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No dia 18 de Novembro de 1987, os «Correios e Telecomunicações de Macau / CTT MACAU» emitiram e puseram em circulação selos postais alusivos à emissão extraordinária “Meios de Transportes Tradicionais – 1. º Grupo“ e um bloco filatélico. Trata-se de uma continuação da emissão de selos sob o tema “Meios de Transporte “ iniciado em 1984 com os “Barcos de Pesca” e terminado com os “Hidroaviões” (estes já publicados em anteriores postagens (1) (2)

Os quatros selos desta emissão são nos valores de 10 avos (carro de mercadorias), 70 avos (cadeirinha) 90 avos (riquexó) e 10 patacas (triciclo) (3)

Um dos meios de transporte mais antigo e comum usado na china e em Macau foi a cadeirinha portátil. Sustentada por dois varais compridos, era conduzida por dois homens, um colocado atrás e outro à frente. Foi usada principalmente nas cidades e no campo em pequenas distâncias. A cadeirinha foi durante a maior parte da história de Macau o meio de transporte mais importante e típico”. (4)

O Bispo de Macau tinha ao seu serviço quatro cadeirinhas, reservando uma para cada estação do ano. (5)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/10/22/noticia-de-22-de-outubro-de-1984-filatelia-barcos-de-pesca/https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/10/25/noticia-de-25-de-outubro-de-1985-filatelia-barcos-de-carga/https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/08/28/noticia-de-28-de-agosto-de-1986-filatelia-1-o-dia-de-circulacao-meios-de-transporte-barcos-de-passageiros/https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/07/15/noticia-de-15-de-julho-de-1988-filatelia-meios-de-transportes-tradicionais-2o-grupo/https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/10/09/noticia-de-9-de-outubro-de-1989-1-o-dia-de-circulacao-meios-de-transpor-tes-tradiconais-hidroavioes/https://nenotavaiconta.wordpress.com/2019/10/09/noticia-de-9-de-outubro-de-1989-1-o-dia-de-circulacao-meios-de-transpor-tes-tradiconais-hidroavioes-ii/

(3) Portaria n.º 143/87/M de 9 de Novembro (BOM n.º 45, 1987, p. 2943) – Emite e põe em circulação selos postais e blocos alusivos aos “Meios de Transportes Terrestres Tradicionais”

(4) Texto de Jorge Cavalheiro in “Da Sampana ao Jactoplanador, Da Cadeirinha ao Automóvel”. Edição da Direcção dos Serviços de Correios e Telecomunicações de Macau, 1990, 114 p.

(5) “O palanquim do Bispo de Macau tinha janelas de vidro e decorado com madrepérolas. Não há nenhum que ouse ser tão belo ou que se lhe possa comparar “ «Ou-Mun Kei-Leok Monografia de Macau», tradução de Luís Gonzaga Gomes, Outubro de 1979, p. 228.

Anteriores referências a triciclos e riquexós em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/triciclos/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/riquexos/

Extraído de BGC XXVI-311, MAIO 1951.

Mais dois ”slides” digitalizados da colecção “MACAU COLOR SLIDES – KODAK EASTMAN COLOR”comprados na década de 60 (século XX), se não me engano, na Foto PRINCESA (1)

A Fortaleza do Monte
O Edifício do Leal Senado e a Estátua do Coronel Mesquita (derrubado em 1966)

Em frente da estátua, estacionados, os triciclos de aluguer.
Na Avenida Almeida Ribeiro, o “bus” em direcção à Barra (nessa época o custo do percurso Porta do Cerco-Barra –  10 avos)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/decada-de-60-seculo-xx/  

Ilustração Portugueza1908 Macau Cidade de Prazeres TÍTULO

É pela festa do anno novo china que a cidade mostra bem como é uma terra feita para o prazer e como se poderia tornar n´uma estancia onde o oriente rico viria embriagar-se em todas as loucas phantasias, deixando-nos o seu ouro e levantando d´ali o goso mais extranho.
N´esses oito dias e oito noites da festa, sobretudo nas noites, Macau tem a nota phantastica exagerada; é como um enorme pandemonio illuminado das luzes mais vivas, saindo dos balões mais garridas desde a Praia Grande aos bairros aos bairros exoticos em que perpassam leves os rinkchows e as cadeirinhas puxadas pelos coolies de trajos onde predomina o azul e o roxo correndo ligeiros por entre uma multidão excitada.

Ilustração Portugueza1908 Macau Cidade de Prazeres (I)Vista geral de Macau tirada da Colina da Guia

À esquerda o Hospital Militar de Sam Januário e a colina de S. Jerónimo; mais atrás, a baía de Praia Grande. Em primeiro plano o acesso à colina da Guia

Em todas as portas os balões com as suas aves extranhas, as suas  serpentes sagradas, os seus dragões terriveis coam claridades que são deslumbramentos; nas ruas, n´um rumor de milhares de sapatinhos leves, passa a turba com o seu cheiro especial, o cheiro do amarello em que ha alguma cousa d´acre e d´almiscarado, os panchões estrallejam às portas n´uma atoarda infernal e lá de cima dos bairros sujos, veem claros de fogueiras onde rimas de papel vão ardendo em saudações ao anno que chega e no qual o chinêz vê a felicidade. Toda a gente, desde a mizeravel tanqareira, sem outro lar que o seu barco, até ao grave mandarim, enverga um trajo novo e em todas as algibeiras tilitam as moedas que se vão trocar pelos prazeres faceis para quem disponha tanto d´uma ruma d´ouro como d´uma enfiada de sapecas.

 Ilustração Portugueza1908 Macau Cidade de Prazeres (II)Rua Central 

À direita uma Casa de Pasto-“Toi-Seng” (?)

 Uns vão comprar o amor das pequeninas chinezas de doze a treze annos, nas casas de diversão, onde ellas com as suas vestes de côres discretas, n´uma doçura de sêdas, tocam e dançam aquella meigas melopeas orientaes, as tranças presas no alto, os braços mimosos sahindo das largas mangas, os labios pintados abertos em risos, as sobrancelhas arqueadas que mais lhes obliquam os olhos negros e vivazes, mal sustidas sobre os ésitos minusculos que lhes põem no andar o balanceo rythmico de bailadeiras. Outros, os mais pobres, enchem-se n´essas noites de manjares raros e queridos, os cãesinhos de língua preta em guisados, as cascas de melancia em calda, as sopas preciosas de barbatanas de tubarão e o arroz tradicional dos antepassados. E a cada canto, em cada rua, à beira de cada volta, no angulo de cada esquina lá estão os vendilhões com as suas taboletas, onde ha dizeres em caracteres pintados a vermelho e a negro, saudando, com essa hypocrisia oriental, o comprador das fructas e dos doces, dos guisados extranhos e os jogadores pobres dos mil fantans que n´esse dia pejam a cidade, onde o jogo é um provento enorme e onde toda a gente joga, até mesmo o europeu, apesar da prohibição de o fazer. E assim, no estalar forte dos panchões  n ´aquelle rumor da multidão, se recordam as festas em que já teem passado milhares de chinezes com os seus palanquins nos hombros, onde levam com os leitões gordos, as gallinhas cozinhadas, os doces raros, as serpentes de papelão e os dragões feios, que ondulam assim conduzidos como coisas sagradas, em visões fabulosas, por muitas dezenas de homens que se divertem, entre bandeiras enormes e bastas, onde ha dizeres e que esvoaçam na doçura da aragem.

 Ilustração Portugueza1908 Macau Cidade de Prazeres (III)Uma lorcha, embarcação de pesca

Teem vindo de longe as lorchas e os juncos, despejando gente que chega attrahida pela ancia do goso; os ricos mandarins com a sua tunica bordada, com o seu peitilho onde rabeiam os dragões nacionaes, com os seus casabeques azues abotoados ao lado, as suas fachas franjadas e os seus chapeus onde os botões de côres marcam os seus graus; teem vindo tambem os mercadores e os servos; as suas cargas oscillando suspensas de flexiveis hastes de bambu. À medida que a noite decorre, tudo aquillo se vae animando mais a mais, e quem sahir da cidade christã para as barreiras longinquas achará o mesmo rumor de festa nas casas fétidas onde os cães, os porcos, as gallinhas e os chinos vivem na promiscuidsade vil, mas a cujas portas as fogueiras ardem e os panchões estalam, onde ad creanças rolam soltando gritinhos de goso, já enlambuzadas, mettidas na lama pegajosa d´esse solo onde ha de todos os restos. Cá em baixo, nas águas, os barcos com os seus arcos de balões exoticos estão também em festa e as tanqareiras, em volta do seu guisado, cantam docemente alguma canção guttural e vaga, mais recitada do que cantado, em que ha piratas valorosos que levaram para longe alguma donzella linda.

1.ª parte do artigo, não assinado, publicado na “Ilustração Portugueza”, pp. 801-803, 1908.

O triciclo desliza

muito a custo

pedalando de velho

e de cansado

demasiado pesado

p´ra conduzir a ilusão

de um momento

sem igual

O triciclo

muito em breve

já tem destino marcado

p´ra refúgio das noites

no inverno

ou dos dias de canícula

no Verão!

                                   António Bondoso (1)

tHE gARDEN cITY OF THE oRIENT - trici“PEDICAB ON A COBBLED STONE STREET” (2)

NOTA: António Bondoso esteve em Macau de 1994 a 2000 como jornalista da Teledifusão de Macau e Rádio Macau. Tem um blog pessoal:
http://palavrasemviagem.blogspot.pt/
(1)   BONDOSO, António – Em Macau Por Ocaso. Edição do autor, 1999, 109 p., 20,5 cm x 14,5 cm, ISBN 972-97722-3-1
(2)   Foto retirada do guia turístico do Departamento de Informação e Turismo ( “The Garden City of the Orient “), s/ data, 30 p., 19 cm x 12,7 cm
O guia traz somente a indicação de “graphic design from João Ramires

Continuação da leitura do livro de J. Dyer Ball (1) (2).
Hoje a descrição dos meios de transportes públicos existentes em Macau (1905).

Jinrickshas
There are a number of these useful little vehicles plying for hire and the gradients of most of the streets are not sufficiently steep, as in Hongkong, to prevent them going up and down hill. The fares of these licensed vehicles, unless altered of late, are as follows:

 An hour, or anything short of it, within the walls of the city: 5 cts.
Outside of the city walls for an hour: 10 cts.
And for each extra half-hour: 5 cts
If two get into the same rickshaw, the price to be arranged with the coolie.

JinrixáFoto retirado dum livro de 1955

 Sedan-Chairs
There are about 170 of these plying for hire on the streets. They are registered like the rickshaws, and numbered, and the Bearers have also a board with the fares printed on them. If not recently altered the fares are:

 From 6 a. m. till 6 p. m.
One hour: 10 cts.
 Six hours: 50 cts.
Twelve hours: $.1.
During the evening 5 cts, more an hour.”

RiquexóEste riquexó (imagem retirada da revista  “MACAU”, 1988)  tem a particularidade de ter sido utilizado por Camilo Pessanha. Na altura, estava no Museu Luís de Camões.

As liteiras (“sedan-chairs”, em Macau conhecidas por “cadeirinhas chinesas”), muito populares na China (3), foram também muito utilizadas em Macau quer como meio de transporte público quer particularmente pelas famílias abastadas e desapareceram progressivamente das ruas, com a introdução dos riquexós.
A liteira é uma cadeira portátil, aberta ou fechada, transportada por dois “cules”,(4)   um à frente e o outro atrás e suportada por duas varas.

 LiteiraLiteira para transporte público em Hong Kong (c 1870) (5)

 Riquexó, “rickshaw” ou jerinchá: 人力車 (em mandarim: rén li che; em cantonense jyutping: jan4 lik6 ce1) é o meio de transporte humana em que uma pessoa puxa por uma carroça de duas rodas. Os primeiros jirinkshás (riquexós) terão surgido em Macau em 1883 (6)
Com a introdução dos triciclos de dois passageiros, em 1951 (7) o número dos riquexós foi diminuindo rapidamente. Os triciclos que em Macau chegaram a circular cerca de mil, vieram substituir os riquexós quer porque eram um novo meio de transporte, mais cómodos  quer  pelo seu preço mais acessível. Creio que na década de 60 já não existia nenhum riquexó para transporte de passageiros embora recorde de um ou outro ainda a circular, levando mercadorias. Os triciclos por sua vez, como transporte público permanecem até a década de 70 e hoje são só para o transporte de turistas.
NOTA: na Casa do Mandarim existe um “Corredor das liteiras“:
Passando a porta de lua, desemboca-se num corredor de passagem. Uma vez que tanto o patriarca da família como o seu filho eram oficiais do Governo, a área designada por ‘Ronglu’ dava acesso às áreas mais reservadas e nobres, na parte posterior do complexo. Os visitantes eram convidados a sair das suas liteiras e a desmontar dos seus cavalos neste longo corredor, percorrendo posteriormente a distância remanescente a pé até chegarem ao Pavilhão ‘Ronglu’, que marca a transição entre os espaços de serviço e as áreas nobres do complexo. Os carregadores e criados esperavam na parte exterior, sendo este corredor conhecido por ‘Corredor das Liteiras’”
http://www.wh.mo/mandarinhouse/pt/route/?id=4 
(1) BALL, James Dyer – Macao: The Holy City; The Gem of Orient Earth. Printed by The China Baptist Publication Society, Canton, 1905, 83 p.
O livro está digitalizado pelo “Internet Archive”, em 2007 e poderá consultá-lo em
http://archive.org/details/macaoholycitygem00ballrich
(2)  Sobre este autor e transportes terrestres, ver meus anteriores “posts”:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/j-dyer-ball/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/12/31/postal-antigo-macau-do-seculo-xix-vii-riquexos-na-praia-grande/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/maria-do-rosario-almeida/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/transportes-terrestres/
(3) Segundo historiadores o precursor da liteira (“sedan chair”)  terá surgido na Dinastia Xia ( 夏朝, pinyin: Xiá Cháo)
http://en.wikipedia.org/wiki/Xia_Dynasty
(4)  “Cule” – trabalhador braçal ou carregador
(5) http://en.wikipedia.org/wiki/File:HK_Sedanchair.jpg
(6) Em 27 de Agosto de 1883, o  Leal Senado de Macau apresentou, ao Conselho da Província um Projecto de Postura sobre a circulação, vigilância e preços dos carros chamados «Jin-rik-shas (riquexós); o projecto é aprovado e publicado integralmente no Boletim n.º 42 de 20 de Outubro  seguinte
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9)
(7) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 5. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1998, 320 p (ISBN 972-8091-64-8)

O triciclo corta a chuva devagar
deixando atrás a espuma breve
do esforço.
Vestido de plástico amarelo o condutor
inclina a cabeça coberta por um chapéu
de palha,
cai-lhe a água sobre as mãos
fincadas no gasto guiador.
O seu mundo é o das ruas
e das praças, o suor
a escorrer nos músculos das pernas.

Come pouco, fuma em silêncio
enquanto está sentado, à espera
de turistas, e de velhas chinesas
que vêm do mercado.

António Augusto Menano  (1)

NOTAS:
1 .  António Augusto Menano (1937), escritor, poeta, crítico e artista plástico, residiu em Macau entre 1988 e 1992.
Livros publicados relacionados com Macau:
Poemas do Oriente. Livros do Oriente, Macau, 1991, 70 p.
Poemas de Macau. Ed Kiwanis Clube, Figueira da Foz, 2007 (2)
Qual o começo de tudo isto?: histórias quase íntimas. Livros do Oriente, Macau, 1996, 128 p.
2. O postal intitulado ” A pedicab pedalling along the Avenida da Republica“, foi emitido pela “Dept. of Tourism -D.S.T., Macau” (5000 ex.; 1986 ?). Impresso na Gráfica de Macau Lda.

(1)Pág. 121 da Antologia de Poetas de Macau, selecção e organização Jorge Arrimar e Yao Jingming. Instituto Camões, Instituto Cultural de Macau, Instituto Português do Oriente, 1999, 313 p. ISBN 977-566-201-6 (IC)
(2) Pode-se ler uma “opinião” ao livro em:
http://triplov.com/letras/Julio-Conrado/2007/Zumbido-do-mosquito.htm