MBI I-15 15MAR1954 Seminário S. José IA fachada da Igreja do Seminário de S. José

A imponente fachada das Ruínas de S. Paulo não constitui apenas um monumento religioso. Aquela mole gigantesca de granito apregoa na sua aparente nudez, uma época brilhantíssima em que com toda a justiça, Macau era apontada como o ponto de irradiação da Cultura Lusíada nestas paragens.
Do Colégio-Universidade de S. Paulo (ou S. Paulo, o Grande – Tai Sam Pá / 大三巴) fundado no final do século XVI) saíram para a China, para o Japão, para todo o Extremo Oriente, legiões de missionários, padres e leigos empenhados na obra de difundir entre os infiéis, a Fé e a Civilização Cristãs.
Remonta também a essa época o começo do Seminário de S. José, fundado como Colégio de S. Paulo, pelos Jesuítas.
Há grande divergência entre os investigadores sobre a data da sua fundação. Sabe-se que já existia em 1749, podendo situar seguramente o seu começo no segundo quartel do século XVIII. Existia, então, no sítio onde se levanta o actual edifício, conhecido durante muito tempo como Monte do Mato Mofino, um grupo de 3 casitas pertencentes a um homem rico, Miguel Cordeiro, que as ofereceu aos missionários jesuítas. Nelas se instalou o primitivo Seminário e delas se foi erguendo, ano a ano, gradualmente o grandioso maciço que ainda é conhecido entre os chineses: Sam Pá Tchai ou S. Paulo Menor/ 三巴仔.(1)
Com a expulsão dos jesuítas, em 1762 , registou-se um período de abandono, até 1784, ano em que o Seminário foi confiado aos Lazaristas ou Padres da Missão, vindos do Seminário de Chorão (Goa).(2)
Dentre os novos professores, que conseguiram levantar o seu prestígio cultural a um grau bastante elevado, distingiu-se o famoso sinólogo, Padre Joaquim Afonso Guimarães, cujas cinzas, como as do Bispo de Pequim, D. Joaquim de Sousa Saraiva, ainda se conservam na igreja do Seminário.
Em 1820, ensinavam-se nela, além de ler, escrever e contar, as Línguas Portuguesa, Inglesa, Francesa e Chinesa, a Música, a Retórica, a Filosofia, os Estudos Eclesiásticos. Havia também aulas de Matemática, uma Academia e de Marinha.
Em 1828, o Seminário adquiriu, por compra, a Ilha Verde, então verdadeira ilha, para nela se construir uma casa de repouso, onde os seminaristas passavam as férias de Verão.(3)

MBI I-15 15MAR1954 Seminário S. José IIAltar de Nossa Senhora da Conceição

Com a execução, em Setembro de 1835, do decreto que extinguia toas as congregações religiosas e, mais tarde com a morte, em 1853, do Pe. Joaquim José Leite, último reitor lazarista, entrou o então «Real Colégio de S. José» num novo período de decadência.
Em Março de 1862, porém, graças aos esforços do bispo D. Jerónimo José da Mata, chegavam os jesuítas Padres Francisco Xavier Rôndina (o seu retrato está num dos salões do edifício do Leal Senado) e José Joquim de Afonso Matos, que deram notável impulso ao ensino, atraindo ao Seminário alunos de Hong Kong, das Filipinas e doutros pontos do Extremo Oriente.
Em 1870, os seus estudos foram oficializados, para os que se não destinavam ao sacerdócio, passando a denominar-se «Seminário-Liceu», facto este que confere o direito de ser considerado o primeiro Liceu da Província.(4)
Em 1871 com a expulsão, primeiro dos professores estrangeiros e, mais tarde, de todos os padres da Companhia de Jesus, sofreu o Seminário novo golpe.(5)
O bispo D. António Joaquim Medeiros confiou em 1890, o ensino, e, em 1893, a direcção e administração do Seminário, novamente, aos jesuítas.
Com a terceira expulsão destes, em 1910, tomou a direcção do Seminário, o clero secular, até 1929, ano em que o bispo D. José da Costa Nunes a entregou, outra vez, aos jesuítas que nela se mantiveram  até 1940. Desde então foi dirigido pelos cleros seculares, auxiliados por alguns religiosos e leigos até ao seu fecho em 1968 (externato); no ano anterior tinha sido encerrado o curso eclesiástico por falta de vocações.

MBI I-15 15MAR1954 Seminário S. José IIIAltar-mor da Igreja do Seminário

Em 1931, fundou-se o Colégio de S. José para alunos externos chineses, anexo ao Seminário até 1938, data em quer foi desligado, passando a funcionar independentemente.
Em Maio de 1938, fecharam-se as portas do Seminário aos alunos externos, sendo frequentado apenas pelos candidatos à vida missionária.(6)
Mas, em 1949, reabriu para os externos, o curso primário e, em 1950, o curso secundário.

MBI I-15 15MAR1954 Seminário S. José IVApós obras de reconstrução, em 1955, os dois edifícios novos do Seminário de S. José. Ao fundo o Salão de Actos e sala de estudo e em primeiro plano a nova escola para alunos esternos.

Em 1954, (7) após a restauração da igreja do Seminário construída igualmente pelos jesuítas, em data que se ignora, mas já existente em 1758, o bispo João de Deus Ramalho, S. J. inaugurou dois pavilhões novos, um para sala de estudos dos seminaristas e salão de actos e outro para aulas dos externos e residências dos professores.
Em 1954/1955 funcionavam neste estabelecimento, 4 cursos distintos, com 2 classes diferentes de estudantes (96 seminaristas e 330 alunos externos):
1 – Curso de Instrução Primária, para alunos portugueses;
2 – Curso Secundário, para alunos portugueses;
3 – Curso Secundário, para alunos chineses;
4 – Curso Eclesiástico, constituído por 2 anos de Filosofia e 5 de Teologia, comum a chineses e portugueses.
À parte funcionava ainda um Curso Especial nocturno de Português para chineses , frequentado especialmente por empregados comerciais.
No seu período áureo, por muitos anos, chegou a manter, com grande proveito para os que não pretendiam seguir a carreira eclesiástica, entre outros cursos especiais, uma Escola de Pilotagem e um Curso Comercial em língua inglesa.(8)
Durante mais de dois séculos, o Seminário de S. José formou sucessivas gerações de pessoas que se destacaram em Macau e no mundo, nomeadamente: Marechal Gomes da Costa, Leôncio Ferreira, o antigo governador de Macau  Artur Tamagnini Barbosa, D. José da Costa Nunes (Vice-Camarlengo da Santa Sé), D. Jaime Garcia Goulart, (Bispo de Timor), Guilherme José Dias Pegado Gouveia ((doutor e lente de Matemática/Física da Escola Polytécnica e seu irmão Manuel Maria e  Pedro José Lobo, Pedro Nolasco da Silva, José Silveira Machado, Manuel Teixeira, José Machado Lourenço, D. Jerónimo José da Mata, D. Arquimínio Rodrigues da Costa, D. Domingos Lam Ka-tseung, D. José Lai Hung-seng e D. Jaime Garcia Goulart. (9)

MBI I-15 15MAR1954 Seminário S. José VO corpo docente e discente do Seminário de S. José (1954/1955) com o novo reitor, Rev. Pe. Arquimínio Rodrigues

(1) 19-02-1783 – Foi erecto em seminário o antigo colégio de S. José, que os padres jesuítas tinham estabelecido em 1754 com três casitas que Miguel Cordeiro doou à Missão dos Jesuítas em Nanquim.(10)
      07-03-1783 – Foi criado no Colégio de S. José de Macau, um seminário para a educação da mocidade macaense.(10)
(2) 01-10-1784 – Foi inaugurado o Seminário de S. José, confiado aos lazaristas, com oito alunos. (10)
(3) Referências anteriores à Ilha Verde:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ilha-verde/
(4) O decreto de 20 de Setembro de 1870 é o primeiro documento oficial completo, referente ao Seminário, que, além dos estudos eclesiásticos e da formação dos missionários para a China, visava também oficializar os estudos no referente a alunos que não se destinavam ao sacerdócio. Na verdade, o n.º 3 do artigo 1.º diz assim « Servir de liceu em que recebam instrução secundária os indivíduos que não se destinarem aos estado eclesiásticos». Aparece, portanto, o Seminário de S. José, como o primeiro liceu na realidade, em Macau,  visto que o Liceu de Macau só foi criado em 27 de Julho de 1893.
22-12-1881 – Decreto organizando o Seminário de S. José, sob o nome de Seminário -Liceu de S. José de Macau, continuando, porém a serem mantidas a cadeira de náutica e as aulas do ensino comercial.(10)
(5) 20-09-1870 – Todos os professores estrangeiros do Seminário de S. José foram obrigados, por decreto, a deixar o ensino.(10)
(6) 18-05-1938 – Foi extinto o Colégio e ficou só o Seminário de S. José, por Portaria Eclesiástica, em cumprimento às instruções da Santa Sé de as aulas do Seminário só poderem ser frequentadas por candidatos à vida eclesiástica(SILVA, B. B. .Cronologia da História de Macau, Vol.4)
(7) MARÇO DE 1954 – Concluídas as obras de reparação nela introduzidas, foi reaberta ao público a Igreja do seminário de S. José. Nesse dia, Sua Exa. o Bispo D. João de Deus Ramalho conferiu o Santo Crisma a 18 seminaristas recentemente vindo vindos da metrópole. (Macau B. I., 1954)
(8) 22-12-1881 – Decreto organizando o Seminário de S. José, sob o nome de Seminário -Liceu de S. José de Macau, continuando, porém a serem mantidas a cadeira de náutica e as aulas do ensino comercial.(10)
(9) Seminário de S. José – Macau B. I. 1955 e Seminário de S. José in Anuário de Macau 1953-55.
(10) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954
NOTA: a Igreja e o Seminário de São José estão incluídos na lista dos monumentos históricos do “Centro Histórico de Macau”, que por sua vez foi classificado pela UNESCO em 2005 como sendo um Património Mundial da Humanidade.