“07-01-1514 – Tomé Pires escreveu de Malaca comunicando ao Rei de Portugal que um junco da Sua Majestade, comandado por Jorge Álvares, seguiu com outros para China, afim de buscar mercadorias, sendo as despesas compartilhadas, em partes iguais, entre El-Rei e Bemdara Nina Chatu “ (1) O Capitão de Malaca, Rui de Brito Patalim escreveu também a D. Manuel, em carta datada do dia anterior (06-01-1514) sobre o envio de um junco, carregado de pimenta, na companhia de outros juncos chineses e cinco portugueses (dos quais dois no junco pertencente ao Rei de Portugal). (1) Uma outra carta também dirigida a D. Manuel de Jorge de Albuquerque, datada de 8-01-1515, menciona o nome de Jorge Álvares nessa viagem. Jorge Álvares terá regressado da China aportando em Malaca entre Abril e Maio desse ano.
CAPA: fotografia de Eduardo Tomé; arranjo gráfico de Gisela Viegas
A propósito de Jorge Álvares, apresento este livro : “Jorge Álvares o primeiro português que foi à China (1513)”, (2) que é uma reedição de um estudo de Luis Keil editada em Lisboa, em 1933. Editada em 1990 pelo Instituto Cultural de Macau numa edição trilingue (em português pp. 7-19, tradução para chinês de Qi Xin, pp. 23-34 e tradução para inglês de Marie Imelda Macleod, pp. 37-51).
Foi Luís Keil (3), neste trabalho de 1933, quem pela primeira vez, chamou a atenção e veio recordar, de forma definitiva, a primazia de Jorge Álvares, um português, em missão oficial, que chegou pela primeira vez à China e aí deixou um padrão do rei D. Manuel na Ilha de Tamão.
Durante muito tempo, esta glória era atribuída a Rafael Perestrelo que chegou a Cantão apenas em 1515; “este esquecimento a que o nome de Jorge Álvares foi votado é tanto mais de estranhar quanto João de Barros lhe promete uma glória imorredoira por este feito: “E pêro que aquella região de idolatria coma seu corpo, pois por honra de sua pátria em os fins da terra poz aquelle padrão de seus descobrimentos, não comerá a memoria de sua sepultura, emquanto esta nossa escritura durar…“ (4)
O Prefácio de João de Deus Ramos refere:
” …Terá também, espera-se, a virtualidade de desfazer alguns equívocos entre o Jorge Álvares de 1513 e outras seus homónimos contemporâneos nas mesmas paragens. Finalmente , passa agora a dispor-se de um estudo difícil de encontrar em alfarrabistas e livreiros, não só pela sua raridade, mas também por ser frequentemente confundido com o livro de Artur Basílio de Sá sobre um dos “outros” Jorge Álvares….(…)
… J. M. Braga escrevia, em 1955, no prefácio ao seu trabalho sobre o mesmo tema, China Landfall, 1513: “… for a long time, the voyage of Jorge Álvares to China in 1513 was forgotten We are indebted to Luis Keil for a excellent little study in Portuguese, published in 1933, clarifying the circumstances and pointing the way to the existence of a great deal of source material, which had to be suitably interpreted … (…)” (5)
Fragmento da carta de Jorge de Albuquerque, escrita de Malaca a 8 de Janeiro de 1515, dirigida ao Rei D. Manuel. Nela se lê a referência a Jorge Álvares junto à parte deteriorada ( Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Corpo Cronológico. Parte III. Maço 5, Doc. n.º 87) (2)
CAPA e CONTRACAPA
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau. 1954.
(2) KEIL, Luís – Jorge Álvares, o primeiro português que foi à China (1513). Edição do Instituto Cultural de Macau, trilingue (português, chinês e inglês), 1990, 51 p. ISBN972-35-0090-6; 26 cm x 18,5 cm.
(3) Luís Cristiano Cinatti Keil , (1881-1947), quarto filho de Alfredo Cristiano Keil, (autor de “A Portuguesa” hino nacional em 1891 e aprovada em 1911), seguiu também na senda das artes tendo sido Conservador do Museu Nacional de Arte Antiga, Director do Museu dos Coches e Vice-Presidente da Academia Nacional de Belas Artes. Morreu tragicamente com a mulher e a única filha num desastre de automóvel, em 1947.
(4) BARROS, João de – Da Asia, Dec. 3, 6, 2. in TORRÃO, Manuel Nunes – A China na Obra de D. Jerónimo Osório
http://www.uc.pt/fluc/eclassicos/publicacoes/ficheiros/humanitas43-44/27_Nunes_Torrao.pdf
(5) Também Christina Miu Bing Cheng no seu livro «Macau: a Cultural Janus», na página 18, sublinha a importância da obra de Luís Keil.

MIU Bing Cheng, Christina – Macau: a cultural janus. Hong Kong University Press, 1999, 238 p.
Ver anteriores referências a Jorge Álvares em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jorge-alvares/