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O novo governador, José Maria da Ponte e Horta (1) que tomou posse a 26 de Outubro de 1866 substituindo o anterior, José Rodrigues Coelho do Amaral, visitou os estabelecimentos públicos do território, na semana de 5 a 9 de Novembro de 1866, conforme notícia publicada no Boletim do Governo de Macau (2)
Visitou no dia 5 de Novembro, o palácio episcopal e o “asylo” dos pobres; no dia 6, a Nova Escola Macaense, o Seminário Diocesano e o Colégio da Imaculada Conceição; no dia 8, a Repartição dos incêndios e os quartéis de polícia de mar e terra; e no dia 9, o Mosteiro de Santa Clara.
Em relação aos estabelecimentos visitados e durante o curto mandato deste governador foram emitidos os seguintes despachos: (3)
Nova Escola Macaense: o governador nomeou em 26 de Novembro de 1866, uma comissão composta por Francisco de Assis e Fernandes, presidente; cónego António Marai de Vasconcelos, secretário; João Eduardo Scarnichia, Gregório José Rodrigues e Francisco Joaquim Marques para elaborar um projecto de Regulamento para a Nova Escola Macaense. Infelizmente por falta de meios para a sustentar a Nova Escola Macaense foi encerrada a 21 de Outubro de 1867.
Seminário Diocesano: foi autorizada por Portaria Régia de 21 de Abril de 1868, a fundação duma escola de português para chineses, paga pelo cofre do Seminário Diocesano e superintendida pelo reitor do mesmo.
Colégio da Imaculada Conceição: pela Portaria Provincial n.º 1 de 7 de Janeiro de 1868, foi permitido ao Colégio da Imaculada Conceição continuar aberto enquanto os seus meios o viabilizarem, regendo-se, nesse caso, pelos estatutos que datava de 26 de Dezembro de 1863.
Repartição dos incêndios: em 18 de Março de 1867, foram aprovados provisoriamente, por Portaria Régia, algumas providências do governo de Macau sobre o serviço de incêndios.
Quartéis de polícia de mar e terra: o Batalhão de Macau tomou posse a 30 de Dezembro de 1866 do seu novo quartel construído no lugar do antigo Convento de S. Francisco (desenho e sob a direcção do antigo governador Coelho do Amaral); o Corpo de Polícia de Macau foi, por Portaria de 18 de Outubro de 1867, mandado instalar no Convento de S. Domingos.
(1) José Maria da Ponte e Horta (1824- 1892) foi nomeado governador de Macau em 17-07-1866 (Decreto Régio da mesma data em que é exonerado o governador Coelho do Amaral) e chega a Macau, vindo de Hong Kong a bordo da canhoneira «Camões» em 26 de Outubro de 1866. Acumulou o cargo de enviado extraordinário e ministro plenipotenciário junto dos imperadores da China e Japão e rei do Sião sendo condecorado, a 16-12-1867, por este último com a insígnia do “Elefante Branco.” Por Decreto Régio de 16-05-1868, é exonerado, a seu pedido, e sido substituído pelo Vice-Almirante António Sérgio de Sousa que só chegou a Macau a 1-08-1868 e tomado posse a 3 de Agosto de 1868. Ponte e Horta partiu para Hong Kong a 6 de Agosto de 1868, no «White-Cloud» e dali para a Europa, a 7 no «Malaca».
Foi depois nomeado governador de Cabo Verde em Fevereiro de 1870 e governador de Angola entre 1870 e 1873.
(TEIXEIRA, Padre Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, 1997)
Outras referências anteriores deste governador neste blogue:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-maria-da-ponte-e-horta/
(2) Do «Boletim do Governo de Macau» XII-46 de 12/Novembro /1866 p. 188.
Por Decreto de 26 de Novembro de 1866, a cidade de Macau e o território português da  Ilha de Timor passaram a constituir uma só província denominada de «Província de Macau e Timor». Os Boletins no entanto, só passaram a serem designados: «Boletim da Província de Macau e Timor» a partir do ano XIII, n.º 7 de 18 de Fevereiro de 1967.
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 1995.
NOTA: O «Diário Illustrado» de 17 de Março de 1892, aquando do falecimento deste governador, a 9 de Março, vítima de uma “paralysia”, referia o seguinte:
O finado era cavalheiro muito conhecido em Lisboa pela sua vasta erudição de que falam bem alto os muitos trabalhos literários e scientíficos que deixou.
“Matemático distincto, regia na escola polytecnica de Lisboa a quarta cadeira d´esta sciencia.
Desde 1880 que tinha assento na camara dos pares, onde a sua voz, por vezes, se fez ouvir. Era actualmente vice-presidente da academia real das sciencias, onde fez varias conferencias, sendo umas das mais notáveis a que teve por titulo ”Conferência acerca dos infinitamente pequenos (publicado em livro em 1884). Era general de divisão reformado e condecorado com várias ordens militares …”
Em Macau, ficou a recordá-lo na toponímia, a Praça de Ponte e Horta – 柯邦迪前地 (nome oficial) mas mais conhecido em Macau por 司打口 –.“Si Tá Hau”, (4) situada entre as Rua das Lorchas, do Bocage e do Tesouro, (data de 1867, os últimos aterros que iam das Portas do Cerco até à Barra, nomeadamente o aterro dos canais que existiam nessa zona) local onde havia um Porto-cais de Colecta de Impostos a todos os produtos importados, alguns exclusivos para a importação do ópio (e onde estava a “Fábrica do Ópio”)
(4) 柯邦迪前地 – mandarim pīnyīn: kē bāng dí qián dì; cantonense jyutping: o1 bong1 dik6 cin4 deng6.
司打口mandarim pīnyīn: sī dá kǒu; cantonense jyutping: si1 daa2 hau2 – tradução literal: entrada/porta de controle/colecta.

O navio «Morosa» junto à ponte-cais n.º 5
A descarga
Outro aspecto da descarga do arroz para o armazém n.º 5, propriedade de “Tai Heng C.ª Ltd”, na Rua das Lorchas, inaugurado em 1943 (?)

Extraído de BGC,  XXVI-299, 1950.

MOSAICO II-9 MAI1951 Ponte n.º 16 IAspecto exterior da nova Ponte n.º 16
Inaugurada em 1951 mas na sua fachada está inscrita a data de 1948 (1)

No dia 7 de Abril de 1951, inaugurou-se a ampla Ponte-cais  n.º 16, sólida construção, em cimento armado, de linhas modernas e singelas, situada mesmo à entrada da Avenida Almeida Ribeiro, a principal artéria da cidade.

MOSAICO II-9 MAI1951 Ponte n.º 16 IIO Governador Comandante Albano Rodrigues de Oliveira efectuando o corte simbólico da fita inaugural
MOSAICO II-9 MAI1951 Ponte n.º 16 IIIUm aspecto da assistência no acto inaugural

A Ponte-cais n.º 16 foi expressamente construída para servir o luxuoso barco Tai Loi (2) da carreira Macau-Hong Kong
Tanto a Ponte n.º 16 como o barco Tai Loi são dois novos empreendimentos que se devem à Companhia de Navegação Tak Kee” (3)
MOSAICO II-9 MAI1951 Ponte n.º 16 IVAté princípios da década de 60 (século XX) a maioria dos barcos de carreira de passageiros (bem como os de carga) atracavam no Porto Interior. Depois de 1962, com a concessão do jogo à S. T. D. M. e a introdução da carreira de passageiros por hydrofoil, uma nova ponte-cais seria construída na Avenida marginal Dr. Oliveira Salazar (hoje Avenida da Amizade). Com o declínio e fecho da carreira Macau-Hong  Kong com os navios de passageiros tradicionais, no Porto Interior manteve-se somente o tráfego para os barcos de carga.

Fotos e referências anteriores em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/12/09/noticia-de-9-de-dezembro-de-1964-fotos-do-porto-exterior/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ponte-cais/

Hotel Sofitel Macau at Ponte 16 IFoto de 2007, retirada (com a devida vénia) de um blogue (inactivo desde 2009)
http://existiremmacau.blogspot.pt/2007/04/ponte-n16.html

(1) Posteriormente, pintaram a fachada de amarelo e depois de cor-de-rosa, retirando a data e os caracteres chineses, mantendo-se somente a inscrição “PONTE N.º 16“. Em 2007, mantendo o edifício na frente, construíram o complexo de 20 andares  com hotel/resort  de 5 estrelas da cadeia “Sofitel, 408 quartos, lojas, restaurantes, bares, piscinas, centro de saúde e de lazer, sala de reuniões multi-usos, museu 3D e claro, um casino – Hotel Sofitel Macau at Ponte 16″  澳門十六浦索菲特大酒店-  inaugurado em 2008 ( Rua das Lorchas e Rua do Visconde Paco de Arcos, entre Pontes 12A a 20).

Hotel Sofitel Macau at Ponte 16 IIhttp://www.agoda.com/pt-pt/sofitel-macau-at-ponte-16-hotel/hotel/macau-mo.html

(2) “Tai Loy” , o primeiro barco com casco de aço  construído em Hong Kong depois da 2.ª Guerra Mundial.
Ver anterior referência a este navio em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ponte-cais-n-o-16/
(3) Reportagem e fotos de «MOSAICO, 1951.»

Foi introduzido o novo sistema de iluminação pública “Osira” (1) em diversas artérias e largos durante o triénio 1947-1950 nomeadamente em 9 avenidas, 8 ruas, 2 largos, 2 estradas e 1 calçada (Calçada de S. Francisco)

Obras e Melhoramentos 1947-50 - Iluminação Pública IA “Avenida Marginal” do Porto Interior ( Rua das Lorchas e Rua do  Almirante Sérgio) iluminada pelo sistema” Osira”

Obras e Melhoramentos 1947-50 - Iluminação Pública IIUm aspecto da cidade iluminada pelo sistema “Osira

Concluía o relatório do Leal Senado sobre a iluminação pública da cidade:

“Com a introdução deste novo sistema de iluminação, Macau deve ser das cidades mais bem iluminadas do Ultramar”

 NOTA: Gaba-se a cidade de Macau de ter sido uma das primeiras cidades portuguesas a montar um serviço de fornecimento de energia eléctrica para consumo do público.
De facto, ele data dos princípios do século XX, pois foi em 1904 que o Leal Senado, em escritura de 17 de Setembro (2), dava ao sr. Marius Bert, francês, estabelecido na Indochina, o exclusivo do fornecimento de electricidade. Começou o fornecimento em bases regulares em 1906, ano em que se estabeleceu que a concessão duraria pelo prazo de 30 anos.
Mas muitas vicissitudes aconteceram ao longo dos anos, até à entrada da “The Macao Electric Lighting Co. Ltd” (MELCO) como accionista da concessão da elecricidade, em 1911 (3) mas estas estórias ficam para os futuros “posts”.
(1) As lâmpadas para iluminação pública “Osira”  foram desenvolvidas pelo “The General Electric Company of England” e as primeiras surgiram em 1932 em Londres. A sua eficácia era 2,5 vezes maiores que as lâmpadas de tungsténio usadas até então.
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p., ISBN 972-8091-11-7
(3) “31-05 -1911 – Charles Ricou embora como principal accionista, estende à MELCO a concessão da eletricidade a Macau. A M.E.L.C.O. inglesa, tinha sede em Hong Kong e técnicos (franceses, ingleses e de Macau) que garantiam menos interrupções no fornecimento de energia.“(1)

Informa a «Lusitânia»: (1)

A bordo do paquete «Colonial», da Companhia Colonial de Navegação, chegou à Colónia mais um contingente  de tropas que foi festivamente saudado pela população de Macau, enchendo de justificado orgulho os portugueses aqui residentes e de admiração os chineses que vivem na cidade. Uns e outros viram desfilar as tropas portuguesas com satisfação e como uma garantia de que será mantida a paz e a ordem neste pedaço de terra portuguesa.

BGC 1949 Tropas Expedicionárias IAo longo da Avenida Marginal (2) formaram as tropas expedicionárias de Angola, para marchar para os seus quarteis

 As tropas chegadas a bordo daquele paquete desfilaram na Avenida Marginal depois de desembarque, a que assistiram os srs. comandante Albano de Oliveira e coronel Cotta de Morais, respectivamente governador geral e comandante militar de Macau.

 BGC 1949 Tropas Expedicionárias II“A Avenida Almeida Ribeiro ficou coberta de água, circulando sómente os «Brennes» do exército para patrulhar a cidade”

            No mesmo dia, à tarde, os Srs. capitão-tenente José Mendes da Rocha Zagalo, capitão de bandeira das tropas expedicionárias, e capitão Júlio Moniz da Maia, comandante do «Colonial», estiveram no palácio do Governo a apresentar cumprimentos ao Sr. comandante Albano de Oliveira (3)

(1) Notícia referente à chegada a Macau, no dia 9 de Abril de 1949, do Corpo Expedicionário, para proteger o território da situação que se vivia na China (guerra civil que terminaria em 1 de Outubro de 1949 com a fundação da República Popular da China na sequência da vitória de Mao Zedong). Foi nesse ano que as Ilhas da Montanha e de D. João foram ocupadas pelos nacionalistas chineses.
O Corpo era constituído por Unidades vindas da Metrópole, de Angola e da Guiné. Nesse dia chegaram:
– Companhia de Engenharia.
– Bataria Independente de Artilharia Anti-aérea de 7,5 cm
– Companhia Indígena de Caçadores da Guiné e
– 1.ª Bataria de Artilharia Ligeira Destacada de Angola  (na foto acima)
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(2) Avenida Marginal do Porto Interior – Rua das Lorchas
(3) Boletim Geral das Colónias, 1949

NOTA POSTERIOR:

Na sequência  dos comentários sobre esta tema, junto as informações fornecidas pelo Sr. Armando Cação. pelas quais estou imensamente grato:
A companhia de engenhos era uma unidade de Infantaria com material pesado. Desembarcou em Abril e só em Agosto chegam aí 2 companhias anti-carro expª, as quais foram mobilizadas pelo Batalhão de Engenhos (daqui). O comandante dessa C de engenhos era o Cap. Alvaro Salgado, que andava a velejar e foi preso pelas autoridades chinesas e levado para Cantão, onde lhe sacaram informações.  
A Companhia de Engenharia fez obras de construção relacionadas com a defesa, com o bem estar  das  unidades, montou barracas metálicas em Mong-Há, no Ramal de Mouros e na Flora, etc, etc,  construiu o quartel das Subsistências, que existiu no fim da Pedro Coutinho do lado do templo de Kun Iam. E fez mais um sem número de outras obras. Além de ter também as transmissões, que, na altura, eram da Engª. Um dos seus comandantes foi o Tenente e Capitão Mesquita Borges, que esteve muito ligado a Macau,  quer como militar, tendo sido Comandante Militar, quer como engenheiro civil, destacando o cargo de diretor  do gabinete da ponte Macau-Taipa (da primeira).”

Postal MACAU no Seculo XIX - Rua das Lorchas

Foto antiga, reproduzida em postal, da série “MACAU POST CARD” (10 postais intitulados “十九世 (1)/Macau do Século XIX / The 19th Century of Macau”) (2), publicados por Kong Iat Cheong e Ho Weng Hong,  com o título (errado) “Macao, Praya”.
No verso tem a seguinte legenda (em português, chinês e inglês): “火船頭街 (3) / Rua das Lorchas / Interior Port-Porto Interior”.
Pode-se ver por detrás das casas do porto, o “torreão” da Casa de Penhores Tak Seng On (hoje, um espaço museológico) situado na Avenida Almeida Ribeiro, n.º 396.
Segundo informações, a Casa de Penhores foi erguida em 1917 pelo que, conforme afirmei no primeiro postal que publiquei desta colecção, (4) muitas das fotos que deram origem a estes postais, já serão do século XX.
(1) 十九世 (pinyin: shí jiu shì jí; cantonense jyutping: sap6 gau2 sai3 gei2)
(2) Adquirido  na Livraria Portuguesa
(3) 火船頭街 (mandarim pinyin huo chuan tou jié;  cantonense jyutping:  fo2 syun4 tau4 gaai1)
fogo + barco  + cabeça (topo) + rua = rua da  proa do barco (movido a fogo?)
(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/07/23/postal-antigo-macau-do-seculo-xix-i-porta-cerco/