Extraído de «BPMT», XIV – 46 de 16 de Novembro de 1868, p. 211
“Contam que, outrora, existiu no parque desse templo, um poço cuja água era duma frescura e doçura sobrenaturais.
Esse poço, que posteriormente foi entulhada, teve a sua origem numa poética lenda:
Àquele templo recolhera o velho T´ám-Uân, para se dedicar à vida ascética. O ancião consagrava todo o seu tempo à leitura de sutras e à meditação dos filósofos e doutores do budismo, sendo a sua única e suprema aspiração o poder um dia subir ao nirvana por eutanásia.
Nesse tempo, os habitantes da aldeia cercania de «Lông – T´in», sofriam duramente com a falta de água potável. Condoído com a triste sorte dos aldeões, o asceta resolveu empregar toda a sua ciência para que eles pudessem dispor do indispensável líquido.
No silêncio do templo, submeteu-se durante semanas consecutivas, a um estado analógico, aniquilando com severo esforço todas as suas vontades, não comendo, não bebendo e não falando.
Uma noite, ouviu-se um horripilante estrondo no recinto. No parque, abrira-se, milagrosamente, uma funda cova, e nela, surgira uma nascente de água pura e cristalina. O líquido era, por natureza, dulcíssimo.
Próximo do poço, via-se uma faixa de pano encarnado – ó único vestígio deixado, neste mundo, pelo velho T´ám-Uâu, que os aldeões, gratos e reconhecidos, guardaram como preciosa relíquia, pois que o virtuoso ancião se sacrificara para que a água lhes não faltasse.
O poço trouxe a alegria e a paz aos camponeses daquela aldeia, que, todos os anos, passaram a comemorar o milagre de T´am-Uân, no aniversário do seu desaparecimento, dedicando-lhe pivetes, incenso, velas votivas e outros objectos de culto.
E reza a tradição que, até que foi entulhada, esse poço jamais seco, mesmo nos períodos de maior estiagem.”
MACAU Boletim Informativo, 1955
“Situado na zona norte da cidade, junto ao antigo istmo da Ilha Verde, no cruzamento da Avenida Almirante Lacerda com a Avenida Conselheiro Borja, mesmo em frente do edifício da Esquadra Policial n.º 4, este pagode ou templo budista é um doa mais antigos, vastos e cuidados de Macau.
Segundo rezam velhos pergaminhos chineses, em tempos remotos, aquele local – sopé duma colina (a que mais tarde se chamou de Mong Há) – era banhado pelas águas lodosas do delta e abrigava uma pequena povoação, habitada por humilde gente do mar.
Os seus habitantes construíram, primitivamente, um santuàriozinho que, a pouco e pouco, com o rolar dos anos e o desenvolvimento progressivo do lugarejo, se transformou no actual templo, conhecido entre os chineses por «Lin-Fông-Miu» (Templo de Lotus).
O Templo Lin Fong em 1955
Donde lhe veio esse nome, tão cheio de poesia oriental?
Segundo o sinólogo e historiador Luís G. Gomes, veio do próprio local.
«Primitivamente as águas do delta acercavam-se da entrada do templo e os raios do Sol, reflectindo-se na sua superfície, transformavam-nas num grande espelho de prata. A babugem das suas ondas vinha desfazer-se de encontro às lajes da balaustrada que forma a cerca da entrada, e nos pântanos adjacentes desenvolviam-se os lotos, perfumando todo o ambiente com o delicado aroma das suas hieráticas flores. Ao, era exactamente pelo facto deste local se encontrar reverdecido pelas enormes folhas dessa planta tão estimada, que os chineses denominaram este templo de Lin-Fông-Miu (蓮峯廟) isto é o «Templo de Lotus.» (1)
Neste templo, residia uma comunidade de bonzos, chefiada por um bispo. A parte residencial tinha, além das celas, uma vasta sala de recepções, onde se realizavam reuniões familiares de estranhos e … se jogava o popular «má-tcheok»
Havia famílias chinesas que se serviam do recinto aprazível, para piqueniques, prevenindo previamente o encarregado do templo para mandar preparar a comida na cozinha dos bonzos – o apreciado «tchái», saborosa comida vegetariana dos budistas, cujo preço variava consoante o número e qualidade dos pratos. Ali se celebravam as quinze principais festividades religiosas do ano lunar que se revestiam de extraordinária pompa litúrgica e eram muito concorridas.
Durante anos o tempo foi ficando ao abandono sendo pouco frequentado, vivendo ali poucos bonzos. Serviu depois de asilo provisório de vítimas de incêndio e inundações.” (2)
Foi construído em 1592, no 20.º ano do reinado do imperador Wan Li, dinastia Ming e é um dos três templos mais antigos de Macau. Ao longo dos anos foi regularmente renovado, restaurado e aumentado (principais obras em 1801 e 1876).
Historicamente famoso por ser local de permanência dos Mandarins Chineses da Província de Guangdong quando vinham a Macau. O mais famoso foi o Comissário Imperial, Lin Zexu que após iniciada a Guerra do Ópio, residiu aí e nesse templo, com o Governador das Províncias de Kuong Tong (Guangdong) e Kuong Sai (Guangxi) , Deng Tingzhen, receberam os oficiais portugueses para negociações diplomáticas (Setembro de 1839) Actualmente tem a sua estátua e um museu no templo.
O Templo de Lin Fong foi classificado como edifício de interesse histórico a preservar em 1976 (Decreto-Lei n. 34/76/M de 7 de Agosto. Actualmente está classificado como monumento – Património Cultural de Macau.
(1) Anterior referência a este templo 蓮峯廟 (mandarim pinyin: liǎn fēng miào; cantonense jyutping: lin4 fung1 miu6) em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/02/04/lugares-de-outrora-rochedo-da-estrada-do-arco/
(2) Macau Boletim Informativo, 1955
Continuação da apresentação da colecção de 10 marcadores de livro, emitidos por “Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses”, sob o lema: “TEMPLOS 廟宇” (1)
Mais um marcador com os: “Templos de Macau/ 澳門廟宇”(2)
LIN FONG /蓮峰廟 (3)
Localizado no cruzamento da Avda. Almirante Lacerda com a Avda. Conselheiro Borja. Em tempos remotos no sopé de uma colina, depois chamada de Mong-Há, (4) e banhada pelas águas do delta, abrigasse uma pequena povoação de pescadores que ali fizeram um santuário. Mais tarde construíram um templo onde ficavam os mandarins quando pernoitavam em Macau, por isso a grandeza deste templo, que vale a pena visitar! No fundo de um tanque onde crescem folhas e flores de lótus, estão os cágados, símbolo da longevidade. Conta a lenda que há milhares de anos houve um imperador que foi enterrado com alguns daqueles animais. Decorridos anos quando o seu caixão foi retirado e aberto, foram encontrados os cágados ainda vivos e cheios de saúde!”
T´OU TEI /土地廟 (5)
“O nome T´ou Tei significa templo dos Deuses Locais. Segundo a lenda, a sua construção deve-se aos moradores do Patane que se cotizaram para prestar homenagem a Lam Seng que foi considerado um grande benfeitor. Seu pai, acusado da prática de um crime, foi encarcerado, e a mãe, com o desgosto, morreu e Lam Seng decidiu enforcar-se. Três vezes tentou, três vezes a corda partiu. Foi então que aconselhado por um amigo, Lam Seng foi jogar para angariar dinheiro e pagar a libertação do pai. Lam Seng saiu vitorioso e os moradores de Patane elegeram-no deus local do Bairro do Patane e mandaram construir este templo no Largo do Pagode de Patane que fica no sopé do montículo do Patane sobre o qual floresce o Jardim da Gruta de Camões.”
(1) Ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/templos-chineses/
(2) 澳門廟宇 – mandarim pinyin: Ào men miào yù; cantonense jyutping: Ou3 mun4 miu jyu5.
(3) 蓮峰廟 – mandarim pinyin: lián feng miáo; cantonense jyutping: lin4 fung4 miu6.
Sobre este templo ver ainda em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/02/04/lugares-de-outrora-rochedo-da-estrada-do-arco/
(4) “Outrora Mong Há não era o que é hoje. Havia apenas umas várzeas, onde espreitavam aqui e além palhotas de agricultores e um estendal de sepulturas do outro lado. Um campo de hortaliça e um campo santo. E quando, em 1828, os ingleses da Companhia das Índias Orientais aqui residentes quiseram rasgar um caminho por onde pudessem cavalgar e espairecer, baixou uma chapa, a 8 de Março desse ando do mandarim de Heong-Shan, em que ordenava ao procurador do Senado que intimasse aos ingleses que suspendessem a construção da estrada que, a expensas suas, estavam abrindo no Campo de Mong Há, e lhes proibisse passearem nela a cavalo, pois que tais arranjos e passeios afectavam as sepulturas dos chineses.” (à volta de 700 sepulturas). (TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Vol I)
(5) 土地廟 – mandarim pinyin: tú dì miào; cantonense jyutping: tou2 dei6 miu6.
Outra versão da lenda e o Bairro de Patane, ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/templo-tou-teipatane/