No dia 27 de Junho de 1521, chegou ao porto de Tamão (1) o capitão Duarte Coelho (2) num junco bem armado e acompanhado doutro junco pertencente aos habitantes de Malaca. Estes dois juncos bem como o navio Madalena de Diogo Calvo (3) e sete ou oito outros juncos portugueses que se encontravam nesse porto foram cercados e atacados por 50 juncos chineses. Quarenta dias depois juntou-se aos barcos portugueses um navio do comando de Ambrósio do Rego. Reduzidos a três navios, os portugueses conseguiram escapar-se, em 7 de Setembro de 1521, a coberto da escuridão e duma tempestade. (4)
Foi nesse ano que Jorge Álvares foi mandado mais uma vez de Malaca à China e viria a falecer em Tamão, em 8 de Julho de 1521, nos braços do amigo Duarte Coelho.
(1) Tamão /Tamau (muito provável, hoje, Lintin, Ilha de Lingding / 內伶仃㠀)
(2) Duarte Coelho Pereira (1485-1554), natural de Miragaia (Porto), navegador/militar, iniciou a 1.ª viagem ao Brasil em 1503 e depois desde 1506, para África e Ásia. Entre 1516 e 1517 exerceu a função de embaixador junto à corte do rei de Sião, Em 10 de Julho de 1522 foi um dos capitães dos 6 navios que saíram de Malaca com 300 homens com o embaixador Martim Afonso de Melo Coutinho, considerada a segunda embaixada de Portugal à China (outro dos capitães foi Ambrósio do Rego). Em 1535 iniciou a colonização de Pernambuco (Brasil) onde foi o 1.º governador de Pernambuco e fundou a cidade de Olinda (Brasil).
https://en.wikipedia.org/wiki/Duarte_Coelho
(3) O irmão de Diogo Calvo, Vasco Calvo que acompanhou a embaixada de Tomé Pires em 1921) foi preso em Outubro de 1521 numa masmorra chinesa em Cantão e daí escreveu em 1534/1536, três cartas (juntamente com outro prisioneiro, Cristóvão Vieira) onde forneceu informações da China, seus costumes, organização administrativa e descreveu as relações sino-portuguesas de 1520 a 1534.
Ver “Cartas dos Cativos de Cantão: Cristóvão Vieira e Vasco Calvo (1524?” disponível para leitura em:
http://purl.pt/26864/1/index.html#/1/html
(4) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
Ver anteriores referências a Jorge Álvares, Duarte Coelho e Tomé Pires
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jorge-alvares/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/duarte-coelho/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/tome-pires/
Faz precisamente hoje, 500 anos, o início da aventura desafortunada de Tomé Pires como 1.º embaixador enviado à China e que só terminaria com a sua morte em 1524 (1) (2)
Em 17 de Junho de 1517, saiu de Malaca com destino à China a frota de Fernão Peres de Andrade enviada pelo Governador da Índia Lopo Soares de Albergaria, transportando o boticário e naturalista Tomé Pires como embaixador e o já experiente Jorge Álvares. (3) A frota chegaria a Tamão /Tamau (Lintin, Ilha de Lingding / 內伶仃㠀) a 15-08-1517, onde se encontrava Duarte Coelho que a procedera, e, em fins de Setembro, a Cantão. Tendo conseguido permissão para Tomé Pires seguir para Pequim, Fernão Peres de Andrade fez-se de vela de regresso a Malaca, em fins de Setembro de 1518. Tomé Pires aguardou viagem em Lantao (Ilha de Lantau /大嶼山)
https://en.wikipedia.org/wiki/Zhengde_Emperor
Devido as delongas do cerimonial chinês, Tomé Pires parte de Cantão e depois de demorada estadia em Nanquim, chega a Pequim em 11 de Janeiro de 1521. Com a morte do Imperador Zhengde / 正德 (1506-1521) a embaixada de Tomé Pires foi convidada a sair de Pequim para Cantão onde as autoridades locais já tinham recebido ordens para prenderem todos os membros da mal-aventurada embaixada devido aos desacatos praticados por Simão Peres de Andrade, na Ilha de Tamau. Chegou a Cantão, a 22-09-1521 e como os portugueses não quisessem obedecer à ordem de abandonar o Império Chinês foram roubados e presos Tomé Pires, Vasco Calvo e António de Almeida, tendo este morrido à entrada da cadeia, devido aos tormentos das algumas e outras torturas. Tomé Pires morreria em 1524 na China. (4)
(1) A embaixada de Tomé Pires não é considerada por alguns autores como a 1.ª por ter sido enviada de Goa. A 1.ª embaixada enviada pelo Rei D. Manuel (que morreu em 1521) e relatada por João de Barros e Fr. Luís de Sousa, teve como embaixador, Martim Afonso de Melo Coutinho que saiu de Malaca a 10 de Julho de 1522 com 300 homens em 6 navios. Também esta embaixada foi mal sucedida não tendo Martim Afonso passado para além de Tamão, onde foram mal recebidos pelos chineses com uma batalha naval. Perdeu-se dois navios portugueses e 42 homens foram capturados. Martim Afonso voltou para Malaca em Outubro de 1522 e chegou a Lisboa em 1525. Ver anteriores referências a Tomé Pires em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/tome-pires/
Sobre esta matéria sugiro leitura de
* Jin Guo Ping e Wu Zhiliang “Uma Embaixada com Dois Embaixadores – Novos Dados Orientais Sobre Tomé Pire se Hoja Yasan,” publicada na Revista Administração n.º 60, vol. XVI, 2003-2.º, 685-716, disponível em:
file:///C:/Users/ASUS/Downloads/Uma%20Embaixada%20com%20dois%20Embaixadores%20%E2%80%94%20Novos%20dados%20orientais%20sobre%20Tom%C3%A9%20Pires%20e%20Hoja%20Yasan.pdf
* “As Navegações Chinesas e Portuguesas; A Presença Portuguesa em Macau”
http://www.macaudata.com/macaubook/book091/html/0021001.htm#0021005
(2) Segundo Armando Cortesão morreu cerca de 1540 deixando uma filha, Inês de Leiria. Tomé Pires nasceu cerca de 1465. Foi autor da Suma Oriental (1515) a primeira descrição europeia da Malásia e a mais antiga e extensa descrição portuguesa do Oriente.
(3) Jorge Álvares foi mandado de Malaca à China em 1513. Levantou o Padrão do seu Rei na Ilha de Tamão (hoje Lintin) e, como o filho lhe morreu durante essa visita, sepultou os seus restos mortais junto do padrão. Em 7 de Janeiro de 1514, Tomé Pires escreveu de Malaca comunicando ao Rei de Portugal, que um junco de Sua Majestade, comandado por Jorge Álvares, que seguiu com outro para a China, a fim de buscar mercadorias, tendo regressado a Malaca entre Abril e Maio de 1514. Jorge Álvares após essa deslocação de 1517, ainda regressaria à China em 1521 falecendo a 8 de Junho de 1521 sendo sepultado junto do filho em Tamão.
Ver anteriores referências de Jorge Álvares em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jorge-alvares/
(4) Informações colhidas de GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954 e SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume I, 1997.