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Extraído de «Gazeta de Macau e Timor», I-11 de 3 de Dezembro de 1872, p. 4

Foram apreendidos e confiscados pela Autoridade Administrativa, (1) no dia 11 de Junho de 1913, grande quantidade de diversos materiais destinados ao fabrico de pau-cheung (panchões).

Extraído de «Boletim Oficial» XIII-25 de 23 de Junho de 1913, p. 276

Anúncio da Repartição Superior de Fazenda da Província de Macau de 19 de Junho, chamava a atenção para a venda em hasta pública destes materiais e utensílios destinados ao fabrico de pau-cheung e pau-cheung já preparados, no dia 28 do mesmo mês, no Depósito do Material de Guerra dos Particulares, sito na Fortaleza da Barra. Foram apreendidos às firmas Iu-Seng-Long-Tac-Qui e Tac-Heng-Long, estabelecidas no sítio do Tanque do Mainato, vulgo Calçada das Chácaras desta cidade.

(1) Transgressão do «Regulamento para o Comércio de Armas, Munições e Explosivos e Indústrias de Fogo de Artifício» (Portaria Provincial de 19 de Agosto de 1907) .

Em 24 de Fevereiro de 1868, o aterro do rio, para o lado da Barra, achava-se já unido ao aterro do Pagode chinês, de modo que as povoações da Barra e Patane ficaram em comunicação pela estrada marginal (1)

Manuel de Castro Sampaio, no seu livro “Os Chins de Macau” (1867) informa (2): “Uma das primeiras povoações fica próxima da fortaleza da Barra e é por isso chamada Povoação da Barra. A outra acha-se na encosta outeiro da Penha, onde está a fortaleza do Bom Parto, e onde se encontram as mais lindas chácaras de Macau. Esta é conhecida pelo nome de Tanque-Mainato, nome derivado de um tanque de lavadeiros ou mainatos, como lhes chamam no paiz. As outras três povoações são denominadas de Patane, de Mong-ha e de S. Lázaro. Patane é de todas as cinco a mais importante, pela sua industria fabril e pelo seu comercio, principalmente, em madeiras de construção. Esta fica no litoral do porto interior, tendo Mong-ha do lado oposto, onde existe a maior parte dos agricultores e onde há alguma industria e comercio, como em todas as outras povoações, excepto a do Tanque-Mainato, onde pouca industria e nenhuma comercio há, por ser um povoado insignificante. A Povoação de S. Lázaro, que está em continuação  da cidade cristã, é onde principalmente habitam os chins que não tem abraçado o christianismo. Nesta povoação há além da Igreja de S. Lázaro que é o mais antigo templo de Macau, uma pequena capella a cargo de um sacerdote catholico, que se dedica a catechese”. (3)

Miguel Aires da Silva (4) concessionário das obras do cais e aterro, foi o homem que se abalançou à terragem da marginal do Porto Interior, ficando as obras concluídas em 4 de Março de 1881. (3)

Em 17 de Janeiro de 1873, o Governador Januário de Almeida, Visconde de S. Januário, ordenou a execução da primeira fase do alargamento do aterro marginal do Porto Interior e simultânea regularização do regime da corrente do rio, numa extensão de 160 metros, desde a Fortaleza da Barra até à Doca de Uóng-Tch´oi. (5)

NOTA: José Maria de Ponte e Horta governou Macau de 26-10-1866 a 16-05-1868. O Vice almirante Sérgio de Sousa chegou a Macau a 1-8-1868, tomou posse do governo a 3 de Agosto de 1868 e governou até 23 de Março de 1872, sucedendo o Visconde de S. Januário Correia de Almeida que governou de 23 de Março de 1872 a 7 de Dezembro de 1874. Na toponímia de Macau a Rua do Almirante Sérgio começa na Rua das Lorchas, a par da rua do  Dr Lourenço Pereira Marques e ao lado da Praça de Ponte e Horta e termina no Largo do Pagode da Barra

(1)

«Boletim da Província de Macau e Timor» , XIV-8 de 24-02-1868, p.45

(2) Sobre Manuel de Castro Sampaio, ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/manuel-de-castro-sampaio/

(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997,p 403

(4) Sobre Miguel Aires da Silva, ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/miguel-aires-da-silva/

(5) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954

Nesta data, Francisco António Pereira da Silveira oficiou ao Senado protestando contra uma fábrica de vermilhão, (2) cujo fumo incomodava os habitantes da Penha e que ali se instalara alegando estar fora da cidade:
«Com quanto eu tribute os meus sinceros respeitos aos Snres. Facultativos de que se compõem a Junta de Saúde, não só pela nobre Arte que exercem, mas them pelos méritos pessoaes de cada hum d´elles comtudo não posso acomodar-me com a exorbitância da hipótese classificando aquelle sítio como fora da Cidade, porque a Cidade chega athe a Barra, que fica mais distante do que o tanque–Mainato, e do Tanque-Mainato se faz caminho p.ª ella. O muro que há do Forte de Bomparto à Penha nunca indicou limite da Cidade, nem já mais foi considerado esse muro como limite da Cidade, mas como hum assessorio do Forte, para do mesmo Forte se fazer caminho seguro ao muro da Penha que lhe he sobranceiro; e principalmente desde o anno de 1825 em que o Governo de Macao fez romper o muro, abrindo passagem, e franqueando o terreno aos habitantes para cultivarem, e edificarem propriedade, e esses moradores à sua custa remirão sepulturas chinas, abrirão caminhos, edificarão propriedades, etc., esse muro já mais foi olhado como barreira da Cidade.
Se o aumento das propriedades chinas sobre os entulhos do lado do porto interior de Macao mereceo a protecção do Governo actual do paiz, que estabeleceo alli huma nova rua com  o titulo de rua nova d´El Rey; reputando sem duvida aquelles edifícios ainda que chinezes como fazendo parte da Cidade Portuguesa de Macao, não menos pode deixar de ser registada parte da Cidade, e o sítio do Tanque-Mainato agregado à Cidade, e à Parrochia de Sm. Lourenço pelo Governo de 1824, onde não só os chinas, mas os Nacionaes alli fabricarão suas propriedades, cultivarão-no, e fizeram a sua principal rua a que o Governo de 1847 deo o nome de rua de Tanque-Mainato – nome que qualquer pode lá ver na taboleta da porta» (3)
(1) Tanque do Mainato, área da cidade situada a leste da Colina da Penha, área que abrange a Rua do Comendador Kou Hó Neng, as Calçadas da Praia e das Chácaras e parte da Estrada de Santa Sancha. A designação da área foi conhecida até ao século XIX como Tanque do Mainato pois havia no local um tanque onde os mainatos lavavam a roupa, significando mainato “aquele que lava roupas”. Esta designação, no entanto,  caiu em desuso, especialmente na parte sul desta área, que é hoje mais conhecida por Santa Sancha (onde estava a Chácara de Santa Sancha)
(2) Francisco António Pereira da Silveira (1796-1873) nasceu em Macau na Freguesia da Sé, numa grande casa situada entre a desaparecida Rua do Gonçalo e a mais nobre das avenidas locais — a Praia Grande — filho de Gonçalo Pereira da Silveira (um abastado comerciante e armador, filho de um capitão de navios da Marinha Real de Goa, natural de Lisboa, Joaquim José da Silveira, que em Macau se casou, na Sé, em 10 de Janeiro de 1760, com uma das filhas de um dos mais conceituados homens da terra, Maria Pereira de Miranda e Sousa, constituindo família e fixando-se na cidade) que nasceu em 19 de Outubro de 1762, homem rico e casado em 1795, com Ana Joaquina, filha do homem mais rico e conceituado de Macau, Simão Vicente Rosa. Deste casamento nasceram pelo menos três filhos, Francisco António, Gonçalo e Ana Joaquina.
Francisco António casou com Francisca Ana Benedita Marques, em 15 de Agosto de 1819, e assim ficou relacionado com as famílias mais nobres e ricas de Macau, uma vez que sua mulher descendia, por um lado, em linha recta, de Domingos Pio Marques Castel-Branco, pertencente à melhor nobreza do Reino, e por outro à riquíssima família Paiva.
Deste casamento nasceram cinco filhos: uma menina, a primogénita, e quatro varões, dos quais apenas três atingiram a idade adulta.
Francisco António, depois de ter frequentado o Seminário de São José até 1818, data em que seu pai faleceu, veio a constituir família, tendo de rejeitar a ida para Coimbra para prosseguir os estudos de Direito com que sonhava (regalia que conquistara por ser um dos dois mais brilhantes alunos do seu tempo), para ocupar o lugar de chefe da família e gerir os negócios da casa. No entanto veio a perder, depois, a fortuna paterna nos riscos do mar. Foi director e administrador da Tipografia do Governo, exonerado a seu pedido em 1825.Foi almotacé da Câmara em 1815; vereador do Leal Senado em 1822; escrivão do juízo de direito de Macau em 1843; Irmão, tesoureiro e provedor da Santa Casa da Misericórdia. (4)
Ver biografia deste homem-bom, num trabalho de Ana Maria Amaro para a «Revista de Macau» , disponível em:
http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30019/1715
(3) Vermilhão ou Vermelhão: substância tintória, o mesmo que mínio ( designação vulgar do deutóxico de chumbo, também conhecido por cinábrio, zarcão ou vermelhão (Dicionário de língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo, 1986)
Vem do francês: vermeilionpigmento opaco alaranjado que tem sido usado desde a antiguidade. O pigmento ocorrente na natureza é conhecido como cinabre. Quimicamente, o pigmento é sulfeto mercúrico (HgS) e como muitos compostos de mercúrio é tóxico. A maior parte do vermelhão produzido naturalmente vem de cinabre extraído na China, daí seu nome alternativo vermelho China ou vermelho chinês.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vermelh%C3%A3o
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia da Macau, volume I, 1997, p. 419-420.
(5) FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Volume III, pp. 801-802,  1996.

Aquele que, deixando Hong Kong viesse a Macau pela primeira vez, gozava as delícias de uma curta viagem de quatro horas, rodeado do maior conforto e desfrutando uma paisagem admirável por entre ilhas e ilhotas cobertas de vegetação e semeadas a capricho, como se tal disposição obedecesse à finalidade de proporcionar o imprevisto.
Para trás ficava a imponente colónia inglesa, cheia de grandeza e majestade, lançada pela íngreme vertente, que parecia dirigir-se ao Céu… (…).
E quanto mais o pequeno e confortável navio se aproximasse de Macau, tanto mais mudava a feição de tudo, desde a brisa, que se tornava suave e branda, à cor das águas, que reflectiam na superfície o amarelado dos fundos que as correntes cobriam de lodo.

A Baía e a Praia Grande (final da década de 40, século XX)

Passadas as Nove Ilhas, semelhantes a nove irmãs imorredouras, que a lenda não deixa esquecer, avistava-se à distância a “Porta do Cerco”, a praia da “Areia Preta”, a “Chácara do Leitão”, mostrando-se no cimo da “Montanha da Guia” o célebre farol, o mais antigo da Costa da China.
Na outra elevação próxima, distinguia-se o “Hospital Conde de São Januário” , que dominava o grande casarão que outrora fora Convento de S. Francisco e que servia de Quartel de Infantaria.
É, então, à recortada costa de pequenas enseadas, seguia-se a “Baía da Praia Grande”, em curva caprichosamente feita, deixando antever as delícias de uma pequena cidade de paz e sossego…(…)
O casario caiado a cores garridas, as Igrejas, as Capelas, os Fortes, Fortins e Bastiões, as casas solarengas e a quietude dolente e embaladora, não deixavam dúvidas de que a China deveria estar longe desta terra, que tudo indicava ser portuguesa.
Ao dobrar a “Fortaleza do Bom Parto”, talhada no regaço do imponente “Hotel Bela Vista”, surgia o sinuoso caminho, que levava ao ”Tanque do Mainato”, com a colina despida de casario, à excepção da velha e abandonada vivenda de “Santa Sancha”.
Em cima, a velha Ermida da Penha, cheia de unção religiosa e graça na sua simplicidade.
Na última curva da ordenada beira-mar, via-se a “Fortaleza da Barra” e, mais adiante, em plano superior, a “Capitania dos Portos”, em estilo mourisco…
continua.
REGO, Francisco de Carvalho e – Macau … há quarenta anos in «Macau». Imprensa Nacional, 1950, 112 p.
Deste autor, anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/francisco-de-carvalho-e-rego/ 

Avenida da República 1910Trecho da avenida marginal em 1910 – futura Avenida da República

Construída em 1910, aberto ao público a 10 de Dezembro desse ano sendo as obras dirigidas pelo Engenheiro Miranda Guedes.

Avenida da República 1910 construçãoA avenida marginal em construção. Ao fundo a colina e a ermida da Penha

Como a República havia sido implantada em Portugal, os republicanos de Macau, que já haviam dado o nome de Rua de Cinco de Outubro à Rua Nova de El-Rei, baptizaram a nova avenida marginal com o nome de Avenida da República (1)

Avenida da República 1910 Chácara Santa SanchaNova avenida marginal do porto exterior – Avenida da República.
Ao fundo a Chácara de Santa Sancha

A 1 de Setembro de 1924, o tarefeiro Au-Koc, comprometeu-se a executar a mão de obra dos trabalhos da «Pavimentação da Avenida da Praia Grande, desde a Rua do Campo até à Calçada do Tanque do Mainato», sendo parte dos trabalhos por conta do orçamento de 43 000 patacas.
TEIXEIRA, Pe. M. – Toponímia de Macau Volume I.

O bairro do Patane é também designado pelos chineses por Sá Kong, nome por que era conhecido, outrora, um montículo que, então ali existia, formado por acumulação de areia trazida pelo vento.
Por este motivo, o referido local também tinha a designação de «Fei-Lôi-Kóng» (montículo que apareceu a voar). Este montículo, segundo a tradição, desapareceu durante um abalo sísmico que, dizem os historiadores chineses, devia ter ocorrido entre 1862 a 1875, durante o reinado do imperador T´ông-Tchi. (1)

Os Chineses também chamam a este local «Sá -Lei-T´âu», (2) devido ao facto de as suas ruas, quando da construção das primeiras casas do referido bairro, apresentarem o formato duma pera.

Da primitiva povoação (3) nasceu o actual bairro do Patane, um dos mais populosos dos bairros congéneres. (4) . Nos finais do século XIX e princípios de XX, este bairro chegou a ser um importante bairro comercial, onde se encontravam concentrados os estabelecimentos que, então, negociavam com o interior da China. (5)

É no sopé do montículo do Patane (sobre o qual se ergue o recinto do Jardim da Gruta de Camões) que se encontra o templo conhecido entre os chineses pelo nome de «Templo dos Deuses Locais» – Tou Tei Miu, já referido em anterior postagem: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/05/lenda-do-templo-dos-deuses-locais-tou-tei-miu/

Mapa PATANE, 1984MAPA DE MACAU (ZONA DO PATANE) (1984) (6)

(1) Imperador Tongzhi 同治 (1856-1875), nono imperador da Dinastia Manchu, reinou de 1861 a 1875.
(2) 梨頭 (mandarim pinyin: li tou; cantonense jyutping: lei4 tau4 – cabeça de pera.
(3) Uma das primeiras referências a esta zona, foi feita pelo Padre António Cardim, reitor do Colégio de Macau de 31-08-1632 a 23-05-1636 e autor de “Título dos bens de raiz do collegio de Macau”. Neste, referia que existia já nessa época um local de Macau, denominado «Penedos de Camões», junto do «campo dos patanes»
(4) A população total de Macau sem tomar em conta a população da Taipa e Coloane em finais do século XIX:

BAIRROS

1867

1871

1878

Bazar

14.572

19.877

14.343

Patane

8.481

7.215

6.524

Mong   Há

8.182

5.576

2.328

S.   Lázaro

2.590

2.598

3.111

Sé,   S. Lourenço, Santo António e Barra

22.426

20.941

20.313

TOTAL   DA POPULAÇÃO TERRESTRE

56.252

56.202

46.619

POPULAÇÃO   MARÍTIMA

15.590

10.060

8.831

TOTAL

71.844

66.267

55.450

Quadro retirado de CORVO, João de Andrade – Estudos sobre As Províncias Ultramarinas, Lisboa 1887,189 p.
(5) Vejamos agora quaes são as cinco povoações ruraes mais antigas a que nos referimos, para depois nos ocuparmos da cidade christã, como lá se lhe chama.
O primeiro d´estes bairros suburbanos fica proximo da fortaleza da Barra, e é por isso denominado povoação da Barra.
O outro acha-se na encosta do outeiro da Penha, onde está levantada a fortaleza do Bom Parto; chama-se povoação do Tanque do Mainato.
É aqui que se encontram as mais bonitas vivendas de Macau, chamadas «chácaras».
As tres restantes povoações são a do Patane, de Mong Há, e a de S. Lázaro.
A do Patane é de todas cinco a mais importante, já pela industria fabril, já pelo seu commercio, principalmente em madeiras de construcção.
Fica no littoral do porto interior, na especie de cotovello, que a peninsula faz ao formar a enseada da ilha Verde, terminando onde começa a de Mong Há
A povoação do Patane tem hoje tomado tão grande desenvolvimento, são tantos n´ella os estaleiros e estancias de madeira, que  se pode considerar dividida em tres povoações a saber: Patane propriamente dita (bairro hoje, a bem dizer, urbano), San Kiu e Sá- cong (povoações ruraes e piscatórias.)
É entre o Patane e Mong Há que predominam as hortas e as varzeas.
Artigo não assinado no “O Occidente”, 1890.
(6) Parte do Mapa de Macau retirado de “Antigos Navegadores e Marinheiros Ilustres nos Monumentos e Toponímia de Macau. Edição da Obra Social dos Serviços de Marinha, Macau, 1984, 17 p.

No tufão de 23 de Agosto de 1927, um dos mais violentos e sobretudo de maior duração que tem sofrido esta colónia, veio abrigar-se no porto exterior, onde amarrou com os seus dois ferros, o vapor chinês «Wing Woo», de 538 toneladas e de carreira de Kuong-Chau-Van.(1) Este vapor, apezar de velho e com carga de suínos vivos em gaiolas, como usam os chineses, aguentou-se debaixo do violentísssimo tufão sem avaria alguma, tendo apenas garrado um pouco.
            Nessa ocasião, encontraram-se a canhoneira «Pátria», e a lancha-canhoneira «Macau», amarradas a boias junto da Ilha Verde. A «Macau», tendo rebentado o elo da boia, esteve em grande risco de se avariar de encontro ao perré da margem.

                                  Jaime do Inso MACAU 1929 PÁTRIACanhoneira “ PÁTRIA(2)

 A canhoneira «Pátria», passou sem novidade aquele tufão memoravel, que durou cêrca de 36 horas, tendo rajadas de 190 Km à hora, que arrancou arvores seculares, e em que as aguas subiram 2,78 m., acima do praiamar daquele dia, ou sejam 5,28 m., acima do zero hidrográfico, causando inundações, algumas mortes, naufrágios e muitos anos de toda a ordem.
            O pequeno vapor «Pak-Tao» da fiscalização das alfândegas chinesas, entrou pela terra dentro e foi encalhar num arrosal ao norte da Ilha Verde.
            Os prejuízos causados por este tufão foram avaliados em $ 25.000, tendo sido a população marítima a que, como quasi sempre, mais sofreu.” (3)

Um dos mais violentos tufões que atingiu Macau veio pôr à prova o abrigo seguro que o novo Porto Exterior passou a representar. O cruzador «República» galgou os molhes indo lutar com as vagas, para defronte do Tanque do Mainato, correndo sério de se despedaçar de encontro às pedras ali existentes, chegando na luta com o mar a estar distanciado de terra apenas uns cem metros.” (4)

(1)   Kuong-Chau-Van era uma colónia francesa e existia uma carreira marítima regular que durava cerca de 30 horas. O comércio com esta colónia era importante pois daí vinha a maior parte da importação de suínos.
(2)    Esta foto documenta a chegada da Canhoneira «PÁTRIA» a Hong Kong, conduzindo o Governador de Macau, Artur Tamagnini de Sousa Barbosa (2.º mandato, de 8-12-1926 a 2-01-1931) em visita oficial, em 20 de Setembro de 1927. Beatriz Basto da Silva na sua “Cronologia” (4) aponta para o início da visita oficial a 27 de Setembro de 1927.
(3)    INSO, Jaime do – Macau. Escola Tipográfica do Orfanato de Macau, 1929, 152 p.
(4)   SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1997, 454 p., ISBN-972-8091-11-7.

Nesta data, foram abertas ao público as instalações do Museu Luís de Camões, no Palacete de Santa Sancha” (1).
Opinião do Padre M. Teixeira ” Tudo isto, improvisações de momento, sem um plano de conjunto, ao sabor do capricho governamental” (2).

E tinha razão o Padre Teixeira pois devido à falta de espaço no Leal Senado onde se encontrava a secção histórica do Museu, tornou-se necessário arranjar rapidamente outras instalações e como o Palacete de Santa Sancha tinha sido considerado impróprio e supérfluo para residência de verão da primeira autoridade da província, pelo Governador António José Bernardes Miranda (3) e  estava vaga, foi para aí que se transferiu o Museu.
Mas por pouco tempo pois o Governador seguinte, Tamagnini Barbosa, na 2.ª vez que governou Macau (1926-1930), escolheu Santa Sancha para sua residência permanente (4) e desde aí passou a ser residência dos Governadores.

Santa SanchaPostal (princípio da década de 60) (Foto de Chi-Woon Kong)

Pela Portaria n.º 221, datada de 5 de Novembro de 1926, era criado, pelo Governador interino e Director das Obras dos Portos, Almirante Hugo de Lacerda, um mostruário de produtos nacionais de Portugal Continental e Ultramarino, especialmente de Macau e Timor, com carácter comercial, abrangendo uma secção de museu da Colónia e a colecção de exemplares de Comissão de Pescarias, sob o nome de Museu Comercial e Etnográfico «Luís de Camões». Para este Museu vieram também os artigos da Exposição Industrial e Feira de Macau realizado nesse mesmo ano (7 a 12 de Novembro de 1926). O museu ao longo dos anos, esteve em vários locais: Palacete da Flora (secção comercial e etnológica até 1931),  Leal Senado (secção histórica até 1936), rés do chão da Santa Casa da Misericórdia (secção comercial e sacra), Inspecção dos Serviços Económicos (em 1933). Finalmente, em 1940,  o Museu passaria para a chamada Casa Garden, junto ao jardim de Camões (por sua vez vendida em 1989 à Fundação Oriente para sua sede), mas só reaberto ao público em 1960, com a denominação « Museu Luís de Camões»,  sendo seu conservador Luís Gonzaga Gomes (nomeado a 8 de Dezembro de 1938) (5). Foi depois renovado em 1980 (curador: António Conceição Júnior de 1978 a 1997)

Museu Luis de CamõesPostal (1960) (Foto de C.M, Kong) (6)

O Palacete de Santa Sancha foi edificado pelo arquitecto macaense José Tomás de Aquino no bairro de Santa Sancha (7), antigamente conhecida pelo Tanque do Mainato, no ano de 1846. O mesmo arquitecto abriu a estrada desde as portas de Santa Sancha até à praia. Foi arrendado em 1884, às Missões Estrangeiras de Paris, (MEP). Os Padres das M.E. de Paris tiveram em Macau a sua primeira casa de repouso que depois passou para Hong Kong , tomando no nome da «Casa de Nazaré».
No Boletim das Missões Estrangeiras, n.º de Novembro de 1924: “pensou-se em Macau, onde se achava, para alugar, uma propriedade ou vila portuguesa, chamada Santa Sancha. Situada à beira-mar, na extremidade oriental da Praia Grande e perto da Igreja de S. Lourenço, comportava o local necessário para uma instalação, ao menos provisório: capela, refeitório, quartos para padres, sala para a imprensa, então bem modesta quanto ao pessoal e quanto ao material. Os trabalhos da organização terminaram no mercado do mês de Dezembro (1884) e no dia 17, às 4h p. m. a recitação em comum do Ofício Divino, começava pelas primeiras Vésperas…(…). O trabalho da impressão começou logo, e o primeiro opúsculo saído dos prelos foi, segundo o desejo do superior, uma obra eminentemente sacerdotal: Mensis Eucaristicus do P. Lercari, S. J.” (2).

Palacete Santa SanchaPalacete de Santa Sancha em 1985 (Nam Van n.º 19, 1985)

(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau. Notícias de Macau, 1954, 267 p.
(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – Residência dos Governadores de Macau. Direcção dos Serviços de Turismo e Comunicação Social, S/ data, 53 p.
(3) O Governador António José Bernardes Miranda (1932-1935) destinou o Palacete a um hospício pediátrico, denominado Hospital Infantil de Santa Sancha que foi inaugurado a 13 de junho de 1934 mas foi encerrado a 15 de Março de 1936, por ordem do Governo Central, sendo os doentes removidos para a Enfermaria da «Vila Branca» (2)
(4) Artur Tamaginini de Sousa Barbosa faleceria neste mesmo Palacete no dia 19 de Julho de 1940, durante o seu terceiro mandato como Governador (1937-1940). Também faleceu neste Palacete a 4 de Junho de 1930, António Patrício, ministro de Portugal na China. Estava de passagem por Macau a caminho para Beijing, afim de assumir o seu cargo na Legação Portuguesa.
(5) GOMES, Luís G. – Museu Luís de Camões. Imprensa Nacional, 1973, 57 p.
(6) Embora no postal conste o nome de C. M. Kong, creio tratar-se de um lapso pois a foto é do fotógrafo Chi Woon Kong.
(7) O Bairro de Santa Sancha, outrora, do Tanque do Mainato abrangia a área situada a leste pela Colina da Penha, ou seja, a actual Rua do Comendador Kou Ho Neng, as Calçadas da Praia e das Chácaras (ambas, hoje já não são calçadas) e parte da Estrada de Santa Sancha. O chineses designaram essa área pelo nome de Chôk Chai Sat (Chácara dos Bambus Pequenos) porque nessa área das chácaras havia alguma com bambus pequenos. (2)