro a um auto-china. Não se esqueceu de galardoar o empresário do teatro, chamado Eloc, com um alfinete cravejado dum pérola e brilhantes…. “ (TEIXEIRA, Padre Manuel – Residência dos Governadores do Macau, p. 13)
(4) Em 1925, projectou-se neste teatro o célebre filme de Lilian Gish “The White Sister” –  filme mudo americano (drama; filmado em Itália) de 1923 com Lillian Gish e Ronald Colman, dirigido por Henry King para a “Metro Pictures”.
https://www.youtube.com/watch?v=0Hh3ZcAEHPY
(5) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/11/29/noticia-de-29-de-novembro-de-1953-xavier-cugat-em-macau/

Informações da Imprensa estrangeira «France Presse» e «Reuter» acerca dos acontecimentos na China (guerra civil) e seu reflexo em Macau que o «Boletim Geral das Colónias» publicou em duas notícias semelhantes em Dezembro de 1949 (1) e em Janeiro de 1950 (2)

Foi a 9 de Novembro de 1949 que o general Wang Zhu, máximo responsável militar na área, declarou taxativamente que «a posição da vizinha Macau será absolutamente respeitada» Garantias nesse sentido foram secretamente transmitidas às autoridades portuguesas dois dias depois. (PEREIRA, Bernardo Futscher – Crepúsculo do Colonialismo. A Diplomacia do Estado Novo (1949-1961), 2017)

NOTA: A República Popular da China, na sequência da vitória de Mao Zedong (Mao Tse Tung – 1893 – 1976- 毛澤東) sobre o Kuomitang de Chiang Kai-Shek (Jiang Jieshi – 蔣介石1887-1975) que se retira para a Ilha Formosa (Taiwan) foi fundada a 1 de Outubro de 1949. Zhou Enlai (Chu En Lai – 周恩来 – 1898-1976), Primeiro Ministro entre 1949 e 1976, também Ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1949 e 1958, publicou um comunicado expressando a intenção de abrir relações diplomáticas entre o seu Governo e os Governos de todas as nações, com base na igualdade e no mútuo respeito (excepto com Taipei).

Zhou Enlai – 周恩来 em 1946
https://pt.wikipedia.org/wiki/Zhou_Enlai

Zhou Enlai  enviou um ofício ao ministro de Portugal na China a exprimir a vontade do novo regime chinês. Mas António Salazar rejeitou tal opção.
Sobre Macau, Zhou Enlai reconheceu ser inútil tomar Macau pela força, como exigiam na altura alguns radicais maoístas e os soviéticos, pois seria pernicioso para os interesses da China. Em 1952 aquando do conflito militar às Portas do Cerco, José Estaline (Josef Stalin – líder da União Soviética) ao querer inteirar-se sobre Macau, Zhou Enlai respondeu-lhe “Macau continua, como anteriormente, nas mãos de Portugal”.
Apesar de oficialmente não haver relações diplomáticas entre Portugal e a RPC,  em Macau, a diplomacia paralela ia funcionando com os intermediários:  O Lon (director clínico do Hospital Kiang Wu; 1.º secretário da cédula do Partido Comunista em Macau transferido para Cantão em 1951 , o seu irmão O Cheng Peng (Ke Zhengping) que em Agosto de 1949 funda a Sociedade Comercial Nam Kwong (no fundo o governo sombra da RPC em Macau até 1999); e Ho Yin, o líder da comunidade chinesa até à sua morte em 1983.  (dados recolhidos de SILVA, Beatriz Basto da Silva – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997 e FERNANDES, Moisés Silva – Macau nas Relações Sino-Portuguesas, 1949-1979. Administração XII-46, 1999.
(1) «BGC» XXV  – 294, Dezembro de 1949.
(2)  «BGC» XXVI – 295 , Janeiro de 1950.

Mais dois postais da colecção de 10 postais ilustrados por vários artistas da Gruta de Camões, editado pela Fundação Macau e Instituto Internacional de Macau, em Junho de 1999, já referidos em anterior postagem. (1)

POSTAL A GRUTA DE CAMÕES Mário Miranda 1999A Gruta de Camões em Macau
Tinta da China e cor sobre cartolina Conqueror
Mário de Miranda (Goa, Junho de 1999)

Mário de Miranda (Mário João Carlos do Rosário de Brito Miranda) (1926-2011), pintor cartoonista, ilustrador indiano nascido em Damão, de origem brâmane, descendente duma família que se converteu ao catolicismo desde 1750 e radicado na aldeia de Loutulim, em Goa. Estudou em Bangalore e Mumbaim (Bombaim) em colégios católicos. Iniciou o curso em arquitectura mas não o concluiu para se dedicar ao desenho (cartoon) a tempo inteiro nos periódicos da Índia. Esteve um ano em Portugal com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Mário, como assinou grande parte do seu trabalho, também retratou a Índia toda (em especial a sua cidade adoptiva Bombaim), Portugal, Macau, China, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Espanha e muitos outros locais espalhados pelo mundo. O Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva tornou-o comendador da Ordem do Infante Dom Henrique em 2009.(2)

POSTAL A GRUTA DE CAMÕES Io FongGruta de Camões
Aguarela
Io Fong (Macau)

Io Fong, 姚豐 nasceu no ano de 1950 na China Continental e completou o ensino primário e o ensino secundário em Macau. Formou-se no Colégio Subordinado ao Instituto de Belas Artes de Guangzhou, antes de trabalhar para o Hospital Kiang Wu. Em Macau, aprendeu pintura com os grandes mestres territoriais, nomeadamente, Leong Wai Man, Lok Cheong, Tam Chi San, Kuan Man Li e em Guangzhou foi discípulo de He Lei. Na década de oitenta, aprendeu aquarela com o Mestre Wang Zhaoming. O artista aderiu à Associação dos Artistas de Belas Artes de Macau em 1968 Desde o ano de 1985, tem vindo a desempenhar funções de designer de belas artes na construção da Casa Memorial do Hospital Kiang Wu e faz parte da equipa editorial dos livros que contam a história do Hospital Kiang Wu.”(3)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/01/22/macau-e-a-gruta-de-camoes-xxxv-postais-coleccao-a-gruta-de-camoes-1999-i/
(2) https://en.wikipedia.org/wiki/Mario_Miranda
Pode ver uma curta história animada com desenhos de Mário Miranda em
https://www.youtube.com/watch?v=n1tR5jIZ5ig
(3) http://www.fmac.org.mo/activity/activityContent_2109?lgType=po

Na 5.ª Parte do Boletim Sanitário da Província de Macau, ano de 1922, mês de Janeiro, referente a “RELATÓRIOS E ESTUDOS MÉDICOS”, encontrei este relatório efectuado pelo Dr.  António do Nascimento Leitão (capitão, médico de 1.ª classe), (1) relativo às inspecções sanitárias aos estábulos, vacarias, visitas domiciliárias e via pública.
A) – ESTÁBULOS E VACARIAS
Todos estão obedecendo às instruções que lhes tem sido dadas. Apenas o estábulo da firma Yun-Hop, em Sa-Kong, tem uma parte do reboco da parede caído. Prometeu que em breve dias estaria reparado e de novo caiado a branco
B) – VISITAS DOMICILIÁRIAS
SAN-KUONG (ARMAZÉNS) – AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO – Tem bons urinóis providos de água sob pressão. As retretes é que são do tipo insalubre (celhas de madeira no terraço do telhado). De bom grado poderão ser  substituídas pelas de autoclismo, distribuídas pelos três andares do edifício, para uso não só dos seus 50 empregados, mas também dos seus freguezes. Precisa, porém, de saber para onde tem de dirigir os respectivos tubos  de descarga, se para o colector da Avenida, se para o da rua das trazeiras, ou se para o da Travessa do Paralelo, que lhe fica ao lado.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO, N.º 67 – CULAO – Muitos sujos os pavimentos do 1.º e 2.º andares. Tem muitos escarradores, mas todos por baixo das mesas. Indiquei os lugares próprios para estes, lavagens frequentes dos soalhos e escadas, e a afixação de desticos proibindo que se escarre no chão.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO, N.º 64 – CASA DE PENHORES – Tem as retretes de celhas no telhado, a transportar – recomendei o tipo  das de caixa, limpas diariamente.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO, N.º 74 – CAMBISTA – CASA DE PENHORES. – Casa asseada. as suas retretes e urinóis, de autoclismos, poderão servir de modêlo às outras casas da Avenida.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO, N.º 76 – CULAO – No rez-do-chão, a cozinha muito negra, e a porta de grade que lhe dá acesso para a Avenida muito suja de fuligem. Nos andares superiores, os pavimentos muito sujos e as paredes muito escarradas; escarradores em abundância, aos grupos mesmo, mas todos por debaixo das mesas. No telhado, retretes (celhas) com as feses a transbordar – Recomendei as retretes de caixa, limpas diariamente; os escarradores mais espalhados e acessíveis; os soalhos lavados frequentemente; as paredes caiadas e com mais frequência a da cosinha, e sempre limpa e pintada a porta desta para a Avenida.
AVENIDA ALMEIDA RIBEIRO – Encontrei em sofrível estado de asseio os prémios números 80, 84, 86, 88, 90, 92 e 94.
C) – VIA PÚBLICA
Continuam a ser lançadas a urina e as matérias fecais para os sifões das sargetas de algumas ruas. A Travessa do Abreu, a Rua Nova (Bazarinho), a Calçada da Feitoria, para não citar outras todas as manhãs atestam o que afirmo. Está num estado imundo o pateo do n.º85 (antiga numeração) da Rua das Pontes e dejecta para a via pública um cano com despejos entúpido, que desce do 1.º andar do prédio n.º 24 da Rua da Senhora do Amparo.
Continuam as ruas a ser varridas a sêco, com os graves inconvenientes para a saúde pública.
Pelas 13 1/2 horas dos dias sêcos e ventosos começam as nuvens de poeira a ser levantadas em frente dêste Pôsto Médico, como que a demonstrarem-lhe como é inútil insistir mais sôbre êste ponto de higiene pública.
(1) Nesse ano, o Dr. António do Nascimento LeitãoHomem de cem ofícios» como lhe chamou o Padre Teixeira ), capitão médico colocado no Quadro Sanitário de Macau (desde 1920; seria nomeado major médico em Abril de 1923) era director do Laboratório de Radiologia (nomeado em Janeiro de 1922), director do Laboratório Bacteriológico (funções que desempenhava gratuitamente desde 1922 e era director desde 1912, com interrupções devidas a comissão em Timor). Como responsável do Posto Médico: dava consultas diárias, vacinações, socorros urgentes de dia e noite no Porto ou a domicílio; verificava óbitos na cidade e subúrbios, no mar, no Asilo de Santa Infância e no Hospital chinês; fazia inspecções sanitárias, serviços de estatística e administração, desinfecções e elaboração de relatórios; efectuava serviço clínico do Asilo de Sta Infância, Casa de Beneficência e cadeia civil; exercia sanidade marítima (inspecções de doentes a bordo, verificação de óbitos ocorridos em viagens, pratica as medidas a tomar  no caso de doença infeciosa, etc). Era professor da Escola de enfermagem.
António do Nascimento Leitão, nascido a 27-04-1879 (Aveiro – Portugal) tirou o curso na Escola Médico-Cirúrgica do Porto com 18 valores. Incorporado em 1899, promovido a facultativo de 3.ª classe (alferes) em 1907 ficando alferes graduado do Depósito de Praças do Ultramar nesse ano. Chega a Macau em 8 de Julho de 1907, como facultativo de 3.ª classe do Quadro de Saúde de Macau e Timor. Fez parte das operações militares do ano de 1910 contra os piratas na Ilha de Coloane (serviu de hospital de sangue a lancha-canhoneira Macau, dirigido  pelo Dr. César Augusto de Andrade, coadjuvado pelo Dr. Nascimento Leitão) Prestou serviço em Timor em 1911 e  1923.
Exerceu as funções de subdirector dos Serviços de Saúde em 1924 e 1926.Tenente coronel Médico em 1926.
Foi professor do Liceu de Macau das disciplinas doa  7.º grupo em 1908 – 1913 e das disciplinas do 6.º grupo de 1917 a 1920.
Além das suas múltiplas actividades exercia também  “Clínica médica e cirúrgica”  privada como comprova este anúncio de 1922.
ANÚNCIO de 1922 - CONSULTÓRIO DE ANTÕNIO N. LEITÃOAnúncio do consultório do  Dr. António Nascimento Leitão, em 1922, na Rua do Padre António 10 – Telefone n.º 6.
Intitulava-se “Com prática nas clínicas e laboratórios da Faculdade de Medicina de Paris (seguiu durante o 2.º semestre do ano escolar 1913-1914, um curso prático de medicina operatória sobre o tubo digestivo e seus anexos no Hospital «Saint Antoine », em Paris), médico radiologista ( seguiu assiduamente as conferências de radiologia, assistiu regularmente aos exames radiográficos e tomou parte activa nos exercícios práticos da radiografia no Hospital «Saint Antoine», assim como radioterapia), e subdelegado de saúde e guarda mor  de saúde (substituto de Lisboa em 1916 até regressar a Macau em 6 de Junho de 1917), etc.
As “especialidades” cirúrgicas e radiológicas foram “tiradas” nos quatro meses de licença que lhe foi autorizado em Janeiro de 1914 para ser gozadas em Paris e depois prolongada na situação de licença ilimitada até 31-12-1916.
O horário das consultas: da 1 (13H00) às 2 (14H00) e das 4 (16H00) às 5.30 (17H30).
O Padre Manuel Teixeira (em 1976) elogia este médico ” Foi o Dr. Leitão, neste 400 anos, o único que teve gesto tão simpático“, por ter enviado ao Governador Comandante Albano Rodrigues de Oliveira que foi seu aluno em Macau, a quantia de vinte mil patacas, para ser distribuída pela Casa de Beneficência (Asilo da Santa Infância e Asilo de S. Francisco Xavier), Hospital «Kiang Wu», Leprosaria Ká-Hó, Coloane (para beneficiação das instalações) Liceu Nacional de Macau (prémio para o melhor aluno anualmente), Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (prémio para o melhor aluno anualmente), Seminário S. José (melhor aluno anualmente), Hospital Central Conde De S. Januário (melhor aluno de enfermagem anualmente)
Anteriores referências ao Dr. António de Nascimento Leitão.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-de-nascimento-leitao/
TEIXEIRA, P. Manuel – A Medicina em Macau. Vol IV: Os Médicos em Macau no Séc.XX, 1976.