

Em Macau à procura de Camilo Pessanha Onde foi a casa do poeta agora é um pátio de escola em que brincam crianças e tem à frente um baloiço e lá atrás duas árvores. Na esquina da rua com o seu nome um mendigo serrazina a sua viola e o som alonga-se chorado, chora e perde-se devagar nas outras ruas que levam à Travessa do Pagode, à porta da loja onde ainda o espera o amigo antiquário Ah-Men.
Já ninguém sabe o destino do cachimbo com que inventava paraísos e princesas ou sereias, com seus cantos, músicas e campos de liliáceas, cores de mil maravilhas ao mundo que bem sabia que era mais o daquele mendigo àquela esquina para a Sam Má-lô e a sua viola chorando pela moeda de meia pataca que também eu me esqueci de deitar na tigela que tinha ao lado.
Pedro da Silveira, (1) Corografias, Lisboa, 1985.

(1) Pedro Laureano Mendonça da Silveira (1922 —2003), mais conhecido por Pedro da Silveira,(1) foi um poeta (um dos grandes poetas açorianos,), historiador, tradutor, consultor literário de uma editora, crítico literário, investigador, diretor do serviço de Investigação e Espólios da Biblioteca Nacional, com vasta colaboração dispersa em periódicos, revistas e jornais. Fez parte do conselho de redação da revista “Seara Nova” (até 1974), colaborou nos números 40 e 47 da revista “Mundo Literário”. Publicou “A Ilha e o Mundo” (1952), “Sinais de Oeste” (1961), “Corografias” (1985), “Mesa de Amigos” (1985), e, em 2000, começou a ser publicada, por volumes, a sua obra poética completa, na coletânea “Fui ao Mar Buscar Laranjas”, uma edição corrigida e aumentada. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_Laureano_Mendon%C3%A7a_da_Silveira http://www.culturacores.azores.gov.pt/ea/pesquisa/Default.aspx?id=10136 https://www.nch.pt/biblioteca-virtual/bol-nch15/n15-8.html