A construção do Colégio de S. Paulo (1594) ao qual dentro em breve (1602) seria acrescentada a majestosa Igreja a Madre de Deus, de que restam imponentes ruínas, partiu da ideia do Padre Visitador Alexandre Valignano que na sua construção foi eficientemente auxiliado pelo padre Reitor Manuel Dias e a ultimaram com dispêndio de larga soma.
Na construção, uma das secções, logo lá individualizada, foi a da enfermaria, que aparece referida, pelo menos depois do acrescente «da varanda nova, com vistas para o rio» (porto interior),na verdade, a exposição recomendável (…)
Anexa à enfermaria estava a indispensável botica, a cargo de Irmão especializado e sempre proficiente.

postal-ruinas-de-s-paulo-dst-1986POSTAL – RUÍNAS DE S. PAULO
Colecção «MACAU DST»  s/data
(Provavelmente de 1986)

Eis uma carta escrita por um desses Irmãos boticários dirigida ao Padre Visitador Jerónimo Rodrigues em 21 de Dezembro de 1625 e cópia da mesma, ao Rev.mo Padre Geral no ano de 1626.
Por vezes tenho falado a V. Rev.ma dando-lhe várias razões para que haja por bem que eu não vá para fora da Casa curar nenhum enfermo e, também, por via do meu confessor o fiz saber a V. Rev.ma.
Mas como foram dadas, por várias vezes e de palavra, pareceu-me ajustá-las por escrito, as quais são as seguintes:
Primeiramente, tenho dificuldade de curar fora desta Casa, por não ser médico, porque um médico tem necessidade de saber muito bem latim, curso e medicinas e como V. Rev.ma sabe, das duas não sei nada e de latim sei muito pouco.
Vai em 6 anos que estou em Macau e todas as vezes que os Superiores me mandam fazer alguma cura, me escusei, vendo a minha insuficiência e, assim, sempre fui forçado, mais por lhes dar gosto e satisfazer o seu mandado, que para outro nenhum fim.
Ainda que algumas curas me sucederam bem, fiz muitos erros por não saber e alguns deles graves, de que fiquei com muitos escrúpulos, particularmente, de 3 de que fiz sabedor V. Rev.ma.
Não se pode dizer que há extrema necessidade, coo por vezes, me disseram alguns Superiores e alguns particulares, porque até Março passado estiveram (aqui) Estêvão Jorge e Diogo Marin, os quais curaram esta cidade 40 (?) anos.. Contudo, em seu tempo, me mandaram muitas vezes fora e agora têm aqui Luís de Azevedo que, ainda que não é médico de profissão, é muito bom latino e bom boticário e tem livros por onde estude. Sem nenhum encarecimento me atrevo a dizer que pode ser meu mestre, assim na medicina como na botica, afora outros mais que há na terra, ainda que, senão tão bons, também ajudam nas necessidades…”
… continua
SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência. Agência Geral das Colónias, 1950.pp.28-32.