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No dia 3 de Setembro de 1887, o governador de Cantão veio a Macau, acompanhado de uma força armada, e apresentando-se inesperadamente no Palácio do Governo, convidou o governador Firmino José da Costa a ir no dia seguinte visitá-lo ao seu navio. Este assim fez; o mandarim informou-o de que viera examinar o território de Macau, o qual não se estendia além das antigas muralhas. Costa respondeu que eles não eram as pessoas idóneas para tratar desse assunto (1) e assim se encerrou o incidente.

 Ljungstedt, no seu “Historical Sketch”, p. 31, informa: «A oriente da cidade há um «Campo», que pode dizer-se que se estende até à fronteira da península.» A lembrar esse Campo temos o toponímico da Rua do Campo.

A cidade era amuralhada e os chineses afirmavam que a jurisdição portuguesa não se estendia além das muralhas da cidade. Ora a muralha ia da Guia à Fortaleza do Monte e ao Patane. Nesta muralha havia duas aberturas, chamadas Portas de S. António e Portas do Campo que se fechavam ao cair da noite e se abriam ao romper da aurora. (informação extraída de TEIXEIRA, Pe. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, pp. 454)

(1) “1-12-1887 – O ex-Governador de Macau e Ministro Plenipotenciário de Portugal – Tomás de Souza Rosa e o Príncipe Ch´ing com o Ministro Sun-iu-Ven assinam conjuntamente o “Tratado de Pequim”, 54 artigos, e uma “Convenção” sobre ópio com 3 artigos, sendo que no 2.º a China confirma o “Protocolo de Lisboa” que consigna a perpétua ocupação e governo de Macau por Portugal, que confirma o seu compromisso de não alienar Macau sem acordo prévio da China. “ (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 277)

Artigo publicado pelo ICM “Macau visto pelo Conde de Arnoso”, com os comentários do Padre Manuel Teixeira (1) (

“O Conde de Arnoso (2) chegou a Macau a 23 de Junho de 1887, juntamente com Tomás de Sousa Rosa que ia a Pequim assinar o primeiro Tratado Luso-Chinês. Conta ele no seu livro Jornadas pelo Mundo (p. 113): “Embarcados na canhoneira Rio Lima, levantámos ferro do porto de Hong-Kong, pelas oito horas da manhã do dia 23 de Junho, em direcção a Macau. Navegando contra vento e corrente, cinco horas levámos a percorrer as quarenta milhas que separam as duas cidades. Pela uma hora da tarde entrávamos na rada em frente da Praia Grande. Com respeito e orgulho olhámos para essas águas, que foram sepultura dum antepassado nosso, Jorge Pinheiro de Lacerda que, pelejando ali, pelos tempos da restauração da casa de Bragança, contra os holandeses, e cedendo o esforço à multidão dos contrários, como refere o cronista, se matou deitando fogo ao paiol do navio depois de lhe arrancar os sinais do triunfo já arvorados nos mastros. Volvidos mais de dois séculos, é-nos grato a nós, que vimos de igual sangue e usamos do mesmo apelido, aportar às mesmas águas num navio da marinha portuguesa com oficiais que, em circunstâncias semelhantes, não hesitariam um só momento entre o render-se e morrer”

Alguém conhece este Jorge Pinheiro de Lacerda? A nós parece-nos que é pura fantasia do seu suposto descendente, Conde de Arnoso. Depois de 1627, nunca mais os holandeses se atreveram a atacar Macau. Na Restauração não houve combate algum com os holandeses. O nome de Lacerda não figura entre aqueles que assinaram o termo da Restauração. Não consta que nenhum capitão de navio em Macau tivesse deitado fogo ao paiol da pólvora.

Onde é que ele teria lido esse nome e esse episódio?” (1)

(1) http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30007/1514 (2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/conde-de-arnoso/

Em 17 de Setembro de 1883, escreve Adolfo Loureiro (1) a propósito do Hotel Macao (2) (desde 1880, sob a direcção de Pedro Hing Kee) (3):

«Fiquei hoje definitivamente instalado nos meus aposentos que são completamente independentes e mobilados conforme as minhas indicações. Na varanda coberta lá estão as frescas e cómodas cadeiras, ou sofás de rota; no salão uma grande mesa para estantes, plantas e desenhos, secretárias, pequena mesa para quando quiser almoçar ou jantar no meu quarto, etc., etc,; no quarto de cama, um leito enorme e de armação, mesas, toilettes, guarda roupa, cabides; finalmente, uma pequena galeria envidraçada, dando para um páteo interior, e nela a sala de banho com uma daquelas banheiras chinesas de barro com esmaltes que fazem lembrar as antigas tinas de banho gregas ou romanas. Estou optimamente instalado e encontro no dono do hotel que é um cristão, o maior desejo de me ser agradável… (…) O jantar foi servido com profusão, com boa ordem e com uma cozinha, meio inglesa, meio portuguesa que me não desagradou. Quando terminei, ao chegar à janela vi o governador (Tomás de Sousa Rosa) que ia ao seu passeio. Acompanhei-o.» (4)

Por volta de 1900, encontra-se no Tourist Book de Hong Kong o seguinte anúncio: (4)

Macao Hing Kee’s Hotel – A perfectly new Building – 30 bedrooms – A confortable family Hotel – Five Minutes from the Wharves steamer – Every thing of the Best – Charges very moderate.

(1) O engenheiro Adolfo Loureiro, encontrava-se em Macau a fazer estudos sobre a viabilidade da construção de um dique no porto interior. Anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/adolfo-loureiro/

(2)

Em primeiro plano os Correios, a seguir, o «Macao Hotel», c. 1900

Velho hotel oitocentista «Hotel Hing Kee» (“Nam Van Heng Ki Chau Tim”) com a fachada principal virada a leste para a Rua da Praia Grande com o número 101 (Directório de 1890, p. 57), propriedade de P. L. Hing-Kee. Depois «Macao Hotel» (explorado por William Farmer (ou «New Macao Hotel», a partir de 1923) remodelado em 1927-1928 pelo comendador Lou Lim Ioc  com o nome de «Hotel Riviera» (encerrou em 1969) e, dois anos mais tarde, demolido. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-macao/

DIRECTÓRIO DE MACAU DE 1890, p. 57

No Directório de Macau de 1879, vem mencionado um Hotel com o nome de «Macau Hotel» (Ou Mun Tai Chao Tim), propriedade de Joaquim Pereira de Campos, na Rua de Praia Grande n.º 15 (com gerência de António Gomes da Silva Telles e Augusto Siqueira)

DIRECTÓRIO DE MACAU DE 1879, pp. 28 -29

(3) O Engenheiro Adolfo Loureiro no seu livro ”Oriente” descreve-o «um china rechonchudo e prazenteiro que me recebe de modo expansivo, falando-me, em vozes mansas, um português ininteligível e que me obriga a recorrer ao inglês, língua em que sou menos forte do que ele no português» (4)

(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, ICM, 1997, p.75

No dia 6 de Agosto de 1882, regressou do Japão o Governador e Ministro Plenipotenciário junto à corte da China, Japão e Sião, Joaquim José da Graça. O «Boletim da Província de Macau e Timor» de 5 de Agosto de 1882 (suplemento ao n.º 30) publicou o programa de recepção.

Extraído do «BPMT», Suplemento ao n.º 30 de 5 de Agosto de 1882

Joaquim José da Graça (1825 -1889), governador de Macau, então major de infantaria, nomeado a 04-09-1879 (1) com tomada de posse em 28-11-1879 até 23-04-1883 (data de posse de Thomaz de Sousa Roza). Foi exonerado a 24-03-1883. (2)

 “A principal questão que tem pela frente é ainda e sempre ligada com as alfândegas chinesas, em torno de Macau. Como os dois antecessores também este governador visitou o Vice Rei dos dois Kuangs, de Cantão (regressou a 17-01-1881) mas, se isso é possível, a situação final foi ainda menos favorável. As indefinições eram muitas: que alfândegas, que que linhas marítimas de separação, que assinatura s de quem… realmente a conseguir-se algo consistente tinha que ser entre as primeiras autoridades de Portugal e da China. “  (3)

(1) “21-08-1879 – Data dos Decretos de exoneração de Governador do Visconde de Paço d´Arcos; e nomeação para Governador do Coronel do estado Maior Filippe Joaquim de Sousa Quintella; este último Decreto foi anulado e foi nomeado o Major de Infantaria Joaquim José da Graça em 04-08-1879.”(3)

(2) “24-03-1883 – O conselheiro Joaquim José da Graça , exonerado por Decreto de 29 de Dezembro de 1882, entregou o governo ao Conselho Governativo, para regressar ao reino em 27 de Março de 1883.” (3)

(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015 pp. 244, 299, 233 e 246.

Anteriores referências neste blogue a este governador: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joaquim-jose-da-graca/

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No dia 5 de Setembro de 1887, o Vice-Rei de Cantão, mandarim Hong visitou oficialmente as ilhas de Taipa e Coloane. Era governador Firmino José da Costa (7-08-1886-1889). Segundo se constou, a visita tinha como objectivo colher informações pedidas por Pequim com vista ao Tratado (1)
O Administrador José Correia de Lemos, (2) relatou esta visita em ofício de 6 de Setembro de 1887, à Secretaria do Governo:
“… Às 2 e meia horas desembarcou na Taipa o mandarim com o seu estado maior mas sem um único homem armado; percorreu algumas ruas, descansou n´uma loja do pannos onde fez algumas perguntas sobre negocio, população e tributos, indagou também sobre o tempo que a Taipa s sujeitou ao domínio português.
Foram prestadas as honras pela força do destacamento pois que não havia chegado ainda a lancha “Macau”.
Em seguida dirigiu-se o mandarim para Coloane sendo precedido pela lancha que rebocava a força chegada n´aquele momento de Macau.
Recebi no cais o mandarim, que mostrou desejos de desembarcar no quartel da praia, aonde se demorou por 15 minutos.
Percorreu depois as ruas dos Negociantes do Caetano, e entrou n´uma loja de pannos aonde fez também perguntas como na Taipa.
A guarda de honra posta no caes fez a continência devida, tanto no desembarque como na partida.
Tanto na Taipa como em Colovan o mandarim fez entregar aos respectivos Tipus does editais, que eu dei ao enterprete Almeida para traduzir mas que ainda não recebi
Às 14 horas seguio para Macau o mandarim sendo por mim acompanhado até a fortaleza; retirando também a força que viera fazer-lhe as honras do stylo.
Devo informar a V. Exa. que o mandarim Hong me parece bastante satisfeito pela recepção que lhe fora feito.(3)
(1) Tomás de Sousa Rosa, ex-governador de Macau, foi nomeado ministro plenipotenciário responsável pelas negociações diplomáticas iniciadas em 1986 que culminaram na assinatura em Lisboa de um protocolo preliminar em Março de 1887 e que propunha o seguinte:
Artigo 1.º – Um tratado de comércio e de amizade com a cláusula da nação mais favorecida será concluído e assinado em Pequim.
Artigo 2.º – A China confirma a perpétua ocupação e governo de Macau e suas dependências por Portugal como qualquer outra possessão portuguesa.
Artigo 3.º – Portugal obriga-se a nunca alienar Macau e suas dependências sem acordo com a China.
Artigo 4.º – Portugal obriga-se a cooperar com a China na cobrança do rendimento do ópio em Macau do mesmo modo que a Inglaterra em Hong Kong.
Em 1-12-1887 foi assinado em Pequim o Tratado de 1887, e a ratificação foi no ano seguinte. A China reconhecia pela 1.ª vez a soberania portuguesa sobre Macau.
OLIVEIRA, Celina Veiga de – China e Portugal. Como se construiu o entendimento Luso-Chinês a partir de Macau in «Administração» n.º 96, vol. XXV, 2012-2.º, 531-544, disponível para leitura em
https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ezyGggKm-JIJ:https://www.safp.gov.mo/safppt/download/WCM_016532+&cd=14&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt
(2) Alferes (depois Capitão) José Coreia de Lemos foi nomeado adjunto do comandante militar e administrador substituto do Concelho das Ilhas a 5-5-1879. Passou a efectivo a 25-08-1879 até 1890. Seria substituído em 14 de Janeiro de 1890 pelo Capitão José Maria Esteves.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-correia-de-lemos/
(3) Extraído de TEIXEIRA, Padre Manuel – Taipa e Coloane, 1981, pp 133-134

Continuação da entrevista dada pelo tenente de engenharia Raul Esteves ao «Diario Illustrado» (1)  cujo excerto publiquei em 22 de Janeiro de 2017 (2). Hoje a segunda parte, intitulada “ A questão do domínio portuguez” (3)
(1) «Diário Illustrado» 22JAN1909
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/01/22/noticia-de-22-de-janeiro-de-1909-a-defeza-de-macau/
(3) «Diario Illustrado» 26JAN1909

Continuação da publicação dos postais constantes da Colecção intitulada “澳門老照片 / Fotografias Antigas de Macau / Old Photographs of Macao”, emitida em Setembro de 2009 pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. de Macau/Museu de Macau (1) 
Este palácio denominado Palácio do Cercal, (2) mandado construir em 1849 pelo /Barão do Cercal /Visconde (a partir de 1865) ao arquitecto macaense José Tomás de Aquino, foi  arrendado em 1 de Junho de 1875 pelo Governo por um ano (renovado se não houvesse qualquer aviso) pela renda inicial: $2 400 patacas. Depois o palácio foi penhorado e posto em arrematação em 1881 sendo comprado pelo Governo (sendo governador Joaquim José da Graça) por $20. 080 patacas. A partir de 1884, foi residência dos governadores sendo o primeiro, Tomás de Sousa Rosa (1883 a 1886) até 1926, quando o governador Tamagnini Barbosa (2.º mandato) escolheu Santa Sancha para sua residência permanente. Desde esta data, o Palácio da Praia Grande ou o Palácio do Governo ficou a servir apenas de sede de governo (nele funcionava também a Assembleia Legislativa e o Conselho Consultivo do Governador), até 1999 e após essa data, sede oficial do Chefe do Executivo de Macau e do seu Governo.
(1) Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/postais/
(2) Era o prédio n.º 27 da Rua da Praia Grande
Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/06/08/noticia-de-8-de-junho-de-1875-arrendamento-do-palacio-da-praia-grande-do-visconde-do-cercal/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/barao-do-cercal/

Aviso publicado no «Boletim do Governo de Macau e Timor,» XVIII – n.º 20 de 11 de Maio de 1872
Escaler – Pequena embarcação de quilha ordinariamente de remos ou vela, para serviço de um navio ou de uma repartição ou estação marítima. pública.
João Eduardo Scarnichia (1832 – 1888) -斯卡尼西亚capitão-de-mar-e-guerra da Marinha
Aos treze anos, assentou praça na Armada, iniciando-se muito cedo na vida do mar. Após frequência da escola Politécnica, foi promovido a guarda marinha em 1841 e embarca neste posto no vapor Mindelo.

Annaes Maritimos e Coloniaes, 1846
http://library.umac.mo/ebooks/b31365243f.pdf

Em Fevereiro de 1848 completa o curso da Escola Naval sendo promovido a guarda-marinha efectivo. Envolve-se nas lutas liberais que deflagraram em 1846 sendo deportado. É integrado no Exército de operações em Janeiro até Agosto do mesmo ano, voltando a embarcar no Mindelo. E nesse mesmo ano é-lhe concedido o grau de cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada.
Em 3 de Setembro de 1853, passou à corveta D. João I que largou de Lisboa a 6-10-1853 chegando a Macau em 1854 sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Craveiro Lopes, levando na viagem 6 meses e vinte e tantos dias (passando pelo cabo de Boa Esperança e Timor).
Em 1854 passou a comandar, no posto de 2.º tenente, a lorcha de guerra Amazona Promovido por distinção (várias expedições contra a pirataria nos mares da China) em 12-11-1854, a 1.º tenente.
Casou em Macau a 15-07-1856 na Sé Catedral com Maria Kikol Goularte (nascida em Macau)
Nomeado Capitão do Porto de 1861 a 1876, sendo nesse tempo promovido a capitão-tenente e capitão-de-fragata e
Comandante da Polícia Marítima de 1868 a 1876. Em 16-08-1876 foi promovido a Capitão-de-mar-e-guerra, Regressou a Portugal em 1877.
Em 1877, (1) foi eleito deputado pelo círculo de Macau cargo que exerceu até à sua morte, em 26 de Fevereiro de 1888 (no posto de contra-almirante) vítima de congestão cerebral.
Informações de TEIXEIRA, Mons. Manuel – Marinheiros Ilustres Relacionados com  Macau, 1988.
Anteriores referências a João Eduardo Scarnichia em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joao-eduardo-scarnichia/
(1) Foi João Eduardo Scarnichia que, como deputado, teve uma intervenção no parlamento em 1880 chamando a atenção da decadência e incúria do jardim de Camões e da necessidade de aquisição do espaço por parte do Governo. Esta aquisição sé seria concretizada em 1885 com a intervenção do Governador Tomás Roa e do comendador Lourenço Marques
Ver
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/comendador-lourenco-marques/page/3/ 
卡尼西 mandarin pīnyī: sī qiǎ ní xī yà; cantonense jyutping: si1 kaa1 nei4 sai1 ngaa3
Do «Diário Illustrado» de 26 de Setembro de 1878 (n.º 1972) na coluna  “High Life” extraí esta nota social:

Relatório do Serviço Médico da Província de Macau e Timor referido ao ano de 1985 elaborado pelo Dr. Augusto Pereira Tovar de Lemos (1) e datado de 1 de Fevereiro de 1886. (2)
1885 — Bairro de S. António: “Do lado N fica a casa ou palacete e uma formosissima quinta; cujo dono ha pouco era o sr. Comendador Lourenço Marques, e que actualmente pertence ao estado. N’esta quinta está a gruta histórica de Camões. Foi esta importantissima e formosa propriedade comprada ha pouco pelo Ex. mo Sr. Governador Thomaz Roza, logo que soube que o proprietario a negociava com os missionarios francezes. Por 35:000 patacas se satisfez um dever patriotico, por todos sentido e já pela illustrada sociedade de Geographia lembrado, por ocasião da celebração do tricentenario do Camões. (3)
Descrever a belleza d’aquella quinta, fallar d’aquellas gigantescas arvores, (4) cujas, raizes abraçando caprichosamente as rochas, encantam e extasiam o observador, não é para aqui, nem eu, por incompetente, assumiria tal encargo. Muitas aplicações pode ter tal vivenda, supponho porem que a melhor entre todas, e a que está lembrando aos que a conhecem, é para museu, jardim zoologico e botanico. Em melhores condições naturaes não está decerto o bello e novo museu em Singapura. A idea não é minha, mas seguramente applicação melhor e mais conveniente não pode ter. Corre que ha muito em tão importante e instructivo melhoramento pensa o Ex.mo Sr. Thomaz de Souza Roza. Se conseguir realisal-o, é mais uma obra grandiosa do seu governo.
Em linha com a entrada de tão formosa e encantadora vivenda estão extensas ruínas, esqueletos de dois palacetes, triste recordação do anno de 1874. Pertencem ao mesmo sr. Commendador Lourenço Marques. Diz-se que o seu proprietario tenta de novo erguei-os para arrendar, pois que para si destina parte do grande palacio, que formando do lado SO a face do quadrado do espaçoso largo, foi agora erguido sobre as ruínas d’ um outro palacete que o mesmo tufão em intima alliança com um voraz incendio, conseguira abater. Igual sorte ia tendo a igreja de Santo Antonio que fica ao S. Em geral os edificios d’esta freguezia são de modesta apparencia.”.
(1) Sobre Augusto Pereira Tovar de Lemos, ver em anteriores referências:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/augusto-pereira-tovar-de-lemos/
(2) Augusto Pereira Tovar de Lemos — Relatório do Serviço Médico da Província de Macau e Timor, referido ao ano de 1885, datado de 1 de Fevereiro de 1886- págs. 149 e 154 — in Boletim da Província de Macau e Timor — Série de 1886)
(3) “1885 — “Embora o processo para aquisição do Jardim de Luís de Camões fosse desencadeado pelo antigo Capitão do Porto de Macau, João Eduardo Scarnichia, quando deputado no Parlamento de Lisboa, em Maio de 1880, só perante o desejo dos Padres das Missões Estrangeiras de Paris para ali instalarem um sanatório é que se retomou o processo. Foi então que o Governador Tomás de Souza Roza telegrafou ao Ministro da Marinha e Ultramar, Manuel Pinheiro Chagas e, devidamente autorizado, antecipou-se aos franceses, comprando a propriedade à família Marques“.
(SILVA, Beatriz Basto da — Cronologia da História de Macau — 3. ° Vol., 1995)
(4) “O Jardim Luís de Camões situa-se na colina que é também conhecida por «Colina da Fénix», devido às acácias rubras (delonix regia) que existem naquele local desde a Dinastia Qing que brotam flores vermelhas incandescentes na primavera e verão, tornando o jardim mais belo.”
https://nature.iacm.gov.mo/p/park/detail.aspx?id=b4dd26b1-dd88-4170-9314-9d845834699b

POSTAL – Retrato de Camões, litografia de C. Legrand, 1841 (1)

Extraído de «Boletim do Governo de Macau»  XII n.º 5 de 1866.
(1) Colecção “MACAU – Gruta de Camões” – Co-edição do Instituto Cultural de Macau e Comissão Organizadora do Dia de Portugal, de Camões  e das Comunidades Portuguesas (1987)
Ver anteriores postais desta mesma colecção e a história da Gruta de Camões em Macau em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/06/08/postais-de-macau-a-gruta-de-camoes/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/gruta-de-camoes/