Archives for posts with tag: William M. Farmer

“17-05-1913 – Queixa apresentada por William Farmer, (1) proprietário do «Macao Hotel», (2) contra o facto de os culis se servirem de um cais fronteiro ao seu hotel, na Praia Grande, para mictório – Providências tomadas pelo Governo.” (3)

Este episódio por mim já relatado em 17 de Fevereiro de 2017 (4), aparece também descrito por Vaudine England (jornalista correspondente da BBC,  em Hong Kong de 2006 a 2011) na página 28 do  seu livro  “The Quest of Noel Croucher: Hong Kong’s Quiet Philanthropis”, (5) bem como a carta que o proprietário do hotel, William Farmer, escreveu, queixando-se e pedindo providências, às entidades oficiais do governo – Administração civil.

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/william-m-farmer/

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-macao/

(3) GOMES, Luís G. – Catálogo dos M. M n.º 416.

(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/02/17/noticia-de-17-de-fevereir

(5) ENGLAND, Vaudine – The Quest of Noel Croucher: Hong Kong’s Quiet Philanthropist. Hong Kong University Press, 1998, ISBN: 9789622094734, 436 p.

“Biography of unusual Hong Kong broker, philanthropist and curmudgeon, telling a story of Hong Kong 1900-1980”.

Anúncio em inglês de 1920, inserida numa publicação “turística” editada em Hong Kong.

O “Hotel Macao”/ “Macao Hotel” situado no Centro da Praia Grande  com entrada na Rua da Praia Grande n.º 65, tinha uma fachada de três pisos, que dava para a praça da Praia Grande, e proporcionava uma ampla vista panorâmica da zona ribeirinha e da marginal orlada de pinheiros, e uma porta lateral sque dava para  futura Avenida de Almeida Ribeiro. O luxuoso hotel era o preferido dos turistas e comerciantes  abastados e dos convidados oficiais.

Anteriormente chamado Hotel “Hing Kee” (o proprietário do hotel era o sr. Leong Hing Kee / Pedro Hing Kee, grande negociante/comerciante em Hong Kong e em Macau) (1) foi depois remodelado, passando a ser conhecido em 1903, como “Macao Hotel” e depois na década de 20 (séc. XX) “New Macao Hotel” com entrada principal na Avenida Almeida Ribeiro. Após a morte do proprietário, o hotel de novo entrou em obras, permanecendo a entrada pela Avenida Almeida Ribeiro, e reinaugurado com o nome de “Hotel Riviera” de 1928 até 1969, quando foi demolido. Em 1974 erigido no mesmo local o edifício Comercial Nam Tung e depois reconstruído, em 1998 para sede do Banco da China, em Macau.

(1) Pedro Leong Hing Kee (alias Pang Ahim) (segundo algumas fontes, além do chinês, falava francês, inglês e português?) era entre 1870 e 1880, dono de dois hotéis de luxo em Hong Kong “Hong Kong Hotel” e Victoria Hotel” e depois em 1890 fixou-se em Macau,. envolvendo-se  em vários negócios, como por exemplo, negociante de gelo neste anúncio de 1922

Pedro Hing Kee era proprietário do hotel “Hing Kee” (também chamado “Hotel Victória“) , inaugurado em 1880, e em Maio de 1903, vendeu-o por 20 mil patacas a William Farmer. (2) Há uma outra informação que refere ter o Hotel “Hing Kee”, pertencido de 1891 a 1903 a um chinês, rico comerciante do Havai (3)

(2) William M. Farmer, australiano do ramo da hotelaria, veio para Hong Kong em 1890 para trabalhar no “Victoria Hotel” e depois “New Victoria Hotel” que ele comprou, em 1898. Em 1892 associado ao negociante parse, Sr. Madar, adquiriu o “King Edward Hotel”. Nessa década, terá vindo a Macau e achou que era proveitoso investir na hotelaria em Macau e havia só dois hotéis que o satisfazia: hotel Boa Vista e o hotel Hing Kee. Quis arrendar o Hotel-sanatório Boa Vista, mas este foi cedido à Santa Casa da Misericórdia, em 1901, por 80 mil patacas. Comprou o Hotel Hing Kee, em 1903 rebatizando-o como “Macao Hotel”.

 (3) “Quando Chun Afong (1825-1906), um rico comerciante do Hawaii, visitou Macau na companhia do filho no verão de 1891, tentou entrar no Hotel Victoria, mas foi impedido pelo porteiro que lhe explicou que “cães e chineses não eram admitidos”. Chun ficou irritadíssimo e pediu para falar com o gerente do hotel, a quem ofereceu 5.000 dólares americanos pela compra do Hotel. Uma vez adquirido, o hotel mudou de nome e passou a chamar-se “Sei Hoi Fong Un” (o jardim de Fong dos quatro mares).” (“As Ruas Antigas de Macau”, I.A.C.M., 2016,p. 29)

Anteriores referências a este hotel em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-new-maca

Continuação da publicação dos postais constantes da Colecção intitulada “澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao”, emitida em Setembro de 2009 pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau (1)

Aspecto do Porto Interior na década de 10 do século XX, (2) – uma ponte-cais de passageiros, muito possivelmente da empresa “The Hong Kong, Canton and Macao Steamboat Company, Ld.” (agente em Macau: A. A. de Mello – Praça Lobo de Ávila (Praia Grande) n.ºs 22-24.
Reparar nos anúncios (lado esquerdo da foto) aos hotéis: “THE MACAO HOTEL” – situated in the centre of praya grande facing the sea”,(3), “ORIENTAL HOTEL” (4) e “HOTEL DE BOA VISTA” (5) e ao cinema: “ VICTÓRIA CINEMATÓGRAFO”. (2)
(1) Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/postais/
(2) Pelo anúncio afixado na fotografia: “VICTORIA CINEMATOGRAFO”, a foto deverá ter sido tirada após 08-01-1910, dia da inauguração desse cinematógrafo (o primeiro em Macau), situado na Calçada Oriental (hoje, Calçada do Tronco Velho)
Ver em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2011/12/28/cinemas-de-macau-i/
(3) Proprietário W.M. Farmer (Rua da Praia Grande n. º 65). Também proprietário do “Victoria Hotel” (em Cantão) e agente em Macau de casas comerciais de Cantão e Hong Kong.

Anúncio de 1912

Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/12/06/leitura-macau-ha-cem-anos-a-chegada-iii/
(4) O “Oriental Hotel” ficava na Rua da Praia Grande. Em 1912 era gerido por M. A. Conceição
東方酒店 mandarim pīnyīn: dōng fāng jiǔ diàn; cantonense jyutping:  dung1 fong1 zau2 dim3
(5)  Hotel de Boa Vista – 海鏡酒店 (“Hou Kiang Tsau Tim” ) , propriedade da Santa Casa da Misericórdia, estava alugada a A. A. Vernon. O Gerente era A. Naris.
Publicitado como “The Sanitarium of South China” na Rua do Tanque do Mainato n.º 1.
Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/04/24/anuncio-de-1904-boa-vista-hotel-sanitarium-of-south-china-macao/
海鏡酒店 mandarim pīnyīn: jiǔ jìng diàn hǎi ; cantonense jyutping: hoi2  geng3 zau2 dim3

Continuação do testemunho de Francisco de Carvalho e Rego (1) (2)
De ali, pela tortuosa rua do Gonçalo, apertada e estreita, era o visitante conduzido até à calçada do Governador, por onde vinha dar à “Praia Grande”. E, chegado ao fim da Calçada, à direita tinha o edifício das Repartições Públicas, e à esquerda o pequeno edifício dos Correios, ao lado do qual se mostrava em suas arcadas, tão próprias da arquitectura das cidades cosmopolitas do oriente, o “Hotel Macau” modesto e simples, onde o velho inglês Farmer (3) e sua família recebiam acolhedoramente os hóspedes.
Aquele que viesse encomendado ao “Hotel Bela Vista”, ao deixar a ponte-cais, dirigia-se pela Calçada do Gamboa à Rua do mesmo nome e, seguindo pela Rua do Seminário, entrava no Largo de S. Lourenço, alcançando a Penha pela Rua do Pe. António  e Rua da Penha, indo dar ao chamado Chôc-Chai-Sat  onde , no referido Hotel, era recebido pelo velho Vernon, (4)  que, de há muito, explorava, na Colónia, a indústria hoteleira.

A residência de Verão do Bispo da Diocese (final da década de 40, século XX)

Mas não eram estes os hotéis recomendados aos funcionários chegados à Colónia, porque os seus preços eram elevados. Para estes funcionários era mantido pelo velho Mami o “Hotel Ocidental” modesto e pouco dispendioso e que, situado também na Praia Grande, oferecia ao visitante a mesma vista agradável, que lhe era apresentada nos outros hotéis.
A Praia Grande tinha os seus encantos: bela vista sobre as águas; passeio à beira-mar; brisa do mar, sombra das árvores e a música aos domingos, à noite, que tocava em frente do palácio do Governo e às quintas-feiras no jardim de S. Francisco.
Os únicos meios de transporte, que havia, eram o rickshaw e, a cadeirinha, espécie de palanquim transportado por dois ou quatro homens.
Era a Praia Grande pavimentada a macadame e o resto da cidade quase todo calçado à portuguesa.
Viam-se na Praia Grande as residências dos Primeiros e Segundos Condes de Sena Fernandes, de Carlos Pais da Assunção, de Luís Aires da Silva, do Major Aurélio Xavier, do General Garcia, José Ribeiro, Simplício de Almeida, Dr. Álvares, Constâncio José da Silva, Alexandrino de Melo, da Família Eça, do Capitão Carneiro Canavarro, etc.
E algumas viviam os chineses Lam-Lim, Chou-Sin Ip, Li-Kiang-Chin, Chan-Fong e outros.
(1) Extraído de REGO, Francisco de Carvalho e – Macau … há quarenta anos in «Macau». Imprensa Nacional, 1950, 112 p.
(2)Anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/08/10/leitura-macau-ha-cem-anos-a-chegada-i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/08/16/leitura-macau-ha-cem-anos-a-chegada-ii/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/francisco-de-carvalho-e-rego/
(3) O Sr. Farmer comprou o “Hotel Hin-Kee” em Maio de 1903, para transformá-lo no “Macao Hotel”, porque não conseguiu, como era seu desejo, arrendar o Hotel sanatório “Boa Vista”, que em 1901 foi expropriado pelo governo e cedido/vendido  à Santa Casa de Misericórdia por 80 mil patacas.
(4) O súbdito francês A. A. Vernon tinha um projecto de contrato de jogos em Macau em 1909 mas não chegou a concretizar por não ter tido a autorização do Director-Geral da Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar. Em 1910 é-lhe concedida licença para a circulação de automóveis em Macau e solicita idêntica autorização de Cantão em 1911 para poder encarregar-se de transportes viários entre Macau e Qiang Shan (Casa Branca para os portugueses)   A. Vernon geria o “Hotel Boa Vista” (arrendado à Santa Casa de Misericórdia) e queria trespassá-lo em Janeiro de 1913 para G. Watkins mas não foi aprovado pelo Governo. Depois de vários outros posteriores arrendamentos (o Liceu de Macau esteve aí instalado até passar ao Tap Seac) o Governo compraria em 1923 o Hotel à Santa Casa de Misericórdia por 82 585 patacas.

Notícia curiosa referenciada em 17 de Fevereiro de 1913: (1)
Queixa apresentada por W. Farmer, (2) gerente do «Macao Hotel», (3) contra o facto de os culis se servirem de um cais fronteiro ao seu hotel, na Praia Grande para mictório. Providências tomadas pelo Governo.
(1) Processo n.º 416 – Série Q, dos Arquivos de Macau in Boletim do Arquivo Histórico de Macau, Tomo I (Jan/Jun 1985).
NOTA. Esta mesma notícia é reproduzida por Luís Gonzaga Gomes (Catálogo dos Manuscritos de Macau, 1965) com a data de 17 de Maio de 1913. Não sei qual a data exacta, confirmação essa só com uma consulta directa do Arquivo da Repartição Provincial dos Serviços de Administração Civil (documentos referentes ao ano de 1913) existente no Arquivo Histórico de Macau.
(2) Em Maio de 1903, W. Farmer comprou por 20 mil patacas o «Hotel Hin-Kee» de Macau mudando o nome para «Macao Hotel». O objectivo inicial do Sr. Farmer era conseguir o arrendamento do Hotel «Boa Vista» que os franceses pretendiam comprar para aí instalarem um sanatório mas o governo (por pressão dos ingleses que duvidavam das verdadeiras intenções dos franceses) expropriou o edifício e vendeu-o à Santa Casa da Misericórdia.
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/04/25/postais-macau-em-bilhetes-postais-antigos-vi/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-hing-kee/