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Diário de Peter Mundy (1) (2) (3) que veio à China na armada do chamado “contrabandista” (corsário comercial) Squire Courteen (Lord William Corteen) da Companhia das Índias, sob o comando do capitão John Weddel que deixou a Inglaterra em Abril de 1636 e chegou a Macau a 28 de Junho de 1637 (4) depois da sua passagem por Goa. A armada permaneceu por mais de seis meses nas vizinhanças de Macau e do Rio da Pérola, partindo finalmente para a índia, de regresso à Inglaterra em Janeiro de 1638. (1)

Peter Mundy sendo um dos enviados a terra, onde permaneceu algumas semanas, com o fim de aí negociar, estava em boas condições de poder escrever um relato do que viu, tanto mais que os seus conhecimentos das línguas espanhola e portuguesa [ver versão (5)] lhe permitiam conversar livremente com a alta sociedade da localidade.” (1)  

“25 de Novembro: O nosso almirante e outros capitães foram convidados pelos padres de S. Paulo para irem assistir a uma representação na Igreja de S. Paulo feita por crianças da cidade sendo mais de cem os que representaram; mas eles não foram. Eu e os outros, que estávamos em terra, fomos. Era parte da vida do seu muito afamado S. Francisco Xavier, na qual havia passagens muito interessantes, viz. uma dança chinesa por crianças em trajes chineses; uma batalha entre portugueses e holandeses, representada em dança na qual os holandeses eram vencidos sem quaisquer palavras depreciativas ou acções ofensivas a essa nação. Outra dança de caranguejos chamadas vulgarmente Stoole Carangueijos, constando de muito rapazes lindamente vestidos na forma desses animais cantando todos e tocando em instrumentos como se eles fôssem todos os carangueijos. Outra dança de crianças tão pequeninas que parecia impossível que pudesse ser feita por elas (porque podia haver dúvidas sobre se alguns seriam mesmo capazes de andar ou não), escolhida com o fim de causar admiração.

No fim de tudo, um deles, (o que representou S. Francisco Xavier), mostrou tal destreza num tambor atirando-o ao ar e apanhando-o, virando-o e fazendo rodar com tão excepcional ligeireza sempre a compasso com a música, que foi admirável à assistência. As crianças eram muitas, muito bonitas e muito ricamente adornadas tanto em trajes como em jóias, sendo os pais quem tinha a seu cuidado vesti-las a seu contento e para seu crédito pertencendo aos jesuítas instruí-las não só naquilo que vimos mas também com todas as formas de educação como tutores tendo a seu cuidado a educação da mocidade e criancinhas desta cidade, especialmente os de categoria.

O teatro era na Igreja e toda a acção foi representada pontualmente. Nem um só, entre tantos, (apesar de crianças e a peça longa) desempenhou mal o seu papel. É verdade que ali estava um jesuíta no palco que os dirigia quendo se oferecia a ocasião.

(1) Descrição de Macau, em 1637, por Peter Mundy, pp- 50-90 do livro de BOXER, Charles Ralph – Macau na Época da Restauração (tradução de “Macao Three Hundred Years Ago), II Volume. Edição Fundação Oriente, 1993, 231 p.

(2) MUNDY, Peter – The Travels of Peter Mundy (1608-1667). Cinco volumes, Londres, 1907-1936.

(3) Peter Mundy (c.1596 ou 1600— 1667?) inglês, comerciante, aventureiro e escritor. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/peter-mundy/

(4) Conforme o diário do próprio PeterMundy: “Em 28 de Junho de 1637, o Sr. John Mountney, Thomas Robinson e eu fomos mandados a terra numa barcaça com a carta de Sua Magestade o nosso Rei e outra do almirante, dirigidas ao capitão Geral de Macau. Fomos recebidos com muito respeito e foi-nos prometida uma resposta para o dia seguinte

O Capitão- Geral de Macau era Domingos da Câmara de Noronha que chegou a Macau a 13 de Abril de 1636 sucedendo a Manuel da Câmara de Noronha. Foi substituído por D. Sebastião Lobo da Silveira, em 1638, no entanto, permaneceu em Macau até 1643. Depois de ter sido feito prisioneiro dos holandeses no caminho de regresso, ao largo de Malaca, a odisseia deste homem bravo acabou bem. Regressou a Portugal e foi recompensado com uma comenda em espécie (400 mil reis). (ALVES, Jorge Santos; SALDANHA, António Vasconcelos (coords) – Governadores de Macau, 2013,pp. 27-28)

(5) “Quanto à viagem à China e a Macau, Peter Mundy e Thomas Robinson (que falava português), acompanharam o Captain John Weddell (e Nathaniel Mountney), comandantes de uma esquadra de quatro navios e duas pinaças enviada a Cantão em 1637 pela Courteen Association (com licença régia concedida dois anos antes por Charles I, em 1635), no que terá sido a primeira embaixada britânica de comércio à China”.  (JORGE, Cecília; COELHO, Rogério Beltrão – Viagem por Macau, Volume I,  Século XVII-XVIII. Livros do Oriente/I.C. da RAEM, 2014, p. 25.

Outras fontes deste tema de interesse, acessíveis pela net: PUGA, Rogério Miguel – Images and representations of Japan and Macao in Peter Mundys travels (1637). Bulletin of Portuguese – Japanese Studies, n.º 1, december, 2001, pp. 97 – 109. https://www.redalyc.org/pdf/361/36100106.pdf

PUGA, Rogério Miguel – Macau (enquanto “cronótopo” exótico) na Literatura Inglesa. Administração n.º 59, vol. XVI, 2003-1.º, 299-324. file:///C:/Users/ASUS/Downloads/MACAU%20(ENQUANTO%20%E2%80%98CRON%C3

Do diário de Peter Mundy (1), dia de 25 de Junho de 1637- Ilha de Sanchoão (2)
Extraído de:
https://archive.org/stream/travelsofpetermu31mund#page/n233/mode/2up
(1) Ver anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/peter-mundy/
(2) Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ilha-de-sanchoao/

No dia 22 de Abril de 1773, o Senado, em face da fuga de muitos cafres,(1) resolve prendê-los dois a dois com correntes de ferro, e depois, sob a direcção de uma pessoa eleita pelo Senado, seriam forçados a trabalhar «alimpando as ruas desta cidade e suas Fortalezas» dando-se a cada um 25 cates de arroz por mês e 2 condorins de peixe por dia.(2)
(1) Cafre – Palavra que deriva do árabe Kafir, que significa gentio ou infiel. Relativo às populações bantos, não muçulmanas da África Meridional. Habitante da Cafraria, antiga colónia inglesa que abrangia a região da Cidade do Cabo, na República da África do Sul, e algumas regiões adjacentes. Moços de fretes ou criados eram também tratados por cafres ou bichos.(3)(4)
Designação que abrangia negros oriundos da África Oriental. Da costa ocidental do referido continente eram chamados simplesmente de negros.(6)
NOTA: Aconselho a leitura do trabalho académico “Macau: Uma sociedade Esclavagista (sec. XVI – XVIII)?” de Daniel Valenzuela Tavares (5), do qual retiro algumas informações sobre os cafres em Macau:
“ (…) Noutro quadro social, Peter Mundy relata o jogo espanhol de alcanzias que decorria na cidade na Praça de S. Domingos, afirmando que, entre a população, metade eram mouros e a outra metade cristãos, cada um com os seus negros ou cafres envoltos em damascos, e enquanto estes levavam lanças com pendões onde estavam pintadas as armas dos seus senhores, cabia a cada negra servir o seu senhor com uma bola” (p. 260).
“ (…) Destes (escravos) o autor destaca que os homens eram na sua maioria cafres de cabelo encaracolado e as mulheres eram na sua maioria chinesas.” (p. 265).
“ (…) É também possível observar aqui as diferentes etnias que formavam o quadro social escravo de Macau. As etnias presentes neste martírio (refere-se ao martírio da embaixada da cidade de Macau no Japão) eram das mais variadas origens, referindo-se o autor aos escravos “cafres, malavares, chinas, chingalas, malayos, bengallas, macaçares, jaos e d’outras nações“. (p. 264)
Outras referências aos cafres, também se encontram no trabalho académico de Anabela Nunes Monteiro (6) (sugiro a sua leitura)
Zheng-zhi-long com a fortuna herdada, comprou um barco e dedicou-se ao comércio, estabelecendo contactos com o Japão, Manila, Sião, Índia e com os próprios portugueses. Entre os seus homens encontravam.se inúmeros cafres que haviam escapado à escravatura, nas mãos de portugueses e castelhanos. (p.112)
diremos que é provável que os cafres que Bocarro indica sejam da costa oriental africana e que tivessem chegado a Macau, via Goa” (p.144)
Se os escravos chineses eram bem aceites entre a comunidade mercantil de Macau, o mesmo tratamento não devia existir em relação aos cafres, perpetuando-se, mesmo, um certo horror, devido à ferocidade destes em caso de ataque.” (p. 145)
Ver também anteriores referências aos escravos, neste blogue:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/escravos/
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 2,1997.
(3) CARMO, Maria Helena do – Os Interesses dos Portugueses em Macau, na Primeira Metade do Século XVIII. Centro de Publicações, Universidade de Macau, 2000, 92 p. + 24 p anexos documentais, ISBN: 972-97842-9-9.
(4) Dicionário Priberam da Língua Portuguesa: https://dicionario.priberam.org/cafre
(5) TAVARES, Daniel Valensuela — Macau: Uma sociedade esclavagista (séculos XVI-XVIII)?. Omni Tempore. Atas dos Encontros da Primavera 2017. Volume 3 (2018), pp.244-269.
https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/16250.pdf
(6) MONTEIRO. Anabela Nunes – Macau e a presença portuguesa seiscentista no Mar da China. Interesses e estratégias de sobrevivência. Dissertação de Doutoramento em História, 2011.
file:///C:/Users/ASUS/Documents/PARA%20ELIMINAR%20-%20DOWNLOADS/Tese%20de%20Doutoramento_Macau%20e%20a%20Presen%C3%A7a%20Portuguesa%20Seiscentista%20no%20Mar%20da%20China%20_Anabela%20Nunes%20Monteiro.pdf

Continuação da leitura da conferência realizada na Sociedade de Geografia de Lisboa, em 5 de Junho de 1946, pelo tenente-coronel de engenharia Sanches da Gama e publicada no Boletim Geral das Colónias de 1946. (1) (2)
………………………………………………………………………………..continua
(1) Ver anterior postagem em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/06/05/noticia-de-5-de-junho-de-1946-leitura-macau-e-o-seu-porto-i/
(2)  «BGC» XXII -253, 1946.

Data atribuída à chegada de Peter Mundy a Macau, o dia 5 de Julho de 1637 (1) (2) (3). No entanto, a frota onde vinha Peter Mundy) do capitão John Weddell e Nathaniel Mountney, comandantes da esquadra de quatro navios e duas pinaças enviada a Cantão em 1637 pela Courteen Association (com licença régia concedida em 1635 pelo rei inglês Carlos I) (4), chegou à Ilha da Montanha no dia 27 de Junho de 1637 e já no dia 28 de Junho, o próprio Peter Mundy com John Mountney e Thomas Robinson foram enviados à terra numa lancha com as cartas do rei e do Almirante dirigidas ao capitão General de Macau, Domingos da Câmara de Noronha para obter autorização para ancorar na Ilha da Taipa.
A tripulação dos navios estrangeiros estavam proibidos de ir à terra nem eram permitidas visitas a bordo – interditos todos os contactos dos estrangeiros com os locais – com excepção dos convites oficiais por parte as entidades de Macau (e nessa qualidade Peter Mundy pode visitar e descrever no seu diário (5) as impressões de Macau, bem como desenhos) ou a visita à frota inglesa do Procurador de Macau (no dia 28 de Junho de 1637) e do mandarim chinês no dia 1 de Julho.
Peter Mundy terá visitado ao Igreja e Convento de S. Paulo no dia 07-07-1637 (6)
Mais um pequeno extracto do diário (7) correspondente ao dia 8 de Outubro aquando da visita à cidade a convite do governador e do Conselho da Cidade a 4 individualidades, o comandante Weddell, o pastor, Cristopher Parr (comissário do Dragon) e Peter Mundy tendo este descrito o jantar “numa bela casa ricamente mobilada com baixela de prata, biombos, cadeiras, alcovas, tapeçarias …(…)
O nosso jantar foi servido em baixela, sendo a meu ver muito bom e saboroso; mas a maneira de servir era muito diferente da nossa, pois a cada pessoa era servida uma porção igual de cada espécie de carne, trazida em duas salvas de prata, sendo repetidas algumas vezes, pois antes de acabar um prato, já estava outro pronto para ser servido. O mesmo sucedia com as bebidas: cada um tinha uma taça de prata numa bandeja; apenas esvaziada, era de novo cheia com excelente e bom vizinho português pelos serventes que ali estavam prontos para esse fim. Havia também variada e boa música de canto, harpa e guitarra… (…)
… Neste lugar há muitos homens ricos, trajando à maneira de Portugal. As suas mulheres, como as de Goa, vestem-se com saraças e condês, (8) este sobre a cabeça e as outras do meio do corpo até aos pés, e andam calçadas de chinelas chatas, É este o trajo ordinário das mulheres de Macau. Só as de melhor categoria são transportadas em cadeiras à mão, como as cadeirinhas em Londres, todas totalmente cobertas algumas das quais são muito caras e ricas, trazidas do Japão. Mas quando saem sem elas, a patroa dificilmente se distingue da criada ou escrava pela aparência exterior, todas inteiramente cobertas, mas as suas saraças ou (?chailes) são de melhor qualidade. “(3)
No Volume III, Part. II do mesmo livro, logo no início, o autor descreve a partida de Macau: Dezembro de 1637/ Janeiro de 1638
(1) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol 1, 1997.
(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Macau através dos séculos, 1977).
(4) Terá sido a primeira embaixada britânica de comércio à China. Em 13 de Julho de 1635, após autorização aos ingleses de comerciar nos portos portugueses, dava entrada em Macau, o primeiro barco inglês. (2)
(5) Peter Mundy (1600-1667?) natural da Cornualha, mercador, viajante, é considerado um dos mais famosos viajantes ingleses pelas suas muitas viagens pela Europa e Àsia.
Sir Richard Carnac Temple (1850-1931) e Miss Lavinia Mary Anstey editaram (adaptação e comentários) com o patrocínio da Hakduyt Society, em 1907, os diários de Peter Mundy com o título “The Travels of Peter Mundy in Europe and Asia (1608-1667)”  em 5 volumes.
As referências a Macau encontram-se principalmente no Vol. III, Part. 1:
Imagens extraídas de:
https://archive.org/stream/travelsofpetermu31mund#page/n7/mode/2up
(6) A data provável da conclusão da fachada de pedra da Igreja da Madre de Deus (SD. Paulo é de 1637.
(7) Ver anteriores referências a Peter Mundy em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/peter-mundy/
(8) O Condê era uma espécie de véu que cobria a cabeça e o tronco e a saraça um vestido de linho fino, que se segurava ao condê e ia da cintura aos pés. Quando o condê caía, apareciam as imodestas O bispo D. Alexandre Pedrosa Guimarães condenou este trajo em 1779, pois dizia ele, quando o condê «cai, se descompõem indecorosamente nos lugares mais modestos» (3)
No Volume III, Part. II do mesmo livro, logo no início, o autor descreve a partida de Macau: Dezembro de 1637/ Janeiro de 1638.
Imagens extraídas de:
https://archive.org/stream/travelsofpetermu32mund#page/n7/mode/2up

Na continuação da NOTÍCIA – CHEGADA DE PETER MUNDY (1) , é  de Peter Mundy, a descrição do  Colégio S. Paulo, em 1637:

Foto das Ruínas da Igreja de S. Paulo/Madre de Deus e do Colégio de São Paulo  (2)  retirado da Revista SERÕES, 1902

 
“Aportou a Macau a 5 de Julho de 1637. Dois dias depois, Pedro Mundy foi a terra com alguns companheiros levar cartas do rei da Inglaterra Carlos I e do vice-rei de Índia ao capitão-geral de Macau, Domingos da Câmara de Noronha. Dirigiram-se depois a S. Paulo, onde os Jesuítas lhes mostraram a igreja e o colégio e lhes ofereceram um banquete. Depois de falar das lixias, que ele pela primeira vez saboreou, “a fruta mais agradável que jamais provei”, Pedro Mundy descreve assim a igreja: “O tecto da igreja pertencente ao Colégio (chamado de S. Paulo) é do mais lindo arco que me lembro de ter visto, de excelente trabalho feito pelos chineses, gravado em madeira, curiosamente colorido e pintado com cores exquisitas, tais como vermelhão, azul, etc., dividido em quadrados, e nas juntas de cada quadrado há grandes rosas de muitas dobraduras ou folhas uma debaixo da outra, diminuindo até que todas terminam num botão perto duma jarda de diâmetro na parte mais larga e uma jarda perpendicular ao botão do tecto para baixo. Também há um novo e belo frontispício na dita igreja com uma espaçosa subida para ela de muitos degraus; as ultimas duas coisas mencionadas são de pedra talhada.
Como a igreja se chama de S. Paulo, assim se apodam eles (os Jesuítas) de paulistas, como discípulos de Paulo, imitando-o e seguindo-o na sua Missão. Pois assim como ele o principal na conversão dos gentios naqueles dias também se atribuem eles dum modo particular essa missão da conversão dos gentios destes tempos. E para dizer a verdade, eles não poupam dinheiro nem trabalho, diligência ou perigo para alcançar o seu fim” (3)
 
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/peter-mundy/
(2) Revista Menasl “Serões“, Vol II, , n.º 10, Março de 1902.
As Ruínas de S. Paulo, são os vestígios sobreviventes  da Igreja da Madre de Deus ou Igreja de São Paulo (a fachada de granito e a escadaria de 68 degraus) e do Colégio de São Paulo (não resta quase nada), destruídos pelo fogo em 1835. Estão actualmente incluídas no Centro Histórico de Macau e é Património Mundial da Humanidade da Unesco
(3) http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP280/PP280181.HTM

Peter Mundy chegou a Macau a 5 de Julho. Segundo “Macau através dos tempos” (1) teria chegado em 1637; mas o  Padre Teixeira refere 1635 (2), embora na continuação da leitura do texto se verifica ter sido lapso ou erro na impressão. No site (3) refere a partida de Inglaterra em 1635.
Peter Mundy, autor de uma interessante e ardente descrição sobre Macau, foi um dos mais experimentados e infatigáveis viajantes da sua época, e consequentemente, a sua descrição de Macau é de valor excepcional. Não tem aqui lugar a história da sua vida de aventuras e de navegador, mas importa conhecer que ele veio à China na armada da chamada «Contrabandista» Squire Courteen, da Companhia das Índias, sob o comando do Capitão John Weddel que deixou a Inglaterra em Abril de 1636 e chegou a Macau 5 de Julho de 1637, permanecendo por mais de seis meses nestas vizinhanças”. (1)
Peter Mundy chegou a Macau a 5 de Julho de 1635 (erro de impressão: 1637) na esquadra do Cap. John Weddell, a qual se demorou mais de 6 meses na vizinhança de Macau e do Rio das Pérolas, partindo para a Inglaterra em Janeiro de 1638” (2)
As suas impressões sobre as viagens (Europa e Oriente) foram editadas em 5 vol. (4).
A parte referente a Macau (Vol III, Part II, pp. 159-316), foi reeditada por C. R. Boxer em “Macau na época da Restauração”. Reproduzo alguns trechos:
Macau está situada na extremidade duma grande ilha, a qual está sentada sobre colinas a elevar-se, com jardins e árvores entre as casas, o que lhe dá um lindo aspecto algo semelhante ao de Goa, ainda que menor. Os telhados são de duas águas e duplamente rebocadas com precaução contra os furacões ou ventos violentos que sobrevêm alguns anos, chamados tufões pelos chinas, razão porque (segundo dizem) não constroem altas torres nem campanários nas suas igrejas. (…)
Todos os divertimentos se realizam dentro da cidade, visto não possuírem campos ou jardins fora, pois os chineses não lhos permitem. As suas reuniões e feriados (que são muitos) realizam-se nas suas casas, que são muito espaçosas, sólidas, ricas e bem mobilizadas; as suas esposas e filhas ostentam riqueza nas jóias e toiletes; têm um bom número de escravos( sendo os homens na maior parte escravos cafres de carapinha e as mulheres chinesas.
Todas as espécies de provisões aqui, como pão, carne, peixe, fruta, etc. são baratas(2)
Mais afirmou que “em toda esta cidade havia apenas uma mulher nascida em Portugal. As esposas (dos portugueses) são chinesas ou mestiças da mesma raça.”
O navegador inglês Peter  Mundy inseriu no seu Diário, publicado em 1637, esta interessante vista de Macau (5)
 
(1) “Macau através dos tempos” artigo não assinado em MACAU, Boletim Informativo da Repartição Central dos Serviços Económicos, Ano II, n.º 39, Março de 1955. A data de 1637  também é confirmada em
http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP228/PP228045.HTM
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Macau através dos séculos. Macau, Imprensa Nacional, 1977, 87 p.
(3) No site onde se pode ler o texto completo, refere que em 1635, Peter Mundy parte com Sir William Courten para a India e Japão e regressa, em 1638, a Inglaterra onde chega a 15 de Dezembro.
http://www.archive.org/stream/travelsofpetermu01mund/travelsofpetermu01mund_djvu.txt
(4) The Travels of Peter Mundy in Europe and Asia (1608-1667)”  em 5 volumes
Sir R. C. Temple e Miss L. Anstey editaram para a «Hakluyt Society», em 1907, os diários e manuscritos de Peter Mundy que estavam na «Bodleian Library» de Oxford.
(5) Foto retirada de (1)