Fumar no século passado, era considerado um acto normal, digno de senhores e por isso, o uso de caixas de fósforos era corrente. Serviram também como veículos para a publicidade. Nenhum restaurante ou hotel que se prezasse, deixava de ter as suas próprias caixas de fósforos, anunciando produtos. Por isso, fui juntando (não coleccionando) caixas de fósforos de Macau e outros países que fui visitando. Inexplicavelmente tenho muito mais caixas de fósforos de Hong Kong principalmente de restaurantes ( a maioria dos quais já não existem) talvez porque familiares que viviam nesse território me foram enviando. É interessante hoje revê-las, muitas delas com desenhos de marcas, restaurantes, hotéis e sítios que já não existem. O fósforo (o invento do “fósforo” foi em 1827 pelo químico John Walker) apesar de continuar a ser utilizado em grande escala em todo mundo, perdeu alguma da sua popularidade desde que surgiu o isqueiro. Durante cerca de 40 anos, as lombadas de caixas e carteiras de fósforos foram o meio mais utilizado para fazer publicidade a produtos, serviços e eventos (1)
Das caixas de fósforos de Macau, que possuo, uma das que mais gosto é do antigo Hotel Caravela.
Antiga residência da família de Sena Fernandes (provavelmente do 3.º Conde Bernardino de Sena Fernandes ou do seu filho com o mesmo nome), possivelmente de 1940, foi depois transformada em Hotel Caravela, em meados de 50 e demolida em meados de 70. Ficava na Av. da República, 62-64.
É de recordar que “foi ao longo da Praia Grande que se edificaram as residências dos mais abastado moradores desta terra, moradias essas que, com a decadência do comércio português no Extremo Oriente, passaram a pouco e pouco, para a as mãos dos argentários chineses, que nunca deixavam caiar as suas casas de encarnado nem de cinzento, pois, longe vá o agoiro, estas eram as cores com que se apresentavam os caranguejos cozidos ou mortos“(2)
O hotel tinha 8 quartos duplos e 10 singulares (3) e era muito procurado pelos turistas “estrangeirados” de Hong Kong. Conforme uma das faces da caixa de fósforo, era hotel e tinha “uma agência de viagens e turismo”” (travel service). O telefone era 5151 e tinha serviço de telégrafo via cabo (cable “caravela“). No ano de 1966, um quarto duplo custava $ 50,00 a $ 60, 00 (cinquenta a sessenta patacas) e um “single”, $30,00 a $ 40,00 (trinta a quarenta patacas)
Num dos anúncios publicado no Anuário de Macau do ano de 1966 (3), fazia referência “todos os quartos possuem ar condicionado, quartos de banho privativos, rádio e telefone“. No mesmo Anuário (pág. 277) vinha também referenciado como “Restaurante de Comida Europeia”.
NOTA: Acerca do Hotel Caravela, mais informações em
http://macauantigo.blogspot.com/2009/06/hotel-caravela-1965.html
http://macauantigo.blogspot.com/2009/03/hotel-caravela.html
(1) http://www.infopedia.pt/$fosforo
(2) MARREIROS, Carlos – Onde Quase Não Se Fala de Arquitectura nem de caranguejos. Nam Van, n.º 1 de Dezembro 1984, Edição do Gabinete de Comunicação social do Governo de Macau, pp.35-41
(3) Anuário de Macau, Ano de 1966, 17.º Ano de Publicação. Editado pelo Centro de Informação e Turismo, 316 p.
[…] (8) O edifício da Caravela, infelizmente demolido em princípios de 1979 https://nenotavaiconta.wordpress.com/2011/12/31/caixa-de-fosforos-hotel-caravela-2/ (9) TEIXEIRA, P. Manuel – A Voz das Pedras de Macau, […]