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Continuação da leitura da conferência realizada na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 5 de Junho de 1946, pelo tenente-coronel de engenharia Sanches da Gama e publicada no «Boletim Geral das Colónias» de 1946. (1) (2)
(1) Ver anteriores postagens em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/06/05/noticia-de-5-de-junho-de-1946-leitura-macau-e-o-seu-porto-i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/10/24/leitura-macau-e-o-seu-porto-ii/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/11/02/leitura-macau-e-o-seu-porto-iii/
(2)  «BGC»XXII -253, Julho de 1946, pp. 67-92.

O Bispo D. Alexande Pedrosa Guimarães (1) comunicava, em 28 de Dezembro de 1774, ao Rei que os Governadores de Macau agiam arbitrariamente, convindo que não dessem licença aos médicos (2) para se retirar:

Aqui os Governadores, nestas distâncias, fazem absolutamente o que não podem e o que, não devem, contra as leis, alvarás, provisões, sentenças ou sem sentenças e por isso muito facilmente lhe darão licença para irem viajar ou mesmo retirarem-se …(…) Todos quantos aqui chegam degregados ou corridos de fortuna, se fazem fidalgos  e não querem trabalhar por suas artes e ofícios”. (3)

(1) 1774-1779 – D. Alexandre da Silva Pedrosa Guimarães – Bispo de Macau, nomeado em 1772, confirmado e sagrado em 1773, chegou a Macau em 1774. Marcou o seu governo a política mais pombalina do que episcopal frente aos jesuítas que ainda encontrou em Macau. Foi Governador (1777-1778), exactamente na mudança de D. José I para D. Maria I. Chamado à Corte (1779) saiu de Macau em 1780, ofereceu a renúncia em 1782, sendo ela aceite em 1789. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume IV, 2015, p. 35.

Ver  anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-alexandre-da-silva-pedrosa-guimaraes/

(2) 28-12-1771 – Carta do Bispo, D. Alexandre da Silva Pedrosa a El-Rei D. José, acerca das dificuldades no preenchimento do lugar de físico ou cirurgião da cidade (SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência, pp. 85)

(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume I, 2015, p. 297.

Na tarde do dia 29 de Julho de 1875, pelas 17H00, deflagrou um incêndio numa casa situada na Rua da Cadeia Pública. (1) Foi debelado com a ajuda dos elementos militares (Força Naval e Batalhão de Infanteria) e do Corpo da Polícia de mar e terra.

Extraído de «BPMT», XXI-n.º31 de 31 de Julho de 1875, p. 134

(1) O Leal Senado mudou o nome da «Rua da Cadeia» para «Rua Dr. Soares», em memória dos serviços prestados no território do Dr. José Caetano Soares. A rua começa na Rua dos Cules, entre a Calçada do Tronco Velho e o Beco da Cadeia, e termina na Avenida Almeida Ribeiro, ao lado do edifício dos Paços do Concelho. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/rua-da-cadeia-rua-do-dr-soares/

Anteriores referências ao capitão e inspector interino dos incêndios, Frederico Guilherme Freire Corte Real, ver em; https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/frederico-g-freire-corte-real/

Notas de um Irmão anónimo intituladas «Do que me lembre», assim deixou registados, entre outras circunstâncias, os últimos momentos de D. Belchior Carneiro: (1)

“Partimos de Goa na nau de D. João de Almeida … no ano de 1581 a 28 de Abril …. e chegámos a este Porto do Nome de Deus de Macau nas vésperas de Santiago de 81. Achámos aqui recolhido (em Casa de St.º António) o Padre Patriarca D. Belchior Carneiro, com grande edificação, pobreza e humildade … Só tinha um moço, de nome João, que o servia e acompanhava quando ia fora. Tinha mais outro moço, velho que parecia guzerate e lhe servia para levar o sombreiro de pé, quando ia a alguma visita … Ele comia um frango já requentado, por não poder comer … Muitas pessoas devotas se lhe ofereceram a lhe fazerem de comer em suas casas, mas de ninguém o quis aceitar … O seu cubículo era o de um padre secular, sem outra coisa mais que sua roupa que usava, o mais como qualquer padre, porque de tudo se desfez. …

Faleceu aos 19 dias do mês de Agosto de 83, de sua asma, (2) porque, como não comia, não tee forças para lançar fora um escarro, que se lhe atravessou na garganta … Era tido por um santo … só ouvi murmurar que renunciara, em vista de o acharem de menos no seu governo … por brando … “ (3)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-belchiormelchior-carneiro/

(2) Por um lado a falta de saúde: asma rebelde, ainda complicada de cálculos na bexiga tornarem-no um inválido e por mais de uma vez lhe puseram em risco de vida. Mas também os desentendimentos e fundas divergências, sobretudo com o Visitador Jesuíta Alexandre Vaglinani, (4) levaram-no, cerca de 1581, a renunciar às administrações a seu cargo Aquaviva, (5) o novo Geral da Companhia, pretendeu nomeá-lo Superior em Macau, mas Vaglinani discordou. (3)

Para o Dr. José Caetano Soares, clinicamente o caso afigura-se claro: – “asma intensa e prolongada, provávelmente, já com bronquiectasia ou até acentuado enfisema; pela velhice, e grande debilidade física – as habituais crises crdíacas de hipóstase e portanto fervores de secreções brônquicas espessas, dispneia forte, acessos de asfixia por espasmo, morte em síncope”. (3)

(3) SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência, 1950, pp. 14-15.

(4) Alexandro ou Alexandre Valignano (:范礼安 Fàn Lǐ’ān) (1539 – Macau, 1606), foi um missionário jesuíta napolitano que ajudou a supervisionar a introdução do catolicismo no Extremo Oriente, especialmente no Japão. Valignano juntou-se à Companhia de Jesus em 1566 e em 1573 foi enviado como “Visitador” para o Oriente respondendo diretamente ao Superior Geral da Companhia de Jesus. A nomeação de um napolitano para supervisionar a ação missionária jesuíta do Padroado no Império português foi na época bastante controversa, e a sua nacionalidade, bem como a sua política expansionista e estratégia adaptacionista (defendia a adopção pelos jesuítas dos usos orientais – vestuário, linguagem e algumas práticas, ritos e costumes – o que mais tarde resultou na Controvérsia dos ritos na China, um conflito com a visão rígida dos dominicanos, que ditou o fim desta abordagem) levaram a muitos conflitos com o pessoal da missão. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Alessandro_Valignano)

(5) Claudio Acquaviva  (1543 – 1615), foi um padre jesuíta italiano, quinto superior geral da Companhia de Jesus, no período de 1581 a 1615

Continuação da leitura do documento – carta escrita não assinada por um Irmão boticário do Colégio de S. Paulo, dirigida ao Padre Visitador Jerónimo Rodrigues em 21 de Dezembro de 1625 e cópia da mesma, ao Rev.mo Padre Geral no ano de 1626 (1) (2)

“ É muito risco de quem cura nesta terra, porquanto não há nela nenhum médico letrado e de autoridade para acudir a um erro, quando acontece uma cura, para o remediar e, também, para desenganar a muitos quando lhes morrem os parentes ou pessoas de sua obrigação e cuidam que tal ou tal coisa foi a causa de morte, como, por vezes, me aconteceu, sendo falso o que nesta me impuseram. Sei, de certo, que o mesmo aconteceu aos que aqui curam e, por vezes até ao Padre Gaspar de Castro, da nossa Companhia. Tanto que qualquer médico visita um enfermo, pelo mesmo caso, fica obrigado a continuar coma acura e dar-lhe as mezinhas de consideração. Se houver alguma falta carregará de sua consciência perdendo o crédito e se a enfermidade vai engravecendo e durante muito tempo é obrigado a continuar, como, por vezes, me aconteceu – como nesta terra não há botica, em mezinha alguma ao modo português, senão a deste Colégio, em semelhante caso sou obrigado às mezinhas de muita importância.

Vai em 6 anos que curo nesta Cidade e neste curso de tempo tenho curado 92 homens, deste, alguns 2 e 3 vezes, e 39 mulheres, tudo por ordem dos Superiores, gastando com estes enfermos todas as mezinhas que lhes foram necessárias, afora outras que dei, por ordem de outros médicos, sem nenhum destes senhores mandar a esta botica 1 só pardau pela ajuda, sabendo bem que este Colégio é pobre. Mais parece que gente tão ingrata não merece tão bem servida e o certo é que estes senhores cansam os Superiores e a mim, mais para não gastarem, do que por lhes faltar na terra quem os cure.”

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/12/21/noticia-de-21-de-dezembro-de-1625-leitura-da-carta-do-irmao-boticario-i/

(2) SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência, 1950 pp. 28-32 p. 29 

Relação dos trinta maiores contribuintes de todas as contribuições (predial, industrial de taxa varável e industrial por licenças) no ano de 1923, muitos deles figuras/individualidades notáveis da época (grandes negociantes da área comercial e industrial, alguns ligados actividades liberais, advogados, médicos, etc.)

Extraído do «BOGPM», suplemento ao n.º 24 de 18 de Dezembro de 1923.

Três grandes nomes da medicina que exerceram a sua profissão em Macau. Estes anúncios foram publicados no Anuário de Macau, 1921.

José Caetano Soares (Almendra, freguesia de Trancoso 1887- Lisboa 1963) – Estudou medicina na extinta Escola Politécnica no Porto e depois, em 1912, concluiu o curso na Escola Médico-Cirúrgica em Lisboa. Estagiou no Hospital de S. José (Lisboa) onde adquiriu a prática de cirurgião. Iniciou a sua vida de médico, ingressando no quadro de saúde de Moçambique como tenente- médico e em 1913 (Portaria de 5-4-1913) foi mandado servir no quadro de Macau até 1915 (com uma comissão de serviço em Timor). Após regresso de Timor em 1916, rescindiu o seu contrato como médico militar, sendo exonerado em 25-07-1916. Passou a exercer clínica particular e a ser o primeiro facultativo do «Partido Médico Municipal», recém-criado pelo Leal Senado (posse a 1-11-1916). Na mesma altura nomeado Director do Hospital de S. Rafael, da Santa Casa de Misericórdia. Começou também nessa ocasião a fazer clínica em Hong Kong aonde se deslocava semanalmente. Em 30-11-1918 casou-se com Maria Luísa da Silveira Lorena Santos. Os seus filhos (dois rapazes e uma menina) nasceram todos em Macau. Manteve-se em Macau até 22 de Julho de 1937 (22 anos de actividade clínica) tendo regressado a Portugal, fixando residência em Lisboa. Deixou escrito um livro notável de investigação histórica “Macau e a Assistência – Panorama médico-social”, de 544 páginas, que foi publicado em 1950, pela Agência Geral das Colónias. Pelos seus serviços no território, o Leal Senado, deu o seu nome à Rua da Cadeia, que hoje se chama «Rua Dr. Soares» (1) (2)

NOTA: anteriores referências neste blogue em: em:https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-caetano-soares/

José António Flipe de Morais Palha (Mormugão, Índia Portuguesa 1872 – Macau 1935). Licenciou-se em medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa e frequentou o Instituto de Oftalmologia dessa cidade. Serviu como graduado em guarda-marinha desde 5-08-1893 a 2-08-1894. Foi promovido a alferes a 22- 07-1898. Chegou a Macau a 3.03-1900, como facultativo de 3.ª classe do quadro de saúde de Macau e com guia da Canhoneira «Zaire». (em 1-07-1900 passaria ao serviço dos corpos da guarnição). Comissão em Timor de 30-01-1902 a 7-12-1908; 24-01-1908 -? ; 31.03-1913 a 16-03-1914 (já como capitão médico). Em 2-09-1918 promovido a major-médico e a 10-09-1920 a tenente-coronel médico. Em 1917 nomeado chefe interino dos Serviços de Saúde e depois efectivo neste cargo. Casou, em 1922, com Adélia Gonçalves Rodrigues. Deixou uma filha adoptiva. Entre outras actividades oficiais, foi professor do liceu (em 1900- de língua alemã; em 1912 a 1918, professor do 6. º grupo). Reformado em 15-05-1926. Faleceu em Macau a 2 de Novembro de 1935. (2)

NOTA: anteriores referências neste blogue em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-a-f-de-moraes-palha/

António do Nascimento Leitão (Aveiro 1879- 1958)

Curso de Medicina na escola Médico-Cirúrgica do Porto com 18 valores; curso de Medicina Tropical com 12 valores; curso de Medicina Sanitária com 17 valores; curso especial de Medicina Operatória na Faculdade de Medicina da Universidade de Paris e e curso de Radiologia Médica no Hospital de Saint Antoine, de Paris. Subdelegado de saúde em Lisboa. Facultativo de 3.ª classe do quadro de saúde de Macau e Timor por Decreto de 4-04-1907 (B.M.U. n.º 8). Chegou em Macau e 8 de Julho de 1907. Destacado para Timor em 1913, esteve ali algum tempo, regressando a Macau em 1917, após especializar-se em radiologia). Em Macau destacou-se como médico-cirurgião e radiologista (capitão – médico, depois promovido a major-médico e a seguir tenente-coronel médico), como médico sanitário, nomeado director do Laboratório de Radiologia em 1922, Director do Laboratório Bacteriológico do Hospital Militar (1919) e subchefe interino dos Serviços de Saúde (nomeado em 13 de Agosto de 1926). Regressou a Portugal em 1951. (2)

“Homem de cem ofícios” como lhe chamou o Padre Teixeira (“Foi um dos bons médicos que conhecemos”).

NOTA: sobre este médico recomendo leitura de António Aresta em «JTM», 4 de Agosto de 2016: https://jtm.com.mo/opiniao/antonio-nascimento-leitao/ Anteriores referências neste blogue em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-do-nascimento-leitao/

(1) Rua Dr. Soares começa na Rua dos Cules, entre a Calçada do Tronco Velho e o Beco da Cadeia, e termina na Avenida Almeida Ribeiro, ao lado do edifício dos Paços do Concelho.

(2) Breves notas biográficas, retiradas de TEIXEIRA, Pe. Manuel – A Medicina em Macau, Volume 2(III-IV), 1998. 566 p., ISBN 972-97934-2-5.

Encadernação de época de lombada em papel

Livro fundamental para quem quiser saber cronologicamente por dias, meses e ano, a história de Macau, de Luís Gonzaga Gomes editado em 1954, pelo “Notícias de Macau», o XII volume da «Colecção Notícias de Macau, embora , como afirma o autor, não seja precursor, em Macau, deste tipo de documentação histórica por datas, numa sequência lógica.
Livro composto e impresso nas oficinas do Jornal «NOTÍCIAS DE MACAU», Calçada do Tronco Velho, n.º 6-8, Macau- Oriente (1)

Luís Gonzaga Gomes na sua introdução, elabora uma pequena “história” deste tipo de trabalho, e justifica a publicação do presente livro.
“ O primeiro trabalho no género do que presentemente apresentamos foi efectuado por A. Marques Pereira e publicado, e em números sucessivos do Boletim do Governo da Província de Macau e Timor de 1867. No ano seguinte, este trabalho foi editado, em forma de livro, por José da Silva, com o seguinte título “Ephemerides Comemorativas da História de Macau e das Relações com os povos christãos,”, por A. Marques Pereira, (2) antigo secretário da Legação de Portugal na China, Procurador dos Negócios Sínicos d Cidade de Macau, Membro honorário da Real Sociedade Asiática (Inglesa), Cavalheiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição, etc.
Em 1922 apareceu no Anuário de Macau um trabalho idêntico, porém, mais simplificado mas quase todo baseado nas “Ephemerides” de A. Marques Pereira.
Em 1842 a revista «Religião e Pátria» reproduziu, na íntegra, o trabalho aparecido no Anuário de Macau. Em 1944, o semanário «União» publicou trabalho idêntico mas, infelizmente, com muitas gralhas tipográficas, na parte respeitante às datas, registando, todavia, vários acontecimentos não mencionados em trabalhos anteriormente publicados.
Com o aparecimento de inúmeras obras de investigação, sobre assuntos referentes à actuação dos portugueses no Extremo-Oriente, conscienciosamente feitas por Jordão de Freitas, Frazão de Vasconcelos, Armando Cortesão, Manuel Múrias, Albert Kammerer, Dr. José C. Soares, C. R. Boxer, J. M. Braga, Pe. M. Teixeira, Pe. A. Silva Rego e outros, bem como a publicação dos “Arquivos de Macau”, surgiu a possibilidade de se elaborar um novo trabalho deste género, só com factos referentes a Macau, que publicamos, em 1950, na revista «Mosaico».
Este trabalho, depois de refundido e muito acrescentado, volta agora a aparecer, pela necessidade que existe duma obra, onde os que se interessem pela história desta província ultramarina podem encontrar breve notícia daquilo que lhes exigira muito tempo perdido em busca e rebusca por bibliotecas, pois tudo quanto se tem publicado sobre Macau…”

(1) GOMES; Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau. Notícias de Macau, 1954, 267 p., 18 cm x 11,5 cm x 2 cm.
Anteriores referências a L. G. Gomes em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/luis-gonzaga-gomes/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joao-feliciano-marques-pereira/

Memorial (Relatório) do cirurgião-mor Domingos José Gomes, (1) de 6 de Outubro de 1822, enviado ao Senado «Sobre as enfermidades que mais cometem a tropa de Sua Majestade»
Tabes ou convulsões dorsais – vulgo tísicas – , obstruções e cirroses, tanto do fígado, como do mesentério, vício sifilítico ou gálico, hidropisias, ascites, algumas disenterias e finalmente febres que,  relativamente às moléstias acima ditas, são poucas.
Do continuado alimento de peixe, ora salgado, ora fresco, mariscos, continuamente adubados de grande quantidade de açafrão, pimentos e muitas espécies aromáticas e calefacientes, que só por si depravam as túnicas do estômago e conseguintemente, alteram os sucos digestivos tão essenciais à digestão … O excessivo uso de um vinho que os chinas extraem do arroz e que o vulgo, em razão dos seus estragos, chama «fogo», tão acre e tão corrosivo que arruína e dá cabo em poucos meses do indivíduo mais valente que a ele se aplique. Principia por obstruir-lhe as entranhas do baixo ventre, reduzindo-o absolutamente e tornando-o até incapaz do serviço mais leve, quando não termina, como mutas vezes observei, por uma rápida e violenta hemoptise, que em breve conduz o paciente à morte …
A incontinência, que se pode considerar como um efeito ou corolário das premissas acima declaradas, é, também, outra não menos fatal à tropa, pelo continuado estímulo da comida tão condimentada e a bebida excitante, impelindo à satisfação das suas paixões carnais, contrai com a maior facilidade o vício gálico e às vezes duma natureza tal que, resistindo ao mais bem ideado tratamento, conduz muitos dos doentes à sepultura …” (2)
(1) Domingos José Gomes exerceu o “serviço de cirurgião-mor das tropas que guarnecem a cidade” conforme o requerimento que apresentou em 1803 para a concessão da respectiva carta-patente.
O Major Comandante da unidade – Manuel da Costa Ferreira declarava: «ter ele cumprido com toda a satisfação, por espaço de 6 meses … em que mostrou todo o zelo e actividade no Real Serviço, curando não só de cirurgia, mas também de medicina … por isso merecendo toda a confiança e contemplação de que se faz digno … »
“Em consequência do fracasso na revolução liberal de 1822, em que figurava no número dos pronunciados, logo a seguir ao chefe do movimento – o tenente-coronel Paulino da Silva Barbosa – após essa data, nada mais aparece referente aquele assíduo funcionário, (Domingos José Gomes) que por lá trabalhou, activamente, pelo menos 19 anos.
Só o Ouvidor Miguel de Arriaga, em ofício de 8 de Março de 1823, para informar sobre alguns indivíduos, escrevia:
Domingos José Gomes, português, europeu, cirurgião que era do Partido da Cidade e que para obter foi necessário demitir o que então servia. Homem solteiro, a quem  se permitiu deixar o Partido para melhor fazer o seu comércio no tráfico do anfião, onde foi admitido como qualquer dos outros Moradores aqui estabelecidos.  Foi tão abonado na Real Presença pelo abaixo-assinado que, em 20 de Julho de 1814, mereceu ser condecorado como Hábito da Ordem de Cristo. O seu génio desconfiado, pouco quieto ou grato, não é a um só conhecido … (2)
Domingos José Gomes, refugiou-se em Cantão, em 23 de Novembro de 1823, após a queda do Governo Constitucional (a Constituição foi jurada no Leal Senado em 1822) juntamente com os liberais Fr. António de S. Gonçalo Amarante, o editor de “A Abelha da China” (órgão do partido constitucional) e João Nepomuceno Maher.
(2) SOARES, José Caetano – Macau e A Assistência, 1950, pp. 109.

Neste dia pario a Mulher de António de Albuquerque (Maria de Moura) hum filho, e no dia 23 mandou faser comedia á sua porta. Em 26 se correrão Alcansias a Cavallo com outros divertimentos. A 27 se baptisou a creança na Freguesia de St.º António, sendo seus padrinhos Manoel Favacho e Catharina Soares a cujo acto assistio o Governador António Sequeira de Noronha com duas Companhias de Soldados mandando salvar o Monte com sette tiros na entrada à igreja e onze na saída, rematando todo este pomposo, com outro Lugubre, com a morte da parida, que no dia 31 do dito mez passou para a eternidade sendo o seu cadáver enterrado em S. Francisco com grande acompanhamento mas diferente daquele com que o filho foi Baptizado porque aquelle acabou com praser, e este com tristeza e lagrimas como quasi sempre soccede nos praseres desta vida (1)

Igreja de S. Francisco
George Chinnery
1825
Lápis sobre papel

Com grande pompa de acompanhamento, ofícios e dobre de sinos em todas as Igrejas, ficou sepultada na Igreja de S. Francisco, na mesma cova onde já estavam a filha (Inês, enterrada a 6 de Março de 1712, que vivera só 7 dias). Entretanto chegavam a termo as muitas desavenças e queixas contra António de Albuquerque Coelho, tanto para o Vice-Rei, como para El-Rei, e com o parecer do Conselheiro António Ruiz da Costa, concordaram não só os do Conselho Ultramarino, como El-Rei, no sentido de mandarem inquirir, em especial, das suas responsabilidades, por abuso de autoridade, com tal ordem se cruzou a comunicação do Vice-Rei D. Vasco de Meneses ao dar parte que o fizera recolher a Goa – «para não prejudicar a inquirição das sua culpas» (2)
António de Albuquerque Coelho viria a ser nomeado em Goa. Governador de Macau, em 05 de Agosto de 1717. Chegou a Macau a 29 de Maio de 1718. Ocuparia o lugar até à chegada de António da Silva Telo de Meneses, irmão do Conde de Aveiras) a 9 de Setembro de 1719 que havia sido provido naquela capitania de Macau em data anterior à da nomeação em Goa de Albuquerque Coelho.

Escadas que conduzem ao antigo Convento de Santo Agostinho
George Chinnery
1829
Lápis sobre papel

A igreja de S. Francisco quando foi demolido, a urna com a lápide foram transferidas para a Igreja de Santo Agostinho onde ainda hoje se encontra encaixada na parede da capela-maior
A lápide constava o seguinte:

“Nesta urna estão os ossos de D. Maria
De Moura e Vasconcelos e sua filha
Ignez e os do braço direito de seu
marido António de Albuquerque Coelho
que aqui a fez depositar vindo de Governador
e Capitão Geral das Ilhas de Solor e
Timor no ano de 1725»

(1) BRAGA, Jack M. – A Voz do Passado, 1987.
(2) SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência, 1950.
Ver anteriores referências a António de Albuquerque Coelho:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-albuquerque-coelho/