“Somos sensivelmente pesarosos de annunciar, que no dia 1.° do corrente mez houve hum incêndio no Vazar, o qual começou ás 10 h. da manhãa, acabando a maior violência das chamas pelas 3 h. da tarde. Deu causa a este desastre hum desafio pueril de duas crianças Chinesas cm acender c atirar mutuamente grandes amarrados de Panchões, como fogo proprio em toda a China da actual época de anno novo, cujo 2.° dia era o de tão infeliz accontecimento. A união das Boticas, ou Lojas Chinesas de venda, os differentes artigos combustíveis, que de ordinário encerrão, e a estreitesa das ruas, ou becos, derão lugar a que o fogo tivesse maior progressão, apesar dos soccorros que não faltarão por parte dos Senhores Governadores Interinos, conjunctamentc com os Mandarins.
He innegavel que tanto a Officialidade como a Soldadesca, os voluntários Paisanos, e alguns estrangeiros se destinguirào no trabalho de derribar os telheiros para obstar o progresso da conflagração, mas não podemos occullar que isto só foi obtido dos Mandarins, (pela sua natural repugnância, e dos Chinas que supersticiosamente o não consentem) pela presença do Illustríssimo Conselheiro e Membro do Governo Sr. Miguel d’Arriaga, á cuja ordem o Mandarim com as lagrimas nos olhos via obrar tudo que ao mesmo parecia convir para a extinção do incêndio. Nós não podemos dar huma idéia mais completa, do modo por que o fogo se estendeo, e a primeira direcçâo que tomou, pela pouca exactidào, que encontramos nas diversas informações recebidas dos Chinas; podendo sómente dizer que elle se dividio em 3 lugares differentes. O numero das Boticas queimadas, huns dizem, que chegaria a 100, outros, a 60, afora 14 ou 16 lançadas abaixo. Aperca avalia-se diversamente, mas suppoem-se como certo, que entre os prédios e effeitos existentes nas I/ojas, passaria de 60, ou de 80 mil patacas. “
(1) Extraída de «Gazeta de Macau», n.º VI de 7 de Fevereiro de 1824, p. 321
20-12-1862 – Ontem, pelas 15.00 horas a fortaleza do Monte deu o sinal de fogo no Bazar. O incêndio manifestou-se com rapidez, na rua da Barca da Lenha, num lugar apertadíssimo, onde só existiam estâncias de lenha, carvão e madeira, e alastrou-se até Pun-Pin-Vâi. O incêndio desenvolveu-se com grande intensidade, ameaçando devorar as casas das ruas próximas, mas por felicidade, o vento rondou de norte para nordeste e leste-nordeste, «abonançando» consideravelmente, além de que, sendo preamar, houve água em abundância, seno possível isolar-se o foco das chamas, ficando o incêndio extinto às 21 horas. Depois do grande incêndio do Bazar, em 1856, foi este um dos maiores que se deu na cidade. (1) (2)
Extraído de «B.G.M., IX-3, 20 Dezembro de 1862, pp. 9/10
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 165
(2) 31-12-1862 – Foram isentos do pagamento de décimas e licenças pelo período de um ano, os donos das propriedades do Bazar, que arderam no dia 19 deste ano, sendo os mesmos obrigados a começar a reconstrução dentro de três meses. (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
Notícia das comemorações, em Macau, do aniversário natalício do rei D. Luiz I, publicada no jornal “O Independente” de 6 de Novembro (1) que originalmente (na sua maior parte) foi retirada do “Boletim da Província de Macau e Timor”. (2)
Extraído de «O Independente», Vol. I, n.º 10 de 6 de Novembro de 1868, p. 88
Rei D. Luís I, 1862
NOTA: D. Luís I (Lisboa, 31 de outubro de 1838 – Cascais, 19 de outubro de 1889), apelidado “o Popular”, foi o Rei de Portugal e Algarves de 1861 até à sua morte. Era o segundo filho da rainha D. Maria II e seu marido, o rei D. Fernando II, tendo ascendido ao trono após a morte prematura do seu irmão mais velho, o rei D. Pedro V. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_I_de_Portugal
Às 8 horas da noite de 12 de Julho de 1893, na rua nova d´El-Rei, (1) foi apunhalado o chinêsLi Hin Teng, cunhado do capitalista Chan Fong (2) que foi outrora cônsul da China em Honolulu.
Extraído de «Echo Macaense», semanário luso-chinez, Ano I- n.º 1 de 18 de Julho de 1893, p 2
NOTA: a notícia nomeia dois médicos (facultativos) 1- Dr. Luís Lourenço Franco, macaense, nascido a 25-8-1849, formado em medicina em Goa em 1875; nomeado facultativo auxiliar do quadro da Saúde a 20-5-1878, para servir em Timor; nomeado em 4-9-1978 para o quadro de saúde de Macau e Timor. Prestou serviço no batalhão de infantaria do ultramar, no Lazareto da Ilha Verde e na Estação Naval; reformado com a guarnição de capitão a 15-01-1895. 2 – Dr. Pinheiro de Almeida (não encontrei biografia disponível).
(2) Creio que o falecido era irmão de Lee Hong (李杏), 1.ª mulher (na China) de Chen Fâng (陳芳) negociante, grande filantropo que ergueu empresas/negócios (venda de ópio, transportes, plantações de açúcar e café, etc.) em Honolulu (Hawai), Macau e Hong Kong: Emigrou de Guangdong para Hawai em 1849, adoptando o nome de Chun Afong, em 1850. Casou também em Hawai com Julia Fayerweather Afong. Deixou, ao todo, 20 descendentes. https://en.wikipedia.org/wiki/Chun_Afong
Continuação da leitura de parte do diário de viagem de Théodore Adolphe Barrot, diplomata e político francês (1801-1870), nomeadamente à sua passagem por Macau, em finais de 1837. (1) (2)
“…Je pris place dans un de ces bateaux, et mon bagage fut transporté dans un autre. Mon attention se partagea bientôt entre la vue de la ville, qui se déployait devant moi, et le costume des batelières. J’avoue que ce costume m’avait d’abord un peu surpris. En voyant leurs tuniques bleues, leurs capuchons rabattus, je fus au moment de les prendre pour des moines de Saint-Francois; mais mon erreur cessa quand je les vis de plus près, et qu’échauffées par l’exercice de la rame, elles relevèrent leurs capuchons. Leur chevelure noire était rassemblée sur le derrière de la tête, en une grosse tresse qui se relevait vers le sommet ; de longues aiguilles d’or l’attachaient et la réunissaient. Leurs jambes nues et leurs bras étaient entourés de gros anneaux d’argent ou de verre. Il y avait de la coquetterie dans cet ajustement, qui se distinguait d’ailleurs presque généralement par une excessive propreté. La vie rude et laborieuse de ces femmes n’avait point altéré la délicatesse de leurs formes, leur teint seul était légèrement bruni par le soleil. Je ne pus m’empêcher de faire une comparaison entre ces Chinoises et les femmes d’Europe dont la vie est occupée à des travaux pénibles ; le résultat, je dois le dire, fut loin d’être à l’avantage de ces dernières. Les Chinois appellent ces femmes, qui appartiennent à une caste particulière, tang-kia ou tang-kar (œufs de poisson). Cette caste vit constamment dans ses bateaux ; elle ne peut habiter la terre ; jamais elle ne pénètre dans l’intérieur des villes ou des terres, ses villages se composent d’un certain nombre de vieilles barques élevées sur des pieux le long du rivage. Les hommes sont occupés à la pêche ; les femmes et les enfans les accompagnent ou gagnent leur vie en conduisant les bateaux de passage. Je dois ajouter que ces pêcheurs sont loin d’être renommés pour la pratique des vertus patriarcales : les hommes sont d’habiles voleurs ou de dangereux pirates, et les femmes mènent, du moins dans l’établissement de Macao, une vie très irrégulière.
La seule belle rue de Macao est la plage ; on l’appelle Praga-Grande ; c’est une rangée de belles maisons européennes, qui s’étendent le long d’un quai bien bâti, sur un espace d’environ un mille. Ces maisons appartiennent toutes aux négocians anglais établis à Canton ou à de riches Portugais. De cette rue principale s’échappe une foule de petites rues étroites et montueuses. Dans l’intérieur de la ville, on trouve quelques belles maisons, quelques églises et d’autres monumens ; la construction de ces édifices annonce que la colonie a eu ses jours de richesse et de prospérité. Toutefois la plus grande partie de Macao ne consiste qu’en de misérables masures. Au centre de la ville européenne est situé le Bazar ou la ville chinoise. C’est un tissu, si je puis m’exprimer ainsi, de petites rues d’une toise de large, bordées de chaque côté de magasins et de boutiques. Ce quartier de Macao est entièrement chinois, et quelqu’un qui n’aurait vu que ce bazar pourrait se former une juste idée des villes de l’empire céleste, car on m’a assuré qu’elles étaient toutes bâties sur ce modèle. Ce que je puis affirmer, c’est que le quartier marchand de Canton, le seul qu’un Européen puisse visiter, ne diffère en rien du bazar de Macao…” (continua)
(1) Théodore-Adolphe Barrot (1801 – 1870) – diplomata, cônsul e embaixador de França em vários países entre os quais Colômbia, Filipinas, Haiti, Brasil, Portugal, Bélgica e Espanha. Tornou.se senador antes da sua reforma (1864-1870). https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Adolphe_Barrot
(2) BARROT, Adolphe – Un Voyage en Chine. Première partie et deuxiéme partie. Voyez la relation de son voyage dans la Revue des Deux-Mondes: T.20, Novembre 1839.
A 13 de Abril de 1783 deu-se na Rua do Bazarinho (1) a morte dum chinês, que causou grande apreensão. O Senado reuniu- se a 19 de Abril para discutir sobre a «morte feita na noite do dia treze do d.º mez, a hum china assistente em huma botica na Rua do Bazarinho do Bairro de S. Lourenço e q. achara p. sette testemunhas compreendido e culpado na mesma morte, q. as mesmas testemunhas na devaça declarão»
Essa devassa foi feita a 14 de Abril. O governador D. Francisco de Castro, (2) não tendo a certeza de «quem fosse verdadeiramente o matador», mas que lhe parecia haver «suficiente prova para vir no conhecimento do dito matador», mandou consultar três advogados, que exerciam a sua profissão em Macau há muitos anos, estes confirmaram que a prova era suficiente para se julgar que o culpado era aquele que as testemunhas declararam na devassa.
Este termo do Leal Senado, de 19-04-1783, está assinado pelo escrivão da Câmara, Jacinto da Fonseca e Silva, e por António Gonçalves Guerra.
(1) Rua do Bazarinho que os chineses chamam de Soi-Sau-Sai-Kai (水手西街) isto é, Rua dos Marinheiros, a oeste, para distinguir doutra Rua dos Marinheiros, que ficava a sul. Chamava-se Bazarinho para o distinguir do Bazar Grande em S. Domingos. Começa na Travessa do Mata-Tigre, ao lado do Pátio da Ilusão, e termina na Calçada de Eugénio Gonçalves, quase em frente a Rua das Alabardas (hoje Rua da Alabarda). (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, p. 449-450)
(2) António José da Costa, negociante (estava já em Macau desde 1730), que foi chamado a substituir em 05-01-1780 o governador João Vicente da Silva Meneses (falecido a 4 de Janeiro), em 28-08-1780, por doença de que veio a morrer em 03-02-1781, entrega o Governo ao Fidalgo Cavaleiro D. Francisco Xavier de Castro. Este era filho do ex-governador Rodrigo de Castro. Exerce funções até Agosto de 1783. A 18 de Agosto de 1783, toma posse o Capitão. Geral, Bernardo Aleixo de Lemos e Faria. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 1, 2015, pp. 304 e 308)
Extraído de «BOGPM», n.º 8 de 20 de Fevereiro de 1926, p. 121
Comparando com os mesmos sinais de 1966 – postagem de 18-04-2012 (1) – os sinais procedidos de dois tiros de peça dados da mesma fortaleza, em 1926, passaram a ser procedidos de toques de sereia, em 1966, e os sinais nocturnos assinalados pelas disposições de uma a três “bolas” (em 1926) passaram a ser sinalizados pela disposição vertical, por lâmpadas de cores (combinação de amarelo e vermelho).