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Em 12 de Janeiro de 1774, o governador Saldanha (1) sugere ao Vice Rei da Índia que se renova a cadeia do terreiro de St.º Agostinho, para junto do Senado e dá a razão: o tronco ou cadeia está em lugar solitário, tendo apenas em frente uma casa com janelas para outra parte e o Convento de S.to Agostinho, que tem apenas uma pequena janela de coro que dá para a cadeia; esta «não tem capacidade, nem fortaleza nem segurança». Mas junto ao Senado há uma casa do estado que se pode transformar em cadeia segura. O Vice-rei (D. José Pedro da Câmara) remeteu cópia desta carta ao Senado, a 4 de Maio de 1775, preguntando se havia algum inconveniente; como o Senado respondesse que havia grande despesa e dificuldades, o Vice-rei, a 30-04-1776, determinou «que não faça inovação alguma».

Para a cadeia que ficava anexa ao Senado, foram transferidos, pouco depois de 1776, os presos do tronco que ficava no Largo de Santo Agostinho, e que deu o nome à Calçada do Tronco Velho. (2) A casa onde antes estava era dos jesuítas, alugadas ao Senado; a nova, do Estado. A nova cadeia deu o nome “Rua da Cadeia,” (3) que em 1937 recebeu o nome de Rua Dr. Soares, em homenagem ao Dr. José Caetano Soares. (4) A 5 de Setembro de 1909, os presos passaram para a Cadeia Pública na Colina de S- Miguel e em 1990 para Coloane. (5) (6)

(1) Carta do Governador de Macau Diogo Fernandes Salema de Saldanha, datada de 12-01-1774: “O tronco desta Cidade está situado em hum lugar tão desamparado de cazas, que não tem mais que humas, q´ ficão de fronte delle com janelas para outra parte, e o convento de S. Agostinho, que não tem para parte delle mais que huma piquena janela do seo coro. Tambem não tem capacidade nem fortaleza, nem segurança para prezos recomendáveis; e como junto a caza do Senado, que hé o mais publico lugar há humas cazas pertencentes a Fazenda Real da Administração do Adjunto desta mesma Cidade, as quaes tem capacidade para nella se fazer huma cadeya segura, e com commodos suficientes, e fortes p.ª nella se prenderem os prezoz … Supplico a V. Exa. determine que trocando-se estas do actual tronco pelas outras junto do Sennado; nestas se estaleca a cadeya publica.» Ver anterior referência em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/diogo-fernandes-salema-e-saldanha/

(2) Calçada do Tronco Velho começa no Largo de Santo Agostinho, ao cimo da Calçada do Gamboa, e termina entre a Rua do Dr. Soares (outrora Rua da Cadeia) e a Rua dos Cules, em frente do Beco da Cadeia. Em chinês chamava-se 监牢斜巷 Kam Lou Ch´é Hóng, (7)  i. é, Calçada ou Encosta do Tronco Velho. O tronco ficava no Largo de S. Agostinho, passando depois para junto do Senado. (6)

(3) Rua da Cadeia começa na Rua dos Cules e acaba no Largo do Senado (hoje, Avenida Almeida Ribeiro) («Cadastro das Vias Públicas de 1874») Existe ao Beco da Cadeia que está junto da Rua dos Cules, tendo a entrada entre esta rua e a Rua do Dr. Soares, em frente da Calçada do Tronco Velho (6)

(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/rua-da-cadeiarua-dr-soares/

(5) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume I, 2015, p.277.

(6) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, volume I, 1997, p. 331-332

(7)监牢斜巷mandarim pīnyīn: jiān lóu xié hàng; cantonense jyutping: gaam1 lou4 ce3 hong6. Hoje o nome chinês é 東方斜巷 mandarim pīnyīn: dōng fāng xié hàng; cantonense jyutping: dung1 fong2 gaam1 lou4 ; calçada oriental, referindo-se ao hoje inexistente Cine-Teatro Oriental (東方戲院) que esteva nessa calçada, desde 1950 a 1973.

No mesmo dia em que foram lançados pelo «Correio de Macau», no dia 15 de Novembro de 1990, o sobrescrito, os quatro selos e o carimbo de 1º dia de circulação (1)  –  emissão extraordinária filatélica sob o tema:

“JOGOS COM ANIMAIS”

– foram também postos em circulação quatro postais (14,5 cm x 10,5 cm) da mesma temática, numa emissão especial dos Correios e Telecomunicações de Macau.
No verso tem a seguinte informação:
BP – MACAU – 38
Jogos com Animais
Luta de Grilos
60 avos
Emissão Especial dos CORREIOS E TELECOMUNICAÇÕES DE MACAU.

O combate de grilos é disputado no início do Outono, principalmente durante o período da Sétima Lua (Lap T chau)… (…)
Outubro é o mês tradicional dos combates de grilos, visto corresponder à época em que estes insectos hibernam, o que facilita a sua captura, em plena toca, por mãos camponesas. Uma vez capturados, os grilos são metidos em pequenos cilindros (com 10 cm x 4 cm) feitos com o colmo de bambu… (…)
Há dezenas de anos, Macau era palco dos combates de grilos nesta região. Quando a prática era comum nestas paragens, os grilos eram transportados até Macau por camponeses oriundos de diversos pontos da China.
Inúmeros hotéis, hospedarias e casas particulares de gente rica enchiam-se de apostadores, vendedores e curiosos. Os mais conhecidos eram o Hotel Central e o Hotel Ung Chau, bem como algumas residências da Rua dos Cules, Travessa dos Anjos e Calçada do Gamboa… (…) ” (2)
No verso tem a seguinte informação:
BP – MACAU – 39
Jogos com Animais
Luta de Pássaros
60 avos
Emissão Especial dos CORREIOS E TELECOMUNICAÇÕES DE MACAU.

“A época de luta de pássaros em Macau é curta. Durante três ou quatro dias por ano, os aficionados deste tipo de combate reúnem-se na Rua Cinco de Outubro, num edifício muito antigo transformado em casa de pasto. Neste período, não se ouve o habitual ruído das tijelas e dos “fai-chis”, nem tão pouco as amenas cavaqueiras, em voz alta, dos clientes saboreando os “dim-sam”. Qualquer coisa estranha paira no ar, misturada com a invulgar animação provocada pelo chilreio de dezenas de pássaros, enfiados em gaiolas, prontos para entrarem em combate.
Os donos dos pássaros, principais aficionados deste tipo de apostas, combinam entre si os combates, passam a palavra e, no dia marcado, aparecem com as suas gaiolas cuidadosamente protegidas com capas de pano branco… (…)
No local, faz-se silêncio absoluto e quatro regras são escrupulosamente cumpridas antes e durante o combate; proibição de fumar; de falar; de aplaudir : ou de envergar qualquer tipo de chapéu – a fim de não influenciar o desenlace da luta. Também não é permitido fotografar com “flash”, visto que o clarão produzido assusta as aves. … (…)”
(1) Ver a postagem de ontem neste mesmo blogue:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/11/15/noticia-de-15-novembro-de-1990-filatelia-jogos-com-animais-i/
(2) BARROS, Leonel – Tradições Populares. APIM, 2004.

In «BGM», XII-34, 866.