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26-07-1771 – Tomou posse, pela segunda vez, do cargo de Governador e Capitão-Geral Diogo Fernandes de Salema e Saldanha. (1) (2)
«Salema e Saldanha retoma o governo, vago pela morte de D. Rodrigo de Castro (3) mas este, em 1771, o navio em que vinha, saindo de Malaca, naufragou ao Sul de Cochim, sendo vários náufragos feridos pelos moiros, que mataram Manuel Caetano, escrivão do sindicante João Diogo Guerreiro e Alvim. O Governador salvou-se do naufrágio, mas faleceu na viagem para Macau» (4)
(1) GOMES, L.G. – Efemérides da História de Macau, 1954
(2) O Fidalgo Cavaleiro Diogo Fernandes Salema e Saldanha tomou posse em 19 de Agosto de 1767. Terá sido governador de 1967 a 1770 e depois de 1771-1776. Por via de sucessão, tomou interinamente posse do cargo de Governador e Capitão Geral o Bispo da Diocese (desde 13-07-1772) D. Alexandre da Silva Pedrosa Guimarães no dia 25-06-1777 até Agosto de 1778. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 2,1997)
(3) O Moço Fidalgo D. Rodrigo de Castro, natural de Goa, tomou posse do Governo de Macau a 29-07-1752. Sendo substituído em 14-07-1755 por Francisco António Pereira Coutinho, voltou a governar esta cidade, em 29-07-1770 e, foi ainda nomeado pela terceira vez, em 1774, porém morreu na viagem para Macau.
(as fontes não coincidem sobre as nomeações dos governadores de Macau entre 1970- 1773) (1) (2) PEREIRA, A. Marques – Ephemerides Commemorativas … )
(4) TEIXEIRA, Manuel – Macau no Século XVIII, p. 551

Livro do Padre Manuel Teixeira, publicado pela Direcção dos Serviços de Educação e Cultura, impresso na Imprensa Nacional, Macau, em 1982, com 171 páginas. (21 cm x 15, 5 cm). A capa é de António Andrade. (“retratos” de Luís de Camões, Camilo Pessanha, Miguel de Arriaga Brum da Silveira  e Bocage).

Vultos Marcantes em Macau CAPAPequenas biografias (média de 2 páginas por cada vulto) de 73 personalidades que marcaram a sua presença na história de Macau. Na introdução, “Duas Palavras”, o autor refere:
“Há certos vultos, a que poderíamos chamar «barões assinalados», que marcaram a sua presença na história de Macau, pelos seus feitos militares, pela sua diplomacia, pela sua cultura, pela sua benemerência, pelo seu zelo apostólico, numa palavra, por obras fora do vulgar, pelas quais se foram da morte libertando.
Dentre muitos, escolheremos apenas alguns que deixaram assinalada a sua presença nesta Cidade do Nome de Deus”.

Dos 73 biografados, causa-nos estranheza estar um (uma) que de certeza não encaixava nos objectivos traçados pelo autor pois é pouco conhecida a sua curta história, e não “ deixou profunda pegada nesta terra, que lhe serviu de berço ou que o abrigou em seu seio”. Trata-se Afanásia do Niloff.

The Annual Register” de 1772, de Londres, informava:
«Em fins de Setembro de 1771, chegou a Macau um navio de aparência desusada, com 65 pessoas a bordo, a maior parte militares, comandados por um coronel com o título de barão de Benyowsky (1). Havia a bordo 5 pessoas vestidas de mulher.
Uma dessas pessoas, vestidas de mulher, faleceu há poucos dias.
A senhora foi desembarcada com o seguinte pedido muito extraordinário ao Governador (2):
Que o cadáver fosse enterrado, onde ninguém jazera até então e num lugar honroso; que se desse licença ao barão para assistir ao funeral a fim de prestar honras especiais à defunta.
Este singular pedido despertou a nunca extinta curiosidade, peculiar ao clero de Roma: dois signatários da Ordem Franciscana, aproveitando-se da noite, espreitaram para dentro do caixão e descobriram o corpo de um homem.
Este logro desgostou muitíssimo os portugueses, que deram ordem para que se desse ao morto um enterro ordinário.
São várias as versões que correm acerca do suposto defunto: alguns dizem ter o barão declarado que era um príncipe do Império; outros dizem que era bispo.
Este caso tem levantado muitas conjecturas, que não são muito favoráveis às restantes pessoas de saias».

O periódico de Londres fazia este comentário: «Muitas partes deste relato extraordinário foram desde então confirmadas por notícias de Petersburgo. O pretenso barão e general dos Confederados era um verdadeiro aventureiro e astuto em grau considerável da sua vocação: foi condenado a trabalhos forçados em Kamchatka por crimes cometidos, ou em Petersburgo ou em Moscovo.»
Maurício Augusto Benyowsky, general de cavalaria, natural da Hungria, tomou parte na guerra contra os russos na Polónia, foi preso em 1769 e enviado com os seus soldados para Kamchatka. Aqui abriu uma escola e o Governador Niloff confiou-lhe a educação das suas filhas, das quais Afanásia, a mais velha, apaixonou-se por ele, se bem que ele fosse casado. O Conde Benyowsky decidiu escapar-se com os seus soldados, mas o plano foi descoberto e Niloff empregou a tropa para os dominar; porém, foi morto na refrega; o conde apoderou-se da corveta S. Pedro e S. Paulo e fez-se à vela com os seus a 12 de Maio de 1771; Afanásia seguiu-o, vestida de homem. Com o nome de Aquiles.
As tempestades arrastaram o navio para as costas de Califórnia, donde seguiram para o Japão, Formosa e Macau, aonde aportaram a 22 de Setembro. De 95 indivíduos que haviam partido, só 65b chegaram a Macau; e vinham tão esfomeados que tendo as senhoras locais preparado uma abundante refeição, eles comeram com tal furor que 13 morreram de indigestão, entre os quais Afanásia.
O conde vendeu aqui a corveta e as peles que trazia e partiu para França, oferecendo-se ao Governo para fundar uma colónia em Madagáscar. Assim fez, proclamando-se Rei de Madagascar. Atacado pelos franceses, foi morto em combate.

Afanásia foi sepultada em S. Paulo. Um sueco, que 60 anos depois, viu a sua sepultura, escreveu: «Não se pode ver sem emoção, na igreja de S. Paulo, a sepultura que aí se encontra da jovem russa, que nela descansa, depois de ter seguido p audaz aventureiro conde Benyowsky na sua fuga das prisões de Petropowlowki. Morreu de dor, quando soube que o homem, a cujo amor sacrificara pátria e família era casado»
O sueco engana-se: ela sabia que o conde era casado quando fugiu com ele; não morreu de dor, mas de indigestão.”

(1) O conde ou barão Maurício Augusto Benyowsky, nascido em 1741, em Verborwa, e faleceu a 7 de maio de 1786, em Madagascar. Era filho do conde Samuel Benyowsky (General de cavalaria) e de Rosa Révay. Esteve em Macau de 22-09-1771 a 14-01-1772.
(2) De 1770-1771, o Governador era possivelmente D. Rodrigo de Castro (As fontes não coincidem sobre as nomeações entre 1700 3 1773 segundo Beatriz Basto da Silva, Cronologia da História de Macau, Volume 2)