Archives for posts with tag: Rua do Almirante Sérgio

Dois desenhos de Ung Vai Meng (1) extraídos do livro “Leal Senado, Uma Experiência Municipal (1989-1997) ” (2) (infelizmente com fraca digitalização)

Ung Vai Meng. Casa da Misericórdia (Largo do Senado), lápis sobre papel, 1990, p. 29
Ung Vai Meng. Rua do Almirante Sérgio, lápis sobre papel, 1994, p.75

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ung-vai-meng/

(2) CUNHA, Luís (Direcção Editorial e Texto) “Leal Senado, Uma Experiência Municipal (1989-1997) ”, edição do Leal Senado de Macau, 1997, 89 p.  

O “Professor A. Naftaly” em trânsito pelo território, proprietário de um ambulante “Museu Anatomico e Panorama” (em Macau, exposição na Rua do Almirante Sérgio, n.º 1 e 3) manifestou o desejo de vender “os especimens” que possui, em virtude do estado de saúde de sua esposa que não lhe permite continuar a percorrer outros países, como era sua intenção.

Extraído de «Echo Macaense», I-9 de 12 de Setembro de 1893 p. 3
Extraído de «Echo Macaense», I-9 de 12 de Setembro de 1893 p. 4

Em 24 de Fevereiro de 1868, o aterro do rio, para o lado da Barra, achava-se já unido ao aterro do Pagode chinês, de modo que as povoações da Barra e Patane ficaram em comunicação pela estrada marginal (1)

Manuel de Castro Sampaio, no seu livro “Os Chins de Macau” (1867) informa (2): “Uma das primeiras povoações fica próxima da fortaleza da Barra e é por isso chamada Povoação da Barra. A outra acha-se na encosta outeiro da Penha, onde está a fortaleza do Bom Parto, e onde se encontram as mais lindas chácaras de Macau. Esta é conhecida pelo nome de Tanque-Mainato, nome derivado de um tanque de lavadeiros ou mainatos, como lhes chamam no paiz. As outras três povoações são denominadas de Patane, de Mong-ha e de S. Lázaro. Patane é de todas as cinco a mais importante, pela sua industria fabril e pelo seu comercio, principalmente, em madeiras de construção. Esta fica no litoral do porto interior, tendo Mong-ha do lado oposto, onde existe a maior parte dos agricultores e onde há alguma industria e comercio, como em todas as outras povoações, excepto a do Tanque-Mainato, onde pouca industria e nenhuma comercio há, por ser um povoado insignificante. A Povoação de S. Lázaro, que está em continuação  da cidade cristã, é onde principalmente habitam os chins que não tem abraçado o christianismo. Nesta povoação há além da Igreja de S. Lázaro que é o mais antigo templo de Macau, uma pequena capella a cargo de um sacerdote catholico, que se dedica a catechese”. (3)

Miguel Aires da Silva (4) concessionário das obras do cais e aterro, foi o homem que se abalançou à terragem da marginal do Porto Interior, ficando as obras concluídas em 4 de Março de 1881. (3)

Em 17 de Janeiro de 1873, o Governador Januário de Almeida, Visconde de S. Januário, ordenou a execução da primeira fase do alargamento do aterro marginal do Porto Interior e simultânea regularização do regime da corrente do rio, numa extensão de 160 metros, desde a Fortaleza da Barra até à Doca de Uóng-Tch´oi. (5)

NOTA: José Maria de Ponte e Horta governou Macau de 26-10-1866 a 16-05-1868. O Vice almirante Sérgio de Sousa chegou a Macau a 1-8-1868, tomou posse do governo a 3 de Agosto de 1868 e governou até 23 de Março de 1872, sucedendo o Visconde de S. Januário Correia de Almeida que governou de 23 de Março de 1872 a 7 de Dezembro de 1874. Na toponímia de Macau a Rua do Almirante Sérgio começa na Rua das Lorchas, a par da rua do  Dr Lourenço Pereira Marques e ao lado da Praça de Ponte e Horta e termina no Largo do Pagode da Barra

(1)

«Boletim da Província de Macau e Timor» , XIV-8 de 24-02-1868, p.45

(2) Sobre Manuel de Castro Sampaio, ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/manuel-de-castro-sampaio/

(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997,p 403

(4) Sobre Miguel Aires da Silva, ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/miguel-aires-da-silva/

(5) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954

Operários a demolir um secular casarão na Rua da Praia do Manduco, próximo da Capitania dos Portos, encontraram um túnel de dezenas de metros de comprimento e cerca de um metro de largura, capaz de dar passagem, em alguns segmentos a um homem em pé. Presume-se estar perante um corredor de passagem subterrânea ou um depósito escondido para algum tesouro ou armamento, lavrado em tempos idos. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 5, 1998)

A rua da Praia do Manduco uma das mais antigas de Macau, local onde se iniciaram as trocas comerciais com os chineses locais e onde os barcos de pesca atracavam no cais perto da rua, começa na Rua de João Lecaros, (1) ao fundo da Calçada do Januário e termina na Rua do Almirante Sérgio, ao lado do prédio n.º 255-F. A Praia do Manduco era uma das mais frequentadas pela marinha mercante e vários comerciantes tinham nela cais privativos.

(1) Juan Lecaroz , famoso negociante espanhol que viveu em Macau, durante mais de 50 anos e aqui faleceu, a 7 de Setembro de 1904, deixando uma fortuna imensa. Herdou por morte da esposa, Ana Josefa Sabina Carneiro (1839-1900) o antigo palácio do Barão de S. José de Porto Alegre (2), que foi comprado pelos pais de Ana Josefa, Bernardo Estevão Carneiro (3) e Ana Maria Peres da Luz e Silva. O palácio ficava na Rua da Praia do Manduco e foi destruído em 1939. Alfredo Augusto de Almeida (4) ainda conseguiu “salvar” a base da entrada do palácio que foi depois depositada na Jardim da Flora (ainda estará lá ???). TEIXEIRA. P. Manuel – Toponímia de Macau Volume I, 1997, p. 135

(2) Para melhor conhecer esta “história”, aconselho vivamente a leitura do artigo de Manuel BasílioUm prédio que deu nome a três vias públicas” publicado no blogue “Crónicas Macaenses” em: https://cronicasmacaenses.com/2017/03/29/conheca-a-historia-do-predio-que-deu-nome-a-tres-ruas-em-macau/

(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/bernardo-esteves-carneiro/

(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/alfredo-augusto-de-almeida-1898-1971/

Anteriores referências à Rua e à Praia do Manduco 下環街: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/rua-da-praia-do-manduco/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/praia-do-manduco/

Conta-se sobre um pescador que, farto de andar pelos mares, certo dia, resolveu ficar em terra e deitar-se em cima de uma rocha onde acabou por adormecer. Era noite quando acordou e, ao olhar em seu redor, nada conseguiu ver no meio da espessa escuridão.
De repente, ouviu vozes estranhas, vindas do lado do mar, que o atemorizaram, pois julgou tratar-se de almas do outro mundo. Foi então que percebeu que as vozes retratavam uma “discussão” entre a água do rio e uma rocha coberta de ostras, para ver qual delas era mais resistente.
Tudo indica que ambas terão resistido, pois nas águas de Macau continua a haver grande quantidade de ostras….” (1)
O vocábulo «manduco» é designada a râ de Macau.
A Monografia de Macau (Ou-Mun Kei-Leok, 1950, p. 39), diz que: “em Macau havia três rochas estranhas: a Ieong-Sun-Seak, (Rocha de Barco Oceânico) no Pagode da Barra, (é sobre a superfície desta rocha que se encontra presentemente em frente do pagode da barra gravaram o desenho de um barco e quatro caracteres.

MACAU B. I. T. XII-9-10 Nov-Dez 1977 CAPA Templo da BarraTemplo de Á Má ou da Barra / Foto de 1977

a outra era a Hói-K´ók-Seak, (Rocha da Percepção do Mar) no Promontório de Neong-Má (Neong Má Kók) no mesmo Templo da Barra  e uma outra a Há-Má-Seak (Rocha da Rã)  « é arredondada e de cor verde-macia. Sempre que venta e chove e, pela tarde, quando a maré principia a subir, ouve-se produzir nela o som Kók-Kok».
A Rocha de Rã ficava na Praia do Manduco. Quando houve a necessidade de a destruir para a abertura de novos arruamentos, levantaram-se protestos da parte dos chineses. (2).
Era nesta Praia de Manduco onde,  após a fixação dos portugueses,  se realizavam as trocas comerciais  e onde atracavam no cais da praia, os barcos de pesca (quando a indústria da pesca era próspera no território). Vários comerciantes de Macau tinham nela cais privativo (3). Fica para recordação presente,  a Rua da Praia de Manduco uma das mais antigas ruas de Macau.  Começa na Rua de João Lecaros, ao fundo da Calçada do Januário e termina na Rua do Almirante Sérgio, ao lado do prédio n.º 255-F.
 
(1) BARROS, Leonel – Tradições Populares, Macau, Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), 2004.
(2) Já em 9 de Abril de 1829, «o Mandarim de Hian-Chan por appelido Liu faz saber ao sr. procurador de  Macau que recebeu, um offício do vice-rei de Cantão, em que, attendendo sua ex.ª às representações de Sung-Ku-Chi e outros contra o portugez Bemvindo o qual se apossou  de um baldio marginal sito na praia onde está a pedra chamada Manduco  fazendo um aterro, e destruindo um pagode, que ali existia… (…)… attendendo a que a mencionada pedra do Manduco, sendo memorável na história de Cantão, não devia ser assim coberta de entulho, o que constitue desobediência às leis; ordena a ele mandarim que mande affixar editaes e officie ao sr. procurador e ao sr. ouvidor, para que obriguem o Bemvindo a demolir immediatamente o caes já fabricado e a restituir o terreno ao seu estaddo primitivo…»
PEREIRA, A. F. Marques – Efemérides Comemorativas da História de Macau in TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997.
(3) Dezembro de 1797 «dis Manuelde Oliveira Reys cazado, e morador nesta Cidade, que elle Sup. e comprara em publico Çeilão duas moradas de cazas citas na praya de Manduco, q. forão do Def.to Ant.º Ribro, as quais tem seus caes, e perto delle ao mar hua Caldr.ª, mas sem muros, e como o Sup.e quer  fabricar as d.as cazas puxando-as m.s (mais) fora p.ª endireitar a rua, formar hua Caldr.ª na porta do Caes e mover p.ª fazer lugar p. guardar os pertences do seo Navio: e como não pode fazer sem liçenca», pede-o ao Senado. O Senado despachou favoravelmente o requerimento em 30 de Dezembro de 1797.
TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997
11-11-1829 – Nesta mesma data, este mesmo mandarim proibiu, por edital, as lorchas chinesas de aceitarem, na Praia do Manduco, (praia da ) Feitoria e outros lugares, mercadorias estrangeiras, para as transportarem, clandestinamente, para Franquia, Nove Ilhas, Leng-Teng e outros lugares (GOMES, LG – Efemérides da História de Macau, 1954)

Os dois últimos quadros de Fausto Sampaio, inseridos no livro já referenciado em anteriores postagens. (1)
Não tenho informações sobre estes dois quadros:“Velha rua com chuva” e “Entrada do pôrto interior”

Fausto Sampaio Pintor do Ultramar Velha Rua

Fausto Sampaio Pintor do Ultramar Entrada do Porto Interior NOTA: tenho uma vaga ideia deste edifício ainda existente na década de 60, localizado ao lado da ponte cais n.º 1(?) da carreira para as Ilhas, no porto interior (hoje, seria ao lado da ponte cais anexo ao Museu Marítimo). Nessa altura já sem a configuração que se vê nesta pintura. Não existia o muro e o portão da frente (destruída para alargamento da Rua do Almirante Sérgio) e a torre nas traseiras do edifício principal. Na década de 60 pertencia ainda à Marinha, e vivia nele o Sr. Coelho, que dava “explicações” a alunos do Liceu.

(1) Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português. Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1942, 182 p. Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fausto-sampaio/

ACTUALIZAÇÃO 18-01-2015: Recebi do João Botas do blogue “Macau Antigo” , o seguinte esclarecimento sobre este segundo quadro : “Entrada do pôrto interior” : “a entrada do porto interior a que Fausto Sampaio se referia é a que se vê ao fundo no quadro. O edifício fica bem mais acima e ainda existe; fica na Penha junto à igreja e residência do bispo é da década de 1920 (estilo art déco ). Foi residência do pres. da Melco e já muito mais tarde de Carlos Assumpção. Ainda em 2012 a vi; tem na fachada principal a inscrição Skyline“.
Agradeço este esclarecimento e tem toda a razão. Analisei o quadro do ponto de vista , à beira do porto interior e não da perspectiva da Colina da Penha, tendo por isso, confundido o edifício.
Pode-se ver o residência “Slyline” num “Postal de Macau Antigo (IV) – Colina da Penha“, postado em 18-05-2013:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/colina-da-penha/

Foi introduzido o novo sistema de iluminação pública “Osira” (1) em diversas artérias e largos durante o triénio 1947-1950 nomeadamente em 9 avenidas, 8 ruas, 2 largos, 2 estradas e 1 calçada (Calçada de S. Francisco)

Obras e Melhoramentos 1947-50 - Iluminação Pública IA “Avenida Marginal” do Porto Interior ( Rua das Lorchas e Rua do  Almirante Sérgio) iluminada pelo sistema” Osira”

Obras e Melhoramentos 1947-50 - Iluminação Pública IIUm aspecto da cidade iluminada pelo sistema “Osira

Concluía o relatório do Leal Senado sobre a iluminação pública da cidade:

“Com a introdução deste novo sistema de iluminação, Macau deve ser das cidades mais bem iluminadas do Ultramar”

 NOTA: Gaba-se a cidade de Macau de ter sido uma das primeiras cidades portuguesas a montar um serviço de fornecimento de energia eléctrica para consumo do público.
De facto, ele data dos princípios do século XX, pois foi em 1904 que o Leal Senado, em escritura de 17 de Setembro (2), dava ao sr. Marius Bert, francês, estabelecido na Indochina, o exclusivo do fornecimento de electricidade. Começou o fornecimento em bases regulares em 1906, ano em que se estabeleceu que a concessão duraria pelo prazo de 30 anos.
Mas muitas vicissitudes aconteceram ao longo dos anos, até à entrada da “The Macao Electric Lighting Co. Ltd” (MELCO) como accionista da concessão da elecricidade, em 1911 (3) mas estas estórias ficam para os futuros “posts”.
(1) As lâmpadas para iluminação pública “Osira”  foram desenvolvidas pelo “The General Electric Company of England” e as primeiras surgiram em 1932 em Londres. A sua eficácia era 2,5 vezes maiores que as lâmpadas de tungsténio usadas até então.
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p., ISBN 972-8091-11-7
(3) “31-05 -1911 – Charles Ricou embora como principal accionista, estende à MELCO a concessão da eletricidade a Macau. A M.E.L.C.O. inglesa, tinha sede em Hong Kong e técnicos (franceses, ingleses e de Macau) que garantiam menos interrupções no fornecimento de energia.“(1)