“Muitos dos sítios de Macau já não são conhecidos pelos seus nomes primitivos pois desusaram-se com a transformação da sua fisionomia original, outros, não obstante as alterações impostas, por não se sabe quão voluntariosos edis, capricham em reter, pelo menos, em chinês, as designações por que primitivamente foram baptizados pelo vulgo.
Assim, há um trecho da cidade que ainda é conhecido pelos chineses com o nome de Tchèok-Tchâi-Un (雀子園) (1), um local hoje dos mais populosos e sobrecarregado de casas encostadas uma às outras e separadas por uma apertada rede de ruas. Entre nós, é este sítio conhecido por Horta da Mitra e abrangia todo o terreno que ia desde a antiga rua de Pák-T´âu- Kâi (白頭街)(2) (Rua Nova dos Cabeças-Brancas, isto é, dos Parses), actualmente denominada de Rua Nova-à-Guia, até ao Ho-Lán-Un (荷蘭園) (3) (Jardim dos Holandeses), ou seja o bairro Uó-Lông ( 和隆) (4), sendo limitado ao norte pela Calçada do Gaio, na altura por onde passava a muralha que noutros tempos cercava a antiga cidade. Todo este terreno foi outrora ocupado por uma extensa e densa mata e, como há trezentos anos a cidade era ainda pouco povoada, no intuito de se fomentar o seu desenvolvimento populacional, foi permitido a um grupo de emigrantes chineses de apelidos Mâk (麥) (5), Tch´iu (招) (6)e Léong (梁) (7) estabelecerem-se ali. Este minúsculo núcleo inicial conseguiu transformar, com o tempo, o local numa aldeiazinha e os seus componentes viviam da venda da lenha que podavam na mata e cujas altas e frondosa árvores que a cercavam estavam sempre cobertas de pássaros que alegravam o bosquete com a chilreada, dando ao sítio um aspecto de parque. Foi pois este motivo que os chineses deram ao local o nome de Tchèok-Tchâi-Un que quer dizer “Jardim de Passarinhos” .(8)
(1) 雀子園 – pinyin: qué zi yuán; cantonense jyutping: zoek 3 zi2 jyun4
(2) 白頭街 – pinyin: hé lán yuán; cantonense jyutping: ho4 laan4 jyun4
(3) 荷蘭園 – pinyin: hé lán yuán; cantonense jyutping: ho4 laan4 jyun4
(4) 和隆 – pinyin: huó lóng; cantonense jyutping: wo4 lung4
(5) 麥 – pinyin: mài; cantonense jyutping: maak6
(6) 招 – pinyin: zhao; cantonense jyutping: ziu1
(7) 梁 – pinyin: liáng; cantonense jyutping: loeng4
(8) GOMES, Luís Gonzaga – Curiosidades de Macau Antiga. Instituto Cultural de Macau, 2.ª edição, 1996, 184 p., ISBN-972-35-0220-8
NOTA: Sobre a muralha que noutros tempos cercava a antiga cidade, pode-se ver, actualmente parte dela protegida, após abertura de uma entrada para Colégio de Santa Rosa de Lima, pela Rua Nova à Guia.

