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A fim de realizarem um Espectáculo de Variedades no Teatro Cheng Peng, (1) estiveram em Macau, no dia 29 de Novembro de 1953, o conhecido cantor, director de orquestra, compositor Xavier  Cugat (2) e os seus famosos artistas.
Não se limitaram à realização do espectáculo, acompanhados dos organizadores do Espectáculo de Variedades e dum grupo de funcionários da Secção de Propaganda e Turismo, Xavier Cugat e esposa Abbe Lane (3) e os seus artistas passaram a manhã inteira a visitar a cidade. Percorreram-na, visitando os monumentos e lugares históricos, entraram no Asilo da Santa Infância, e apresentaram cumprimentos ao Governador.

MBI I-9 15DEZ53 Xavier Cugat em MacauO Governador, Almirante Joaquim Marques Esparteiro, esposa, Xavier Cugat ( com o seu Chiwawa – imagem de marca) e a esposa (cantora) Abbe Lane

Por fim Xavier Cugat declarou: «E eu, que temia aqui vir encontrar gangsters de revolver em punho, covis de piratas e promiscuidade, afinal fiquei sabendo que Macau é das cidades mais lindas, atraentes e hospitaleiras de quantas tenho visitado. O passei irrepreensível das ruas, o sossego que aqui se verifica e a beleza inconfundível dos seu lugares pitoresco só nos levam a não perdoarmos a nós mesmos se não tivéssemos querido vir até Macau»
Abbe Lane remataria «Eis o lugar onde, com o maior prazer, eu passaria uma semana inteira»
O espectáculo foi presenciado por cerca de duas mil pessoas (incluindo o Governador, esposa e as duas filhas) que encheram o Teatro «Cheng Peng». (4)

Retirado do «Mundo Gráfico»de 1948

(1) Segundo testemunho de Rigoberto Rosário Jr (publicado na «Revista Macau» Junho 1998), o espectáculo em Macau deveu-se ao empresário macaense, Alberto Dias Ferreira (por alcunha “Ministro”), que viria mais tarde a fundar um grande grupo empresarial “Aldifera Grupo Empresarial“, com ligações aos meios, comercial (” Agência Comercial Aldifera“), industrial (“Aldifera Têxteis, Limitada“, uma unidade inovadora, na altura, pela tecnologia moderna aplicada) e financeiro (“Aldifera, Casa de Câmbios, Limtada”). Membro de muitas associações de carácter cívico e desportivo (creio que está ligado ao início -1953 – e depois foi seu presidente, da Associação de Futebol em Miniatura de Macau, vulgo bolinha). Foi deputado à Assembleia Legislativa, curador da Fundação Macau e  nomeado Comendador.
Xavier Cugat(2) Francesc d’Asís Xavier Cugat Mingall de Bru i Deulofe (1900 — 1990), natural da Catalunha (aos 3 anos a sua família mudou-se para Havana – Cuba), cantor, compositor, actor, director de orquestra, argumentista, foi um dos pioneiros na popularização da música latina nos Estados Unidos (rumbas, mambos, tangos, congas, cha-cha-chas, boleros, sambas). Nos anos 30 e 40, ele foi apelidado de O Rei da Rumba devido à popularização dessa dança.
Violinista da Orquestra do Teatro Nacional de Havana, em 1915, emigrou com a sua família para Los Angeles – E. U.A. Aí trabalhou como cartoonista  no jornal Los Angeles Times durante o dia e como maestro de noite. Formou a sua própria orquestra em 1928 e começou a sua popularidade tanto tocando em hóteis e espectáculos como de na venda dos discos (5) e aparição em filmes.
Foi casado/divorciado 5 vezes sendo a penúltima mulher Abbi Lane (1952 a 1963) a mais afamada . A última foi a cantora espanhola Charo (1966 a 1978).
Após sofrer um derrame em 1971, Xavier aposentou-se e morreu Barcelona em 1990.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Xavier_Cugat
Abbe Lane(3) Abbe Lane (1932-) cantora e actriz americana. Começou a cantar na rádio e  nos clubes nocturnos mas só começou a ter êxito quando casou com Xavier Cugat em 1952 (divórcio em 1964). Em 1963 foi considerada “the swingingest sexpot in show business.”. Após o divórcio apostou numa carreria em musicais da Broadway.
https://en.wikipedia.org/wiki/Abbe_Lane
http://www.imdb.com/name/nm0485219/
(4) Informações recolhidas de “Macau B. I., 1953″.
(5) Dos discos gravados para as várias editoras que passou desde 1940 até à década de 60, a canção “Perfídia” foi a que teve maior êxito embora outras também tiveram entre elas: “El Cumbanchero“, “Jungle Drums“, “Brazil”, “Miami Beach Rhumba”.
Na net circula alguns desses êxitos bem como dos filmes em que participou. como por exemplo:
“Xavier Cugat Siboney” – https://www.youtube.com/watch?v=1zraRqOr1Do
“Xavier Cugat Maria Elena” –  https://www.youtube.com/watch?v=C2XZVLP_K3g
“Xavier Cugat – Cherry Pink & Apple Blossom White” –
https://www.youtube.com/watch?v=EhuNqGhQBGM
Xavier Cugat e a sua orquestra interpretando “bim bam bum” do compositor porto riquenho Noro Morales e cantada por Lina Romay –
https://www.youtube.com/watch?v=gT04xzKCDus
Xavier Cugat e a sua orquestra interpretando “Tea for two Cha Cha Cha”, em 1961 –
https://www.youtube.com/watch?v=jbo_0R8mpbU
“Xavier Cugat Special – Latin-flavoured Cocktails and Light Swing” –
https://www.youtube.com/watch?v=EQ_wDvQX5JA
“Abbe Lane – Me lo dijo Adela – Susana y yo” – (1957) –
https://www.youtube.com/watch?v=5JdZW_LpUEY
“Xavier Cugat , El Negro Zumbon” com Abbe Lane –
https://www.youtube.com/watch?v=-kr5WYEnU9E
“La malagueña / Orq. Xavier Cugat”. Canta Abbe Lane –
https://www.youtube.com/watch?v=5JdZW_LpUEY&list=RD5JdZW_LpUEY#t=1
Xavier Cugat e Abbe Lane no filme “Donatella” (1956) –
https://www.youtube.com/watch?v=X8gYH3b9Cpk
“Abbe Lane & Orq Xavier Cugat – Eso es el amor” –
https://www.youtube.com/watch?v=Lfff9T3vFUU
NOTA: Xavier Cugat tem um disco gravado, instrumental, de “April in Portugal” (original: “Coimbra”) de 1957.

No dia 4 de Fevereiro de 1951, foi levada a efeito, nas barracas metálicas do aquartelamento de Mong Há, uma “tarde do expedicionário” com vista  a contribuir para que os soldados de Portugal não se sintam tão sós e tenham a certeza de serem compreendidos acerca da patriótica missão de que estão incumbidos nesta terra bem portuguesa.
A iniciativa, que se deve ao espírito dinâmico do ilustre Comandante daquele Aquartelamento, Exmo. Sr. Major Silva e Costa, teve a acarinhá-la, de início, o apoio entusiástico de Sua Excia. o Comandante Militar de Macau, Brigadeiro Paulo Benard Guedes que deseja que estas simpáticas festas se realizem em todos os aquartelamentos desta província ultramarina.
Sua Excelência o Governador deu, gentilmente, o seu alto patrocínio a tão bela iniciativa e honrou com a sua cativante presença essa interessante tarde.

Tarde Expedicionário IS. Exa., o Governador inaugurou o baile dançando com a Senhora de Benard Guedes

 Representaram-se vários números de variedades e dançou-se animadamente ao som de duas orquestras.
Além de Suas Excelências e respectivas famílias, viam-se a assistir outras altas entidades e muitas senhora que davam uma nota alacre e distinta ao ambiente” (1)

Tarde Expedicionário IIAs meninas Sena Fernandes cantando uma canção popular portuguesa

 NOTA: Acerca das “meninas Sena Fernandes” da legenda da foto anterior, sugiro a leitura de “As Fadistas de Macau” sobre Rubye Senna Fernandes (2)
No início dos anos 1950, ainda antes de começarem a chegar artistas de Portugal, já o fado tinha histórias para cantar. Fazia parte das noites de convívio entre os militares, chegava à comunidade através da rádio Vila Verde ou pela voz aveludada de Rubye, uma menina macaense acabada de chegar de Coimbra…(…)… Era convidada pelos governadores, frequentava festas no Clube de Macau e cantava letras saudosistas aos militares…” 
e o artigo de Rigoberto Rosário Jr, “Memórias de Um músico Macaense” (3)
“Num panorama bem variado de gostos por música ligeira, clássica, corais, rock e a música de dança das bandas nos hotéis, começou a ouvir-se então a voz talentosa da primeira fadista macaense de que a minha geração se recorda: Ruby de Senna Fernandes. Amante da música, tal como os seus irmãos Nuno e Alberto (dos “Rockers”), Ruby chegou mesmo a ter “aulas” de fado com a famosa Amália Rodrigues durante a sua estada em Portugal.
O fado não tinha aqui muita divulgação naquela época, à excepção de alguns raros programas na rádio Vila Verde e, posteriormente, na Radiodifusão de Macau que difundia intérpretes de música portuguesa, entre os quais fadistas. Foi sómente na década de 70, com a inauguração do Hotel Lisboa, da S.T.D.M., que se contrataram fadistas de Portugal para trabalhar no “Galera”, um restaurante luxuoso e típico, mas de comida europeia, onde se serviam bons vinhos portugueses e um caldo verde razoável. A própria Amália Rodrigues participou numa semana de “Abril em Portugal”, realizada no restaurante Portas-do-Sol do mesmo hotel-casino.”
(1) Artigo assinado por L.S.A. e publicada na Revista “MOSAICO”, Vol. II, n.º 7, 1951.
(2) DOMINGUES, Catarina – As Fadistas de Macau in Revista MACAU, Junho 2012
(3) ROSÁRIO JR, Rigoberto – Memórias de Um músico Macaense in Revista Macau, Setembro de 2011
Pode-se ler este artigo em:
http://rpdluz.tripod.com/projectomemoriamacaense/historias.memoriasmusico.html