Na sequência da ida dos médicos Isidoro Lucci e João Baptista Lima para a corte imperial chinesa,  episódio referido em 26 de Setembro de 2015 (1), retiro do livro do Padre Teixeira (2) o seguinte:
O Padre Grimaldi, (3) sabendo que na Corte seria informada de que chegara outro médico ao pequeno domínio português, fez seguir viagem o padre Isidoro Lucci (desembarcado em Macau em 1691) para Pequim em Maio de 1692, acompanhado pelo cirurgião João Baptista Lima.
Chegados a Pequim, logo a vontade do Imperador se manifestou em demoradas conversas ou pedidos de informes médicos, e por fim, para experiência distribuiu-lhes alguns doentes, mas não pode deixar de ser reconhecido quanto o factor sorte favoreceu pouco o médico Lucci, na natureza dos casos que lhe couberam: uma mulher sofrendo de «afectos histéricos», um caso grave de tifo exantemático, uma varíola hemorrágica, um caso de reumatismo crónico e uma tuberculose em fase terminal.
A enfrentar quadros desesperados ou mesmos perdidos, não admira que as curas, no dizer de outro jesuíta em carta, igualmente de Pequim – «lhe não sucedessem bem e a medicina europeia delas não saisse com grande honra».
Mais afortunado foi o cirurgião Lima que ” as postemas, alporcas, chagas mal incarnadas e mal dos olhos” obteve resultados excelentes e com o tratamento e cura do jovem Príncipe – 9.º filho de Kang Hsi – conseguiu um êxito retumbante. Desbridou com um grosseiro ferro ao rubro, perante o assombro dos circunstantes e o desespero angustioso de Kang Hsi, um abcesso parotidiano em avançada fase de infiltração. E quando alta noite, ainda em atmosfera de pavor, a toda a pressa os mandaram chamar – a ele e ao médico Lucci – para atenderem o operado que tivera um delírio, depois de observar o doente, declarou que “o menino nada tinha, salvo o medo que com tantos estrondos os seus tinham causado”
O caso esteve muito sério e houve quem afirmasse – “se o menino morrer, não morre só» mas a cura rápida do doente tudo mudaria para bem e, como era justo, trouxe ao Lima uma grande fama.
Na opinião dos próprios padres, dentro da sua esfera, mostrara-se competente: “pois com longa experiência tinha boas receitas e melhores mãos, além da natural audácia com que não receava empreender em qualquer cura, ainda que dificultosa».
Um dia, o próprio Imperador adoeceu com febre alta e, os dois clínicos foram chamados. na ideia fixa de que os interesses da Missão não toleravam riscos , não fugiram ao exame mas para o resto e sobretudo ao tratamento «viesse o que viesse», naõ passariam de informações tóricas, sem indicação de qualquer medicamento alegando não haver em Pequim os remédios europeus adequados.
Kanghi desapontado reenviou Lucci para Macau vindo com o cirurgião Lima a 13 de Setembro de 1693, donde Lucci partiu para Tonquim onde faleceu em 1715.
Outra versão da história: OS JESUÍTAS FRANCESES E OS PORTUGUESES: Em 1687, entravam em Pequim os jesuítas franceses, sob a protecção de Luís XIV, que, apesar de pertencerem à mesma ordem, se mostraram logo rivais dos seus confrades portugueses. Citemos apenas um incidente: o imperador Káng-Hsi pretendia a todo o custo um médico europeu em Pequim e insistiu com os jesuítas portugueses para que lho enviassem. Estes, com muita repugnância, enviaram-lhe dois: o jesuíta italiano Isidoro Lucci, padre e médico, e o cirurgião chinês João Baptista Lima, que servia o Senado de Macau e se criara entre europeus em Goa, Batávia, Sião e outras partes. Saíram de Macau a 12 de Maio de 1692 e, chegaram a Pequim a 12 de Julho. Curaram vários doentes e quando Kang-Hsi adoeceu com febre alta, consultou o Dr. Lucci. Este, temendo que a Missão sofresse se o doente não sarasse logo, respondeu que não tinha remédio algum, “querendo acabar de vez com todas as perguntas e historias que o podiam embaraçar em tal doença”. O Dr. Lucci foi recambiado para Macau, aonde chegou com o Dr. Lima ao 13 de Setembro de 1693. Logo acudiram os jesuítas franceses “sem experiencia e sem doutrina, ou para adiantarem-se na Graça do Rei, ou para fazer oposição aos outros Padres… e estão agora ainda metidos nas mezinhas e coisas medicinais, o que tanto se adiantaram que o Rei mandou o Padre Bouvet… de buscar e trazer mezinhas para a Corte”. Os jesuítas tinham consigo quinquina; deram-na a Káng-Hsi e, como tinha passado a noite muito agitado, tomou-a e ficou livre da terça. Como era natural, ficou muito contente e agradecido.
http://www.library.gov.mo/macreturn/DATA/PP280/PP280275.HTM
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/09/26/noticia-de-26-de-setembro-de-1693-antonio-da-silva-cirurgiao-da-cidade/
(2) TEIXEIRA, Pe. Manuel – A Medicina em Macau, Volumes III-IV, 1998.
(3) Claudio Filippo Grimaldi (chinês: 閔明我, Min Mingwo), (Itália 1638-Beijing 1712) foi um jesuíta italiano, missionário na China, astrónomo (director do observatório  astronómico imperial em Pequim), engenheiro e construtor. Partiu para a China a 15 de Abril de 1666 de Lisboano navio “ Nossa Senhora da Ajuda. Chegou a Goa em 13 de Outubro de 1666 e em Macau no final do ano. Chegou a Cantão em 1669. E em 1671 a Beijing.
Para mais notas biográficas, entre outros sítios,  ver em:
https://no.wikipedia.org/wiki/Claudio_Filippo_Grimaldi
http://www.treccani.it/enciclopedia/filippo-grimaldi_(Dizionario-Biografico)/