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Por iniciativa do Padre Francisco Xavier Rôndina, S. J. (1) efectou-se a 3 de Abril de 1864, uma quermesse no teatro D. Pedro V, em benefício dos órfãos do Seminário de S. José. Este mesmo jesuíta que veio para Macau em 1862, para ensinar e dirigir o Seminário de S. José, (2) era um defensor dos direitos humanos, denunciando os problemas sociais dos mais pobres e desfavorecidos, e promovendo os meios para sustentar os asilados nomeadamente os órfãos.

Mas só em 1900 por iniciativa do Provedor da Santa Casa de Misericórdia Pedro Nolasco da Silva (1842-1912) surgiu o “Asilo dos Órfãos” instalado no Tap Seac, mas que por razões económicas em 1918, foi extinta. (3) (4)

Em 1933, a “Associação protectora dos jovens pobres e órfãos”, que tinha o edifício alugado denominado «Novo Asilo dos Órfãos» na Travessa dos Santos n.º 2, encomendou a construção de um edifício próprio que seria denominado “Asilo dos Orfãos”. (5)

 «Boletim Geral das Colónias», XII, n.º 134/135, Agosto/Setembro de 1936, pp.181

Para efectivação desta grande obra de beneficência, para angariação de fundos para a sua concretização, em Macau, Abril de 1936, (6) foi impresso e distribuído um “jornal” de 16 páginas (número único) onde se apresenta:

– Uma mensagem do Governador interino, Dr. João Pereira Barbosa

 – Um “ante-projecto, para mostrar o partido tomado e em que ainda não há uma preocupação de detalhe”, elaborado por Keil Amaral, (7) acompanhado de uma “descrição do projectado para construção de um edifício na Rua da Horta da Companhia, (8) a pedido da Associação protectora dos jovens pobres e órfãos”, assinado pelo mesmo arquitecto.

– Um artigo intitulado “Querer É Poder”, história resumida do Asilo dos Órfãos até então, por Luís Nolasco (Macau, 18 de Março de 1936) (9)

Com desenho/projecto na 1.ª página da “Fachada principal do novo edifício do Asilo dos Pobres e Órfãos de Macau”
Planta do 1.º pavimento
Planta do 2.º pavimento
Planta da cave
Mensagem manuscrita do governador interino, Dr. João Pereira Barbosa de 8 de Abril de 1936.

NOTA – Apesar de ter havido lançamento da primeira pedra do edifico, em 23 de Junho de 1936, com projecto do arquitecto Keil do Amaral, na Rua de Horta e Companhia, não consta ter havido concretização desta obra pois não encontro nas minhas pesquisas, até hoje, qualquer informação sobre a inauguração ou trabalhos realizados nessa mesma rua e também porque os «Anuários de Macau» de 1938 (p. 442) e 1940/41 (p. 462) referirem uma nova morada para o Asilo dos Órfãos, na «Vila Flora». Acrescenta-se o facto de, em 13 de Fevereiro de 1924, num terreno denominado Horta da Companhia, doado à Irmandade da Misericórdia de Macau pelo Governo da Província, ter sido construído um edifício destinado para Asilo dos Inválidos, (10)

(1) 08-06-1862 – Chegaram a Macau os Padres jesuítas Xavier Rôndina (1827-1897) e José Joaquim de Fonseca Matos, os primeiros professores do reaberto Seminário.  O Padre Francesco Saverio Rondina nasceu em Itália e aos 15 anos de idade ingressa na Companhia de Jesus e faz o seu noviciado em Roma. É enviado para Macau, tendo residido primeiramente, em Portugal entre 1859 e 1862, em Lisboa, no colégio de Campolide onde obteve a autorização régia para ensinar em Portugal, e posteriormente em Macau. Em 1862, passa pela ilha de Sanchoão, onde encontrou aí, a primeira sepultura de S. Francisco Xavier, que restaurou. Padre Rondina, depois de ter dirigido o Colégio de S. José em Macau de 1862 a 1871, devido à ordem que veio de Lisboa (os professores do Seminário teriam de ser obrigatoriamente de nacionalidade portuguesa e a aqueles que não cumpriam este requisito teriam de abandonar o território), abandona Macau com alguns colegas jesuítas e dirige-se para o Rio de Janeiro, onde permanecerá durante algum tempo mas, por motivos de saúde, regressa finalmente a Itália, em 1882. Nesse ano, quando conhece a obra educativa de S. João Bosco, sob a inspiração e nome de S. Francisco de Sales – os Salesianos – propôs a ida destes para Macau. D. João Paulino Azevedo (1902-1918) dá sequência à instalação dos salesianos em Macau, em 1906. (10)

Sobre a biografia e obra do Padre Rondina , aconselho leitura de: ARESTA, António – Cinco Figuras do Diálogo Luso-Chinês em Macau em file:///C:/Users/ASUS/Downloads/06-Cinco%20figuras__Antonio%20Aresta873-894.pdf

MARTINS, Maria M. B. – Compêndio de Philosophia Theorética e Pratica de Francisco Xavier Rondina S.J.; O Renascimento de Neo-escolástica  em https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/15970.pdf

(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – O Teatro D. Pedro V, 1971, p. 31.

(3) “1900 – Sendo Provedor da Santa Casa de Misericórdia Pedro Nolasco da Silva criou este grande vulto macaense o Asilo dos Órfãos, que ficou a cargo da mesma Santa Casa e instalado em edifício próprio, ao Tap Seac (hoje sede do Instituto Cultural do Governo da RAEM). A instituição foi extinta por medidas económicas em 1918, tendo recolhido e educado ao todo 182 rapazes, alguns dos quais atingiram lugares importantes dentro e fora de Macau. (10)

(4) “Havia antigamente o Asilo dos Órfãos da Santa Casa da Misericordia de Macau, instalado no edifício que a mesma Santa Casa propositadamente mandou construir ao Tap Seac e onde hoje funciona o liceu nacional. Um provedor, porém, em hora infeliz de confissão de incompetência e de comodismo propôs, e conseguiu, a sua extinção. Ficou, então, aberta uma lacuna na obra de assistência pública de Macau.” (Luis Nolasco) (6)

(5) “06-01-1933 – Foi inaugurado a 6 de Janeiro de 1933, o «Novo Asilo dos Órfãos», sob o patrocínio da «Associação Pública de Protecção aos jovens Pobres e Órfãos», alimentada com cotas mensais, sessões de animatógrafo e outras representações de benefício. Faltava um prédio adequado, porque o 1.º, ao Tap Seac, passou a ser o Liceu Central de Macau. Com a ajuda de muitas almas boas, entre elas o arquitecto Keil do Amaral e o Dr. Gustavo Nolasco da Silva (11), impulsionados por Pedro Paulo Ângelo, (12) o Asilo foi instalado na Travessa dos Santos n.º 2 e encontrou quem lhe permitisse continuar (10) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/06/noticia-de-06-de-janeiro-de-1933-novo-asilo-dos-orfaos/

(6) “O Asilo dos Orfãos”, jornal, número único, de Abril de 1936,Macau.

“ABRIL DE 1936 – Publicado um Jornal do Asilo com o título de “O Asilo dos Orfãos”, Número Único, com a história e o projeto de construção do edifício destinado a esta obra de assistência; ainda instalado na Travessa dos Santos, ali se utilizou a política de self-supporting-concern, com oficinas de tipografia e encadernação e professores (e material) concedidos pela Comissão Administrativa de Município, por proposta do Tenente Guedes Pinto. O projecto foi feito gratuitamente pelo arquitecto Keil do Amaral, sendo-lhe destinado um espaço cedido gratuitamente por diligência do Governador Interino, Dr. João Pereira Barbosa.” (10)

(7) Francisco Caetano Keil Coelho do Amaral (1910 — 1975) foi um arquiteto português ligado ao Modernismo, com destaque ao longo dos anos de 1940 e 1950, com responsabilidade projectual de importantes obras públicas, como por exemplo, Aeroporto de Lisboa, Feira das Indústrias de Lisboa, Parque Florestal de Monsanto, Lisboa etc. Completa o curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes de Lisboa e a primeira obra é de 1934 (Instituto Pasteur, Porto). Este projecto para Macau terá sido um dos primeiros trabalhos encomendados (não consta na sua biografia) já que só em 1936, é referenciado o concurso para o Pavilhão de Portugal na Feira Universal de Paris, onde esteve durante 1 ano para acompanhar a construção do pavilhão. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Keil_do_Amaral)

(8) A Rua de Horta da Companhia, em 1969, foi redenominada Rua de D. Belchior Carneiro (actual designação) nas comemorações dos 400 anos da chagada a Macau do Bispo D. Melchior.

(9) Dr Luís Gonzaga Nolasco da Silva (1881-1954; filho de Pedro Nolasco da Silva) foi presidente do Asilo dos Órfãos de 1933 (Travessa dos Santos, n.º 2) a 1938/1939 (Vila Flor) (Directório de Macau, 1933, p. 518 e Anuário de Macau, 1938, p. 442) (https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/luis-gonzaga-nolasco-da-silva/)

(10) (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 2015, Volume II, p. 338; Volume III, pp. 161, 230,239, 251, 283)

(11) Dr. Gustavo Nolasco da Silva (1909-1991; filho de Luís Gonzaga Nolasco da Silva) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/gustavo-nolasco-da-silva/

(12) 14-07-1931- O Sr. Pedro Paulo Ângelo, fazendo parte da Mesa Directora da Sta. Casa, inicia uma subscrição pública para reerguer o Asilo dos Orfãos, instituição onde crescera e sustentada pela Santa Casa da Misericórdia até 1918 quando foi fechado por medidas económicas. Em 13 de Agosto de 1931, os Estatutos foram aprovados pela Portaria n.º 936 do Governo de Macau. Com a subscrição e mais algumas achegas finais, adquiriu-se uma soma de 10 mil patacas.” (10)

Anteriores referências ao Asilo dos Órfãos: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/asilo-dos-orfaos/

Em Janeiro de 1987 chegaram a Macau cinco Irmãs da Congregação de Caridade de Santa Ana e iniciaram a sua obra no Asilo Betânia; em Maio de 1989 foram para o Asilo de Santa Maria; em Abril de 1992 para o Lar de S. Luís Gonzaga e em Janeiro de 1933 para o Centro de Santa Lúcia em Ká Hó, tratando e servindo todos os necessitados, especialmente os idosos e os doentes mentais que lhes foram confiados. Em 1994, quando foi publicado o opúsculo (1) que apresento, eram já vinte as Irmãs que se dedicavam nos Centros transformados em casas de bem estar e onde eram prestados bons cuidados e apoio a todos que ali se encontravam.

CAPA + CONTRACAPA

Maria Rafols nasceu em 5 de Novembro de 1781 em Villafranca de Panades.Barcelona, Espanha. Um dia encontrou o Pe João Boal, vigário do Hospital de Santa Cruz de Barcelona (falecido em 1829) e tenho sabido que este estava envolvido num projecto ambicioso de caridade para cidade, ofereceu-se para trabalhar ao serviço dos pobres. Aos 23 anos foi nomeada presidente feminina de um grupo de 12 irmãs da Caridade (como eram chamadas) encarregadas de melhorar a situação de 2 000 doentes do Hospital de Nossa Senhora da Graça em Saragoça. O modo de actuação da nova Irmandade foi-se tornando conhecido e o Bispo de Huesca, D. Joaquim Sanchez de Cutanda convidou-as para o serviço do Hospital e da Casa da Misericórdia da cidade (19 de Maio de 1807). Em 1808-1809, nos dois cercos feitos a Saragoça pelas tropas de Napoleão, a Irmandade contava já contava 21 Irmãs, exercendo uma acção contra a fome e a miséria dos feridos e prisioneiros da guerra. A rendição de Saragoça deixou a cidade coberta de cadáveres e em ruínas; nove companheiras sucumbiram de doença.

Em 15 de Julho de 1824, as Constituições da Irmandade foram aprovadas pela autoridade eclesiástica diocesana, e a 16 de Julho de 1825 treze Irmãs fizeram os primeiros votos públicos de pobreza, castidade, obediência e hospitalidade e as três fundadoras, Maria Raflos, Teresa Canti, Raimunda Torella e a irmã Teresa Ribeira fizeram os votos perpétuos no mesmo ano – 15 de Novembro de 1825. Maria Rafols faleceu a 30 de Agosto de 1853 (49 anos de vida religiosa). Em 1994 existia cerca de três mil Irmâs da Caridade.

Página 40 e interior da contracapa

(1) “Maria Rafols, heroína da Caridade do Século XIX, Fundadora da Congregação das Irmãs de Caridade de Santa Ana”. Biografia da vida e obra de Maria Rafols. Opúsculo de 40 páginas, em português, inglês e chinês, 20,5 cm x 14 cm. Impresso em 30 de Outubro de 1994.

NOTA: Sou testemunha das acções contínuas e prontas destas Irmâs sempre ao serviço dos mais pobres, necessitados e doentes. Prestei assistência médica nos anos 80 e 90 (séc. XX) nos Asilos dependentes das Missões nomeadamente no Asilo «Santa Maria» (fundado pelo Padre Luís Ruiz Suarez em 1969, instalando-se na casa do antigo Infantário da Associação das Senhoras Chinesas na Travessa dos Santos n.º 2-4 (entrada principal), depois melhoradas com as obras de beneficiação; tinha uma porta lateral que dava para a Rua do Pato (por onde se entrava) e no «Asilo Betânia» também fundado pelo Padre Luís Ruiz Suarez, em 1970, na Avenida do Conselheiro Borja a caminho da Ilha Verde (eram barracas de latas, antigo centro de refugiados do Instituto de Acção Social de Macau). Por detrás do «Asilo Betânia» ficavam as casas do antigo dormitório para refugiados, onde o mesmo Padre Ruiz Suarez fundou, em 1970, o «Centro «São Luís» destinados aos rapazes com atrasos mentais e doentes crónicos (a entrada era o mesmo do Asilo Betânia). O Centro de Santa Lúcia foi fundado em 1977 para albergar raparigas subdesenvolvidas num edifício (novo com capacidade para 70 pessoas em 1978), em Ká Hó.