Artigo publicado por Carlos José Caldeira (1) na “A Illustração Luso-Brasileira” de 1856 (2)
“Em 4 de Janeiro pelas duas horas da tarde, manifestou-se fogo no centro do bazar, ou bairro chinez, n´uma loja ou botica, como lá se dizem. O vento forte, que soprava rijo, espalhou-se rapidamente: ás 5 horas rondou para leste, e algum tempo depois voltou ao norte, o que fez com que as chamas avançassem em todas as direcções. O incêndio durou até ás 11 do dia seguinte.
“Incendio do bazar chinez em Macau”
(Gravura publicada no mesmo jornal, visão do artista da Baía da Praia Grande)
Arderam umas 1:500 casas entre grandes e pequenas, incluindo mais de 600 lojas. As propriedades e valores perdidos sobem a mais de um milhão de patacas, ou para cima de 1:000 contos. Houve também alguma perda de vidas.
Ás 7 horas da tarde do mesmo dia, outro fogo se manifestou em sitio afastado do bazar, n´uma espécie de pequena doca, onde estavam fechados uns 100 tancares, ou botes chinezes, que serviam de habitação a mulheres publicas chins. Em poucos minutos tudo ardeu, e d´aquellas infelizes morreram 17, mulheres e creanças. O resto salvou-se dificultosamente através d´um postigo que conseguiram abrir na porto da doca, que estava cerrada á chave.
As autoridades, e força militar de mar e terra, e todos os cidadãos de Macau, trabalharam quanto poderam para atalhar o incendio, e evitar os roubos e desordens que sempre em taes ocasiões pratica a população chineza. Tambem prestaram valiosos auxílios as guarnições das fragatas francezas Virginie e Constantine, que estava surtas no porto.
Os melhores meios e os mais bem dirigidos esforços para atalhar na China fogos similhantes, são afinal pouco eficazes. O bazar ou bairro chinez de Macau, é um labyrintho de ruas e de casas, mais estreito, tortuoso e complicado do que o nossos bairro d´Alfama. Em varias partes são apenas corredores cobertos de esteiras, por onde os viandantes com dificuldade podem transitar. As casas são muito frágeis, construídas na maior parte de madeira. Em taes circumstancias quasi o único remedio de terminar um incendio, é derrubar todas as propriedades que se lhe avizinham, ao que os chins sempre repugnam.
Estes sucessos são mui frequentes na China, principalmente nas províncias meridionais, onde os edifícios são quasi todas de madeira. Contribue para isto o costume de fumar continuamente, o haver em todas as casas sempre lume para preparar chá e a pouca precaução e ordem que o chin tem no lar doméstico…” (continua).
NOTA: Esta mesma notícia, já foi referenciada em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/01/04/noticia-de-4-de-janeiro-de-1856/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/batalhao-provisorio-de-macau/
(1) Referências anteriores de Carlos José Caldeira em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/carlos-jose-caldeira/
(2) “A Illustração Luso-Brasileira: jornal universal” foi um jornal de periodicidade semanal que se publicou durante 3 anos: 1856, 1858 e 1859, em Lisboa, na Travessa da Victória, n.º 52
[…] mesmo incêndio foi relatado por outras fontes, já anteriormente publicados neste blogue: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/01/04/noticia-de-4-de-janeiro-de-1856-grande-incendio-do-b… […]