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Extraído de «Gazeta de Macao», I-31, 22 de Agosto de 1839
«O Macaísta Imparcial», de 16-06-1836

«O Macaista Imparcial» publicou-se de 09-06-1836 (preço: 50 avos) a 04-07-1838. (n.º 158)

Último número de «O Macaísta Imparcial e Registo Mercantil» II-158 de 04-07-1838

Bi-semanal até 05-05-1837 e em 05-07-1837 (n.º 106) acrescentou o subtítulo «Registo Mercantil», depois passou a hebdomadário. (1)

«O Macaísta Imparcial e Registo Mercantil» I-106 de 05-07-1837

Foi seu fundador e redactor, Félix Feliciano da Cruz. (2) Impresso na Tipografia Feliciana, do próprio fundador.  Colaborou neste jornal, José Baptista de Miranda e Lima, (4) nomeadamente com apontamentos da história de Macau na secção ”Antiguidades de Macao”. Impunha-se ser imparcial embora de feição conservadora, mas em Agosto de 1936, entrou em oposição ao jornal «Cronica de Macao» (quinzenário de 12-10-1834 a 18-11-1836) e terminou a publicação por ordem censória do governador Adrião Acácio da Silveira Pinto.

1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/o-macaista-imparcial/

(2) Félix Feliciano da Cruz nasceu na Sé, cerca de 1810 e faleceu em Hong Kong a 1 de Março de 1879. Foi Irmão da Santa Casa de Misericórdia, eleito a 29-10-1837. Publicou a «Pauta Geral da Alfândega da Cidade de Macau», em 1844. (3) Trabalhou entre Cantão e Hong Kong tendo editado o «Anglo- Chinese Kalendar and Register», em 1832 e colaborado, em Cantão, no lançamento do «Canton Press” (1835 publicado em Cantão e depois, em 1844, publicado em Macau). Depois em Macau, foi proprietário da Tipografia Feliciana e Tipografia Armenia, e fundador, em Macau, de três jornais portugueses entre 1936 e 1844: «O Macaista Imparcial» de 09-06-1836 a 04-07-1838 (Tipografia Feliciana) «O Farol Macaense» de 23-07-1841 a 14-01-1842 (Tipografia Armenia) «Aurora Macaense» 14-01-1843 A 03-02-1844, semanário (Tipografia Armenia). F. F. da Cruz foi o editor do “Canton Commercial List” com os seus filhos e “compositores tipográficos” macaenses entre 1848 e 1856. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/felix-feliciano-da-cruz/

(3) FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Vol. I, 1996, p. 965.

(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-baptista-de-miranda-e-lima/

anuncio-1942-a-chau-tobaccoPublicidade inserida no jornal “A VOZ DE MACAU», de 1942.
anuncio-1942-grey-hound-brandA marca de tabaco “Grey Hound” (logotipo: dois cães de caça-galgos) era popular entre os fumadores da época, nas décadas de 40 e 50, principalmente o tabaco solto (o cigarro não era ainda muito usado) para enrolar ou para por nos cachimbos.
Creio que continua a ser uma marca de tabaco para cachimbo.
Era vendido em maços quer na forma de  cigarros embrulhados em  papel doce (cada maço a $0.50) quer em tabaco solto (1 onça a 0.30 ou ½ onça a $0.20) preparados (embrulados) pela “A CHAU TOBACCO C.º” , cuja sede era na Rua Formosa n.º 24.
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«CORDIAL DO SUMO DE LIMÃO – MARCA “WATSON» distribuído em Macau pela firma “Hip Wo & Co.”, na Avenida Almeida Ribeiro, n.º 50

“Feito com os melhores limões de “West Indies”.
Incomparável para uso nos”cocktails” e “gimlets” é como um refresco benéfico para o sangue em qualquer ocasião. Não há outro igual!”

A.S. Watson Group”, neste momento uma multinacional do ramo retalhista com negócios em todo o mundo, foi fundada em 1828 em Guangdong (Cantão) e posteriormente mudou-se para Hong Kong em 1843, onde está a sua sede (1).  É uma marca registada desde 1871 – A.S. Watson & Company. Marca internacional essencialmente bem conhecida no campo das bebidas, cervejas, água mineral, bebidas não alcoólicas, sumos de frutas, etc.
(1) Prédio “The Watson House”  – 屈臣氏中心” (mandarim pinyin: Qūchénshì Zhōngxīn); cantonense jyutping: wat1 san4 si6 zung1 sam1) em Fo Tan, Shatin, Novos Territórios.
https://en.wikipedia.org/wiki/A.S._Watson_Group

«No dia 2 de Agosto de 1709, sexta feira, indo a cavalo, para S. Francisco, António de Albuquerque Coelho lhe atiraram no campo de S. Francisco, com um bacamarte mas não lhe acertaram por ser disparado por um cafre. Foi o António de Albuquerque sobre o cafre, que lhe havia atirado, até à rua Formosa e na volta que fez, pelo não poder apanhar lhe atiraram outro tiro da janela da casa, que tinha sido de Bernardo da Silva e vivia nela uma mulher, por nome Francisca Espinhosa, a qual tinha o seu marido ausente.
O que lhe atirou o tiro desta casa foi D. Henrique de Noronha e lhe deu no braço direito, por cima do cotovelo. Ele, assim mesmo ferido, foi recolher-se a S. Francisco e ao chegar ao pé da escada deste convento lhe atiraram com outro bacamarte, porém, não lhe acertaram, por ser disparado por outro cafre. Chegando ele à portaria, assim mesmo a cavalo, já não se pôde apear e foi preciso ajudarem-no.
Recolheu-se, neste convento, onde o cirurgião da Fragata de Goa e o Cirurgião da Cidade António da Silva o curaram e disseram que não era nada.
Porém, depois de 16 dias de “cura” e se não aparecesse um navio inglês que ia para Cantão, o qual mandou o seu cirurgião que vendo o dito braço logo disse, que estava podre e se quisesse escapar com a vida era necessário cortar-se.
Com esta resolução se pôs por obra a operação que se fez com muita brevidade e logo em breves dias se achou melhor» (1)
Conclui o Dr. Caetano Soares (1): “É o mais importante acto cirúrgico de que há menção como realizado em Macau por aqueles anos e não poderá dizer-se, que ficasse a abonar muito da capacidade dos seus assistentes iniciais – não, o pobre cafre, cirurgião da Fragata de Goa, mas o cirurgião do Partido, António da Silva, que só tardiamente dera conta do processo gangrenoso de resolução excedente às suas forças.(2)
No decurso dos preparativos para a amputação houve ainda outra nota digna de referência:
« Na ocasião em que o cirurgião inglês lhe deu a notícia de que se queria escapara com a vida deixasse cortar o braço, mandou ele António de Albuquerque saber da sua noiva (3) se queria casar com ele, tendo de menos um braço. Esta menina mandou dizer, que ainda que a ele faltasse ambas as pernas, ficando com vida, queria casar com ele.
É onde pode chegar o extremo amor de uma mulher de capacidade que, considerando ser a falta do braço por sua culpa, o não quis recusar…»
(1) Manuscrito «Colecção de vários factos, que hão acontecido nesta Cidade de Macau …» de autor desconhecido in SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência, 1950, pp. 62-63.
(2) (3) Episódio já narrado em anterior postagem; a noiva era Maria de Moura. Ler em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/09/26/noticia-de-26-de-setembro-de-1693-antonio-da-silva-cirurgiao-da-cidade/

“A via pública, que principia no sítio onde se cruzam as Ruas da Praia Grande, Santa Clara e Formosa, e termina entre a Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida e Rua Ferreira do Amaral, ao fundo da Calçada do Poço, é vulgarmente designada como o nome de Rua do Campo, por ter sido este o caminho que ia dar ao terreno aberto que ficava outrora fora das muralhas da cidade.
Os chineses chamam a essa rua Sôi-Hâng-Mêi (Extremo do Regato), nome que evoca, porventura, o facto de ter havido noutros tempos, algum fio de água que vertia pela encosta do Monte abaixo.

                          FOTO DE MAN FOOK – RUA DO CAMPO 1907

Ora contam que nessa rua existia um enorme casarão com um grande jardim, sendo seu dono um abastado chinês, mas depois da época de kuâi-tchân-ôk (os demónios abalam as casas), isto é, em que Macau foi visitada por uma assustadora série de abalos sísmicos, porém sem graves consequências , nunca mais ninguém ousou lá habitar, vindo o jardim desta vasta propriedade a ser aproveitado para se fazer o jardim de S. Francisco, que ficou separado do edifício por uma rua lateral.

                         HOSPITAL S. RAFAEL NA DÉCADA DE 60

A entrada principal do enorme casarão (1) ficava em frente do Hospital São Rafael (2) e o seu proprietário, que enriquecera com o negócio do sal, quando o mandou construir, julgou poder manter unida a sua família através de seis gerações. Infelizmente, à quarta geração, os seus descendentes foram obrigados a dispersar-se e a abandonar aquele casarão sem poderem satisfazer os desejos do seu ilustre ascendente.
O casarão possuía ao todo cinco entradas e trinta e um quartos e ninguém ousava habitá-lo por ser verificado que nele viviam vinte e oito almas penadas.
Como com o tempo, fosse aumentando o número dos espíritos da sombra, as pessoas incumbidas de tomar conta daquele inútil casarão, espalharam por todas as salas mil e um feitiços e pregaram e penduraram por todas as paredes inúmeros amuletos, a fim de ver se conseguiam, desta forma, evitar que o malfadado prédio continuasse a ser visitado por tão terríveis entes.
Efectivamente, durante algum tempo, os espíritos deixaram de aparecer mas, assim que descobriram a forma de anular os efeitos dos feitiços e amuletos, passaram outra vez a residir no casarão, tornando-o inabitável para os mortais.
Os herdeiros daquele casarão, que nada rendia, não olharam então a dinheiro e convidaram os mais afamados exorcistas e bonzos de todos as seitas, para celebrarem complicados esconjuros e encantações e entoarem demorados ensalmos, mas tudo foi baldado. Os bonzos acabaram por recomendar aos descorçoados proprietários para atravessarem a viga mestra do corpo principal do edifício com um espigão de ferro de oito braças de comprimento das quais seis deveriam ficar a descoberto no interior do edifício.
Este recurso também não deu resultado, pois, mal se escondia o sol, lá se ouvia por todos os cantos e recantos o perturbante mussitar dos fantasmas que decerto andavam segredando malévolos planos ou concertando misteriosas diabruras, e, na calda da noite, surgiam por entre a escuridade dos sobrados, estranhos vapores que se iam adensando, palatinamente, formando grossos novelos de impenetrável fumo que impediam a entrada de qualquer ousado visitante…” (3)
…………………………………………………………………..continua
(1) O casarão foi demolido.
(2) Hoje Consulado-Geral de Portugal.
(3) GOMES, Luís Gonzaga – Lendas Chinesas de Macau. Notícias de Macau, 1951, 340 p. ; 19 cm.
Este conto está também inserido no livro,  (CÉSAR, Amândio – Literatura Ultramarina, Os Prosadores. Sociedade de Geografia de Lisboa, Semana do Ultramar, 1972, 197 p., 20,5 cm x 15 cm.), já referenciado em post anterior:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/03/02/leitura-literatura-ultramari-na-dentro-do-barco-da-velha/