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Louvor pela coragem, abnegação e sangue frio com que agiu para salvar as vidas e material do Estado confiado à sua guarda, 1.º fogueiro (encarregado de alimentar as fornalhas das caldeiras nos navios de vapor) Hermínio Gonçalves.

Extraído de «BOGPM», n.º 26 de 27 de Junho de 1925, p. 449

Após a governação do capitão médico Rodrigo José Rodrigues (5-01-1923 a 16-07-1924), ficou como governador interino, pela 2.ª vez, o coronel do Quadro de Macau e Timor, Joaquim Augusto dos Santos de 16 de Julho de 1924 a 18 de Outubro de 1925. (1) O governador seguinte, Manuel Firmino de Almeida Maia Magalhães, oficial do Estado Maior, também esteve no cargo pouco tempo (8-10-1925 a 22-07-1926). (2)

(1) O B.O. n.º 28 nomeia o Coronel Joaquim Augusto dos Santos para interinamente, substituir o Governador Rodrigo José Rodrigues, enquanto ausente. O nomeado entra em funções dois dias depois. A 29 de Julho, a Secretaria – Geral do Governo, instala-se provisoriamente no Palacete da Flora  (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, p. 164)

(2) B.O. n.º 43, tomada de posse do cargo de Governador de Macau, Manuel Firmino de Almeida Maia Magalhães, que exerce por cerca de dez meses. O governador embarca para Lisboa a 11 de Agosto de 1926. Durante o seu curto mandato foi preciso lidar com a fome e a sede, por falta de fornecimentos, quer por via das Portas do Cerco quer por via de Hong Kong, onde as greves se multiplicavam e os piquetes atrapalhavam a circulação de pessoas e bens e também com o episódio da apreensão, em 15 de Junho de 1926, da 2.ª edição do livro “Historic Macao” (3) de Carlos Augusto Montalto de Jesus. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, pp. 174-175)

(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/06/15/noticia-de-15-de-junho-de-1926-historic-macao/

«As 5.35 horas da manhã de 13 de Agosto de 1931, (1) explodiu o Paiol da Flora, (2) devido aos grandes calores estivais. A explosão causou a morte das seguintes pessoas: 1.º sargento António Sousa Vidal, Henrique Ciríaco da Silva, funcionários das obras públicas, João Córdova, Natércia Duarte, criança de 11 anos, um filhinho do chefe da Polícia Carlos A. da Silva, um soldado africano e 15 pessoas chineses, sendo os feridos cerca de 50.(3)
O Palacete da Flora ficou reduzido a um montão de escombros; as casas fronteiriças, escalavradas; muitas casas arruinadas e muitíssimas com as janelas, portas e vidros partidos.
Nas três casas Canossianas houve muitos vidros partidos e algumas portas quebradas, mas não houve ferimentos, pois, sendo Verão, tanto as educandas como as órfãs chinesas estavam fora a passar as férias.
Uma bomba incendiária fez uma visita à Casa Canossiana de Mong Há: entrou por uma janela, forçando-a, pois, estava fechada, girou em volta da luz eléctrica, e saiu por outra janela do dormitório ds educandas, sem causar dano algum, além dum grande susto a uma rapariga, que naquela noite havia dormido ali. Atribui-se à protecção de Maria, de quem a pequena era muito devota, o não ter sido vítima do acidente. (4)
Outros estragos materiais mais significativos referenciados, para além das casas próximas do jardim que ficaram danificadas: a casa que Sun Fo tinha construído para a sua mãe, a casa memorial “Sun Yat Sen” na Av. Sidónio Pais: o coreto do jardim de Lou Lim Ioc que se encontrava em lugar diferente do actual, tinha a porta virada Av. Conselheiro Ferreira de Almeida.

A propósito dessa explosão, conta o Padre Teixeira (4) o seguinte episódio:
Nessa manhã, alguém telefonou da Taipa para Macau.
– Ouviu-se aqui um grande «estâmpido». Que aconteceu?
– O paiol da Flora foi pelos ares.
– Houve vítimas?
–  22 mortos e 50 feridos.
– Safa. Que «estâmpido» tremendo!
O caso do «estâmpido» passou de boca em boca e, durante vários dias, era «estâmpido» sem parar.
Nós tínhamos leitura no Seminário, durante as refeições. Sucedeu que o leitor foi o José Dias Bretão. Apareceu essa palavra no livro e ele, com ouvir tantas vezes pronunciar «estâmpido»., já estava um pouco confuso e leu assim mesmo.
Gargalhada geral!
O prefeito mandou que repetisse. E ele «estâmpido».
Por fim, mandou-o sair da estante, ameaçando-o com um castigo, pois julgava que estava a brincar. Só lhe levantou o castigo ao verificar que o rapaz tinha lido a sério.
Resultado: ficou sempre com a alcunha de «estâmpido».
(1) O Conselho do Governo destinou uma verba de 300 mil patacas destinado a ocorrer ao pagamento das despesas resultantes da destruição do Paiol Militar da Flora e à construção de um novo paiol nas Ilhas.
Boletim Oficial da Colónia de Macau de 14 de Agosto de 1931 – Suplemento ao n.º 32
Nomeação de uma comissão para propor as medidas a adoptar para se socorrer as vítimas da explosão do Paiol da Flora.
Boletim Oficial da Colónia de Macau de 14 de Agosto de 1931 – Suplemento ao n.º 32.
 (2) “Década de 20 – Posteriormente, no início de 20, procedeu-se à construção de um complexo sistema de túneis de características militares, que atravessam o subsolo da Colina da Guia, tendo sido instalado, na propriedade, um paiol que em 13 de Agosto de 1931, explodiu provocando a destruição do palacete da Flora “(ESTÁCIO, A. J. E e SARAIVA, A. M. P. – Jardins e Parques de Macau, p.30”
Em 28 de Junho de 1919, o governador aprovou o projecto da Repartição dos Serviços de Obras Públicas para a construção do novo paiol militar junto da Colina da Guia.

O Paiol da Flora estava situado num terreno por detrás do “Ténis da Flora” sensivelmente por detrás do actual Jardim Infantil D. José da Costa Nunes).

(3) O número de mortos e feridos variam conforme as fontes:
“Em 13 de Agosto de 1931, explodiu o paiol militar situado na Fonte de Inveja, causando 41 mortos, nos quais 7 foram crianças, e danificando um grande número de casas nos locais próximos. A explosão causou uma perda económica no valor de 400,000.00 dólares de Hong Kong para os proprietários e habitantes dos locais adjacentes”
http://www.archives.gov.mo/pt/featured/detail.aspx?id=106
11-08-1931 – Uma explosão no Paiol Novo da Flora provocou 24 mortos e 50 feridos e destruiu completamente o palacete da Flora. Várias casas ficaram em ruínas ou danificadas num raio de 3500 metros.”  (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997)
Boletim Oficial da Colónia de Macau, n.º 33 de 15 de Agosto de 1931
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, pp. 221-222

O jardim do Palacete da Flora. Construção antiga melhorada em 1914-1915
1915, Fotógrafo: M. Russel, Copyright: Arquivo Histórico Ultramarino,
https://actd.iict.pt/view/actd:AHUD7626

NOTA: Recorda-se que o Palacete da Flora foi a perda material mais significativa da explosão do Paiol. Foram trinta toneladas de pólvora que destruíram tudo, num raio de 300 metros incluindo o palacete que era a residência de verão dos Governadores; na altura, estava lá instalado o Museu Luís de Camões e servia também como pavilhão de exposições de arte.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/02/06/leitura-uma-exposicao-de-arte-no-palacete-da-flora-1929/
Anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/paiol-da-flora/
Pode-se ver fotografias dos estragos causados pela explosão em:
http://www.archives.gov.mo/pt/featured/detail.aspx?id=106
Outras leituras e video disponíveis:
https://cronicasmacaenses.com/2012/11/08/macau-1931-explodiu-o-paiol-da-flora/
https://www.youtube.com/watch?v=ytRaoL50QEU
http://macauantigo.blogspot.com/2012/07/explosao-do-paiol-da-flora-agosto-1931.html
O «Diário de Notícias” (Portugal) datado de 12 de Setembro de 1931 falava-se da segunda edição da Volta a Portugal em bicicleta, com vitória de José Maria Nicolau na etapa Beja-Évora e conquista da camisola amarela, a campanha contra o analfabetismo, considerado “um grande problema nacional”, e também de “A Catástrofe de Macau”, sobre a terrível explosão do paiol da Flora, acompanhado da seguinte foto:
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/12-set-2018/interior/contra-o-analfabetismo-9832957.html

Extraído de «BGC III -27, 1927»

Os leitores desta notícia (em Portugal de 1927) terão tomado conhecimento que não haveria biblioteca pública em Macau até esse ano. Mas “oficialmente” em 29-11-1895, o Governando José Maria de Souza Horta e Costa criou uma comissão de professores do Liceu para fazer um Regulamento para a «Biblioteca Pública de Macau» a qual teve como primeiro bibliotecário o macaense Matheus António de Lima. (1) Há, no entanto, outras notícias anteriores de tentativas de se estabelecer em Macau uma biblioteca pública.
Em 16-07-1838, é recomendado, em portaria régia, a formação de um jardim botânico, destinado à cultura de plantas medicinais, usadas pelos chineses, e bem assim a fundação de uma biblioteca, composta principalmente de livros e mapas chineses, japoneses ou escritos em outras línguas orientais e em 27-12-1873, o Governador Visconde de S. Januário aprovou os Estatutos da Sociedade chamada «Biblioteca Macaense», que, no entanto, não se sabe se existiu na prática. (2)
(1) Em 1898, o bibliotecário, Matheus de Lima, apresentava o número de utilizadores, em Boletim Oficial. Como amostra mensal, em Fevereiro, 34 leitores e 36 volumes consultados; em Maio, 24 leitores e obras consultadas. Não estavam descriminadas se eram consultas locais ou domiciliárias. A Biblioteca Nacional de Macau estava aberta das 9 horas da manhã às 4 da tarde (2)
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.

directorio-1934-museu-luis-de-camoes-uma-das-galeriasMuseu Luís de Camões – Uma das galerias.

O Museu Comercial e Etnográfico Luís de Camões foi criado, na dependência da Direcção das Obras dos Portos, por P.P. n.º 221 de 5 de Novembro de 1926.
Por D. L. n.º 203 de 19 de Setembro de 1931 passou a estar dependente da Inspecção de Instrução Pública.
Instalado primitivamente no Palacete da Flora, foi removido em 1928, para as salas do edifício de Leal Senado.
No ano de 1934, data destas duas fotos, estava aberto ao público das 11 às 16 horas, todos os dias, com excepção das quartas-feiras.

directorio-1934-museu-luis-de-camoes-outra-galeriaMuseu Luís de Camões – Outro aspecto da galeria

Os seus serviços estavam distribuídos por quatro secções:

    1. Comercial;
    2. Sacra;
    3. Etnográfica e Artística;
    4. Biblioteca

A Direcção era composta por:
Um Presidente nato, o Inspector de Instrução Pública: Dr. João Pereira Barbosa.
Um Director da Secção Comercial: Cónego António Maria de Morais Sarmento.
Um Director das Secções Etnográfica e Artística e Biblioteca: Dr. Horácio Pais Laranjeira.
Tinha ainda como Pessoal assalariado:
Um fiel: Margarida da Rocha Xavier;
Um guarda: Tomé d´Assunção;
Um servente: Seac Lai I.

No dia 8 de Março de 1828, faleceu na sua casa na Rua do Hospital, Marta da Silva Merop (Mierop) , (1) fazendo-lhe o enterro o Cura da Sé, Cónego António José Victor, que registou o seu assento de óbito no respectivo livro da Sé: «aos oito do mês de Março de 1828, nesta cidade, faleceu Martha da Silva Merop com todos os sacramentos, fez testamento e Codicilo »(2) (3) Foi sepultada na capela-mor da Igreja do Convento de S. Francisco.
“O seu marido era o inglês Tomas Merop, com quem casou religiosamente em Macau, (4) o qual no seu testamento declara: «A minha querida esposa, Marta da Silva , deixo a soma de dez mil libras e a minha casa da Rua do hospital e toda a mobília. Se ela mudar de ideias de passar toda a vida em Macau e vier para a Europa, deve receber mais três mil libras. É meu desejo que ela case após a minha morte, com uma condição: se ela casar com um português, receberá apenas cinco mil libras, quer venha para a Europa ou não. Se casar com um indivíduo doutra raça, receberá dez mil libras, e mais três mil libras se vier para Europa. Quer se conforme ou não com os meus desejos no respeitante ao casamento, deixo-lhes os meus livros e a mobília, a minha placa, relógio, anel, roupas, impressos, vinhos, instrumentos músicos e artigos curiosos, juntamente com a minha casa»
Marta não foi para Europa nem casou pela segunda vez; passou toda a vida em Macau” (1)
No  testamento que deixou, feito a 3 de Março de 1828, diz:
«Eu Martha da Silva Merop, viuva de Thomaz Merop, moradora n´esta cidade de Macau (…)  natural d´esta Cidade do santo Nome de Deus na China, filha de Pae e mai gentios (…) fui casada com Thomas Merop ora defundo in facie Ecclesiae segundo manda a  Santa Madre Igreja (…)  deste Matrimónio não tive filho algum (…) não tenho herdeiros descendentes nem ascendentes. (…) deixo por ora… (5)
Deixou o seguinte:
$ 1 000 para 1 000 missas por sua alma
$ 400 para ofícios solenes
$ 1 400 para pobres recolhidos
$ 400 para pobres de porta
$ 900 para fazer um depósito e com os juros celebrar festas anuais na Sé
$ 20 000 à Santa Casa de Misericórdia
$ 5 000 ao Mosteiro de Santa Clara
$ 5 000 ao Convento de S. Francisco
$ 20 000 às educandas do Recolhimento de S. Rosa de Lima devendo casa uma receber ainda $ 200 quando se casar
Deixou ainda várias somas às suas numerosas afilhadas e escravas que deveriam ficar livres após a sua morte. (1)
Marta MeropO seu retrato (6) em corpo inteiro pintado por volta de 1815, ocupa lugar de honra na galeria de benfeitores da Santa Casa de Misericórdia, na sala de Actos.
(1) Marta da Silva Van Mierop (1766 -1828), foi abandonada à nascença e recolhida pela Santa Casa da Misericórdia em meados do século XVIII. Casa com o inglês Thomas Kuyck Vam Mierop, sobrecarga da Companhia das Índias inglesa que lhe deixa em testamento parte da sua fortuna. Torna-se assim a mulher mais rica de Macau, famosa armadora e benfeitora da cidade.
(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – Vultos Marcantes em Macau, 1982, pp. 103-104.
(3) Codicilo – alteração ou aditamento de um testamento (FIGUEIREDO, Cândido – Dicionário da Língua Portuguesa, Volume I, 1986.
(4) Afirmação do Padre Manuel Teixeira mas que não se encontra registo do casamento em Macau. Outros referem concubinato. (5)
(5) Para uma melhor compreensão da história de vida desta benfeitora , aconselho a leitura, disponível na net, de
PUGA, Rogério Miguel – A Vida e o Legado de Marta da Silva Van Mierop in Women, Marruiage and Family in Macao
http://www.academia.edu/3785773/A_Vida_e_o_Legado_de_Marta_da_Silva_Van_Mierop
(6) José Tomás de Aquino, (7) em carta endereçada à Santa Casa pedia desculpas «quanto à demora dos retratos de Francisco Xavier Roquete que legou $ 62 000 a essa Instituição e de Maria da Silva Merop; os quais foram executados pelo retratista china VÓ Qua, mas sob o meu contorno e direcção» (2)
(7) José Tomás de Aquino ( 1804-1852), educado no Real Colégio de S. José de Macau, partiu para Lisboa em 1819, por indicação do pai, para estudar  Medicina.  Estudou no Colégio Luso-Britânico e formou-se em »Matemática, Desenho e Comércio». Regressou a Macau em 1825. Além de proprietário de navios e negociante era também «arquitecto».  Dirigiu a construção de muitas residências e edifícios em Macau, reedificou, modificou, alterou muitos outro edifícios oficiais. Saliento a construção do Teatro Luso-Britânico (1839); reconstrução da Sé Catedral (concluída em 1850); reconstrução da igreja de S. Lourenço em 1847 (reedificada em 1898); construção do Palácio do Barão de Cercal na Praia Grande (posterior Palácio do Governo); construção do Palacete da Flora e a construção da casa do Barão de Cercal na Rua da  Prata n.º 4.
TEIXEIRA, P. Manuel – Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX, 1952.
NOTA : também Patrícia Lemos abordou este assunto na «Revista Macau», em 2014 : “De Marta a macaense”, disponível em:
http://www.revistamacau.com/2014/03/05/de-marta-a-macaense/

Numa postagem anterior “ANÚNCIO -SOCIEDADE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUAS DE MACAU LIMITADA (S.A.A.M.)”, (1)  referi que o primeiro reservatório público de Macau foi construído em 1924 no vale da Colina da Guia, (2) mas que devido ao seu tamanho, poucas centenas de metros quadrados de área, muito limitado para o abastecimento de água público, foi abandonado  o seu uso (e também porque a Sociedade foi à falência).
Encontrei esta fotografia de 1927 em que se vê esse reservatório : “Reservatório de água do lado Sul da Colina da Guia”
ANUÁRIO de 1927 - Reservatório de CacilhasNesse mesmo lugar, em 1949, iniciou-se  as obras para a adaptação do reservatório em paiol (Paiol da Solidão) (3)  (estava no “vale”  por cima da Fonte da Solidão, hoje “escondida” porque está parcialmente enterrada com o alargamento da Estrada de Cacilhas e atrás das barreiras de protecção do Grande Prémio) (4)
O reservatório era fechado (na foto vê-se o terraço) e com as obras de adaptação foi cimentada constituindo o terraço do paiol, cuja entrada dava directamente para uma pequena rampa na direcção da Estrada de Cacilhas.
À esquerda da foto, a entrada  para um espaço escavada na colina onde escorria água que depois era canalizada para o reservatório. Este espaço foi readaptado para servir de armazém do paiol. Nesta foto, esta entrada não tinha ligação directa para o terraço (a passagem era feita apenas por uma tábua, do muro para a entrada). Na transformação em paiol foi necessária a destruição de parte desse muro do reservatório para dar  uma ligação mais larga, cimentada e directa à entrada. O transporte do material era difícil para este espaço pois não havia nenhuma passagem do andar superior para o inferior, apenas uma escada de madeira vertical ligava o terraço e a guarita (à direita na foto – futuro local de trabalho do paioleiro) (5) pelo que se construiu uma passagem em terra, da porta da guarita (visível, à direita na foto) para umas escadas de pedra que ainda hoje é possível observar no local (muitos degraus já desfeitos) Pela dificuldade de transporte, armazenava-se aí nesse espaço interior, o material menos usado ou que aguardava  abatimento.

MEU ÁLBUM Paiol de Solidão IAspecto actual do Paiol de Solidão. (FOTO Abril 2015)

Na foto acima, a rampa que dá acesso ao paiol com o muro do antigo reservatório recuperado. A rampa (como ela está, mais larga e alcatroada) foi feita já na década de 60 (século XX) para melhor acesso dos transportes da carga e descarga de armas, munições e explosivos (por força de lei, as empresas que lidavam com  explosivos empregues em trabalhos particulares eram obrigadas a terem esse material depositados no Paiol). À direita, à beira da estrada,  por detrás das barreiras, a Fonte da Solidão.
MEU ÁLBUM Paiol de Solidão II ABRIL 2015À direita a escada de acesso, de pedra (infelizmente mal conservada, semi-desfeita) para o “andar” superior. O portão e a  pequena guarita no topo das escadas foram colocadas depois do 25 de Abril de 1974.
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/08/07/anuncio-sociedade-de-abasteci-mento-de-aguas-de-macau-limitada-s-a-a-m/
(2) Já em 1919, o coronel (engenheiro) Adriano Augusto Trigo  quando assumiu a Direcção dos Serviços de Obras Públicas de Macau, traçou um plano que incluía o aproveitamento das águas fluviais e águas subterrâneas. O projecto para captação de águas fluviais, entre outros, previa a construção na Colina da Guia de um reservatório.
(3) Recordar que o anterior paiol estava na Flora junto ao Palacete da Flora – hoje Jardim da Flora,  desde 1924 até ao episódio do seu rebentamento pelas 5 horas da manha do dia 11 de Agosto de 1931, atribuída ao excesso de calor. Provocou 24 mortos e 50 feridos e destruiu completamente o Palacete da Flora.
Há indícios dum anterior paiol em Mong-Há com a data de 1887 e outro mais antigo (primitivo’?) numa informação datada de  30-03-1639: “Tendo sido reconhecida a necessidade de se construir um Paiol de pólvora e proposto para este fim o sítio de Nossa Senhora da Penha de França ou no baluarte de Sao Pedro, o Senado preferiu, porém construí-lo no monte de S. Paulo” (MOSAICO, 1951)
(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/decada-de-50/
(5) O primeiro paioleiro deste paiol, foi colocado em 1 de Janeiro de 1951.  O primeiro (e único) paioleiro do Paiol da Solidão foi o  Cabo Pereira, já que posteriormente se construiu outro paiol, (em meados da década de 50 do século XX) ligeiramente mais a oeste, ao nível da  Estrada de Cacilhas que tem no seu interior uma ligação interna – túnel que “perfura” a Colina da Guia – com saída no Jardim da Flora. Os dois paióis sob a designação de Paiós de Cacilhas mantiveram-se em funcionamento simultâneamente e sempre com mesmo paioleiro até à sua reforma e mesmo depois de reformado até 1973.
Paioleiro – guarda de Paiol, ou seja, é o guarda do local onde ficam armazenadas as munições e os explosivos dos militares. Em Macau também se armazenavam (por lei) os materiais das empresas civis que utilizavam explosivos para as obras.

1929 – Realiza-se neste ano, uma importante Exposição de Arte (mais de 670 trabalhos, entre fotografias e pinturas, vindos de vários pontos do Extremo-Oriente) O certame tem lugar no Palacete da Flora em Macau. (1)

Nésta  terra pequenina mas encantadora, onde a vida para a maior parte da gente desliza sem graves apreensões de espirito e sem grandes dificuldades, a Arte e a cultura intelectual devem encontrar terreno favorável ao seu desenvolvimento. …(…).
Macau, com as suas belezas naturais os seus recantos poéticos surgem trechos da velha arquitectura portuguesa, com o colorido alacre das suas casas risonhas e os seus curiosíssimos aspectos da vida e hábitos chineses, já transmitira à alma de um grande artista. George Chinnery, o seu desejo de se ver reproduzida, cantada em poemas de harmonia e côr. Chinnery ligou o seu nome à história de Macau reproduzindo trechos das suas mais lindas paisagens, imortalisando  alguns  dos seus personagens ilustres e tipos clássicos de hieraticos e serênos mandarins do Celeste Império…(…)…
Os novos ignoravam talvez que além deste grande pintor outros houve  que nesta terra demonstraram incontestável valor artístico como o Barão do Cercal, Marceano Babtista, etc.
Uma exposição de Arte realisada este ano no palacete da Flóra veio familiarisar estes nomes, porventura um pouco esquecidos, com os dos nossos jovens artistas de hoje dando-lhes ensejo a contemplar quadros de mestre, neles aprendendo a vencer hesitação e dando-lhes, pela primeira vez, ocasião de patentearem ao público os esforços do seu trabalho e as faculdades artísticas.

Palacete da FloraUm trecho do jardim e Palacete da Flora onde se realizou a Exposição de Arte (2)

Desenhos muitos cuidados, aguarelas, pasteis, óleos de colorido interessante assinados por portuguêses de Hong Kong e Macau revelaram-nos grandes disposições…(…)…
Em provas fotográficas foi mais vasta a exposição …(…) …
Carlos de Souza, Climaco do Rosário, J. Sakai, Yoshiska souberam transmitir-nos a sua artística maneira de sentir e conseguiram oferecer-nos aspectos lindos e inéditos em velhos trechos conhecidos.
Dr. João de Bianchi, nosso Ministro em Pequim deu-nos uma página “Morte dos Lotys”: lento extinguir da seiva nas folhas amarelecidas, triste reflexo na agua estagnada que ensombra o nosso olhar.”
……………………………………………………………………….continua (2)
Maria Anna A. Tamagnini 

Maria Anna de Magalhães Colaço Acciaioli Tamagnini (1900-1933) poetisa e esposa do governador de Macau, Artur Tamagnini Barbosa.  Mais informações, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/19/cotisacao-para-o-asilo-de-mendicidade/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/02/18/poesia-crepuscu-lo-ii/
NOTA: Recorda-se que o Palacete  da Flora foi a perda material mais significativa da explosão do Paiol da Flora (na altura situada num terreno por detrás do actual Jardim Infantil D. José da Costa Nunes), no dia 13 de Agosto de 1931. Foram trinta toneladas de pólvora que destruiram tudo, num raio de 300 metros incluindo o palacete que era a residência de verão dos Governadores;  na altura, estava lá instalado o Museu Luís de Camões e servia também conforme esta descrição, como pavilhão de exposições de arte.

(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7).
(2) Monografias, artigos, mapas e gráficos estatísticos, 1929,