Comemora-se hoje, em Macau, segundo a tradição, no segundo dia da 2.ª Lua, a festa do “TOU TEI” (1) com os habituais festejos (presentemente, mas que outrora abrangia a cidade toda) nos templos dedicados a este deus: Templo Tou Tei, no Largo do Pagode, em Patane, (2) Templo “Foc Tac Chi”, pequeno templo na Rua de Horta da Mitra, (3), e outro pequeno Templo de Tou Tei, na Rua do Almirante Sérgio, em S. Lourenço. (4)
Existe ainda outro Pagode da Felicidade e da Virtude (Foc Tac Chi) também dedicado a Tou Tei, na Rua da Barca de Lenha, mas desconheço o actual estado de conservação/recuperação deste. (5)

mbi-iii-65-15abr1956-tou-tei-iTOU TEI
A divindade chinesa a quem os chineses recorrem em todos os momentos da sua vida

Recupero aqui, uma reportagem do ano de 1956 (sem indicação de autor) sobre este “Deus da Família” (6)
“Esta divindade, o mais importante deus familiar dos chineses, que preside a todos os seus actos, desde os mais simples aos mais transcendentais da sua vida de povo trabalhador e essencialmente religioso, teve referência especial, pela primeira vez, no livro «Li Chi», uma das cinco obras clássicas da literatura chinesa. Desconhecida a sua origem, são de opinião os literatos chineses de que as imagens de “Tou Tei”, rudes e por vezes disformes, geralmente feitas de argila ou pedra, devem representar qualquer herói ou, possivelmente, são a deificação dos chefes de clã que, em eras longínquas, deram estrutura à Nação.
mbi-iii-65-15abr1956-tou-tei-iiNo segundo dia da 2.ª Lua todos os bairros da cidade viveram momentos de festa. Os panchões estalaram nos ares, petardos enormes atroaram as vizinhanças, milhares de pivetes foram queimados, centenas e centenas de devotos se dirigiram aos pagodes da cidade, as crianças vestiram as suas melhores roupas e tiveram brinquedos especiais, em todos os lares houve refeições melhoradas. Na esplanada do pagode de cada bairro exibiram-se acrobatas, a dança do leão atraiu muitos curiosos, houve música e outros números do folclore chinês, muitos forasteiros trouxeram de longe a gratidão das benesses e a esperança de que “Tou Tei” seja mais benigno a atenda suas preces. As oferendas, numerosas e variadas, cresceram generosamente diante dos altares de “Tou Tei” o deus familiar a quem todos recorrem quer nos momentos de alegria quer nos da tristeza.
mbi-iii-65-15abr1956-tou-tei-iiiAo lado dos muitos deuses que povoam o calendário chinês e que comandam implacáveis a vida dos filhos da milenária terra dos Mandarins, de oragos locais, de deuses familiares e de todos quantos presidem aos diversos ramos da actividade humana, “Tou Tei” ocupa lugar de destacada importância pela forma como lhe é tributado culto. Além de ser o orago de todos os bairros das cidades, vilas, e aldeias, com juntamente com o deus próprio de cada bairro, tem um altar em todas as residências e é tratado como pessoa de família. (…)
Continua
(1) “Tou Tei Kung” – 土地公mandarim pinyin: tǔ dì gōng; cantonense jyutping: tou2 dei6 gung1), literalmente significa “o Deus da Terra”. Nos mitos antigos, Tou Tei é um deus que governa uma terra, por isso esta festividade se denomina “Festa do Deus da Terra”.
(2) 土地廟 – (mandarim pinyin: tú dì miào; cantonense jyutping: tou2 dei6 miu6, também conhecida como “Soi Ut Kun Miu” – Pagode dos Deuses Locais, no sopé do montículo do Patane, sobre o qual floresce o Jardim da Gruta de Camões. As fachadas dos seus pavilhões dão para o Largo do Pagode de Patane, que fica entre as ruas da Palmeira, da Pedra e da Ribeira do Patane. (7)
(3) “Cheok Chai Un Foc Tac Chi” – Templo da Felicidade e Virtude do Bairro da Mitra, também conhecido como “Chong Kuok Tou Tei Mui” – Pagode Chinês dos Deuses Locais (7)
(4) “Foc Tac Chi ou Tou Tei Miu” – Pagode da Felicidade e da Virtude fica entre os n.ºs 131 e 133 da Rua do Almirante Sérgio, a qual começa na Rua das Lorchas e termina no Largo do Pagode da Barra (7)
(5) Pequeno Pagode na Rua da Barca da Lenha que começa na Travessa da Caldeira, ao lado do prédio n.º 38, e termina um pouco além da Travessa do Aterro Novo, entre os prédios n.ºs. 11 e 11-A desta travessa. (7)
(6) «MACAU, B.I., 1956».
(7) TEIXEIRA, Padre Manuel – Pagode de Macau, 1982.
NOTA: Anteriores referências a TOU TEI em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/templo-tou-teipatane/