No dia 22 de Abril de 1773, o Senado, em face da fuga de muitos cafres,(1) resolve prendê-los dois a dois com correntes de ferro, e depois, sob a direcção de uma pessoa eleita pelo Senado, seriam forçados a trabalhar «alimpando as ruas desta cidade e suas Fortalezas» dando-se a cada um 25 cates de arroz por mês e 2 condorins de peixe por dia.(2)
(1) Cafre – Palavra que deriva do árabe Kafir, que significa gentio ou infiel. Relativo às populações bantos, não muçulmanas da África Meridional. Habitante da Cafraria, antiga colónia inglesa que abrangia a região da Cidade do Cabo, na República da África do Sul, e algumas regiões adjacentes. Moços de fretes ou criados eram também tratados por cafres ou bichos.(3)(4)
Designação que abrangia negros oriundos da África Oriental. Da costa ocidental do referido continente eram chamados simplesmente de negros.(6)
NOTA: Aconselho a leitura do trabalho académico “Macau: Uma sociedade Esclavagista (sec. XVI – XVIII)?” de Daniel Valenzuela Tavares (5), do qual retiro algumas informações sobre os cafres em Macau:
“ (…) Noutro quadro social, Peter Mundy relata o jogo espanhol de alcanzias que decorria na cidade na Praça de S. Domingos, afirmando que, entre a população, metade eram mouros e a outra metade cristãos, cada um com os seus negros ou cafres envoltos em damascos, e enquanto estes levavam lanças com pendões onde estavam pintadas as armas dos seus senhores, cabia a cada negra servir o seu senhor com uma bola” (p. 260).
“ (…) Destes (escravos) o autor destaca que os homens eram na sua maioria cafres de cabelo encaracolado e as mulheres eram na sua maioria chinesas.” (p. 265).
“ (…) É também possível observar aqui as diferentes etnias que formavam o quadro social escravo de Macau. As etnias presentes neste martírio (refere-se ao martírio da embaixada da cidade de Macau no Japão) eram das mais variadas origens, referindo-se o autor aos escravos “cafres, malavares, chinas, chingalas, malayos, bengallas, macaçares, jaos e d’outras nações“. (p. 264)
Outras referências aos cafres, também se encontram no trabalho académico de Anabela Nunes Monteiro (6) (sugiro a sua leitura)
Zheng-zhi-long com a fortuna herdada, comprou um barco e dedicou-se ao comércio, estabelecendo contactos com o Japão, Manila, Sião, Índia e com os próprios portugueses. Entre os seus homens encontravam.se inúmeros cafres que haviam escapado à escravatura, nas mãos de portugueses e castelhanos. (p.112)
diremos que é provável que os cafres que Bocarro indica sejam da costa oriental africana e que tivessem chegado a Macau, via Goa” (p.144)
Se os escravos chineses eram bem aceites entre a comunidade mercantil de Macau, o mesmo tratamento não devia existir em relação aos cafres, perpetuando-se, mesmo, um certo horror, devido à ferocidade destes em caso de ataque.” (p. 145)
Ver também anteriores referências aos escravos, neste blogue:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/escravos/
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 2,1997.
(3) CARMO, Maria Helena do – Os Interesses dos Portugueses em Macau, na Primeira Metade do Século XVIII. Centro de Publicações, Universidade de Macau, 2000, 92 p. + 24 p anexos documentais, ISBN: 972-97842-9-9.
(4) Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: https://dicionario.priberam.org/cafre
(5) TAVARES, Daniel Valensuela — Macau: Uma sociedade esclavagista (séculos XVI-XVIII)?. Omni Tempore. Atas dos Encontros da Primavera 2017. Volume 3 (2018), pp.244-269.
https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/16250.pdf
(6) MONTEIRO. Anabela Nunes – Macau e a presença portuguesa seiscentista no Mar da China. Interesses e estratégias de sobrevivência. Dissertação de Doutoramento em História, 2011.
file:///C:/Users/ASUS/Documents/PARA%20ELIMINAR%20-%20DOWNLOADS/Tese%20de%20Doutoramento_Macau%20e%20a%20Presen%C3%A7a%20Portuguesa%20Seiscentista%20no%20Mar%20da%20China%20_Anabela%20Nunes%20Monteiro.pdf